A violência no futebol atribuída às torcidas organizadas tem sido recorrente e amplamente divulgada pelos meios de comunicação, todavia, esse debate é carregado de controvérsias sobre a responsabilidade dos confrontos, suas motivações e autorias. Diante disso, o tema em torno do qual as reflexões desta tese se desenvolvem são as mediações – perceptíveis e não evidentes – que se estabelecem entre as ações de torcedores organizados, a violência no futebol espetáculo produzido pela indústria cultural e a sociedade contemporânea. Nosso objetivo mais amplo foi compreender algumas motivações da violência no futebol a partir das manifestações de torcedores organizados dos três times de maior destaque em Goiás: Atlético Clube Goianiense, Goiás Esporte Clube e Vila Nova Futebol Clube. Os principais estudos sobre o fenômeno assinalam que a violência não pode ser considerada como “do” futebol, mas “no” futebol. Contudo, a partir da teoria crítica da sociedade da Escola de Frankfurt, sobretudo pelas reflexões de H. Marcuse, T. W. Adorno e M. Horkheimer, argumentamos que se a violência tem uma causa social, ela encontra correspondência no indivíduo, sendo, portanto, tributária do contexto social objetivo e ressignificada pela dinâmica subjetiva. Como a violência no futebol e os confrontos entre torcedores organizados constituem a face evidente do fenômeno, os consideramos como “ponto de partida”. Recorremos à investigação empírica para acompanhar o papel que as torcidas organizadas desempenham na ampliação da violência e entender como os principais sujeitos envolvidos nesse processo percebem o fenômeno. Observamos jogos em competições estadual e nacional dos três times; entrevistamos presidentes, diretores, membros e ex-membros das torcidas organizadas; dirigentes de clubes; responsáveis pela segurança no estádio; profissionais da mídia televisiva; além do uso de questionário com os membros mais orgânicos dessas torcidas. Entre as principais discussões, destacamos, num plano amplo, a intensificação do futebol como mercadoria na era do espetáculo midiático, configurando um cenário de indústria cultural do futebol, e a formação da individualidade nas sociedades administradas que se mostra mais disponível para pertencer a agrupamentos de massa. De modo específico, ressaltamos os conflitos dos torcedores organizados com a polícia e com a mídia, a manifestação de sentimentos supostamente incontroláveis, a revelação de que os confrontos são tolerados sob certas circunstâncias e a ênfase no argumento de que a violência no futebol se deve a uma minoria de criminosos infiltrados nas torcidas, motivo pelo qual a repressão e a punição foram as medidas mais lembradas para combatê-la – em detrimento da formação cultural ou das desigualdades estruturais engendradas pelo modo de produção social vigente. Como “ponto de chegada”, procuramos pelas contradições que se escondem por trás das motivações e justificativas para os confrontos e ressaltamos o papel fundamental da educação como contraponto à violência e à barbárie. Esta tese foi orientada pela Profª. Drª. Sílvia Rosa Silva Zanolla e desenvolvida na linha de pesquisa Cultura e Processos Educativos do Doutorado em Educação da Universidade Federal de Goiás.
Palavras-chave: futebol, torcidas organizadas, violência, individualidade, sociedade administrada