10.3

Arnaldo Santos

Equipe Ludopédio 12 de fevereiro de 2014

O radialista e cronista esportivo manauara Arnaldo dos Santos Andrade, popularmente conhecido como Arnaldo Santos, iniciou a carreira como locutor em 1959. Além do futebol, Arnaldo participou de transmissões de diversos esportes, como Formula 1, Voleibol, Handebol, Futsal, entre outros. Em 1970 começou a apresentar o programa “AS nos Esportes” na TV Ajuricaba (na época filiada à Rede Globo), no qual permaneceu por 14 anos. 

Fez parte do grupo executivo de construção do Estádio Vivaldo Lima e transmitiu pela Rádio Baré a festa de pré-inaguração do “Vivaldão” em 1970, que contou com a presença da Seleção Brasileira que viria ser campeã da Copa do Mundo naquele ano. Nomeado subsecretário de desportos da Secretaria de Estado, Cultura e Deportos–Seduc em 1995, Arnaldo teve como principal missão recuperar o Estádio Vivaldo Lima. O estádio passou por uma ampla reforma e em dezembro de 1995 foi reinagurado em uma partida Brasil x Colômbia. 

Em 1998, Arnaldo Santos passou a coordenar o Campeonato de Peladas do Amazonas, conhecido popularmente como Peladão, o maior campeonato de futebol amador do Brasil. Disputado anualmente desde 1973, o Peladão é organizado pela Rede Calderano de Comunicação (RCC), e mobiliza diversos segmentos e públicos da população manauara: homens, mulheres, jovens, veteranos e indígenas. No Vivaldão, em janeiro de 2010, um público de 45.000 pessoas lotou o estádio para assistir a final do Peladão Verde. Foi o último jogo do Peladão no estádio antes da demolição do Vivaldão para a construção da Arena da Amazônia, que sediará a Copa do Mundo de 2014 em Manaus.

A entrevista foi realizada por Rodrigo Chiquetto, Mariane Pisani, Giuliana Nishiyama, William Contini e Enrico Spaggiari; equipe do filme-documentário sobre futebol amador em Manaus e São Paulo, produzido pelo NAU – Núcleo de Antropologia Urbana da USP e pelo LUDENS – Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Futebol e Modalidades Lúdicas.

Por fim, um agradecimento muito especial a Rick Olliver, assistente da coordenação do Peladão, pela leitura e revisão da entrevista.

Boa leitura!

 

 

Arnaldo Santos  é radialista na região Norte do Brasil. Foto: Enrico Spaggiari.

 

 

 

Primeira parte

Arnaldo, qual é a história do Peladão? Como surgiu o campeonato?

