Visões do Tri

Depoimentos de jogadores da Seleção no Mundial de 1970

 

Nota Explicativa

Esta série é parte integrante do projeto “Futebol, Memória e Patrimônio”, desenvolvida entre os anos de 2011 e 2012, com o apoio da FAPESP. A pesquisa foi realizada em parceria pelo CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e pelo Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB), equipamento público vinculado ao Museu do Futebol/Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Nesta seção, serão apresentadas as edições de 8 entrevistas concedidas por atletas brasileiros que estiveram presentes na Copa do Mundo de 1970, no México, a nona edição do torneio organizado pela FIFA. São eles: Félix, Carlos Alberto Torres, Marco Antônio, Gérson, Piazza, Edu, Roberto Miranda, Tostão. O propósito dos depoimentos, com base em sua história de vida, método caro à História Oral, foi rememorar as lembranças dos futebolistas acerca de sua participação na competição, de modo a destacar os preparativos para o Mundial, os jogos e a volta ao Brasil.

Local da Entrevista: Museu do Futebol, São Paulo – SP; Entrevistadores: Fernando Henrique Neves Herculiani e Aníbal Massaini Neto; Data: 01 de setembro de 2011; Transcrição: Maria Izabel Cruz Bitar; Edição: Pedro Zanquetta Junior; Supervisão de Edição: Marcos Aarão Reis.

Félix Miéli Venerando sendo entrevistado no Museu do Futebol em 2011. Foto: Museu do Futebol.

Félix Miéli Venerando. Nasceu em São Paulo, no dia 24 de dezembro de 1937 e faleceu na mesma cidade em 24 de agosto de 2012. Iniciou a carreira profissional no Juventus, time tradicional da capital paulistana, em 1953. Permaneceu neste até se transferir para a Portuguesa de Desportos, outra equipe de pequeno porte, mas de tradição na cidade. Foi goleiro da Lusa até 1968. Deste, seguiu para o Fluminense, por indicação do técnico Telê Santana. No tricolor carioca, foi campeão estadual em 1969, 1971, 1973 e 1975. Conquistou a Taça de Prata de 1970. Estreou na Seleção brasileira em 1965. Disputou um total de 48 partidas e obteve diversos títulos, como a Copa Rio Branco de 1967 e 1968. Aos 33 anos, foi o goleiro titular da Copa de 1970 e sagrou-se tricampeonato mundial no México. Encerrou a carreira em 1976. Quando concedeu o depoimento a seguir, era coordenador de uma escola de futebol comunitária voltada para crianças carentes.

Félix com a camisa da CBD. Foto: Divulgação.

Onde e quando você nasceu? Em qual time iniciou sua carreira?

Meu nome é Félix Miéli Venerando, nascido na Mooca em 24 de dezembro de 1937.  Eu morava na Rua João Antônio de Oliveira, atrás da Companhia União dos Refinadores. Meu pai trabalhava na Indústria Brasileira de Meias, a antiga Mousseline. Tinha uma vila ali, que dava para os fundos da Javari, foi onde nasci. Aprendi a jogar futebol na rua e iniciei no Juventus.

Como era sua família?

Nós éramos uma família de cinco irmãos: eu e mais quatro. Era o segundo da família – tinha uma irmã mais velha – e depois vinha mais um irmão e duas irmãs. 

Jogando futebol na rua, você já tinha vocação para goleiro ou de vez em quando arriscava a jogar na linha?

O meu início nos times de várzea da Mooca como goleiro foi porque eu tinha coragem. Antigamente não tinha asfalto, só paralelepípedo ou terra, mas na Companhia União dos Refinadores, a calçada era bem larga. A gente brincava no paredão e foi onde eu fui pegando coragem para ser goleiro. Depois, eu joguei em quase todas as equipes de várzea da Mooca. Mas antes disso, quando era garoto – hoje, a categoria chama dente de leite –, foi quando eu saí da rua e fui treinar no mirim do Juventus.

Já como goleiro?

Sim. Na várzea, mesmo jogando no Juventus – no mirim, você não tem compromisso normal –, eu jogava na linha. Todas as equipes de várzea tinham dois times, o primeiro e o segundo. Eu jogava no gol do segundo e no ataque do primeiro. Fui artilheiro em diversos times, mas depois a minha vocação foi mesmo para o gol. Comecei a galgar as divisões de base do Juventus: de mirim, fui para infantil e juvenil. Naquela época, tinha juvenil A e juvenil B e não tinha juniores. Aos 16 anos, fiquei no banco de reservas do profissional, na reserva do Oberdan Cattani, um grande nome do futebol do Palmeiras e do futebol paulista. 

Você disputou algum campeonato pelo Juventus? Frequentava o estádio para ver outros jogos?

Disputei o infantil, o juvenil B e o juvenil A. Na Javari, eu era frequente, assistia  todos os jogos.

Por que você saiu do Juventus?

Eu precisava fazer uma cirurgia de hérnia na época e o Juventus não podia pagar, acabei saindo e fui para o Máquinas Piratininga. Fui trabalhar e jogar futebol para eles, disputando o Campeonato Amador de Várzea.

Como foi sua passagem pelo Máquinas Piratininga?

Fui campeão paulista e campeão interestadual. Nesse intervalo, eu jogando no Máquinas Piratininga, conseguiram uma oportunidade para eu treinar no Santos, no profissional. Eu tinha 17 anos nessa época. O Santos foi jogar um amistoso na Argentina e o Lula[1] falou para eu voltar lá quando a equipe retornasse de Buenos Aires.

No Máquinas Piratininga, tinha um tesoureiro da Portuguesa de Desportos, chamado Antônio Júlio Cancela. Eu pedi autorização para poder sair, deixar do serviço para poder treinar. Quando voltei, ele disse: – Será que você é bom mesmo? Vamos experimentar. Vou mandar você treinar na Portuguesa. Se você for bom, vai fazer o contrato e eu não vou te dispensar mais do serviço.

Fui treinar na Portuguesa – na época, o Délio Neves[2] era o treinador – e, no primeiro treino, já quiseram ficar comigo. E eu, aos 17 anos, assinando como profissional. Na época, não era igual a hoje: qualquer garoto de cinco, seis ou sete anos já está assinando contrato profissional. No meu tempo, devia ter autorização do Juizado de Menores e do pai para poder assinar. 

Nessa época, você trabalhava, jogava e estudava?

Eu estudava, fazia contabilidade num colégio da Mooca. Assinei com a Portuguesa e viajava muito. O Campeonato Paulista era do interior também, então, você concentrava terça e sábado e jogava quarta e domingo. Perdia quatro dias de aula na semana. Fui reprovado um ano por causa de falta, fiz segunda época e, graças a Deus, me formei. Sou técnico em contabilidade, mas nunca exerci a profissão.

Havia alguma restrição dos seus pais quanto a você jogar futebol?

O pai não queria, nem a mãe, porque eu precisava estudar. Mas meu pai trabalhava perto de casa, então, quando sabia que eu ia treinar, ele levava a minha chuteira para a fábrica. Quando eu saía de casa, passava na fábrica, pegava a minha chuteira na portaria e ia treinar no Juventus. Foi quando comecei a ser jogador de futebol.

Quem eram seus ídolos e suas influências como goleiro?

O Oberdan Cattani, um cara com uma mão enorme, que pegava a bola com uma mão só; o Gilmar[3], com aquela elasticidade; um pequenininho, chamado Valdir de Moraes, com uma colocação esplendorosa. Se juntar os três, o que você vai encontrar? Um fenômeno. Um Pelé no gol.  Eu vi o Oberdan jogar, joguei contra o Gilmar e contra o Valdir de Moraes[4], já no final da carreira dele. 

