11.6

Nando (Fernando Coimbra Antunes)

Equipe Ludopédio 4 de setembro de 2014

Em maio de 2014, realizou-se a mesa “Engajamento, democracia e bom senso”, realizada durante o II Simpósio Internacional de Estudos Sobre Futebol. Expressões, Memórias, Resistências e Rivalidades – organizado pelo Museu do Futebol, pelo Ludens (Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol e Modalidades Lúdicas, do Departamento de História da Universidade de São Paulo), pela Biblioteca Mário de Andrade e pela Fundação Getúlio Vargas. Com coordenação do Prof. Dr. José Paulo Florenzano (PUC/SP), a mesa contou com a participação dos ex-jogadores Afonsinho, Reinaldo e Nando. Ao longo do mês de setembro, publicaremos as falas dos palestrantes.

O primeiro depoimento é de Nando, membro da família Antunes Coimbra, composta por outros três irmãos ex-jogadores de futebol: Zico, Antunes e Edu. Aluno da Faculdade Nacional de Filosofia, Fernando Antunes Coimbra fez parte do PNA, o Plano Nacional de Alfabetização, de Paulo Freire. Paralelo aos estudos, Nando começou nas categorias de base do Fluminense, se profissionalizou no Santos de Vitória (ES), passou pelo América, Madureira e pelo Ceará, onde viveu o melhor momento da carreira em 1968. Do Vozão, foi para o Belenenses e depois para o Gil Vicente, ambos de Portugal. Vigiado pela ditadura militar, foi preso pelo DOPS, o Departamento de Ordem e Política Social do regime militar e ficou encarcerado por cinco dias nos porões da Rua Barão de Mesquita, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Considerado subversivo pelo regime militar, teve a carreira bruscamente interrompida na década de 1970. Fernando Antunes Coimbra é o primeiro ex-jogador de futebol anistiado no país. 

Boa leitura! 

Um Coimbra Antunes que não era Zico, mas foi caçado.Foto: Max Rocha.

Apresentação do professor José Paulo Florenzano


Vamos dar início a mesa Engajamento, Democracia e Resistência dentro do Simpósio Internacional de Estudos sobre Futebol. Nós temos o prazer e a honra de receber aqui para discutir a relação entre futebol e ditadura militar o Afonso Celso Garcia Reis, o Afonsinho; José Reinaldo de Lima, o Rei centroavante do Atlético Mineiro; e também o Fernando Antunes Coimbra, o Nando. Desde já quero agradecer imensamente a presença de vocês aqui no Simpósio Internacional de Estudos sobre Futebol. A proposta é exatamente essa: reunir atletas que se destacaram dentro e fora de campo na luta contra as práticas repressivas que foram instituídas e reforçadas a partir do Golpe de 64. A proposta é resignificar o sentido dessa luta e apontar a importância estratégica dela para o processo de redemocratização da sociedade brasileira de um modo geral. Também acho importante esse momento para golpear mais uma vez a imagem que ainda se mantém, uma imagem estereotipada do atleta associada e identificada ao campo da alienação política. À medida que a pesquisa acadêmica avança fica cada vez mais claro o engajamento dos atletas contra essas práticas repressivas, tanto dentro da esfera profissional como fora dela. Esse será o fio condutor da mesa. Eu quero rapidamente, sem me estender muito, apenas contextualizar e destacar alguns momentos da trajetória dos atletas que estão aqui presentes.