‘O tempo não para, só a saudade faz com que a gente pare no tempo’. Isso é apenas para dizer que o Peladão, que têm 40 anos, dos quais, 15 anos estou na direção, vem construindo uma história fantástica. Porque seus personagens se misturam. Se você olha para o céu e vê tantas estrelas, no Peladão aparece até cometas. No meio daquela gente lutando pelo mesmo ideal, acaba convergindo numa direção: vida. Não tem nada melhor do que a gente viver. O Peladão tem essa magia. Eu falo dessa forma porque simplesmente amo aquilo que eu faço. Quando falamos com o coração, muitas vezes criamos fatos que não são tão verdadeiros, mas que no fundo refletem um pouco da realidade daquilo que você vive. E o Peladão tem essa história bonita para ser contada. Eu, por exemplo, fui um crítico duro ao Peladão. Como cronista esportivo, eu achava que o Peladão atrapalhava um pouco a estrutura do início do futebol profissional. Porque vem mais ou menos da mesma época, quando o futebol amazonense saiu do amadorismo para o profissional. Simplesmente porque chegava na minha cabine de transmissão nomes de atletas ausentes dos clubes profissionais que acabavam sendo riscados do roteiro de escalação porque estavam jogando no Peladão. Imagina só como é que era. O tempo foi passando e acabei mergulhando dentro desse universo. Comecei a ver como esse senhor chamado Umberto Calderaro tinha uma visão fantástica do que poderia ser feito dentro de uma sociedade. E é só voltar no tempo, para a década de 70; Manaus não era a cidade que é hoje. Umberto achava que nos bairros as pessoas tinham que se ocupar no final de semana. E nada melhor do que um jogo de futebol entre amigos, entre parentes, entre aqueles que curtem essa forma de existir. E como tudo aqui no Norte do país é assim – como no Brasil inteiro e no mundo, sempre tem a figura de uma ‘rainha’. Temos a rainha do boi, a rainha do folclore; por que não a rainha do Peladão? Juntar tudo isso no final de semana sempre foi algo muito agradável. O tempo passou, o campeonato foi crescendo, os números foram aumentando e os desafios foram constantes. E o divertimento, para aqueles que seguiram o Peladão, vem de uma forma que até hoje é um grande desafio. Eu, vendo tudo isso, mal sabia que em algum momento estaria dirigindo esse evento. E foi assim. Quinze anos atrás fui chamado para proferir uma palestra do ponto de vista comercial, na Rede Calderaro de Comunicação (detentora da marca Peladão) porque eu trabalhava na Coca-Cola e que era patrocinadora do campeonato. Por motivo de doença do ex-coordenador do Peladão, Messias Sampaio, que fez um bom trabalho de 25 anos no Peladão, e que teve que se ausentar por motivo de doença -, fui convidado e aqui estou, há quinze anos, lutando para manter a essência do Peladão. Ou seja, o pé no chão. E não é o pé no chão da irresponsabilidade. É o pé no chão em que você caminha na certeza de que está fazendo alguma coisa pela sociedade. E assim o Peladão foi crescendo. Saiu do Peladão para o Peladinho, que foi uma experiência; vivenciamos o Master; criamos o feminino; passamos para o indígena; aumentamos a participação do interior do estado. E este universo ficou verdadeiramente imenso, com números que, num primeiro momento, parecem ser invenção ou fantasia, mas quando você mergulha dentro dele, você verá que muitas coisas acontecem e outras até deixam de ser registradas, porque no mundo das pessoas você tem limites a percorrer. Lembro bem que estava conversando com uma pessoa na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), e ele disse assim: “Arnaldo, foi uma excelente oportunidade que você me deu agora, para que eu pudesse fazer um registro”, “Diga, qual o registro?, “Você sabe de uma coisa? Quando começa o Peladão eu tenho certeza que minha família vai comer uma vez por dia”. Aquilo me tocou profundamente. Procurei pesquisar, sentir, por quê? Porque sempre tinha um jogo no qual as pessoas compravam o que ele vendia e ele tinha aquele dinheiro que participava. O Peladão se envereda pelos caminhos mais diversos de histórias mil. Aliás, conheci um jornalista aqui da região amazônica, mas que depois virou um carioca famoso, Armando Nogueira, e ele dizia: “matar a bola é um ato de amor”. Eu vou mais longe. No esporte, sobretudo, é a grande verdade da vida, porque você através daquela esfera cria um mundo fantástico de tantas oportunidades e quase sempre de muita satisfação quando se objetiva construir. É o que nós fazemos.

A partir do momento em que o senhor assumiu a direção do Peladão, quais foram as principais mudanças que ocorreram?

Não sei ficar sossegado, tenho impaciência para viver. Gosto de desafios e não gosto da palavra mesmice. E com todo o respeito que tenho à tradição do Peladão, porque estou há 15 dos 40 anos do campeonato, não é que estivesse sendo mal feito. Se assim não fosse, eu não herdaria todo esse acervo. Mas, o meu temperamento sempre via uma oportunidade de desdobrar o Peladão na sua essência, que é de construir, de fazer as pessoas viverem em comunidade e em uma sociedade melhor. Passados três anos, eu e a minha equipe fizemos uma pesquisa, não probabilística, mas uma pesquisa documental. Quando eu digo que o Peladão têm 27 mil atletas, é porque eu tenho 27 mil jogadores cadastrados no nosso sistema, com carteiras de identidade. Então foi fácil fazer uma avaliação do que estava acontecendo. O resultado de conclusão dessa pesquisa apontava que 7.2% de participantes era na faixa etária de 15 a 17 anos. Vi uma excelente oportunidade de começar a exercitar aquilo que eu sempre imaginei o Peladão na sua contribuição social. Ou seja, nós temos que educar, e nada melhor do que começar com os jovens. Tanto que fizemos a categoria Peladinho na faixa etária de 12 a 14 anos. Exatamente para fugir do oficial, que é a partir de 15 anos, dando a oportunidade e que não se quebrasse as raízes da proposta, que era: com 15 anos poder jogar o Peladão!


