Visões do Tri

Depoimentos de jogadores da Seleção no Mundial de 1970

 

Nota Explicativa

Esta série é parte integrante do projeto “Futebol, Memória e Patrimônio”, desenvolvida entre os anos de 2011 e 2012, com o apoio da FAPESP. A pesquisa foi realizada em parceria pelo CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e pelo Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB), equipamento público vinculado ao Museu do Futebol/Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Nesta seção, serão apresentadas as edições de 8 entrevistas concedidas por atletas brasileiros que estiveram presentes na Copa do Mundo de 1970, no México, a nona edição do torneio organizado pela FIFA. São eles: Félix, Carlos Alberto Torres, Marco Antônio, Gérson, Piazza, Edu, Roberto Miranda e Tostão. O propósito dos depoimentos, com base em sua história de vida, método caro à História Oral, foi rememorar as lembranças dos futebolistas acerca de sua participação na competição, de modo a destacar os preparativos para o Mundial, os jogos e a volta ao Brasil.

 

Local da Entrevista: Local da Entrevista: residência do entrevistado, em Niterói, Rio de Janeiro; Entrevistadores: Fernando Henrique Neves Herculiani e José Carlos Asbeg; Data da Entrevista: 30 de setembro de 2011; Transcrição: Letícia Cristina Fonseca Destro; Edição: Pedro Zanquetta Junior; Supervisão de Edição: Marcos Aarão Reis.

Roberto Miranda é o nono maior artilheiro da história do Botafogo. Foto: Divulgação/Botafogo.

Roberto Lopes Miranda. Nasceu no dia 31 de julho de 1943, em São Gonçalo, município do Rio de Janeiro, onde viveu sua infância. Aos catorze anos, iniciou carreira no meio-campo do Manufatura, de Niterói. Em 1957, foi contratado pelo Botafogo. No profissionalismo, iniciou-se em 1962, aos dezoito anos. Foi bicampeão carioca, em um time que contava com Garrincha, Nilton Santos, Manga, Zagallo e Amarildo. Tornou-se titular em 1963. Durante a década de 1960, acumulou uma série de títulos pelo alvinegro do Rio. Em 1967, fez sua estreia pela Seleção brasileira. Foi o artilheiro do Botafogo na conquista do bicampeonato carioca (1967-1968). Disputou 352 partidas e marcou 174 gols. Integrou o grupo que foi à Copa do Mundo de 1970. Considerado um jogador aguerrido, sofreu inúmeras contusões: quebrou o braço, o queixo, a costela, a clavícula e rompeu o tendão de Aquiles. Em 1973, foi para o Corinthians e recebeu o acréscimo de Miranda no sobrenome, para diferenciar de Roberto Rivelino. No clube do Parque São Jorge, jogou 77 jogos e marcou 21 gols. Após a temporada paulistana, tentou um retorno ao futebol carioca, mas não conseguiu se recuperar de uma cirurgia no joelho direito. Abandonou a carreira e passou a receber uma aposentadoria por invalidez do INSS.

 

De início, fale o seu nome, o local e a data do seu nascimento.

Meu nome é Roberto Lopes Miranda, mais conhecido como Roberto Miranda. Nasci em São Gonçalo, no dia 31 de julho de 1943.

Conte um pouco sobre a sua família.

Meu pai, Gumercindo Lopes de Miranda, era metalúrgico e minha mãe, Maria de Lurdes Pimentel de Miranda, dona de casa. Tenho uma irmã chamada Luísa Miranda e um irmão, Aimoré Miranda, que hoje vive em São Paulo. 

Onde vocês moravam em São Gonçalo?

Vivíamos em uma casa. Meu pai pagava aluguel. Ele ganhava pouquíssimo e sustentava nós quatro. E jogava no gol do clube da firma. Onde morávamos tinha um campinho, dali saiu o Zizinho[1]. Somos do mesmo bairro.

Qual o bairro?

Chamava Paiva. Jogávamos no Paiva Futebol Clube, dirigido pelo seu Licineu. Ali, comecei a ser reconhecido, mais por causa do Zizinho que já era famoso. Falavam sempre: – “Olha, tem um garoto aí que vai ser jogador de futebol”. O Zizinho sempre estava comigo. Quando ele chegava no Paiva: – “Se cuida! Você vai ser um bom jogador”. Dali eu saí.

Quantos anos você tinha quando conheceu o Zizinho?