Eu começo com o Afonsinho. Três momentos que me parecem marcantes da carreira do Afonsinho: sem dúvida alguma a luta pelo passe livre, uma luta que adquiriu um novo valor com a revelação dos documentos que agora vem a público, documentos produzidos nos órgãos de repressão e que vão mostrar claramente como o regime se inquietava com a luta que o Afonsinho travava dentro de campo em favor do passe livre. Então, a importância dessa luta extravasava os limites da atividade profissional esportiva. O Afonso é então justamente conhecido por conta desse ato produzido no contexto dos anos de chumbo, mas ele também tem uma ação inventiva cuja importância gostaria de destacar: em meados da década de 70 ele funda o Trem da Alegria. Uma iniciativa que tem o significado de contestar não só esse autoritarismo que marcava o cenário brasileiro dos anos 70, mas que era um questionamento também a própria concepção de futebol que havia atribuído um valor excessivo à preparação física em detrimento de outros aspectos ligados ao futebol. Então, a ideia era essa a de resgatar a dimensão lúdica do futebol e transportar a ideia de liberdade para uma paisagem que se situava além daquele cenário da militarização. O Trem da Alegria vai desencadear uma série de ações no próprio Sindicato de Atletas do Rio de Janeiro, a época presidido pelo Zico nos anos 80; a cooperativa do São Cristóvão é claramente uma ideia inspirada no Trem da Alegria e recentemente eu encontrei em minha pesquisa sobre o período a Seleção do Passe Livre em Londrina, uma outra experiência inspirada nessa ação. A importância do Trem da Alegria ainda está à espera de um pesquisador que possa dimensionar exatamente o valor dessa iniciativa. E fecho com o encontro que me parece emblemático, ocorrido em junho de 84 no café do Bixiga em São Paulo, o encontro entre o Afonsinho e o Sócrates. Esse encontro é marcante porque nele o Sócrates reconhece a dívida com o gesto de rebeldia de Afonsinho nos anos 70, como aquilo se transformou numa referência para a própria elaboração da experiência da Democracia Corintiana. A Democracia Corintiana de certa maneira é o fechamento desse processo de luta que tem, portanto, como expoente o Afonsinho, mas não só ele.

Temos o prazer de receber o Reinaldo que é um atleta que merece todo o nosso respeito e admiração. Talvez um dos atletas que tenha se colocado de maneira mais intensa contra esse autoritarismo do futebol reforçado pelo regime militar. Gostaria também de explicitar três momentos da carreira do Reinaldo. Em primeiro lugar aquilo que é um marco, talvez a primeira entrevista pública de um atleta se dissociando do regime militar, a corajosa entrevista que ele concede em março de 78 ao jornal O Movimento, um jornal maldito para o regime militar, no qual ele defendia Assembleia Constituinte, eleição direta e anistia. Por conta dessa entrevista, eu acho que ele vai falar o que veio na sequência de ameaça, represália e assim por diante. Mas, enfim, esse é um momento importante dentro do futebol que dissocia o atleta do regime militar; o gesto que ele teve a coragem de repetir na Copa da Argentina, 4 de junho de 78 no empate entre Brasil e Suécia, ele empata o jogo e ali o gesto do punho levantado, cerrado. Esse gesto que resgatava 10 anos depois Tommie Smith e John Carlos que nas Olimpíadas do México tinha assombrado o mundo com esse questionamento. Que isso tenha sido feito na Copa da Argentina, que nós sabemos realizada naquele cenário de horror e barbárie da junta militar presidida pelo Jorge Rafael Videla, dá exatamente a medida do que ele significa dentro do futebol. E só para assinalar o Sócrates passa, a partir daí também, a retomar esse gesto. E finalmente, porque amplia um pouco o escopo que sempre fica centrado na Democracia Corintiana engajada nas Campanhas das Diretas Já, esse movimento de massa que começa aqui na Praça Charles Miller em 27 de novembro de 83, depois vai para a Boca Maldita no centro de Curitiba e termina no Vale do Anhangabaú em 16 de abril, esse longo percurso das manifestações, no meio do caminho, na praça da rodoviária em Belo Horizonte, há ali também o Comício das Diretas Já e, por favor, estava lá o Reinaldo reafirmando aquilo que lhe havia de uma maneira corajosa colocado na entrevista do jornal O Movimento de 78.

Essas histórias nós conhecíamos, pelo menos aqueles que se dedicam mais a pesquisa nessa intersecção do futebol com a ditadura. O que foi exatamente uma surpresa que veio à tona esse ano foi a história do Fernando Antunes Coimbra e sobre essa história eu não vou me adiantar destacando os pontos principais, eu de imediato passo a palavra para ele para que possa resgatar essa história.