Desafios

Quando assumi foi bastante difícil de ser compreendido pela comunidade, do ponto de vista comportamental que nós queríamos implantar no Peladão. O que é isso? Simplesmente, as pessoas não estavam muito acostumadas a cumprir regulamento. Aliás, isso é muito natural do brasileiro. Constituição serve para aqueles grandes momentos; quantas coisas a gente transgride dentro da Carta Magna? E nós achávamos que o melhor caminho era tentar fazer uma categoria na qual vamos começando devagar, ensinando: “Olha, você precisa estudar. Se você não estiver estudando, não joga o Peladão”. Para você fazer isso não basta a sua palavra ou a palavra do pai. Longe de não acreditar no que um pai pode dizer. Mas, como pai, e vivendo em uma comunidade onde fica tudo mais fácil na dificuldade, até mesmo de você estar dentro dos consensos naturais das comprovações, nós passamos a ser exigentes: tem que vir da escola com um documento dizendo que o atleta está estudando. Se ele não tiver esse documento, não adianta. Crianças de 12 a 14 anos não tinham carteira de identidade. Até porque não era uma exigência. E nós fizemos contatos com Secretaria de Segurança Pública do Estado do Amazonas, eles se colocaram à disposição, facilitando todo esse trabalho.

Diante das nossas exigências documentais, nos dois primeiros anos do Peladinho, as escolas emitiram declarações escolares falsas. E nós, da maneira como víamos as coisas, começamos a fazer auditoria em cima disso. Quando eu falo assim parece até que: “puxa, mas uma brincadeira precisa ser tão exigente?”. Não, porque nós temos objetivos e fins. E temos que atingir esses objetivos. Hoje, graças a Deus, eu vejo meninos com suas carteiras de identidade. A escola dizendo: “Olha, aqui está uma prova”. Só para citar um fato de como esse Peladão é fantástico, essa é uma faixa etária que tem várias escolinhas. No ano passado, um desses garotos foi parar, se eu não me engano, em São Caetano ou São Bernardo. Foi lá nas escolinhas de futebol e ficou lá. Mas não disputou a competição oficial e pelo regulamento ele poderia vir disputar as finais da competição. Ele voltou para Manaus exatamente nas quartas de finais. Mas tínhamos que exigir que ele estivesse estudando. Por incrível que pareça, para não dizer que é só em Manaus, também tivemos o desprazer de mais tarde constatar que aquele documento que dizia que ele estava estudando era uma simplesmente uma farsa. Isso gerou, inclusive, uma situação desagradável porque nós não paramos no tempo, nós exigimos e fomos à Secretaria Municipal de Educação em São Paulo e acabou sendo aberto um processo interno no qual a responsabilidade de quem emitiu não entrou nem no mérito da questão, foi desagradável. Isso é só uma prova de como vemos e exercitamos as nossas ações administrativas. Então, é assim, nós temos a categoria Peladinho. Lá na ponta, no outro lado, eram jogadores acima da faixa etária de 40 anos. São os famosos boleiros, os craques do passado, aqueles que acham que podem mandar. Mas que não resistem mais à força jovem que vinha por trás e acabavam sendo os maiores criadores de casos possíveis. Então criamos a categoria “master” e abrimos a competição. E aí veio o outro passo: “olha, as rainhas, que são tão poderosas e fazem com que time seja homologado, ou seja, têm os deveres outorgados para participar da competição, e de tão poderosa a rainha, é capaz de pegar um time que esteja desclassificado e trazê-lo para a competição”. Nós temos um bom exemplo disso. No primeiro ano da nossa direção, o time campeão foi resgatado pela rainha. Eles se descuidaram, mas tinham uma boa candidata, e que acabou sendo classificada, trazendo o seu time à competição, sagrando-se campeão naquele ano. Veja, são coisas que vão acontecendo e que vão amadurecendo aquilo que a gente quer. E não só transformamos a rainha como representante da beleza, mas também como atleta, mostrando no campo as habilidades com a bola. Então criamos o Peladão Feminino. Lendo os jornais, eu vi registrado lá: ’26 mil índios estão morando na cidade de Manaus’. Eu disse: “puxa, que ótimo, vamos ver como eles estão vivendo”. Desculpe-me, mas eu abomino o direito de explorar a imagem como se faz muito principalmente com o índio. Mas eu acho que nós podíamos dá uma contribuição para eles. Ora, se eles saem das suas tribos, vêm para Manaus, enfrentam todas as adversidades possíveis, porque teriam que se estabelecer, ter suas residências, estudar, se alimentar, trabalhar, o que está acontecendo? Como isso pode ser trabalhado? Então, graças a uma peregrinação muito grande com os órgãos federais, e não tendo uma resposta imediata, acabei encontrando o líder indígena Terena. Eu o chamava de ativista, mas ele dizia que não era ativista. Era uma pessoa fantástica, um líder. Ele me deu uma lição incrível, eu guardo isso, e digo com muito respeito. Ele tinha pós-graduação na Pensilvânia, foi para os Estados Unidos estudar. E eu disse assim: “Mas porquê você fez isso?”. Ele falou assim: “Para entendermos os brancos temos que saber como eles vivem, como eles sentem, temos que dar um passo a mais”. Isso me abriu um caminho. Eu digo: “Bom, eu não faço essa competição se não for com o apoio da Universidade Federal do Amazonas”. Porque eu preciso da área antropológica, da escola de educação física, do meio acolhedor cultural para que possamos ajudá-los a saber, interpretar, pesquisar, mais do que isso, trazer contribuição para essas pessoas. E foi dessa forma que nós criamos o Peladão Indígena e, graças a Deus, temos parceiros muito importantes que vem por esse Brasil afora, que estudam a inserção positiva dos povos indígenas no Peladão. Eu tenho certeza absoluta, e isso já foi dito aqui pelos lideres indígenas, que agora eles têm um momento de concentração, e que muitos problemas que eles tinham de como se comunicar para fazer reivindicações na sociedade amazonense, hoje tornou-se mais fácil porque eles têm o ponto de encontro chamado Peladão.

