Esta dissertação de mestrado tem como objetivo analisar a obra O Negro no Foot-ball Brasileiro, de Mario Rodrigues Filho, escrita em 1947, e a sua relação com o tempo em que foi produzida, a fim de compreender sua participação nos debates sobre futebol e questão racial no Brasil. Para isso, proporá uma discussão sobre a trajetória dessa relação começando por Lima Barreto e suas críticas à segregação racial no futebol, passando por Gilberto Freyre e sua valorização da mestiçagem como fundamento para o sucesso do esporte no país, até chegar em Mario Filho e sua atuação jornalística ao longo das décadas de 1930 e 1940. Realizada a inserção do leitor na profundidade do tema, a meta do trabalho passa a ser investigar como O Negro no Foot-ball Brasileiro foi apresentado ao público pelo autor e pelo prefeciador, Gilberto Freyre, assim como foi recebido pela crítica em resenhas da época. Após recuperar formas com que o livro foi assimilado em seu tempo, a pesquisa passará à interpretação do texto dando atenção a quem Mario Filho nomeia como interlocutores, a como constrói o sentido histórico de sua narrativa e a como são formuladas as estratégias argumentativas em sua escrita da história. Por fim, a dissertação terá por foco o modo com que o autor elabora a experiência temporal do passado, para isso analisará como a ideia de revolução realizada no dia-a-dia, ao longo dos anos, é articulada para ditar o ritmo da narrativa. Será investigado, também, como o povo é representado, evidenciando como a intensa atividade descritiva e a atenção às sensibilidades e afetos dos personagens faz com que os corpos negros ganhem visibilidade e transformem-se nos principais agentes dessa história. Ao final, a linguagem da violência será colocada como estruturante das relações raciais em O Negro no Foot-ball Brasileiro para que se estude como o conceito de democracia racial mobilizado por Mario Filho não criava uma mitologia de um Brasil pacífico e, pelo contrário, estava em consonância com o arco de aliança antirracista e democrático de fins dos anos 1940 e articulado no jornal Quilombo, dirigido por Abdias Nascimento.
Palavras-chave: Mario Filho; Democracia Racial; Linguagem da Violência; Futebol; Escrita da História.