Como foi sua ida da Portuguesa para o Nacional?

Eu saí da Portuguesa em 1957 e fui emprestado ao Nacional, pelo Maurício Cardoso, que era um capitão do Exército. Ele foi obrigado a me emprestar, pois o Cabeção[5] – goleiro da Portuguesa na época – machucou a mão trocando uma lâmpada em casa, e joguei numa emergência. Fechei o gol. O Cabeção ganhava quatro ou cinco vezes mais do que eu e era goleiro de seleção. Fui conversar e o capitão Maurício disse: – Félix, não tem jeito, vou te emprestar para algum clube. Não dá para você ficar na reserva do homem, não tenho condição, e ele é goleiro de seleção, ganha muito mais. Não posso botar ele no banco para você jogar. Então, fui emprestado para o Nacional. Passei três meses lá. Quando voltei, o Carlos Alberto[6] estava na Portuguesa, em 1957, e fiquei no banco com ele. Depois, veio o Chamorro[7], e, em 1959, o Oto Vieira[8], de primeiro goleiro, de titular, me botou para último… Passei a quinto goleiro. 

Quando você assumiu como titular da Portuguesa?

Em 1960, quando o Nena[9] – zagueiro central da Portuguesa, assumiu o profissional, ele perguntou: – O que está acontecendo? De primeiro goleiro, você passou para quinto? Eu respondi: – Não sei. Não briguei com ninguém, nem com o treinador, e hoje ele me botou para quinto goleiro. Fazer o quê? Ele respondeu: – Não, você vai ser meu titular. Entrei de novo na equipe e nós fomos vice-campeões. Perdemos o título em Bauru, contra o Noroeste. Foi a única vez que a Portuguesa teve chance de ser campeã, na minha época. 

Você é um homem de poucas camisas. A Portuguesa foi um lugar onde você ficou muito tempo. O convívio era bom?

Foi um trampolim para mim. Hoje, o atleta é revelado e, em seguida, vai para a Europa. Antes não existia isso. Eu fui cogitado em 1963, para ir à Itália. Acabou não dando certo. A Portuguesa foi o time que fiquei mais tempo, treze anos. Acho que fui o jogador que ficou mais tempo lá. 

Em 1962, você foi convocado para os preparativos da Seleção Brasileira?

Não fui convocado, fui relacionado entre os 40.  No campeonato oficial de 1963, fui convocado pela seleção paulista. E depois, na própria seleção, em 1965, teve um amistoso contra a Hungria, aqui no Pacaembu.

É uma emoção a convocação, entrar em campo com a camisa da Seleção? Você lembra desse jogo?

Lembro. Eu tinha passado pela seleção paulista, seleção regional, mas Seleção Brasileira é outra coisa. Fomos jogar contra um time considerado o melhor da Europa, a Hungria. Para mim, botar aquela camisa… a camisa da Seleção pesa muito, pesa demais. Em 1966, fui lembrado entre os 30. Foi feita uma seleção chamada de “os esquecidos”. Estava passando a novela da Mamãe Dolores[10], então falaram: “Essa é a seleção Mamãe Dolores”, que era a azulona[11]. Íamos fazer uma excursão à Europa, mas só jogamos duas partidas aqui. 

Em 1967, você foi titular com o Aymoré Moreira[12] na Copa Rio Branco, no Uruguai. Como foram esses jogos?

Foram três empates – zero a zero, dois a dois e um a um – e nós fomos campeões. Estava um frio, cara! Uns sete graus abaixo de zero. E uma chuva! No gol, você pisava e atolava. Fomos fazendo as partidas, jogando e empatando. O Brasil saía na frente e depois eles empatavam. Teve um jogo em que eles saíram ganhando da gente, nós viramos e depois eles acabaram empatando. Eles meteram a mão na gente. Naquele tempo, em Montevidéu, dificilmente você ganhava.

Como eram esses jogos contra o Uruguai?

Era pesado e essa rivalidade ainda existe. Você joga contra o Uruguai até hoje e pensam: – Vamos vingar 1950! Não existe, cara! Fui bicampeão da Copa Rio Branco em cima do Uruguai. Eu fui bi, joguei as duas. O cara chega, em 1970: – Vamos vingar 1950! – Mas vamos vingar de 1950 o quê?! Não tem nada que vingar mais. Já ganhamos, fomos bi. 

Fale um pouco sobre a sua transferência para o Fluminense em 1968.

O diretor do Fluminense me viu jogando contra o Vasco. Disse que eu cantava o jogo, conversava com a defesa, ordenava dando a colocação para um e para outro. Passava o jogo todo falando. E jogava mesmo, quando terminava, eu estava rouco. Então, quem veio para cá para fazer a minha contratação foi o doutor Vilella[13], o Rei do Tapetão. Ele ganhava tudo na justiça. Quando chegou para falar com o presidente da Portuguesa, o Luiz Portes Monteiro, eles ofereceram o Orlando[14], que tinha saído do São Cristóvão para a Portuguesa e estava no banco comigo. Ele falou: – Não. Eu quero é o Félix mesmo, vim direto para comprá-lo. – Não, mas não pode. Se não for o Félix, não tem negócio. Ele acabou me levando. Pagaram uma merrequinha, baratinho, na época não tinha essa valorização de hoje. O Fluminense deu ainda um jogador deles, o Cabralzinho[15].

Era 20 de março de 1968. Eu lembro, pois era aniversário da minha filha do meio, íamos fazer uma mesinha para a menina – Não, não. Eu quero levar você hoje. Vai e pede desculpa para a tua filha. Eu dou um presente para ela.

Deu uma boneca para a menina. Acabou me levando para o Rio no mesmo dia. Assinei o contrato e fiz o exame. O Telê era o treinador, ele é que tinha me indicado. Concentrei dois dias antes, joguei no domingo contra o Botafogo, zero a zero, e fui considerado o melhor homem em campo, tenho o troféu até hoje. 

Por mais que tenha se destacado na Portuguesa e chegado até a seleção, você não tinha ganhado um título. No Fluminense, vem uma série de títulos. O Maracanã lotado, muitos títulos e comemorações. Como era?

Você só escuta “Oh! Oh!”. Fui privilegiado em ir para o Fluminense, time da elite, um Fla-Flu era uma rivalidade, Maracanã lotado mesmo. Em 1968, cheguei no meio da competição, o Fluminense estava se armando e o Botafogo foi bicampeão. No ano seguinte, o Fluminense ganhou, com o Telê como treinador. Eu nunca tinha tido o gostinho de ter essa festa de ser campeão regional e tive a felicidade logo no primeiro ano. Tinha 14 anos como profissional. Fiquei 13 anos na Portuguesa e só depois fui ser campeão, numa equipe como o Fluminense. Era uma beleza entrar em campo e ver aquele talco, aquela poeira, aquilo tudo. Via uma coisa bonita, uma torcida sempre querida e que gostava de mim. Então, quando começa ganhando, você pega o gosto. Todo ano quer de novo. 

Você estava sendo convocado pelo Aymoré Moreira. Mas, em 1969, o João Saldanha[16] assumiu a Seleção. Conte essa experiência. 

Ele me convocou, disse que eram as feras do Saldanha. Convocou 11 titulares e 11 reservas e falou: – Meus 11 são esses e os outros 11 são esses. Foi a maior satisfação: fui para o Rio em 1968; em 1969, campeão e o cara já me convoca para a Seleção Brasileira?! Foi aquela alegria. Eu tinha 14 ou 15 anos de futebol, de profissional, e estava com 29… 30 anos.

Nas eliminatórias, você jogou todos os jogos?