Arnado Santos cobriu diversas Copas do Mundo, Foto: Enrico Spaggiari.

E quando começaram esses campeonatos?

O Peladinho veio em 2000, o Master em 2001, em seguida veio o Feminino e os povos indígenas apareceram depois.

Como foi estabelecer a exigência do Rani para o Peladão Indígena?

Se nós pegarmos os relatórios vamos verificar que ano passado eu tive que suspender a competição pelo fato deles terem começado a deixar entrar, usando a linguagem deles, “brancos”. Estava infestado de pessoas que não eram indígenas. Isso não interessa para nós. Ser amigo do índio tudo bem, mas não tem DNA para disputar a competição. Uma das dificuldades que nós temos tido é em relação ao Rani – Registro Administrativo de Nascimento de Índio. Porque é um documento demorado; tem que ir nas tribos, fazer toda a pesquisa, e a burocracia brasileira é um terror. No que pese a Funai ser decretada como uma grande contribuição – aqui não é uma crítica à Funai -, mas é um pouco devagar nas coisas, porque sempre dão um jeito, e esse jeito para nós não interessa. Fazer uma afirmação de que é um índio, não nos interessa. Então fomos obrigados a parar a competição, depois retomamos os trabalhos, revendo tudo isso, e fez com que restringíssemos o número de participantes. Se pegarmos os números, veremos que o Peladão Indígena foi diminuindo o número de participantes. Num primeiro momento demos uma oportunidade para reuni-los e num segundo momento começamos a apertar, até chegarmos a essa conclusão. Nesse ano houve uma proposta das lideranças indígenas que disseram: uma das coisas que pode contribuir é que se o pai e a mãe tem Rani, obviamente, o filho é indígena. Então registramos em ata e foi dessa forma que conseguimos fazer uma competição verdadeiramente planejada para índios.

Quais são os números do Peladão desse ano?