Fernando Coimbra Antunes

É um prazer muito grande estar participando dessa palestra e uma honra estar ao lado de dois queridos amigos do futebol que é o Reinaldo e o Afonsinho. A minha história é um pouco longa, mas vou tentar resumir. Minha família todo mundo conhece, a família Antunes. Nós éramos quatro irmãos como profissionais, mas antes de eu me tornar profissional eu fui professor, em 1963, eu fiz concurso para o Plano Nacional de Alfabetização pra ser professor. Convite, inclusive, da minha irmã que fazia Faculdade de Filosofia, até coincidência ela morava no mesmo prédio que o Afonsinho em Botafogo. Eu estava jogando no juvenil do Fluminense, naquela época não havia júnior. Fizemos um concurso, ela para a coordenadora eu para professor e passamos. Uma prima minha, que muitos conhecem, a Cecília que é presidente do grupo Tortura Nunca Mais, também o marido dela, três primos meus e aí começamos a fazer o curso. A partir de janeiro a dar aula à noite nessa área de alfabetização e esclarecer politicamente as pessoas, os deveres e obrigações que até então o povo ia trabalhar, era explorado, não sabia de nada. Mas aí em março veio a famigerada e o primeiro ato da ditadura no Rio de Janeiro, em primeiro de abril, foi considerar subversivo o Plano Nacional de Alfabetização que foi criado pelo saudoso Paulo Freire, ganhou prêmio mundial inclusive! E parece gozação, foi trocado pelo MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização). E nós passamos, a partir dali, a ser subversivos. Eu continuei a minha vida no futebol e me tornei profissional. Tive a oportunidade de ir para o Espírito Santo para um time que nem existe mais hoje, o Santos de Vitória. Tinha até boa torcida. E nós fomos vice-campeões, mas aí o treinador caiu para espanto de todo mundo e assumiu um capitão ou major do exercito, eu não lembro. Foi quando eles começaram a entrar no futebol. E com uma semana ele me convidou a me retirar e procurar o presidente. O presidente falou que gostava muito de mim, mas que ele não podia fazer nada, que eu tinha que entender a situação do país. Tudo bem. Aí voltei pro Rio e assinei contrato com o América. Já jogava e fazia muito sucesso o Edu e o Antunes. Mas aí assumiu o Evaristo de Macedo que é um grande amigo nosso, ele chamou a gente e falou: “eu cheguei da Espanha, tô com medo de colocar três irmãos no ataque, isso aí vai me criar problemas”. O Nando chegou agora e a agente facilita, empresta. Tudo bom, pelo menos ele foi sincero e aí eu fui emprestado para o Madureira. Aí no Madureira a mesma coisa. No campeonato de 67, eu fazia um campeonato bom, o Madureira entre os primeiros times e eu fui convidado a me retirar. Fui no presidente que era o Carlinhos Maracanã que também era presidente da Portela e amigo meu e ele falou: “Olha Nando eu não posso falar nada contigo. Você fica treinando, cumpre o contrato, mas jogar tu não pode”. E aí comecei a ter a certeza que era alguma coisa dos militares me perseguindo. E acabou o contrato e eu fui para o Ceará Esporte. Aí joguei o campeonato de 68, lá não fui perseguido e era justamente, Fortaleza, era a cidade do presidente da época, o Castelo Branco. Não, acho que ele já tinha saído, 68 ele tinha saído.

