Fruto das controvérsias políticas e esportivas locais, amparadas nos interesses econômicos (público e privado) está sendo erguido em Itaquera, zona leste da capital paulistana, o estádio-sede do Sport Club Corinthians Paulista, local escolhido para a abertura da Copa do Mundo de 2014. Este paper tem por finalidade apresentar o início da pesquisa de campo que venho realizando no entorno da construção do referido estádio e o ponto de vista privilegiado aqui é perceber o modo como os torcedores estão produzindo e construindo os alicerces simbólicos sobre a edificação monumental. Meu enfoque é retomar as dinâmicas do torcer numa metrópole como São Paulo onde o exercício contrastivo torcedor captura não somente os ditos torcedores (comuns ou organizados) como também orienta em boa medida as disputas políticas pelos espaços da cidade entre dirigentes esportivos com rebatimentos institucionais (tais como se observou, por exemplo, as controvérsias entre “são paulinos vereadores” na câmara de cidade ao longo dos anos 2010 e 2011). Trata-se, portanto de rediscutir em novas bases etnográficas o caráter competitivo que instiga e mobiliza a suposta grade “segura” e estável de oposições clubísticas assentada num sistema classificatório que em princípio parece resistir à politização na medida em que produz excessos de memória dos enfrentamentos clubísticos, onde opositores se apresentam como inimigos fiéis, fazendo com que o jogo mais dinâmico da política como exercício e negociação com “o outro” seja minimizada no sentido da dispersão das inimizades ou da ética política. Vale para torcedores, que recentemente retomaram a lógica dos enfrentamentos pela cidade, vale para dirigentes que com seus projetos de expansão da marca do clube se enfrentam ainda que indiretamente nas arenas políticas mantendo a lógica clubística que se soma às questões políticas que norteiam a dinâmica urbana, notadamente em tempos de preparativos da cidade para a Copa do Mundo, momento de redefinição urbanística da metrópole que sediará o referido mega evento.
Palavras-chave: forma de torcer, corinthianismo, Itaquerão, zona leste, antropologia urbana, antropologia das práticas esportivas, futebol, política, cidade, São Paulo.
