Esta é uma tese a respeito das lógicas de formação de torcidas organizadas, associações, coletivos de torcedores, em suma, sociedades torcedoras – em um sentido amplo – do futebol brasileiro. O ponto de partida é a cidade de Porto Alegre com especial ênfase sobre os grupos vinculados aos Sport Club Internacional, uma entidade esportiva tradicional na prática do futebol profissional, que é composta por mais de 100 mil associados, além de vivida, das mais diversas formas, por cerca de 6 milhões de torcedores, simpatizantes e fanáticos. O que trago para debate, considerando o estado avançado dos estudos sobre o futebol e suas torcidas, é, um olhar etnográfico para o faccionalismo clubístico, compreendido como a outra face do pertencimento clubístico, isto é, enquanto uma tendência para a produção de identidades/diferenças no âmbito interno de uma mesma comunidade de sentimento. Ou ainda, enquanto a forma pela qual torcedores de um mesmo clube se associam e divergem entre si. Assim, por meio de inserções de campo, bem como pesquisa da literatura historiográfica e antropológica do tema, observo, em perspectiva diacrônica, como Torcidas Organizadas Independentes, barras bravas, Consulados e movimentos políticos – modalidades tão singulares de organização coletiva torcedora – se formaram no entorno dos clubes, desde fora e desde dentro dessas entidades. Defendo uma antropologia política do torcer com o intuito de analisar como ocorreram os movimentos de surgimento, transformação e – em alguns casos – dissolução desses agrupamentos, jogando luz sobre suas diferentes socialidades torcedoras em busca de identificar tendências políticas da organização do torcer.
Palavras-chave: Torcer; socialidade torcedora; faccionalismo clubístico; associacionismo; antropologia da política