Tinha 13 ou 14 anos. Aos 15, fui jogar no Botafogo. Na primeira vez que coloquei chuteira, dois dirigentes do Rio vieram me ver. Eram do Fluminense e do Botafogo. Joguei três amistosos no Manufatura contra o juvenil do Bangu, América e Vasco. Fiz gols nesses três jogos. Eles gostaram. Ganhei duas partidas e a empatamos a outra. O dirigente do tricolor chegou na frente e falou: – “Amanhã venho buscar você para treinar no meu time”. Mas o do Botafogo estava me vendo também. O treino do Flu era de manhã, mas me deixaram sentado um bocado de tempo. Me colocaram quando faltavam cinco minutos antes de terminar. O Milton Cardoso, filho do Gentil Cardoso[2], era o treinador. Me deram uma carta dizendo: – “Você volta amanhã e começa a treinar em tempo integral”. Quando sai das Laranjeiras, o diretor do alvinegro estava me esperando do lado de fora e disse: – “Você não vai à Niterói. Vai treinar à tarde no clube. Pode deixar, te pago almoço. Tudo direitinho”. E fomos ao Botafogo.

O teu coração tendia mais para qual lado, você tinha alguma preferência? Fechou com o Botafogo neste dia?

Eu não tinha preferência. Pensava que ia treinar somente no Fluminense. Mas não gostei, só me colocaram cinco minutos e me deram aquela cartinha. No Botafogo, no mesmo dia fui treinar. Com 30 minutos, três gols meus. E eles: – “Não, tira a roupa, você agora é do time. Nós vamos até sua casa”. Atualmente, sou Botafogo.

Foi o Zizinho quem levou os diretores?

Não. Eles foram por conta própria. Eram pessoas que procuravam jogadores no interior, olheiros. Vieram logo os dois, não sabiam nada sobre mim. Fiz um contrato de gaveta com o Botafogo e meus pais assinaram. Fiquei preso ao clube, não poderia mais treinar em outro. Eles me deram um dinheirinho por mês, para fazer as prestações e comprar um par de sapatos. [Risos] É verdade. E ir ao cinema. Passava no Caiuca, uma sapataria perto do Mouriscos, e ali tinha um cinema chamado Guanabara. Estava sempre naquele cinema. Queria me encontrar, estava ali.

Você estudou até que série?

Fui até a admissão: sexta série. Eu treinava muito, estava naquela vida de mais jogar do que estudar, não tinha tempo. Ainda por cima, esse dirigente me leva ao Botafogo e me coloca no treino. Tive que morar no Rio de Janeiro, embaixo da arquibancada onde ficavam os jogadores de outros estados que iam fazer teste. Como morava aqui em São Gonçalo e antigamente não tinha a ponte, fiquei lá. Eles me davam almoço, jantar e me colocaram em um colégio à noite chamado Doutor Rivadavia Corrêa Meyer.

E suas lembranças como torcedor de futebol, você via os jogos, ia ao estádio?

Dificilmente ia ao estádio, não tinha dinheiro, não tinha condição. Quando queria ganhar um dinheirinho e ir ao cinema eu fazia e vendia pipa e califa e jogava bola de gude apostando. Escutava muito futebol no rádio, pois nem televisão tinha.

Mas você torcia nesta fase?

Torcia pelo América, porque meu pai era torcedor. Ganhei um uniforme da minha tia e achei a camisa bonita, toda vermelha. Meu pai disse: – “Não, é americano? Você ganhou uma roupa do América, tem que ser”. Assim, na minha infância, eu era América, mas não ia a campo de futebol.

Torcia pela Seleção também? Tem alguma lembrança da Copa do Mundo de 1958?

Não, comecei a pensar mesmo quando fui convocado na seleção de juniores. O país parava para assistir os jogos da Copa do Mundo. Via grandes jogadores. O próprio Zizinho, considerado um dos maiores, é da minha terra. Então, prestava atenção.

Antigamente, havia as seleções carioca, paulista, mineira, gaúcha. Tinha o Marinho, que jogou no Santos, no Bangu e no Botafogo de Ribeirão Preto. Foi muito requisitado na seleção carioca. Chamavam ele de Cacareco. Era muito colado ao Zizinho. Quando começou a jogar, o Zizinho o levou ao Bangu. No futebol, foi nosso pai. Levou o Marinho, depois disse: – “Vou te levar”. Mas eu era bem mais novo.

Como foi essa saída de casa? Sai de São Gonçalo, deixa os pais e vai morar sozinho no Rio de Janeiro aos 15 anos.

Fui obrigado. Os meus pais deixaram, pois eu estava cercado pelo Botafogo. Eles vieram à minha casa fazer o contrato.

