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Manoel Tobias

Equipe Ludopédio 8 de outubro de 2014

No aniversário dos 5 anos do Ludopédio o nosso entrevistado é um grande camisa 5! Estamos falando do craque do futsal o ex-jogador Manoel Tobias, o Rei do futsal. Durante 13 anos defendeu a seleção brasileira de futsal e passou por grandes clubes do Brasil (Vasco, Fluminense, Grêmio, Atlético Mineiro, Malwee etc.) e da Espanha. Foi eleito três vezes o melhor jogador do mundo.

Diretamente de Fortaleza, por telefone, Manoel Tobias concedeu a entrevista para o Ludopédio mostrando que o craque da bola também é um craque com as palavras ele contou a sua trajetória no futsal, as experiências acumuladas, passou por questões políticas em torno da modalidade etc. Então fique com a companhia de Manoel Tobias, o Rei do futsal. Boa leitura!!!

 

Manoel Tobias atuou 14 anos pela Seleção Brasileira de Futsal, após sua estréia em 1990.
Manoel Tobias atuou 14 anos pela Seleção Brasileira de Futsal, após sua estréia em 1990. Foto: Arquivo pessoal.

 

Qual a sua primeira lembrança relacionada ao futebol? Como foi esse processo de aprendizado do futebol?

Na verdade eu comecei no futsal, com 12 anos, na escola. Meu processo foi esse, futsal, escola. Aí depois – eu sou Pernambucano – em Recife eu comecei jogar não só o futsal mas também praticar o futebol no Clube Náutico Capibaribe. Então a lembrança que eu tenho é a melhor possível, O aprendizado foi muito bacana e prazeroso, é um sonho para todo garoto que nasce no Brasil ou no mundo jogar futebol, praticar o esporte.

Mas o que eu me lembro foi isso, do prazer de jogar de uma forma bem de inclusão social, vamos dizer assim e o processo foi esse. E depois as coisas começaram a ficar mais sérias, o envolvimento, o talento aflorando, os professores que me ministraram e me lapidaram. Aí depois as coisas ficaram mais sérias mesmo e então eu me tornei um atleta profissional.


Você disse que esse seu contato com o futebol foi via escola. Mas antes disso você chegou a jogar na rua ou em clubes?

Inicie na rua, nos campos de pelada de Salgueiro, em Pernambuco. Desde que eu nasci até os meus 9-10 anos eu joguei nos campinhos de futebol em Salgueiro. Imagine isso há tantos anos atrás, não tinha essa questão de drogas e nem esses problemas que a gente enfrenta nos dias de hoje. Existiam campos [de várzea] e a minha iniciação esportiva foi assim. E aos 9-10 anos, meus pais se transferiram para Recife e tudo começou na escola, como eu já tinha falado anteriormente.

Você acha que o fato de você jogar futebol teve alguma influência familiar?

Teve sim. Meus pais já praticavam esporte, alguns tios também jogavam, assim como meus irmãos. E não apenas no futebol de campo, alguns irmãos meus jogavam futsal, alguns outros jogavam voleibol, assim como a minha mãe. Eu venho de uma família de 10 filhos e todos tiveram em algum momento de sua vida o contato com a prática do esporte.

Você disse que a sua ida para Recife marcou essa prática mais sistemática do esporte. Em que momento da sua trajetória esportiva ocorreu a sua profissionalização, ou seja, como você se tornou um atleta profissional de futsal?

Isso aconteceu quando eu cheguei em Recife em 1984 e comecei a jogar futsal e [futebol de] campo na escola. E então eu me destaquei e nós nos tornamos vice-campeões pernambucanos. Logo depois eu fui para o Náutico jogar tanto futebol de salão quanto campo, e após dois anos eu tive que optar entre futebol e futsal. E então me profissionalizei, pois eu comecei a receber uma quantia e as coisas ficaram mais sérias. Dos meus 16 para 17 anos, eu que treinava três vezes por semana, passei a treinar como profissional mesmo. Eu só jogava nos juvenis quando tinham jogos importantes como uma Copa, mas aos 16 anos eu passei por um trampolim, digamos assim, pois eu fui direto para o adulto. E foi bom porque me deu muita cancha, muita experiência. E com dezessete para dezoito anos eu fui jogar como profissional uma Taça Brasil em Santa Catarina pela Votorantim, uma equipe que tinha em Recife, e fomos vice-campeões. Depois disso, eu fui convocado para a seleção brasileira.

