A partir das Jornadas de Junho, em 2013, até o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, uma série de eventos marcou a vida pública nacional. A intensa atividade política e os diversos protestos nas ruas suscitaram uma ampla cobertura jornalística. Neste cenário de discussões a respeito do que se desejava para o Brasil, chamava atenção a intensa utilização de símbolos ligados, de alguma forma, à identidade nacional. Eram visíveis em algumas manifestações populares. Mas apareceram com veemência nos produtos midiáticos que retratavam os acontecimentos políticos, reforçados pela proximidade com a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, sediados no Brasil. O que o uso desse conteúdo simbólico pode significar nesse contexto? Por que tamanha ênfase da mídia? De modo geral, o objetivo deste trabalho é analisar a atuação da mídia no sentido de produzir uma ideia de nação e uma concepção de identidade nacional. Para compreendermos como ela se situa nesse contexto, é preciso considerar que sua atividade envolve as disputas pelo poder simbólico e pelo poder econômico. Ela se utiliza das noções de informação e comunicação para fazer viver uma empresa, e aí parece estar o ponto principal. Pois divulgar conteúdo simbólico é divulgar recursos de significação que servem para a construção do sentido a respeito do mundo. E se esse sentido for utilizado para estabelecer ou sustentar determinadas relações de dominação, em circunstâncias particulares, teremos a utilização de uma ideologia. Mas este é o caso da mídia brasileira? Ela disseminaria uma ideia de nação? Haveria finalidade comercial ou ideal empresarial (implicitamente ou não) projetado em suas publicações? A fim de esclarecer tais questões, foi feito um levantamento histórico da atuação da mídia no Brasil e foram analisadas as Cartas ao Leitor da revista Veja, publicadas durante alguns eventos do período mencionado. Considerando a sua íntima ligação com a vida política e institucional do país, compreendemos que ela se coloca nas tentativas do empresariado brasileiro de tornar-se grupo hegemônico. É possível inferir que a lógica neoliberal compõe as significações propostas a respeito de nossa nação. Erguidas na medida em que o discurso é construído, têm como guia a relação que tenta estabelecer com o público (consumidor direto e o povo como um todo) e os acontecimentos da vida pública do país, expondo uma visão de mundo que parece estreitamente relacionada à sua instituição enquanto empresa capitalista.