Em que ano foi isso?

De 1958 para 1959. A minha mãe não queria. Ela disse: – “Não sei aonde estão levando ele”. Mas meu pai, que tinha sido jogador de pelada, dizia: – “Não. Deixa o garoto ir. Ele está indo bem, está aprendendo”. De vez em quando, ele tinha notícias minhas: – “O Roberto está indo muito bem. Vai começar a jogar”. Eu estava fazendo estágio no Botafogo.

Joguei o campeonato de juniores em 1961, 1962 e 1963. Fui tricampeão e artilheiro. Logo me convocaram para a seleção que ia disputar as Olimpíadas de 1964. Estava ganhando mais e fazia alguns jogos no time de cima. Em 1962, disputei o juvenil e fui campeão profissional também. Antigamente, existia juvenil, aspirante e profissional. A linha do Botafogo profissional era: Garrincha, Didi, Valentim, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. A de aspirante: Neivaldo, Rossi, China, Bruno e Orlando.

Nossa equipe juvenil estava oito ou nove pontos à frente do segundo colocado e éramos praticamente campeões. O Garrincha se machucou, não podia jogar, e o aspirante estava disputando com o Vasco. Não poderiam tirar o Neivaldo, o substituto do Garrincha, pois iam desfalcar o aspirante. Tiraram um do juvenil, que fui eu. Joguei no time profissional. O Nilton Santos, antes do jogo, me disse: – “Faz de conta que você está jogando no juvenil”.

Você vivia no Botafogo, tinha sua rotina de treinos no juvenil. Tinha contato com aquelas estrelas todas?

O juvenil treinava de manhã. O time profissional à tarde. Eu dormia embaixo da arquibancada e ia ver o treino deles. Aprendi muita coisa. Prestava atenção nos jogadores que gostava mais, principalmente da minha posição. Observava como jogava e tirava alguma coisa de cada jogador. Como morava ali, todos os outros gostavam muito de mim. Inclusive, na hora do jantar, eles passavam no restaurante, pegavam um tira gosto no meu prato e iam tomar um guaraná. O profissional acabava à noite. Começavam às 4 horas da tarde e saíam 7 horas, quando eu estava jantando. Didi, Garrincha e Nilton Santos iam petiscar no meu prato. Fiquei muito amigo deles.

Neste período de juvenil, teve algum treinador muito importante na sua formação?

Teve sim. O Paraguaio[3] – ex-jogador – foi nosso treinador. Ele achava que eu treinava muito e disse: – “Você tem muita impulsão, mas está cabeceando com os olhos fechados. Como vai fazer o gol de olhos fechados? Precisa ver aonde vai cabecear”. Ele sempre dizia: – “Pula de olho aberto”. Fui treinando até que nunca mais pulei de olho fechado. Outra coisa que ele me explicou: – “Não dá as costas para o defensor. Você dá o lado”. Ele me ensinou várias coisas. Foi um excelente ponta direita, campeão no Botafogo.

Você sempre jogou de centroavante, desde garoto?

Não, às vezes jogava na ponta direita. Mas gostava mais de centroavante, na ponta ficava um pouquinho difícil fazer gol. Como centroavante, eu estava rondando a área de frente, com mais oportunidade de fazer gol. Achava que na partida poderia ir mal, mas se fizesse um gol, salvava. Tinha esse pensamento: – “Não fui bem, mas marquei um gol”. Às vezes, não ia bem: – “Ah, o Roberto fez gol”. A minha nota era boa. Não me achava em campo. Só por que fiz um gol?

Tinha algum ídolo na sua posição em quem se espelhava?

No Botafogo, sempre gostei do Amarildo, pelo tipo dele jogar. Ele pegava a bola e ia para dentro dos caras. Driblava, chutava bem. Me espelhava muito nele.  O Paulinho Valentim fazia muito gol, mas não gostava muito do tipo, era mais trombador e não levantava a cabeça… O Amarildo, não. Quando substituiu o Pelé na Copa do Mundo fez gol, foi campeão em 1962.

O Quarentinha era um jogador mais tranquilo, não vibrava. Ele fazia um gol, abaixava a cabeça e vinha andando e o pessoal agarrava ele. Joguei com eles. Uma vez, fui abraçar o Quarentinha em um gol, eu era garotão ainda, ele falou: – “Você não sabe que o Redondo sempre faz gol? Não precisa me abraçar muito”. [Risos] O apelido dele era Redondo. Ele se achava, pois estava muito forte. Mas eu gostava do tipo do Amarildo.