Você apontou que durante a sua formação chegou a praticar tanto o futsal quando o futebol de campo. O que levou você a optar por um e não pelo outro?

Primeiro a paixão por jogar salão, eu sempre gostei mais de jogar futebol de salão. Em segundo lugar, teve a questão financeira porque aos 16 para 17 anos eu já recebia do futsal cinco vezes mais do que eu recebia jogando [futebol de] campo. Isso também coincidiu com a minha ida aos 17 para 18 anos para o brasileiro de 1990, a Taça Brasil, na qual fomos vice-campeões e eu fui um destaques da competição. Isso me levou a ser convocado para a seleção brasileira. Aquele momento foi um divisor de águas para mim, pois eu tive que optar. E uma vez na seleção, as coisas mudaram, pois eu comecei a ganhar bem melhor. Logo, a minha opção foi também por esse motivo.

No Mundial de Barcelona Manoel Tobias faturou a bola de ouro. Foto: Arquivo pessoal.

Ainda a respeito do futsal e o que você apontou sobre o fato do seu talento ter ido aflorando com a passagem do tempo. Será que seria possível traduzir em palavras o que é esse talento? Quais são os atributos de um jogador de futsal que podem ser interpretados como talento?

Os atributos, em primeiro lugar, é o aspecto cognitivo, que todos nós temos. Mas o meu talento foi aflorando, pois eu tive o privilégio de ter professores importantíssimos que me ensinaram coisas importantes do futsal em momentos chave. Eu já tinha o talento de como bater na bola, de como conduzir a bola, mas esses profissionais pelos quais eu passei me ensinaram realmente muitas coisas importantes. Além dos meus próprios atributos, tinha o fato de eu estar na mão desses profissionais. Se eu já chutava bem, eles me condicionaram a chutar melhor; se eu passava bem [a bola], eles me treinavam para passar melhor; se eu driblava bem, eles, suas técnicas e treinamentos, me ajudavam a fazer bem melhor. E como isso o talento foi aflorando devido a uma estratégia de treinamentos que funcionou para mim e foi muito importante para o meu desenvolvimento.

Sua carreira é inquestionável, você tem inúmeros títulos coletivos e individuais, você foi nomeado três vezes como Melhor Jogador do Mundo, duas vezes como Melhor Jogador da Copa do Mundo. Eu gostaria de saber se é possível apontar o impacto dessas premiações na sua carreira? Houve alguma alteração significativa ou você vê esse reconhecimento como fruto de um trabalho contínuo?

Alteração teve, já que eu comecei a ser mais visto, mas o aspecto original eu mantive na minha vida. Elementos como responsabilidade, a necessidade de trabalhar ainda mais arduamente, porque chegar a esse nível não foi tão difícil quanto se manter nessa posição. No caso, eu me mantive 14 anos na seleção brasileira, ou seja no auge. Mas no entanto, se eu resolvesse enumerar um momento, eu estaria sendo incoerente, pois todos os momentos foram importantíssimos.

Reconhecer a questão da vitória individual claro que é legal, mas o reconhecimento individual só vem depois do coletivo. Então eu tive o privilégio de conviver com grandes figuras, com grandes treinadores e jogadores que foram de fundamental importância [para a minha carreira].

E vou além, isso não se aplica apenas ao esporte, mas também à vida cotidiana uma vez que a gente não consegue ganhar nada sozinho. Tem sempre alguém que pode nos ajudar, nos ensinar, e nós temos que estar aberto para poder aprender a cada dia. Sem dúvida foi de fundamental importância em função de tudo isso. Por isso nós somos fortes, na vida cotidiana e sabemos que não ganhamos nada sozinho, sempre tem alguém que pode nos ajudar e nos ensinar.