Joguei todos os jogos, todos os minutos. Inclusive eu tinha uma aposta com o chefe da delegação, o presidente do Vasco, Agartino Gomes. Eu falei que não ia tomar nenhum gol. Fomos para fora do país eu disse: – Vou voltar invicto. Vamos apostar? – Vamos. Naquela brincadeira. – Um litro de uísque! Fizemos um amistoso contra os Millionarios, da Colômbia. Dois a zero. Pegamos a Venezuela e foi cinco a zero; o Paraguai foi três a zero…[17]

Voltou invicto. Ganhou o uísque?

Voltei invicto. Ganhei o uísque. Vim tomar dois gols no Maracanã. Pegamos a Colômbia, seis a dois. O maior número de torcedores dentro do estádio do Maracanã foi no último jogo, Brasil e Paraguai, aquele um a zero. Foi quando nos classificamos. Veio a Copa do Mundo e o seu Saldanha me cortou.

Nessa época, também jogavam o Djalma Dias e o Rildo, ou seja, grandes goleadas, uma seleção vitoriosa. As feras do Saldanha. Mas há uma mudança. Foi injusto com você e os outros?

Isso foi uma coisa triste. Se você convoca uma seleção e fica dois ou três meses treinando, você faz um tipo de família. É aquela união. Depois, em 1969, cada um voltou ao seu clube e a convocação foi só em 1970. Fui campeão carioca com o Fluminense em 1969 e, em 1970, depois da Copa, fui campeão brasileiro.

Essa é uma das melhores preparações de Seleção, pelo tempo que levou. Foram três meses até a Copa do Mundo, em junho? 

Foram quatro meses. O que o Saldanha fez? Convocou o Ado e o Leão, os dois estavam surgindo naquela época. Um tinha 21 ou 20 [anos] e o outro tinha… Então, não sei de onde eles tiraram. O Ado fez uma partida boa [pelo Corinthians] contra o Fluminense, pegou inclusive um pênalti, e nós estávamos jogando aqui. Eu joguei esse jogo. O Leão não tinha surgido ainda. Quando apareceu a lista com os dois, todo mundo correu em minha direção querendo saber o que tinha acontecido. Eu disse: – Não sei. Quem pode falar é ele, não sou eu.

Nesse intervalo, foi feita uma seleção regional do Rio e uma seleção de Minas e nós fizemos um jogo amistoso entre um e outro. Fomos jogar em Minas e me puseram. No jogo, me perguntaram (e ele, perto de mim): – Félix, por que o Saldanha…? Eu disse: – Ele está ali. Ele pode falar com vocês. Então, ele disse que eu era magro, não sabia sair do gol, não aceitava o choque dos gringos (o europeu, ele chamava de gringo), nem socava e nem jogava de luva, porque no México, era a época chuvosa. Eu disse: – Não vou responder. Ele faz. Só vou responder dentro do campo. Na eliminatória eu era bom; agora eu não sou mais. Não posso fazer nada.

Fui jogar pelo Fluminense, continuou o campeonato. E o pessoal [da Seleção] concentrado. Fizeram um amistoso contra a Argentina. Teve um jogo do Fluminense na noite em que o Saldanha caiu, contra o Campo Grande, no Maracanã. Joguei o primeiro tempo, e o Paulo Amaral, o treinador, disse: – Olha, no intervalo, vou mudar você, vou dar chance ao Jairo[18]. Eu falei: – No intervalo? E ele: – É. Com qualquer resultado… – E desde quando treinador troca o goleiro quando está zero a zero? Desde quando, se não for por uma contusão? – Ah, mas eu quero experimentar ele. Eu disse: – O senhor é que sabe. Se vocês estão pensando em armar, você e ele… (o Paulo Amaral e o Almir Ribeiro, supervisor do Fluminense que tinha levado o Jairo para lá).

Tomei banho e peguei o elevador. Todo mundo correndo atrás de mim. Eu falei: – Que é isso? – Você foi convocado. O Saldanha caiu, o Zagallo entrou e te convocou. Então, eu vim saber as exigências, o Zagallo falou: – Eu quero convocar, além destes, cinco de minha confiança. Nesses cinco, entramos: eu, o Dadá, o Roberto Miranda e o Leônidas, quarto zagueiro e central, era do Botafogo e foi cortado, pois estava machucado. Foi quando retornei à Seleção Brasileira.

O Saldanha caiu por problemas políticos ou problemas internos?

Eu acho que político não foi, porque o Médici[19], mesmo que tenha falado, nenhum político se intrometeu… Apesar de estarmos numa recessão danada…

O Médici falou como torcedor então?

É provável. E a resposta do Saldanha… O partido dele era comunista e ele respondeu ao presidente da República[20]. Não vou desfazer a imagem do Saldanha, mas ele bebia um pouquinho, e numas dessas, chegou a ficar [bêbado] dentro da concentração… E depois houve uma discussão dele com o Yustrich[21].

Na eliminatória, a Seleção ficou concentrada no Flamengo, e na Copa do Mundo ficamos no Retiro dos Padres[22]. Já estava concentrada quando o Saldanha caiu e o Zagallo me chamou. Fiquei dois meses a menos do que o pessoal.

Aquele negócio da cegueira do Pelé, alegada pelo Saldanha, aconteceu mesmo?

Aconteceu. O Saldanha disse: – Como posso ser campeão? Falou que ia cortar, chamou o Pelé de míope. Eu falei: – Você está brincando?! Todo mundo começou a dar risada. Ele deu aquela desculpa sobre mim e depois a desculpa do Pelé. Foi quando ele caiu. 

Isso foi uma decisão da Confederação Brasileira de Desportos?

Sim. Na minha opinião, não foi nada político. Nós estávamos treinando na Escola de Educação Física do Exército, a melhor escola do mundo em preparo físico. O Chirol e o Parreira[23] eram os dois preparadores, auxiliados pelos preparadores do Exército: tenente, capitão, etc. Nós estávamos treinando na Praia Vermelha, dentro do quartel. Quando era coletivo, íamos ao Maracanã.

O Brasil teve uma vitória e uma derrota contra a Argentina. Depois teve um jogo contra o Bangu, um a um. Isso deu um baque?

Foi o último amistoso do Saldanha. Acho que foi a gota d’água. 

Depois, o Zagallo entrou e resolveu fazer um teste e jogar com o Tostão e um centroavante.

Ele achava que o Tostão e o Pelé não jogavam juntos. Conversamos e viram que o Tostão, taticamente, poderia servir. Então, contra a Áustria, o Zagallo montou esta equipe.  Ele aceitava ouvir a sua opinião. Agora, tinha uma coisa, você era obrigado a jogar do jeito que ele queria. Tinha diálogo, com o Saldanha não tinha. – Esse é minha fera! E nem instrução dava. – Vamos para a vida que segue! Ele só falava isso e botava dentro de campo. O Zagallo não, ele perguntava, um a um, se era possível jogar como ele queria.

Ele não colocava o Tostão em nenhum amistoso. Neste, contra a Áustria em Manaus, o último jogo, na inauguração do Vivaldão, nós ganhamos de um a zero e fomos jogar a Copa do Mundo com esse time armado. Dali em diante, não tinha para mais ninguém. Podia haver uma substituição ou outra, em caso de contusão. O Everaldo se machucou em um jogo e entrou o Marco Antônio; o Piazza se machucou e entrou o Fontana… 

O Piazza recuou de volante a quarto zagueiro; o Rivelino virou ponta-esquerda. Ou seja, moldou-se um time, aproveitando o melhor de cada um nas suas posições. Estas mudanças buscavam espaço para todo mundo?