Em 2013, nós devemos ter 1.137 times participando. Aí você diz assim: “Puxa, mas o campeonato já vai está nas oitavas de final, como é essa história?”. Porque o interior, no que pese, de 22 municípios terem solicitado para participarem da competição, terem levado toda a documentação e estarem realizando a competição, nós só oficializamos esses números quando esses documentos são homologados na coordenação. É uma exigência? Não. É a nossa maneira de trabalhar. Porque o Peladão desse ano teve 665 intenções, e estou falando só do Peladão, 665 intenções. Aí você vai perguntar: intenções? E eu digo que dessas ‘intenções’ – aquele ato de vir à sede, receber o documento, regulamento, fichas de inscrição e retornar com todo material exigido – você cumpre o ato de ‘inscrição’. As inscrições saíram de 665 para 506. Porque somente os documentos de 506 estavam em condições de atender o regulamento da competição. Mas nós temas outra fase, que é a fase da homologação. Nós tivemos que cortar esse ano mais de 50 times. Porquê? Porque a rainha que representa os clubes não foi no dia da abertura. Então, uma coisa que começou com 665 clubes, passou a ter 506 inscritos e acabou competindo apenas 447. Porque esses 447 times estão absolutamente dentro das normas do Peladão. É assim que nós fazemos o diferencial. E graças a Deus nós estamos vendo isso acontecer nos jogos dos bairros. É dessa forma que o cidadão preserva sua carteira de identidade, é assim que ele é capaz de reivindicar seus direitos, é assim que ele pode cumprir a constituição. Eu acho que nós estamos dando a nossa contribuição no sentido educativo.

Interessante que os números de inscrições do Peladão Feminino são superiores do que a própria Copa do Brasil de Futebol Feminino.

O futebol feminino no Brasil teria de ser mais levado a sério. Só agora a FIFA começou a dar maior atenção. No Brasil, existia um movimento no Rio de Janeiro, depois se espalhou um pouco por São Paulo, e foi migrando para os outros estados. Mas o Campeonato Brasileiro é todo improvisado. Temos uma seleção que vai disputar o Sul-Americano, os Jogos Olímpicos, o Mundial. Não é como nos Estados Unidos. Os Estados Unidos, hoje, é uma força no feminino; a Alemanha é uma força no feminino; a Escócia é uma força no feminino. Então, nós não demos o devido valor a isso. E aqui no Peladão foi crescendo, crescendo. Hoje, por exemplo, acabei de receber um documento de um time que está representando, o Princesa de Solimões, que fica do outro lado da cidade de Manaus, pedindo que os jogos dele no Peladão não fossem nos mesmos dias em que disputam o Campeonato Amazonense, que começou agora. O que nós estamos fazendo? Isso não é uma abertura de exceção, pelo contrário estamos ajudando a desenvolver essa categoria que tem a maior jogadora do mundo, a brasileira Marta.

Porque você acha que o feminino no Brasil é tão desvalorizado?

É desvalorizado porque as nossas autoridades e os clubes não estão dando o devido valor que merecem. Pensa nas principais equipes do Brasil com raríssimas exceções. Se o Corinthians, São Paulo, Palmeiras tivessem a categoria feminina, assim como o Vasco, Flamengo e Fluminense; no Rio de Janeiro, Atlético e Cruzeiro; em Minas Gerais, Grêmio e Internacional; no Rio Grande do Sul e tantos outros importantes na estrutura do futebol feminino no Brasil, com certeza seria uma outra realidade. Posso até estar equivocado!

Arnaldo do Santos é um dos cronistas esportivos mais conhecidos no Norte do Brasil. Foto: Enrico Spaggiari

Por que no Brasil parece que é um problema a mulher jogar bola?

O Brasil evolui tanto em vários segmentos, porque teria que diferenciar? Mulher não joga basquete, voleibol? Por quê não o futebol? Já deu prova disso, da habilidade das jogadoras como a Marta, que é decantada no mundo todo. Várias jogadoras brasileiras vão para a Rússia, para o leste europeu, para jogar. Por quê nós não massificamos isso? Por quê não damos atenção? Porque lamentavelmente o futebol brasileiro hoje é uma dívida única. E fazer mais uma dívida? É um mau momento. Eu vejo dessa forma, não sei se isso é verdadeiro. É muito mais uma diversão, não com aquela obrigatoriedade profissional, do treinamento, de toda uma estrutura. A não ser a seleção, que fica pegando jogadoras de vários lugares, junta, faz um “arrumadinho”, e vão disputar as competições. Assim é o futebol feminino do Brasil. Você vê isso no desdobramento para o futebol de salão feminino que tem o mesmo tratamento.

Os times femininos também têm que ter uma Rainha?

Não, Rainha é só para o Peladão. Eu tenho muitas propostas, recebo cartas interessantíssimas, engraçadas, de pessoas perguntando por que não tem o Rei do Peladão e só tem as Rainhas? Não sei, estamos deixando o tempo passar. (risos).

Confira a segunda parte da entrevista no dia 26 de fevereiro de 2014!

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