Joguei certo tempo com o Garrincha. Ele estava no final. E o Botafogo viajava muito ao exterior. Quando ele pegava a bola, eu me colocava na marca do pênalti. Sabia que ele ia jogar ali, o via treinando. O Garrincha ia driblava, driblava e dava aqui… Eu não fazia nada, só ficava ali, e voltei com dezoito gols por causa dele. Não é bom você assistir um treinamento? Já conheço o cara.

Em 1962, você estreou no profissional e foi campeão. Esse foi seu primeiro título?

Meu primeiro título com apenas uma partida. Em São Gonçalo me conheciam e até cantaram uma música: – “Daqui saiu Roberto Miranda…”.

Depois de receber um salário melhor no Botafogo, você continuou morando no Rio ou voltou a São Gonçalo?

Fiquei no Rio de Janeiro. Ia a São Gonçalo só passear, não dava mais, tinha feito toda a vida lá.

Você passou pelo aspirante ou foi direto do juvenil para o profissional?

No aspirante, participei de muito poucos jogos. Do juvenil, fui para o olímpico. O Aymoré Moreira[4] foi um dos primeiros a me convocar. Meu treinador nas Olimpíadas de 1964 foi o Vicente Feola[5]. Quando voltei das Olimpíadas, comentavam: – “Olha Roberto, você vai ser convocado para a Copa do Mundo de 1966”. E estava mesmo tudo preparado. Mas me machuquei feio. Fiquei seis meses parado, não tinha condição. O médico da seleção, Hilton Gosling[6], foi quem cuidou de mim.

Qual é o momento em que você se firma no time principal do Botafogo?

Foi quando me levaram a uma excursão. Antigamente, uma excursão de clube durava um mês. Disputamos um hexagonal com os melhores times dos outros países, todos campeões. Botafogo campeão do Rio; Ferencváros, da Hungria; as duas seleções mexicanas A e B; Barcelona… Os times de categoria mesmo. Nós colocamos esse hexagonal e vários amistosos também. Jogávamos contra o Santos. É aquele negócio de empresário, eles levavam o Botafogo e o Santos.

Uma vez, nós jogamos no México e o Santos na França. Eles tinham aquele timaço: Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. A nossa linha era Rogério, Gérson, eu, Jairzinho e Paulo César. Quando vimos, estavam ganhando só de oito e nove de uns times franceses. Fomos campeões do torneio no México e eles foram campeões em Paris. Nós atrasávamos os jogos aqui no campeonato, tanto o Santos, quanto o Botafogo – campeonatos paulistas e campeonatos cariocas. Não sei quantas rodadas atrasadas. O empresário informou: – “Vocês não vão ao Brasil agora”. – “Por quê?”. Todo mundo  queria voltar. – “Vai ter um amistoso entre Botafogo e Santos na Venezuela e o estádio está lotado, tudo vendido. Vão ganhar uma graninha boa”. Todo mundo: – “Então vamos lá jogar!”. – “Depois dessa partida vocês vão embora”.

Jogo à noite, estádio lotado. O Pelé saiu de casa com aquela coroa. Em todos os jornais, só dava ele. Primeira partida: dois a um Botafogo. O povo: – “Não é possível o Santos perder”. Nosso time era muito bom, mais novo. – “Não, não pode”. A torcida não acreditou, pediu revanche. – “Outra vez?”. – “É, revanche. A cota vai melhorar ainda mais”. – “Vamos jogar a segunda”. Ganhamos de três a zero. – “Então tá, agora podem ir embora”. Tiramos a coroa do rei. [Risos]

Foi nessa excursão que você se firmou?

Foi em uma dessas. Vou contar quando me firmei. A linha era Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo – que foi jogar na Itália –, e Zagallo. O nosso treinador era o Geninho[7], que foi jogador e militar. Ele foi à guerra, era meio estourado. Vivia sempre sério. Me chamava de Betinho, de Carlinhos, nunca de Roberto. Esquecia o meu nome. Ele me levou na excursão com esse timão todo, time principal. O primeiro jogo foi em León, no México. Quando chegamos ao estádio, havia a presença dos bicampeões mundiais: Garrincha, Didi, Valentim, Zagallo.

No primeiro tempo, estádio lotado, tomamos dois a zero, O Geninho ficou bravo: – “Não! Não pode ser”. O Gérson tinha entrado. Ele me chamou: – “Carlinhos, vem cá”. Era eu. [Risos] Chamou o Jairzinho. Ele me tira o Quarentinha e o Zagallo. A linha ficou: Garrincha, Gérson, Didi. Na frente, Garrincha, eu e Jairzinho. Eu mais caído na esquerda, jogador de frente.