Eu às vezes comento: nós jogamos com cinco números dez. Em cada clube, era um número dez: o Jairzinho, na ponta-direita, era o número dez do Botafogo; o Tostão, centroavante, era no Cruzeiro; o Pelé era no Santos; o Rivelino era no Corinthians; o Gerson era o número dez – em geral, jogava usando o número oito, mas era o dez.

O Tostão veio de uma cirurgia na vista, a preocupação era mantê-lo e ver se ele poderia jogar. A maioria dos jogadores convocados pelo Zagallo saiu machucada. Ficamos eu, o Dadá e o Roberto. Ele não teve muita gente que pudesse cortar.

O Zagallo jogava na Seleção, no Botafogo e no Fluminense sempre no 4-3-3. Para fazer uma seleção considerada a seleção do século, você tinha quantidade e qualidade. Tinha um melhor do que o outro. Ele foi moldando a equipe. A maioria dos jogadores era inteligente, você pegava um Rivelino, onde você botava, ele jogava; pegava um Paulo César, onde você botava, ele jogava; pegava um Pelé, então, e não se diz mais nada; pegava um Tostão… Eu penso que, taticamente, o Tostão foi o melhor jogador dessa Seleção. Ele prendendo dois, deixou o Pelé jogar à vontade. E o Pelé, do jeito que é, o melhor do mundo, deixou à vontade, já era, meu! Nessa maneira de jogar, ele chegava em você e falava: – Meu time é esse, esse e esse. O fulano está machucado, o fulano vai entrar no lugar. Não inventava. Ele chegava: – Carlos Alberto, dá para fazer o que eu estou te pedindo? – Dá. – Brito, isto é possível? Piazza…? Então, ia um a um. 

O Piazza surge assim? Como ele se transformou de volante em quarto zagueiro? E o Clodoaldo, estava jogando bem?  

O Zagallo queria incluir o Clodoaldo no campo, apesar de ser garoto, ser novo. Ele acreditava que o Joel[24] seria muito clássico para jogar com o Brito. Além do Brito ser um [zagueiro] de raça, pois foi o melhor jogador, o mais preparado nessa Copa. Ele queria ter um outro, de contenção, e seria o Piazza, que jogou na posição de quarto zagueiro no Cruzeiro. Nestas mudanças, foi-se adaptando. Ele tinha o Carlos Alberto que apoiava, era um lateral da época, era overlapping[25]… Então, o que ele fez? Botou o lateral. Se ele bota o Marco Antônio, vão os dois embora. Ele queria ter pelo menos a segurança, então, manteve o Everaldo. O Everaldo entrou, deu conta do recado e acabou permanecendo.

No terceiro jogo, contra a Romênia, o Gerson não jogou por causa de um estiramento, jogou o Paulo César – o Caju –, e o Rivelino veio em direção ao meio. Quando tinha necessidade, ele colocava o atleta, especialista naquela posição para a posição dele. Jogou com o Rivelino, jogou com o Gerson e jogou com o Clodoaldo e, com o Pelé jogando solto, só podia matar o adversário. E foi o que aconteceu.

Todas essas mudanças deram certo, vocês foram campeões. Mas, quando embarcaram com destino ao México, como foi? Muita confiança ou suspeita da torcida? Havia pressão?

A gente sempre saiu desacreditado. A Seleção que saiu acreditada que seria campeã, não voltou campeã.

Os jogadores aceitavam essas mudanças ou havia alguma insatisfação dos que foram preteridos?

Não. O único preterido que chiou foi o Leão. Ele foi cortado, quando eu fui convocado. Saiu chorando. Eu falei: – Calma, garoto, você é novo. Ele disse: – Você é protegido do Zagallo, vai ser titular. Eu falei: – Muito obrigado. Vou ser titular? Você já me escalou? Está bom. E ele saiu.

Na véspera da inscrição, o Rogério – convocado que era ponta-direita do Botafogo – sentiu uma contusão. A gente estava sempre junto com a Comissão Técnica, brincando, fizemos um ambiente muito seleto, muito bom. Escutamos um comentário: – Vamos convocar quem no lugar do Rogério agora? Está em cima da hora. Chamei o Ado e falei: – Por que a gente não dá uma ideia para eles convocarem um terceiro goleiro? Ele falou: – Boa ideia! O Ado é um cara espetacular: é amigo, é honesto, torce mesmo. Se torce por você, ele torce de coração. Fizemos uma amizade de irmãos. Fomos à Comissão Técnica, chamamos o Zagallo e o Chirol: – Vocês estão quebrando a cabeça. E se vocês convocarem um terceiro goleiro? Se eu me machuco, joga o Ado. Se machucar os dois, vocês não têm quem improvisar. No ataque ou em qualquer posição, você improvisa. Até eu posso entrar e jogar. No gol, você não improvisa. Eles disseram: – Boa ideia. Bom, vamos quebrar a cabeça: quem vamos convocar? Eu disse: – não precisa quebrar a cabeça. Não mandou o menino embora? Não dispensou? – É, isso… Beleza! Quem foi? Foi o Leão? – É, o Leão. Foi a pior coisa que eu fiz na minha vida, mas, em todo caso… [riso]

Convocaram o Leão, o terceiro goleiro. Foi quando toda Seleção Brasileira passou a levar o terceiro goleiro. Quando ele entrou, nós estávamos em Guanajuato, eu estava batendo papo, ouvi o barulho do portão, olhei atrás, era ele. Eu: – Parabéns! Ele respondeu: – Foi feita justiça! Eu falei: – Quer saber? Vai… [riso]

Nos dois amistosos em León, no México, o Ado e o Leão jogaram meio tempo cada um. O Zagallo me falou: – Você, eu sei, eu conheço. Tinha sido campeão carioca com ele e tudo mais. Ele, que era treinador do Botafogo, sabia como eu jogava no Fluminense, sabia quem eu era. – Então, preciso conhecer os dois, ver a reação deles no jogo.

O Fontana não teve um probleminha também?

O Fontana teve um problema com o Pelé. Isso nós encobrimos, pois o ambiente nosso era bom. Quando queríamos fazer uma reunião entre nós, falávamos com a Comissão Técnica. Qualquer problema existente seria resolvido por nós, sem intervenção dela, nem da Diretoria.

Tínhamos resolvido dois ou três casos – o do Paulo César Caju; o do Edu –, mas o do Fontana foi muito mais grave. Numa entrada em um treino (não tinha coletivo, era ataque contra defesa), o Fontana entrou a fim de quebrar o Crioulo, pegar o Pelé. Houve aquela discussão dentro do campo. O Fontana se desfazendo do Pelé e xingando.  Nós tínhamos uma comissão de cinco jogadores (o Carlos Alberto, o Piazza, o Gerson, eu e o Brito), quando houvesse qualquer problema, resolveríamos entre nós. Então, foi pedida uma reunião junto à Comissão Técnica para ver o ambiente que estava rolando dentro da Seleção e o intuito de levar o título. A maioria já tinha uma certa idade e dificilmente disputaria uma outra Copa do Mundo. Foi feita essa reunião: – Vamos decidir aqui mesmo. Você fala o seu problema, você fala o teu problema e nós vamos resolver. O Pelé chamou o Fontana para a briga. Mas o Fontana falou: – Não vou brigar porque você é o Pelé. Se eu brigar, vou ser cortado e vou embora da delegação e você vai ficar, pois você é o Pelé. O Pelé disse: – Não. Se eu sair na briga e você for cortado, pego o mesmo avião de volta. Eu mesmo me corto da delegação. Mas nós vamos decidir quem é… Não adianta você dentro do campo ser marrudo e aqui fora… Nós vamos resolver. Então… Entrou a turma do deixa-disso.

