O presente estudo examinou o processo de selecção desportiva, através da aplicação de uma bateria de testes aos jovens jogadores do escalão de sub-14, com vista a distinção entre elites (jogadores de nível nacional) e subgrupos de não elite (jogadores de nível distrital). A amostra é constituída por 76 futebolistas masculinos (13.16-15.07anos), divididos em dois grupos, isto é, grupo de nível nacional (n=44) e nível local (n=32). Foram consideradas variáveis relativas à experiência desportiva, volume de treino, número de sessões semanais de treino, massa corporal, estatura, altura sentado, índice de massa corporal e soma de 4 pregas subcutâneas, maturação, (maturity offset), desempenho funcional [agilidade, 10×5 metros, força explosiva dos membros inferiores e salto com e sem contra movimento), endurance aeróbia (Yo-yo, nível 1), e capacidade anaeróbia (7 sprints)], e ainda as habilidades motoras específicas do futebol (agilidade com bola e passe à parede). Foram ainda consideradas as variáveis decorrentes da aplicação de dois questionários TEOSQ e TACSIS, o primeiro relativo aos factores psicológicos dos jogadores e o segundo aos aspectos tácticos do jogo. A análise dos dados considerou as estatísticas de tendência central e dispersão e a prova t-student para comparar os dois grupos, sendo usada a análise da função discriminante para encontrar um conjunto restrito de variáveis capazes de reclassificar os futebolistas nos grupos iniciais. O nível de significância foi mantido em 5%. Os jovens futebolistas avaliados têm entre 2 e 8 anos de prática federada da modalidade, sendo o grupo de nível nacional que apresenta mais anos de prática e maior número de sessões de treino por semana. No que diz respeito às variáveis externas, morfologia, os atletas de nível nacional são mais pesados e mais altos do que os atletas de nível local, Os futebolistas de nível nacional são mais avançados maturacionalmente e já atingiram o PVC em estatura, enquanto que os elementos da amostra do outro subgrupo de nível distrital são normomaturos e ainda lhes faltam 0.61±0.97 anos para atingirem o PVC em estatura. Os jovens futebolistas de nível nacional relativamente às capacidades funcionais evidenciam que são mais ágeis com maior coordenação, mais fortes, com maior potência explosiva no salto estático, são mais rápidos e têm melhor capacidade anaeróbia. Nas habilidades específicas do futebol também encontrámos diferenças estatisticamente significativas entre os dois subgrupos, sendo que os jogadores de nível nacional, apresentam mais técnica com a bola e são mais ágeis. Na prova de agilidade com bola (M-test), os atletas de nível nacional foram mais rápidos do que os de nível distrital e na prova de Passe à parede o grupo de nível distrital apresentou menos passes que o outro grupo da amostra, revelando menos domínio no controlo da bola, no passe e recepção da mesma. No questionário de motivação para a tarefa ou para o ego (TEOSQ), verificou-se que ambos os subgrupos apresentam uma maior orientação para a tarefa, sendo os valores superiores no grupo nacional mais elevados tanto na variável tarefa como na variável ego, a última pressupõe-se que é devida ao domínio que os atletas já têm a nível técnico, o que os leva a começar a orientar as suas motivações para o ego. Relativamente à variável das habilidades tácticas e pelos resultados obtidos na análise do questionário aplicado TACSIS, nas suas quatro dimensões, verificamos que os atletas de nível superior já apresentam um domínio mais efectivo de qual deve ser a sua posição em campo, têm mais segurança e experiência que lhes permite tomar decisões mais assertivas, conseguem criar mais dinâmica no jogo pois a sua interpretação das acções com bola é realizada com maior rapidez de raciocínio tornando as transições do jogo mais eficazes, interpretando com maior eficiência as mudanças do jogo adaptandose rapidamente e essas situações. A função discriminante utilizada identificou o Ideal time o Total time do teste de / sprints e a prova M-test como os marcadores que melhor distinguem os atletas de nível nacional “elite” dos de nível local. A função discriminante reclassifica correctamente 97% da amostra, somente um atleta de nível distrital é reclassificado no subgrupo nacional. Considerandos todos os dados apresentados anteriormente, podemos concluir que os jovens futebolistas que jogam no campeonato nacional de iniciados se distinguem claramente dos atletas que jogam no mesmo escalão, mas num campeonato inferior (distrital), em enumeras das variáveis em estudo, destacando-se estes a nível, maturacional, somático, funcional e técnico e táctico. Estes preditores de selecção desportiva, sugerem que no futebol juvenil é muito importante considerar os processos de maturação, pois apesar destes atletas estarem maturacionalmente mais desenvolvidos que os seus pares e conseguirem obter mais rendimento neste escalão, não é evidente que este facto se prolongue nas camadas seguintes, pois os atletas mais atrasados maturacionalmente podem conseguir atingir mais tarde os níveis desportivos dos restantes atletas. Pelo que é importante que se considerem estes factores na selecção de jovens talentos.