O que primeiro chama a atenção em “O louco no espelho” é como Lúcio Saretta é inquieto: ele simplesmente não se contém. Seu olhar começa com Tesourinha e vaga (talvez a palavra exata seja “flana”) pela história do Carnaval e dos craques futebolistas que o amaram. É, então, que, graças ao escritor, nomes imortais no seu tempo, mas que, inevitavelmente, caíram no olvido, como Julinho Botelho, Rondinelli, Mozer e tantos outros, ganham nova vida e hoje os vemos mais uma vez brilhando na tinta preta das páginas que se seguem.
Na crônica que dá nome a esta obra, por exemplo, podemos nos perguntar qual é a relação entre Sid Barret, Leônidas da Silva, Pardal, Charles Barkley e John Drew? O que eles têm em comum? A resposta seria nada, não fosse essa obsessão de Lúcio em tirar o pó que encobre nossa memória e trazer um pouco de luz a quem estava esquecido, como se, por meio da escrita, os loucos, os falidos e toda sorte de derrotados (justamente aqueles homens que afastamos de nós para não ofuscarem nossa própria ficção de sucesso) ganham uma segunda chance e uma redenção. Devido à Literatura, nós os notamos e somos convocados a olhar para eles e reconhecê-los.
É essa tarefa ética que Lúcio nos impõe. Ele nos aponta a possibilidade de sermos novamente humanos. Podemos responder a esse apelo, ou esquecê-lo, deixá-lo de lado e continuarmos fingindo que somos bons, bem-sucedidos e vencedores. Para quem não acredita nessas bobagens; para quem arrisca ir além da superfície, existem estas páginas.
(trecho da orelha escrita por Arthur Telló)