Olha! Eu nunca soube disso! O Paulo César Caju contou que o Fontana disse na concentração que o Pelé protegia os jogadores do Santos para serem titulares da Seleção. E ainda que o Pelé pediu uma reunião e falou ao Fontana: – Bom, não tem o negócio de falar pelas costas; vamos falar aqui de forma clara. – Você falou ou não falou? Houve esta disputa de posição?

Eu não vi. Eu soube porque fazia parte da comissão e sabia do assunto. Talvez o Paulo não soubesse, pois ele levou uma dura e o Edu também levou uma dura.

De vocês ou da Comissão Técnica?

De nós. Inclusive, o Dadá vinha com os provérbios e tudo. Ali, nós dissemos o seguinte: – Nós viemos aqui para sermos campeões. Não adianta procurar menininha. Não vamos namorar, ninguém vai namorar, ninguém sai, nem nada. Nós tivemos duas folgas, uma no Brasil e uma lá, e nem queríamos sair. A outra folga que iam dar, nós não saímos, em Guanajuato. 

Segundo o Paulo César Caju, muitas vezes, no final de tarde, vocês faziam uma oração.

Com certeza. Rezávamos todo dia, no final da tarde ou, às vezes, antes ou depois da janta. Quando foi a Copa do Mundo, continuamos fazendo, não com tanta intensidade.

Vocês tinham uma comissão de cinco jogadores. Dentro de campo, quem cantava o jogo? A gente sabe da inversão de posição do Gerson e do Clodoaldo contra o Uruguai, coisas decididas dentro de campo. Quais eram as cabeças pensantes no time?

O Zagallo. Você citou o caso do Gerson… O pessoal do Uruguai viu quem comandava o meio de campo. Eu gritava até com o ponta-esquerda, gritava para o Tostão, gritava com todo mundo. Então, eu: – Carlos Alberto, isso e aquilo. – Brito, isso e aquilo. Dali, o Gerson comandava; o Carlos Alberto comandava. E era assim: todo mundo tinha voz ativa. – Por isso eu disse, quando o Zagallo perguntava: – Carlos Alberto, dá para fazer? – Zagallo, e se o cara fizer… – Tudo bem. Você começa fazendo. Se você achar dificuldade, você tem direito, me faz um sinal e tem direito de mudar.

Você viu o Gerson contra a Tchecoslováquia. Botaram dois caras em cima dele e o Clodoaldo ficou livre; botaram dois em cima do Tostão, e o Pelé ficou livre. O que o Gerson fez? – Zé! Zé! (Apelido do Zagallo). Era só fazer sinais, ele já entendia. Quando o Gerson viu os dois caras acompanhando ele e o Clodoaldo livre, disse: – Vai. Eu prendo dois aqui e você fica livre ali. Acabou essa mudança, o Clodoaldo fez o gol do empate, na mesma hora. Havia essa liberdade. Então, quer dizer, “apesar de eu ser durão no papel de treinador, dou uma liberdade para você achar a dificuldade”. Quem sabe da dificuldade dentro do campo somos nós. O treinador pensa numa coisa; agora, encontramos outra coisa dentro do campo. E tínhamos muitos craques inteligentes… 

Começo da primeira fase, Brasil e Tchecoslováquia, a estreia na Copa. Como foi esse jogo?

Eu digo sempre: – Mas, vocês entraram nervosos? Fazer um amistoso é uma coisa, você disputar uma Copa do Mundo é outra. Então, vamos com aquilo na cabeça. Pisamos em campo, deu o estalo: você volta a ter o domínio de você! O primeiro jogo é o pior, ninguém sabe o que vai acontecer. Nós iniciamos perdendo de um a zero.

Nesse momento, te deu um calafrio ou não?

Não. Tomamos o gol quando evoluímos mais, aos 15 minutos de jogo. A partir dali, a equipe se soltou, foi embora. No final, foi quatro a um. Tive duas ou três defesas difíceis, mas o Brasil atacou mais do que sofreu, então, deu para fazer… Do primeiro jogo em diante, a equipe deslanchou.

Vocês conheciam os jogadores de outros times, de outras seleções? Por exemplo, tem uma jogada marcante, a tentativa do Pelé de fazer aquele gol no Mazurkiewicz[26].

Não.  Aquilo lá, você sabe, o homem pensava segundos na frente da gente. Por isso ele é o “rei do futebol”. Ele foi apelidado “o Rei do Futebol” porque o reflexo dele era muito mais… O reflexo ganhava de um goleiro. Um exemplo foi aquele do Viktor[27]. Ele ia dar uma saída e nunca imaginaria que o Pelé fosse chutar de lá. Nem nós. Quando vimos o goleiro correndo atrás da bola, eu falei: – É brincadeira! Depois, teve outro lance contra o Uruguai. O Mazurkiewicz bateu um tiro de meta, o Pelé vinha de costas e gritaram: – Olha a bola, crioulo! Quando ele viu, já virou [um chute] de esquerda. A sorte do Mazurkiewicz foi a bola fazer a curva para o lado dele. Se a bola faz a curva do lado contrário, se pega pelo lado de fora do pé, o Pelé fazia o gol, matando o goleiro.

Tem esse lance do Pelé, o quase gol no jogo da Tchecoslováquia, no chute do meio de campo. Passado esse susto, um a zero, vence o jogo, joga bem. Vem o jogo contra a Inglaterra, fica uma dúvida no ar, não é? Você tinha aquelas críticas do Saldanha, “não vai conseguir trombar nos gringos”.

É, mas isso matou eles. Entraram em campo com essa… Além do Saldanha me cortar, ele tinha uma coluna n’O Globo. E a maioria dos jornalistas brasileiros pegaram os jornais do México e ele também pegou uma boquinha. A mesma coluna do Globo, ele publicou no Esto, um jornal do México.  “Brasil tiene que cambiar su portero”, o texto dizia: “O Brasil precisa trocar o seu goleiro porque é magro, não aceita choque dos atacantes adversários e tal”. Os caras botaram um zagueiro central e um quarto zagueiro de quase dois metros de altura cruzando em cima da área. Só bola em cima. Eu me diverti: uma [mão] eu dava na cabeça do cara, e [com] a outra, eu socava a bola. [risos] E joguei a Copa do Mundo toda sem luva…

Mas tem um lance muito marcante do Lee[28] em cima de você.  Pegou na maldade, não foi?

Eu fui muito feliz, mas foi na maldade. Já tinha pego o Everaldo. Pensei que o Bobby Charlton[29] tivesse cabeceado a bola, mas foi o próprio Lee. Houve um cruzamento da direita deles e o Lee voou de cabeça. Eu estava voltando, fiz a defesa – por sinal, uma grande defesa –, e conforme fiz com uma mão só a bola caiu. Mas eu fiz o mata-borrão e abafei. Ele também estava no chão e virou para pegar a bola, acertou no meu rosto e fui a nocaute. Depois vi nos teipes: eu bati no chão e ficava tremendo. O Mário Américo[30] veio correndo, me atendeu. Levantei e continuei jogando. Igual a um lutador de boxe, nocauteado, mas estava em pé. 

Meio grogue?

Não. Fazendo tudo automaticamente: você vendo tudo que estava fazendo, mas não estava senhor de si. Terminou o primeiro tempo, fizemos tudo igual. A gente inclusive fazia uma coisa que não devia fazer, e hoje eu sofro por causa disso: quando chegava no vestiário, tinha dois cigarrinhos acesos, eu fumava um, e o outro, o Gerson. No fim, eu estou pagando por isso. Mas tudo igual: depois paramos, o Zagallo deu instrução e descemos para o vestiário. Conforme descemos, eu botei o pé no degrau, pá! O Gerson: – O que é que foi? O que é que foi? Eu falei: – Antes tinha sido; agora eu não tenho mais nada, agora eu estou legal. Foi quando deu o estalo na cabeça que eu voltei. 

