A prevenção é reconhecidamente o melhor caminho para o combate ao crime. Contudo, elaborar políticas preventivas é um grande desafio. Os primeiros dois ensaios dessa tese contribuem para a busca de ferramentas inovadoras neste âmbito ao explorar o papel de prevenção ao crime de tecnologias e formas de entretenimento que fazem as pessoas alterarem voluntariamente suas escolhas de alocação do tempo. O racional é simples: delitos podem ser evitados se as pessoas optarem por gastar seu tempo em atividades menos propícias à ocorrência de crimes tirando tempo de atividades mais propícias à ocorrência de crimes. Este mecanismo é conhecido na literatura como “voluntary incapacitation”. O primeiro ensaio analisa o impacto da difusão da Internet sobre delitos nos EUA. Usando variáveis instrumentais em um contexto de painel por ano e estado, eu encontro uma relação negativa e significante entre penetração da Internet e crime total e crime contra a propriedade. Baseado no arcabouço teórico, eu interpreto este resultado como voluntary incapacitation: o tempo gasto online reduz o tempo gasto em atividades alternativas que mais provavelmente levariam a delitos. O segundo artigo investiga a ligação entre entretenimento e crime ao analisar a atividade criminosa na cidade de São Paulo durante a Copa do Mundo de 2014. Os resultados mostram que esta é significativamente menor durante os jogos, especialmente aqueles com as maiores taxas de audiência remota. Testes adicionais sugerem que estes resultados refletem o mecanismo de voluntary incapacitation uma vez que a possibilidade de interação entre potenciais vítimas e criminosos diminui enquanto as pessoas assistem os jogos. A maior contribuição para políticas públicas desses estudos é a conclusão que prover acesso a tecnologias (como a Internet) e atividades de entretenimento (como eventos esportivos) pode ajudar no combate ao crime através do efeito de voluntary incapacitation. O terceiro ensaio também relaciona à prevenção ao crime e aborda um desafio da literatura, que é a quantificação empírica do efeito de dissuasão da polícia. A dificuldade nasce do fato de que presença policial e crime são determinados simultaneamente, causando um problema de endogeneidade. Eu abordo o assunto ao considerar o experimento natural representado pela criação de uma unidade especial de polícia para o monitoramento de algumas áreas específicas da cidade de São Paulo durante a Copa do Mundo de 2014. Eu levo em consideração que o campeonato deve influenciar o crime através de vários canais (concentração de torcedores e voluntary incapacitation), e não só por meio do aumento do efetivo policial. Para separar o efeito específico da polícia sobre crime, eu uso o fato de que a Copa do Mundo impactou diferentes áreas da cidade em momentos diferentes e através de diferentes canais. Os resultados mostram que o aumento na presença da polícia leva a uma redução significativa da atividade criminosa. A elasticidade do crime à polícia estimada é muito próxima àquela calculada em outros estudos.