Mas aí eu tive uma proposta para jogar no Belenense de Portugal e aí fui para Portugal. E cheguei lá tive problema para acertar contrato, não queriam me dar o que tinham prometido e eu ficava treinando. Até que um dia no hotel, eu morava bem no centro de Lisboa, hotel Eduardo VII e treinei de manhã, almocei e é comum depois do almoço dormir um pouco, cansado do treino. Bateram na porta, eu abri, dois caras de terno. Lá os repórteres, na Europa, normalmente usam terno. Eu imaginei que eram da imprensa. Eram da Polícia Política de Portugal. Eu com 21 anos já chegaram me dando carteirada. Eu fiquei desesperado. Aí um deles falou que sabia das minhas atividades no Brasil. Aí o negócio complicou. Naquela época não tínhamos comunicações. De manhã parar falar pro Rio você tinha que pedir de manhã a ligação para a telefonista, se der sorte à noite você conseguia porque só havia cabo submarino. E você sozinho entra em pânico! Vive de carta que chegam dos parentes que leva duas semanas para chegar. E realmente é uma idade que você sozinho, você e Deus é apavorante. E me pediram os documentos. Eu disse que não estava comigo. Foi a minha sorte. Eu disse que estava na embaixada. Eles foram embora, mas disseram que iam voltar, que estavam acompanhando a minha vida em Lisboa. No dia seguinte, acabou o treino, estava tomando banho e um funcionário falou: “tem um diretor que quer falar contigo depois do banho”. Eu imaginei que era para acertar o contrato. Nunca tinha visto o cara, diretor de alguma coisa do clube. E o Belenense era o clube do presidente de Portugal, Almirante Américo Thomaz. A sede do governo era até no caminho do estádio do Restelo, eu passava na porta, onde ficava o Salazar. Aí eu fui falar com esse cara e ele falou: “você está complicando para assinar o contrato. Você tem que assinar pelo o que a gente está propondo. A gente no primeiro ano empresta você para um clube, depois você volta já acostumado ao futebol português”. Eu falei não. Eu estava bem no Ceará e saí porque vocês fizeram uma proposta que eles não puderam cobrir e agora vocês não querem me dar. Ele falou: “ontem você já recebeu uma visita no hotel”. Aí eu gelei. “E além do mais o teu pai é português, a gente pode te mandar para as Guerras na África”. Aí o meu mundo desabou. Eu falei “e agora? Eu sozinho aqui em Portugal. O que eu faço?” Eu entrei em pânico. Fui pro hotel, chorei muito. Aí chamaram o representante do clube que me levou na casa dele para jantar à noite e ele falou: “olha, vai jantar, vai se acalmar”. Eu falei: “não. Quero ir embora!”. “Mas você não pode ir embora”. Aí a esposa dele, uma senhora já, quis ouvir a minha história. Falou: “meu filho, me conta o que tá acontecendo”. Aí eu contei a ela e foi a minha sorte. Ela falou: “Olha, eu vou te tratar como fosse meu filho. Vou te botar dentro do avião”. E me botou dentro do avião. No dia seguinte eu voltei do treino e desci. O representante do clube falou: “Você fica com a mala no saguão, vão parar o carro, tu bota a mala e eu te levo pro aeroporto”. Mas eu só sosseguei quando o avião levantou voo. Falei: “Bom, vou parar de jogar futebol. Não dá mais!”. Dois irmãos fazendo sucesso e a gente sabia que o melhor estava chegando que era o Zico. Então, essa minha história eu guardei por 40 anos. Até os amigos da imprensa que sabiam, eles eram tão legais que eles não divulgaram.

Nando foi o primeiro jogador de futebol anistiado e sofreu com a carreira durante os Anos de Chumbo. Foto: Max Rocha.