Você não viu então a reação dos jogadores do Brasil diante do Lee? Houve uma promessa de pegá-lo?

Houve inclusive o Carlos Alberto gritando para o Pelé: – Ô Negão, pega esse cara aí! E o Pelé: – Como vou pegar? Eu estou aqui na frente, vou aí atrás pegar ele de que forma? 

Por que pediram que o Pelé pegasse? Ele sabia bater disfarçado?

Sabia. De tanto que apanhou, coitado. Vi o Pelé nascer no futebol, eu jogava na Portuguesa de Desportos quase na mesma época que ele iniciou. Ele apanhava tanto, acabou aprendendo a dar sem o juiz ver. Você lembra do lance contra o Uruguai? O cara pegando ele, pegando ele, e quando deu, ele… tum! Na corrida, ninguém viu, mas a câmera viu. 

Falta ao contrário.

Foi falta a nosso favor. Nessa, o Carlos Alberto chamou. De repente, a bola foi para o Lee, o Carlos Alberto virou até a cara. O Lee deu tanta sorte, pois passou no meio das pernas dele. Não pegou. 

Falaram que a seleção da Inglaterra era odiada pela torcida mexicana. Houve uma ofensa dos ingleses?

Exato. Os ingleses levaram o ônibus deles, não quiseram usar o que foi cedido pela federação mexicana; não queriam tomar água no México, levaram água mineral, levaram tudo. Eles desconfiaram do povo mexicano. E o povo mexicano ficou ofendido. Como o brasileiro se dá bem em qualquer lugar, ainda mais o pessoal do batuque, o povo mexicano caiu nas graças do Brasil. 

Mas essa torcida desse jogo era pró-Brasil?

Completamente.

Eu vi uma imagem curiosa: tinha um inglês debaixo da trave, como se aquela sombra do travessão estivesse protegendo. Que horas era o jogo? Eles não foram para o vestiário depois?

Era um sol a pino. Meio dia lá e quatro horas aqui no Brasil. Não tinha nem sombra, era direto assim. Quando o cara faz muito, desconfia que vão fazer com ele. Pensavam que tinha pó-de-mico no vestiário, pois a torcida mexicana sempre foi contra eles. Dali para frente, eles não ficaram mais no campo.  Passaram a ir para o vestiário. 

Foi o jogo mais difícil da Copa?

Na minha opinião, este foi o mais difícil. Ainda brinco: – Eu só tomava gol quando podia. [risos] Se fazíamos quatro, eu tomava um. Contra a Inglaterra, foi um a zero, não podia tomar gol, então, eu não tomei.

Após esse jogo duro com a Inglaterra, veio a partida com a Romênia, encerrando a primeira fase, um três a dois. Alguma lembrança específica deste jogo?

Contra a Romênia, fiz umas defesas difíceis, mais do que em muitos jogos. Não desfazendo da equipe romena, foi um score apertado: nós fizemos dois a zero, eles fizeram dois a um, nós fizemos três a um e eles fizeram três a dois. Foi um bom time da Romênia, mas a nossa equipe era superior, mesmo estando desfalcada: jogou o Fontana; jogou o Marco Antônio… 

Aquela jogada da falta era ensaiada? O Pelé batendo a bola em cima do Jairzinho, que se agacha.

Foi ensaiada. Não só o Pelé, o Rivelino também, batendo em cima e o Jairzinho saindo fora.

Classificado na primeira fase depois do jogo contra a Romênia, a confiança da torcida e dos jogadores aumentou?

Você vê como a nossa equipe estava bem preparada… A maioria dos jogos, ganhamos no segundo tempo. Antes da Copa do Mundo, houve um estudo: pegavam dois jogadores de cada equipe para testar, ver o estado físico, e a nossa equipe foi considerada a melhor, a mais bem preparada. Nós botamos dois caras que eram brincadeira: o Brito e o Everaldo. Quase quebraram os aparelhos de tão bem preparados. Com relação à técnica, o nosso time tinha chance, só tinha craque. Quando o craque está bem fisicamente, não tem quem segure. E a nossa equipe estava muito bem preparada.

Nas quartas de final, vem o Peru, não é? Nesse jogo, o treinador é o Didi[31].Teve um gol deles entre a trave e você.

Passou entre mim e a trave, levando minha mão para fora. A gente conhecia o Gallardo[32] – ele jogou um tempo no Palmeiras –, sabia como chutava. O goleiro do Peru era um pouco fraco, o Rubiños[33]. Nós fizemos quatro. Apesar de o Didi saber a maneira da gente jogar, nossa equipe era superior à deles e foi fácil ganhar. 

E então, veio uma semifinal com o Uruguai, não é?

Eu não treinava na véspera de jogo. Então, o Chirol chegou para mim: – Amanhã é contra o Uruguai. – E daí se é contra o Uruguai? – Vamos treinar. Eu disse: – Não. Ele: – Só umas bolinhas. Eu falei: – Chirol, jogo com um negócio no pulso. Este dedinho, amarro ele todo, tenho ele quebrado desde quando eu jogava na Portuguesa. – Ah, mas não vou fazer nada. – Então, tudo bem.

Peguei um pedaço de esparadrapo e enrolei o dedinho, mas só um pedaço, e não pus nada no pulso. Eu tinha muita fraqueza e abria muito o pulso. Ele começou a jogar a bola. Eu jogava a bola, ele socava, eu caía. Em uma jogada dele, enfiei o dedo na grama. O dedo virou ao contrário. Era véspera do jogo contra o Uruguai. Peguei o dedo, segurei, puxei e botei no lugar. O Chirol: – Tudo bem? – Tudo bem. Veio o dr. Lídio[34]: – Vamos tirar um raio X. Eu disse: – Jogo com ele enfaixado. – Mas, e se tiver fratura? Eu disse: – Vou jogar fraturado. Quer tirar o raio X? Mas o senhor não vai me tirar do jogo não. Foi só uma luxação. No dia seguinte, o dedinho estava mais grosso que o dedão. [risos]

Quanto ao jogo, era aquilo: – Vamos vingar 1950! Vamos vingar! Isso não existe mais. Mil novecentos e cinquenta já era há muito tempo. Eu estava tranquilo, sinceramente. Falaram que a nossa equipe entrou um pouco nervosa. Não vi isso. Entrou tranquila mesmo. E saiu ganhando de um a zero.

O placar não dá uma mexida?

Estava ganhando de um a zero. Depois, vi o Brito tentar, o cara cair e virar para cima dele. O Brito deu uns tapinhas na cabeça dele: – Qual é? Tenho vergonha na cara. Aqui, nós temos vergonha na cara. Eles quiseram jogar 1950 dentro do campo. 

Dentro do campo, jogaram?

Jogaram. – Já ganhamos tantas vezes de vocês, por que vão lembrar 1950? Mil novecentos e cinquenta não tem nada. E foi um lance… O Cubilla[35] errou o chute, a bola bateu na batata da perna dele. Quando fui na bola, torci o pé. O campo foi aumentado para ficar oficial e ficou com uma lista antiga na frente. No processo de fazer as linhas, colocavam cal – depois veio o talco –, essa cal endureceu a grama e ficou um caroço. Quando eu girei, virei o pé em cima dessa risca, e a bola foi pega tão mal que olhei e disse: – Ela vai sair. Quando veio no gol, foi dentro, de repente. Pensei: – Bom, tudo bem, um a zero, vamos embora. Foi no começo do jogo. 

