Este artigo busca identificar a relação entre a prática do futebol e a poesia, tomando ambos como produto cultural, porém de implicações psicanalíticas. Com base no conceito de espaço semiótico empregado por Julia Kristeva, o artigo aponta para o texto subjacente das práticas futebolísticas e também literárias, as quais dependem de estruturas amplas e profundas para sua existência. Uma das características principais deste texto é o jogo da abjeção que se articula no contexto da poesia e do esporte e em outros contextos adjacentes – a violência, o horror e a disputa revelam um sentido de morte ou aniquilamento, flagelo e renascimento que se articulam em performances corporais específicas. Scripts voltados para a construção, veiculação e incorporação performativa da corporalidade esportiva são culturalmente elaborados e aprendidos, de modo a desencadear o texto vivo da masculinidade, do patriotismo, do heroísmo e do pertencimento. Tanto atletas como público desempenham corporalmente o grande texto do esporte, que oferece, sobretudo, a construção e comunicação de identidades.