Este paper tem como mote temático os vestiários esportivos e as relações sócio-sexuais e simbólicas neles desenvolvidas por atletas-sujeitos de competições internacionais esportivas LGBT (lésbico-gay, bissexuais e transgêneras). Foi buscando o que, de fato, pode haver de tão instigante em um espaço transitório, de pouca sociabilidade, que procurei acompanhar atletas gays de futebol, atletismo, natação e tênis de mesa, em suas rotinas competitivas, em três eventos internacionais, ao largo de uma extensa etnografia multisituada. O vestiário de trocas de roupa é um local-chave nos encontros corpo-a-corpo entre os atletas em competições esportivas. Ao ficarem nus/seminus, se expõem a outros, e partilham (mesmo sem querer), intimidades corporais. No caso dos homossexuais, alvos de minhas incursões etnográficas, tal temática aparece imiscuída a outras, ora mais às claras, ora completamente velada pelos discursos heteronormativos que, em funcionando como “oficiais”, delegam os desejos homoeróticos à esfera da “anormalidade”. O local provocou comentários de “asco”, “nojo” ou desagrado em relação ao que traz (roupas sujas, suor, esbarrões não desejados, mal-cheiros, contato pele-a-pele) e ao que invoca (necessidade de limpeza), mas também houve relatos em que o vestiário figurou como lugar de fetiche, fantasia, imaginação, potencialidade de encontro. Tentando explorar tais contradições discursivas e desejantes, busco discutir mais aprofundadamente tais locais como espaços-chave nas constituições psíquicas dos sujeitos.
Palavras-chave: vestiários esportivos; competições LGBT; sexualização dos espaços