Ninguém no time ficou alterado com o placar de um a zero?

Podiam estar mais nervosos antes de eu tomar o gol do que depois. Aquilo foi uma ducha para todo mundo. Ou um incentivo. Depois, acertamos de uma maneira… Houve a troca [de posição] do Gerson com o Clodoaldo, fizemos um a um; dois a um… 

Fumaram quantos cigarros no vestiário? [risos]

Um só, e chegava na metade, jogava fora. Voltamos no segundo tempo tranquilos, fiz outra grande defesa – e já estávamos com vantagem de dois a um , quando faltavam sete minutos mais ou menos, de uma cabeçada, também, do Cubilla. Conforme caí com a bola, bati ela no chão e soltou da minha mão. O Everaldo bateu em frente. Foi quando nós fizemos o terceiro gol. Faltavam quatro minutos ou cinco minutos do final do jogo.

Como goleiro, o que achou daquela saída do Mazurkiewicz em cima do Pelé?

Era decisivo, ou bola ou búrica. Ele nunca esperava o drible da vaca… Ainda tentou pegar, mas estava fora da área, não estava fazendo o pênalti. Se o Pelé fosse sair e levar a bola jogando, ele ia chegar em cima. Mas, o Pelé só deu o drible, o Mazurkiewicz não sabia se olhava a bola ou se corria atrás do Pelé. Então, o goleiro passa lotado. Eu passei lotado em uma contra a Itália. [risos] 

A Itália vinha de uma prorrogação. Vocês estavam muito confiantes? O Pelé conta que chorou no ônibus.

O Rogério[36] não foi desligado da delegação; ele passou a ser espião, junto com o Parreira. Não tinha filmagem e eles levaram uma máquina de tirar slide. Tiravam slide de como jogava a defesa e o ataque durante uma partida, nos informavam na concentração e o Zagallo determinava o jogo do adversário. Eles foram. Naquele dia, a preleção foi na véspera do jogo, no hotel na Cidade do México. Então, começaram a passar: jogavam homem a homem; o lateral esquerdo, se o Jairzinho fosse naquele lado, ele ia atrás.  Homem a homem? Tudo bem, nós vamos jogar assim, dessa maneira. Foi tudo explicadinho. No gol do Carlos Alberto, o Jairzinho estava no lado esquerdo e o Pelé só rolou. Quem alimentava o ataque era o Pelé. Ele fez poucos gols e o Jairzinho foi o artilheiro do Brasil. O Pelé só distribuía. Nós fizemos um a zero e eles empataram, não foi isso?

No final do primeiro tempo.

O goleiro precisava jogar fora. Dividi uma bola logo de cara… Eu tinha feito uma defesa aos sete minutos, botei para o escanteio, um chute longo, depois saí fora da área e chutei, dei um bicão. O gol deles aconteceu nisso. O Clodoaldo foi dar de calcanhar e o Brito ele escorregou. O que o Mazurkiewicz tentou fazer no Pelé, eu tentei fazer no Boninsegna[37]. Eu estava saindo, ia chutar, o Brito se recuperou, chegou antes de mim e prensou a bola com o Boninsegna. Passei lotado, seria igual tinha feito no lance anterior.  Veio o Boninsegna e o Gigi Riva[38]. Quando o Riva foi fazer o gol, o Boninsegna o empurrou e falou: – Eu faço tudo e depois você vem?! [risos] Foi e fez o gol.

Eu digo sempre: a gente ganhou na véspera esse jogo.  O Clodoaldo era um dos mais novos. Ele virou para mim e falou: – O que vai ser, hein, Félix? Eu disse: – O que vai ser o quê? Antes de tudo, se estamos aqui, nós já somos vice-campeões. Apesar de, no Brasil, vice-campeão não valer nada. A Europa toda comemora um vice-campeonato, o Brasil não. Aqui a conquista passa batida. Nem isso eles fazem a favor do jogador de futebol. Os dirigentes nem pensam nisso. Eles pensam na hora, no momento, mas a valorização, eles não vêem. Quem sempre agradeceu foi o seu João Havelange, um dos maiores dirigentes que eu vi. Com o Clodoaldo, concluí: – Você não acredita que dá para ganhar? E aconteceu. Inclusive, eu joguei de luva nesse jogo. [risos]

Mas, qual o motivo de usar as luvas?

Queria mostrar ao Saldanha que eu sabia jogar. Cheguei lá e o Paulo César… O pessoal do Botafogo era muito supersticioso. Ele queria tirar a luva da minha mão, para não entrar de luva pois não joguei nenhuma partida com ela. Falei: – Ah! Eu sei jogar de luva, Só não uso porque não quero.

No jogo da final, você fez sinal para o Ado entrar no seu lugar e jogar uns minutos e o Zagallo não deixou. Lembra disso?

Joguei todos os minutos da eliminatória, joguei todos os minutos da Copa do Mundo. O Brasil tinha time e não tinha goleiro.  Fiz sinal para deixar o Ado. Mesmo levando três goleiros, eles iam revezar um jogo cada um no banco. O Leão, num treino, saiu gritando “ai, ai”, engessou a mão e ficou a Copa do Mundo toda engessado, não entrou no campo. O Ado era muito ligado comigo. Queria deixar ele jogar, pelo menos, seria campeão do mundo entrando alguns minutos. Quem sempre festejava mais era ele: pulava, entrava no campo e sempre me abraçava depois do jogo. Então, pensei: – Vou deixar ele… O Zagallo fez sinal negativo. Perguntei a razão. Depois do jogo, ele justificou: – Você jogou toda a Copa do Mundo e quem termina é considerado campeão do mundo, é o time titular. O time campeão do mundo é esse. Recebem medalha os onze que concluem o jogo. As outras, a CBF manda fazer depois. Agradeci, pois essa eu não sabia.

O juiz apita, acaba o jogo, campeão do mundo. Como foi a sensação?

Você não sabe se chora ou se ri. Eu corri para o vestiário, tirei minha camisa, guardei, peguei uma outra, botei e saí. Sabia que ia ficar sem nada. Tiraram minha camisa. O calção e meia não, fiz uma promessa e os levei na paróquia de Nossa Senhora Aparecida. Guardei a camisa e tenho ela até hoje em casa.

A imprensa tinha feito o Centro de Comunicação dentro do Centro Pan-Americano. Quando terminou a festa, me levaram para ser entrevistado. Acho que foi a Globo.  Inclusive, o Saldanha estava lá e me deu os parabéns. De repente, os caras: – Telefone. Ligaram na minha família no Rio. Eu já estava chorando, uma manteiga derretida depois de ter sido campeão, sofrer tudo aquilo, ser desacreditado. Falei com minha filha mais velha, na época, ela tinha sete anos: – É, paizinho, meteram tanto o pau no senhor, diziam que o Brasil tinha time e não tinha goleiro e o senhor vai voltar campeão! Larguei o telefone, bati o telefone… – Olha, acabou a entrevista. Não saía mais nada. Só chorava, não saía mais nada. Quatro meses concentrado, depois você vai e escuta a tua filha logo de cara, aí morreu. Mata o velho.

E a volta ao Brasil?

