Este artigo apresenta e analisa dados etnográficos coletados em Buenos Aires, junto a torcedores de futebol considerados violentos pelas forças policiais e pela mídia. A análise aborda a relação entre torcedores e a polícia. Usando o arcabouço teórico proposto por Roy Wagner em seu livro A Invenção da Cultura, o artigo argumenta que, em sua busca incessante por ordem e controle, a polícia projeta sobre as torcidas a imagem de agentes resistentes à autoridade policial, o que induz a uma neurótica escalada no uso da violência oficial. Os torcedores, por sua vez, buscam protagonismo através de feitos heroicos, como parte do seu processo de individuação, e veem as ações das forças policiais como impedimento para tanto, o que os leva a agirem de forma mais energética – histérica, nos termos de Wagner – em suas atividades de torcidas. Neurose e histeria são termos usados de forma específica, definidos no artigo. O texto discute também o importante papel dos intermediários nesse panorama, em especial os dos líderes de torcidas e policiais de distritos periféricos.
Palavras-chave: torcidas, futebol, violência, Argentina, polícia, Roy Wagner