Quando eu voltei, isso era final de 68, e em dezembro foi assinado o AI-5. Eu falei: “Bom, agora eu vou preso, agora não tem jeito” porque perdemos todos os direitos como civis e aí em 70 prendem a minha prima Cecília Coimbra e o marido, a minha irmã não foi presa porque se escondeu na casa do meu padrinho em Nova Iguaçu e a mãe da Cecília passou mal e eu a levei a um médico lá, os irmãos estavam lá. E lá por umas 10 da noite toca a campainha e um dos meus primos abre e era o pessoal do DOPS, tudo de metralhadora e levaram a gente pro DOI-Codi. Ficamos presos quatro dias no DOI-Codi. Durante esses quatro dias, meus dois irmãos, o Edu e o Antunes, e minha mãe, ficaram na porta da PE. As pessoas passavam e reconheciam. Nada podia ser divulgado, eles não permitiam. E meu irmão Antunes, que já faleceu, ficava implorando para ficar preso comigo e aí no quarto dia eles cederam e me soltaram. Mas a minha prima e o marido ficaram três meses presos. E sofreram as piores torturas que vocês possam imaginar. Eu fiquei dois dias em pé com a cara na parede e a mão na cabeça. Quando o braço cansava que descia eles vinham com aquela parte do fuzil, baioneta, e enfiavam nas nossas costas ameaçando furar. E aí tu tinha que levantar o braço de qualquer maneira. Aí fui libertado e aí, por coincidência, apareceu um português maluco querendo me levar para o Gil Vicente de Portugal hoje na primeira divisão, mas na época da segunda. Eu falei: “Não posso, rapaz! Eu não passo do aeroporto. Estou fichado”. Mas aí meu pai um dia numa solenidade do presidente do então CND, Elói Menezes, quis conhecer meu pai. E meu pai no Rio era muito conhecido por não ter papas na língua, o que viesse na cabeça ele falava e aí na conversa com esse general ele falou: “Já que o senhor gosta muito da minha família, então, eu gostaria que o senhor ajudasse meu filho que está fichado como subversivo, teve preso, quer ir para Portugal e não pode”. E ele tomou um susto. Acho que realmente ele não sabia de nada e prometeu ver se ajudava. Até que um dia tocou o telefone lá em casa e eu atendi e era ele: “Queria falar contigo mesmo. Eu consegui limpar a sua ficha e se você quiser ir para Portugal você pode ir porque não há mais nada contra você”. E aí realmente quando eu fui no Galeão, eu falei “se tiver alguma coisa não vão deixar eu viajar”. Aí fui pro clube, mas eu estava quase dois anos sem jogar. Era inverno e eu comecei a ter uma distensão atrás da outra e falei “vou voltar! Vou parar”. Parei e nunca comentava isso com ninguém. Amigos próximos, vizinhos, não sabiam de nada. Mas aí em 88, depois da Constituinte eu ganhei o direito de ser reintegrado ao Ministério da Educação e aí voltei como funcionário federal. E logo em seguida me aposentei porque contou desde 63. Em 2001 eu recebi uma carta da Comissão de Anistia, que tinha sido criada, e se eu tinha alguma coisa a reclamar. Claro que eu tenho! Eu me preparei e me tornei o primeiro atleta brasileiro anistiado com reparação econômica e partir daí todo mundo tomou um susto por eu ser da família Antunes e por que ninguém sabia? Porque durante o período militar não podia ser divulgado e eu também não falava nada porque tinha que preservar meus três irmãos. E não adiantou muito não porque o Edu não foi campeão mundial em 70 porque era meu irmão. E isso aí o João Saldanha depois confirmou. E o Zico foi cortado da seleção olímpica também porque eu tinha sido preso. E o Antoninho que era o treinador, antes de morrer, confessou que ele levou a lista com 41 nomes e voltou com 40. O do Zico não estava. Ele era o principal jogador do time, tinha classificado a seleção olímpica em um jogo contra a Argentina, 1 a 0, gol dele, em Bogotá o jogo no Estádio Nacional. E foi uma frustração que ele quis parar a carreira dele. Quem não deixou foram meus irmãos Edu e Antunes que passaram um dia fazendo a cabeça dele e ele voltou a jogar. Mas você vê a perversidade dos militares. Um garoto de 18-19 anos ser punido porque era meu irmão. Quer dizer, já tinham me punido ilegalmente sem eu ter feito nada e puniram o Edu também em 70, tanto que foi no lugar dele o Dario. E quando cortaram o João Saldanha ele chegou a publicar, se não me engano no Última Hora, perguntaram porque ele não convocava o Edu. O Edu em 69 tinha sido o craque do país, o artilheiro e ele falou: “eu não convoco porque, infelizmente, há restrições quanto a família Antunes. Eles não perdoavam, eles tinham prazer. Eu senti na carne isso. Aonde eu ia eles tinham prazer em me prejudicar. E a covardia era tamanha porque era como os torturadores que botavam o capuz na gente para não olharmos a cara deles, eles não se apresentavam para dizer que estavam prejudicando. Aí a minha raiva era maior ainda porque era tudo feito às escondidas. Então, é mais ou menos essa a minha história. Eu fico muito feliz, eu faço muitas palestras, principalmente, para estudantes para falar para eles a importância da democracia que a gente vive hoje e que muitos não sabem direito o que aconteceu no passado. E um regime de exceção jamais pode voltar, jamais! É democracia sempre. O Brasil tem hoje uma das mais adiantadas democracias do mundo e laica. É uma democracia e laica, aqui todas as religiões são permitidas, não existe restrição nenhuma. E nunca se deve abandonar uma democracia. Então, eu fico muito feliz de ter participado dessa luta que houve no país e ver a maravilha que é o Brasil hoje.

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