Você comentou a respeito da sua longevidade na seleção brasileira, já que foram cerca de 14 anos. É possível identificar os fatores que permitiram que a sua trajetória fosse tão duradoura? 

Tudo aquilo que aprendi com meus pais e professores. Os atributos que aprendi não falo apenas da parte técnica. Chegar é fácil, se manter é que é difícil. Os 14 anos que passei na seleção foram trabalhados, conquistados. Eu nunca entrei numa zona de conforto na seleção. O que me levou a passar tanto tempo na seleção que a cada seis meses revelam um novo grande jogador é a humildade, era preciso alimentar o talento.

Manoel Tobias (primeiro em pé da esquerda para direita), com a Seleção Brasileira de Futsal em uma competição oficial. Foto: Arquivo pessoal.

Os atletas de alto rendimento costumam conviver com a dor. Como foi esse assunto pra você?

Eu fui privilegiado. Não tive muitas lesões. A mais séria que tive foi uma lesão meniscal, mas foi muito rápido, depois de um mês eu voltei. Na verdade eu sempre fiz um treinamento invisível, ou seja, eu sempre me cuidei. Me alimentava bem, não fui muito de balada e sempre me dediquei nos treinamentos. Minha preocupação era estar bem fisicamente, porque aí o talento iria aflorar.

Você atuou cinco anos no futebol espanhol. Como foi jogar no exterior?

Pra mim foi uma consolidação, a última etapa da minha carreira. Cinco anos maravilhosos, não apenas profissionalmente, mas culturalmente, individualmente para o cidadão Manoel Tobias e sua família foi fantástico. A Espanha continua sendo uma das melhores ligas do mundo, organizada e competitiva. O esporte me proporcionou aprender outra lingua e me relacionar com outras pessoas, assim como a minha família. Hoje eu tenho dupla cidadania, sou cidadão espanhol. É um leque que se abriu através do esporte.

Você consegue ver diferença nos modelos de escola de futebol?

Com certeza. O futebol espanhol é muito mais tático, de força e potência. Menos agressivo em campo e ao mesmo tempo mais disputado. No Brasil tem muito do “vamos pra cima”, o talento, muito agudo. E logo você vai se adaptando. O futsal brasileiro você quer decidir em 5-10 minutos. Lá a gente sabe que tem 40 minutos para jogar, mas aí eu fui vendo. E hoje você vê as seleções europeias complicando a seleção brasileira, jogando quarenta minutos constantes, tranquilos.

Em 1996 você chegou a jogar a Copa Renner pelo Grêmio…

Eu tive essa experiência 6-7 anos após eu ter me profissionalizado no futsal. Eu já jogava no futebol gaúcho e recebi um convite. Infelizmente a adaptação não foi a esperada. Pra mim a experiência foi marcante. A minha praia realmente era o futsal. À nível de conhecimento foi bacana, até tenho alguma relação com os jogadores daquela época. Foi muito prazeroso a experiência no campo, mas outras formas de treinamento, outras formas de jogar… o espaço foi muito complicado. Foram quatro meses, mas logo acabei retornando.

Existe uma discussão em torno do futsal se tornar uma modalidade olímpica. Como você avalia isso?

Eu acho que o futsal já deveria estar nas Olimpíadas. Ele não está nas Olimpíadas é por uma questão política, mas eu torço pra que isso aconteça. Futsal é um esporte feito, um produto pronto, feito pra televisão com muitas jogadas e muitos gols. Fatalmente mais dia ou menos dia isso vai acontecer. Minha expectativa era que isso acontecesse em 2016, mas…

Pelo fato de ser no Rio de Janeiro?

Por ser no Rio de Janeiro, por ser em casa. Mas espero que isso aconteça o mais breve possível.

Manoel Tobias fez sucesso no futsal vestindo a camisa 5. Foto: Arquivo pessoal.

Confira a segunda parte da entrevista no dia 22 de outubro!

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