Eles programaram a volta sem avisar a maioria dos jogadores. Tudo bem, se você é de São Paulo, desce junto ao pessoal do Rio e depois vai embora. Se você é do Rio, acompanha o pessoal de São Paulo e depois vai embora. A programação foi essa. Paramos em Brasília… Atrasou o avião, deu uma pane, foi a bomba de óleo que não estava jogando óleo. Nós saímos [da Cidade] do México e descemos em Acapulco, e aí uma, duas, três, quatro horas… O Brigadeiro: – Ninguém vai beber, pois nós vamos descer em Brasília. Vamos almoçar com o presidente. O primeiro litro de uísque que apareceu foi meu. A gente só pedia copo com gelo. [risos] Pô! Quatro meses, campeão do mundo, você não vai tomar um aperitivo?! Foram umas dez garrafas. Todo mundo: – Eu tenho duas. – Eu tenho outra… Chegou tudo bem em Brasília, mas demorou muito – devia chegar de manhã e chegamos quatro horas da tarde. Até desfilar pela cidade, foi aquele desespero. Dividimos a delegação: uns vieram a São Paulo, e outros, para o Rio. Eu morava na Praia do Flamengo, passamos na porta de casa, vi o pessoal todo e falei: – Vamos até o carro de bombeiros. Eu não sabia que ia com destino ao hotel.

Depois da apresentação, eu peguei uns PMs que estavam com a viatura nos fundos do Plaza: – Me dá uma carona? Preciso sair escondido, senão não me deixam ir. Saí pelos fundos. O camburão me deixou em Botafogo, peguei um táxi e fui para casa. A minha caçula tinha dois anos. Estava tudo quieto. O pessoal que estava pensando em comemorar já tinha ido embora. Tinha um casal vizinho meu, gente fina. Quando me viram chegar: – Olha aqui! Ah, foi tudo! Até balde com papel picado ganhei… [risos] Eu falei: – É hoje! Só fui dormir no dia seguinte. 

Para encerrar, estamos em 2011 e daqui três anos haverá uma Copa do Mundo no Brasil. O que você espera? 

Para encerrar – inclusive, encerrar a minha vida, na minha idade, passo essa e talvez não passe a outra, mas, em todo caso, eu quero passar as duas –, acho que nós devemos levar a coisa muito a sério. Pegar e treinar com tempo, ter espaço para isso e levar em frente. Isso é uma dádiva: ver uma Copa do Mundo dentro do nosso país. Como estamos nessa correria em estádios, aeroportos e meios de transporte… Gostaria que os dirigentes do esporte, principalmente da CBF, convocassem os jogadores com tempo, para poder treinar bastante, fazer o conjunto, serem campeões de novo. Há muitos anos não temos essa alegria!


[1] Luís Alonso Pérez, mais conhecido como Lula, foi treinador do Santos entre 1954 e 1966.

[2] Délio Neves de Almeida.

[3] Gylmar dos Santos Neves.

[4] Valdir Joaquim de Moraes.

[5] Luiz Morais, mais conhecido como Cabeção.

[6] Carlos Alberto Martins Cavalheiro.

[7] Eusébio Chamorro.

[8] Oto Vieira, treinador da Portuguesa.

[9] Olavo Rodrigues Barbosa, mais conhecido como Nena.

[10]O direito de nascer, novela de Felix Caignet, exibida na TV Tupi e na TV Rio entre dezembro de 1964 e agosto de 1965. A personagem Mamãe Dolores era interpretada pela atriz Isaura Bruno.

[11] A Seleção de 1966 teve 47 jogadores. Dividiram as equipes em azul, amarela, branca e verde. Elas jogavam entre si e, às vezes, contra outras seleções ao mesmo tempo, por exemplo, uma em um estado e outra noutro.

[12] Treinador da Seleção brasileira. Comandou a equipe em 1953, 1961-1963, 1965, 1967 e 1968.

[13] José Carlos Vilella, advogado, membro da diretoria do Fluminense. Ocupou diversos cargos no clube entre as décadas de 1960 e 1990. 

[14] Orlando Alves Ferreira, goleiro da Portuguesa entre 1963 e 1974. Conhecido como Gato Preto, revezou-se no gol da Portuguesa com Félix entre 1964 e 1968.

[15] Carlos Roberto Ferreira Cabral, mais conhecido como Cabralzinho, meia-direita que atuou no Fluminense em 1967.

[16]João Alves Jobin Saldanha foi jornalista e treinador de futebol, atuou como técnico da Seleção brasileira entre 1969 e 1970.

[17] Nas eliminatórias para a Copa do Mundo de 1970, os times da América do Sul foram divididos em três grupos. A Seleção brasileira encabeçou o Grupo 2, do qual faziam parte Colômbia, Venezuela e Paraguai. Nos seis jogos disputados, a Seleção obteve os seguintes resultados: Colômbia 0 x 2 Brasil (06/08/1969); Venezuela 0 X 5 Brasil (10/08/1969); Paraguai 0 x 3 Brasil (17/08/1969); Brasil 6 X 2 Colômbia (21/08/1969); Brasil 6 X 0 Venezuela (24/08/1969); e Brasil 1 X 0 Paraguai (31/08/1969).

[18] Jairo do Nascimento, goleiro reserva de Félix, havia recém-chegado ao Fluminense, oriundo do Caxias.

[19]Emílio Garrastazu Médici foi presidente do Brasil entre 30 de outubro de 1969 e 15 de março de 1974, durante a ditadura militar.

[20] Na ocasião, o presidente Médici pediu a inclusão do atacante Dadá Maravilha na Seleção e João Saldanha respondeu com a seguinte frase: “Ele não escala minha seleção e eu não escalo seu Ministério”.

[21]Dorival Knipel, mais conhecido por Yustrich, foi goleiro em diversos clubes cariocas, mas ficou famoso como um técnico exigente e de temperamento explosivo. Em 1970, quando comandava a equipe do Flamengo, criticou em público João Saldanha. Este, irritado, entrou armado na concentração do time em busca de Yustrich, que não estava no local.

[22] Também conhecida como “Casa da Gávea” ou “Casa de Retiros Anchieta” é uma casa de campo localizada em São Conrado, na cidade do Rio de Janeiro.

[23]Admildo de Abreu Chirol e Carlos Alberto Parreira eram os preparadores físicos da Seleção brasileira em 1970.

[24] Joel Camargo, zagueiro brasileiro. Foi reserva da seleção na Copa do Mundo de 1970.

[25]Overlapping, ou overlap, é o nome dado à jogada em que o futebolista passa a bola para um colega da mesma equipa situado próximo à linha lateral e corre para a grande área adversária para receber um passe ou cruzamento.

[26] Ladislao Mazurkiewicz, goleiro da seleção uruguaia na Copa do Mundo de 1970.

[27] Ivo Viktor, goleiro da seleção tcheca na Copa do Mundo de 1970.

[28] Francis Henry Lee, atacante da seleção inglesa.

[29] Bobby Charlton, meio-campista e atacante da seleção inglesa.

[30] Mário Américo, massagista da Seleção brasileira nas copas do mundo de 1954-1974.

[31] Waldir Pereira, mais conhecido como Didi, jogador bicampeão mundial pela Seleção brasileira nas Copas do Mundo de 1958 e 1962.

[32]Félix Alberto Gallardo Mendoza, atacante da seleção peruana na Copa do Mundo de 1970. Atuou no Palmeiras entre 1966-1967.

[33] Luis Rubiños.

[34] Lídio Toledo, médico da Seleção brasileira nas copas do mundo de 1970, 1974, 1978, 1990, 1994 e 1998.

[35]Luis Alberto Cubilla Almeida, atacante uruguaio.

[36] Rogério Hetmanek, ponta-direita do Botafogo que, após sofrer uma lesão no México, havia sido cortado da seleção brasileira.

[37] Roberto Boninsegna, atacante da seleção italiana.

[38] Luigi Riva, atacante da seleção italiana.

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Bernardo Borges Buarque de Hollanda

Professor-pesquisador da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV).

Daniela Alfonsi

Antropóloga, Diretora Técnica do Museu do Futebol e doutoranda pela USP. Trabalha com e pesquisa sobre os museus esportivos.
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