Mil e uma noites de futebol

Tomando a imprensa como lugar de combate entre diferentes interpretações do esporte, esta tese procura avaliar a contribuição do jornalista Mário Filho na construção dos sentidos que o futebol adquiriu na cultura brasileira. A análise dos jornais e revistas da década de 1910 reunidos no álbum do goleiro Marcos de Mendonça evidencia a predominância de um certo modelo de tratamento jornalístico do esporte, através do qual as elites buscavam conservá-lo sob seu domínio simbólico. O exame de espaços editoriais dirigidos por Mário Filho no decênio de 1930 revela o surgimento de um novo tipo de jornalismo esportivo, que dava visibilidade e legitimidade aos modos populares de fruir e interpretar o futebol. O estudo do livro O negro no futebol brasileiro, escrito a partir de crônicas publicadas pelo jornalista nos anos quarenta, mostra um grande esforço memorialístico que tenta resolver essa contradição por meio da conversão do passado esportivo brasileiro em uma narrativa de democratização racial. Na história da interpretação do futebol no Brasil, Mário Filho teria desempenhado papéis performáticos e pedagógicos, contribuindo para uma redefinição do modo como a sociedade representa a si mesma através do esporte.

Considering the press as a combat arena for different interpretations of sport, this thesis seeks to evaluate the contribution of journalist Mário Filho to the construction of the meanings that football has acquired in Brazilian culture. The analysis of newspapers and magazines of the 1910s, compiled in the album by goalkeeper Marcos de Mendonça, clarifies the predominance of a certain journalistic model for sport, through which the elites seeked to keep football under its symbolic domain. The examination of editorial spaces directed by Mário Filho in the 1930s reveals a new kind of sports journalism, which gave visibility and legitimacy to the popular ways of interpreting football. The study of the book O negro no futebol brasileiro (The black man in Brazilian football), written from chronicles published by Mário Filho in the 1940s, shows a great memorialistic effort which tries to solve this contradiction through the conversion of the Brazilian sports past into a narrative of racial democratization. In the history of interpretation of football in Brazil, Mário Filho would have played performatic and pedagogic roles, contributing for a redefinition of the way society represents itself through sport.

“Macarrão Preto”, 10

 

CAPÍTULO 1: Recortes dos tempos do amadorismo, 37
1.1           Fragmentos da pré-história, 37
1.2           Relíquias de um goal-keeper, 43
1.3           Jogar como jogam os ingleses, 49
1.4           Trucs, vaias e “sururus”, 61
1.5           Um mau exemplo para as massas, 81
1.6           As armas do saudosista, 90
1.7       Iconografia I, 102

 

CAPÍTULO 2: Virada de jogo na imprensa esportiva, 107
2.1            Aquecimento, 107
2.2           Conquistando o meio-de-campo, 113
2.3           Tipos, clichês e passe-partouts, 120
2.4           O repórter de “orelhas vorazes”, 122
2.5           “Uma pergunta acode a todos os lábios”, 126

2.6           “A fotografia das opiniões”, 131
2.7           “A vida do crack”, 138
2.8            As piadas da “Geraldine”, 148
2.9            O bate-papo, 155
2.10         Iconografia II, 167

 

CAPÍTULO 3: Toda a memória do futebol brasileiro, 172

3.1       O maior clássico do futebol nacional, 172

3.2       A opinião dos comentaristas, 185

3.3       Partindo para o ataque, 189

3.4       Os “novos narradores” se defendem, 193

3.5       A palavra do crack, 195

3.6       Armando o contra-ataque, 199

3.7           Em um jogo, tudo pode acontecer, 208

3.8           Iconografia III, 216

 

Um nome na porta do Maracanã, 221

 

Fontes, 234

 

Bibliografia, 235