Empatamos dois a dois. Marquei um e Jairzinho o outro. Sabe o que ele fez? – “Não tem mais presença de bicampeão nenhum, quem é titular é você e ele”. Voltamos, eu e o Jairzinho, como titulares. Não perdemos mais nenhuma partida com essa formação. Começamos a estourar: fomos campeões da Guanabara, carioca, bi-Guanabara… Com a nossa entrada, o Zagallo parou e foi treinar o juvenil. – “Sai Zagallo”. [Risos] O Valentim também parou e o Jairzinho se tornou titular.

E o ataque muda, não é? Logo depois, o Garrincha também parou…

Parou e entrou o Rogério. Ficou Rogério, Gérson, eu, Jairzinho e Paulo César.

Um pouco depois disso, em 1964, tem o Torneio Rio-São Paulo, também memorável. Lembra da decisão contra o Santos?

Ganhamos de três a dois. Foi à noite e chovia um pouco. O Jairzinho fez um gol e eu dois. O Toninho[8], do Santos, marcou dois. Faltavam três minutos para terminar a partida, o Manga e o Pelé foram expulsos. O nosso goleiro reserva era o Hélio, que foi às Olimpíadas. Antes, não podia entrar o reserva atual, primeiro ia um jogador que estava ali, por exemplo, um atacante, ou um defensor, se ele tivesse algum problema, entrava o outro goleiro. Eu treinava no gol. O Hélio me emprestou a luva, pois estava chovendo e falei: – “Não era você que vinha para o gol?”. Ele: – “Não, Roberto, não pode”.

Veio uma ordem do banco: – “Roberto, a primeira bola que pegar, você cai. Diz que se machucou e não pode continuar. Então, entra o reserva”. Teve uma brincadeira… Nego chutava muito forte. Houve uma falta enviesada, os caras: – “Roberto, é o Pepe”. Respondi: – “Abre”. – “Abre como? Você está maluco? O Pepe chuta muito forte”. Falei de sacanagem. [Risos] O jogo estava acabando. Ele não chutou forte, quis colocar. Peguei a bola e caí gritando. O Hélio entrou no meu lugar e o juiz apitou o final da partida.

O título acabou sendo dividido…

Foi dividido entre Botafogo e Santos.

Em 1964, você defendeu a Seleção nos Jogos Olímpicos. Como foi a convocação, a preparação?

Primeiro, fomos à eliminatória. Foi disputada em Lima, no Peru. Inclusive, teve aquele acidente feio e morreu muita gente, a polícia matou… Caiu um alambrado na partida entre Peru e Argentina. Íamos ao estádio e ainda bem que não fomos neste dia.

É a maior tragédia na história do futebol.

Foi. Você via tudo pisado. Os jogos foram todos transferidos para o Rio de Janeiro. Estava faltando pouco e nós vínhamos bem, ganhamos sempre. Fomos classificados para as Olimpíadas. O treinador era outro, entrou o Feola, e o Hilton Gosling como médico. A comissão técnica era toda da principal. Viajamos ao Japão. Não passamos da primeira rodada, pois apesar de termos ganhado da Coréia do Sul, quatro a zero, empatamos com a RAU[9], um a um, e perdemos da Tchecoslováquia de um a zero.

Éramos todos garotos e os outros países, chamados “Cortina de Ferro” – Hungria, Tchecoslováquia –, já tinham disputado a Copa do Mundo. Estavam com mais cancha, eram mais bem preparados, a gente ainda estava se formando. Por isso não chegamos.

Nesta época, você tinha feito excursão à Europa, aos Estados Unidos. Mas, a ida ao Japão foi um marco na sua vida?

O topo do trabalho do jogador é disputar uma Olimpíada ou Copa do Mundo. Não tem mais nada a fazer, não pode ultrapassar.

Como você define o seu estilo de jogo?

Há vídeos em que eu vou para cima. Se você quer tirar eles do esquema, tem hora que é necessário ultrapassar o marcador. Não adianta ficar tocando. Joguei contra equipes que mantinham um zagueiro, na espera. Certa vez, Zagalo me alertou a respeito e disse: – “Roberto, eles são dois, um ao teu lado e outro na sobra. Não deixa sobrar. Disputa a primeira bola com ele, e se o cara recuar, você avança em direção do gol, mesmo sem bola”. Isso evitava impedimento.

Aquele ataque do Botafogo era muito ofensivo. Todos driblavam e iam para cima. O treinador estimulava o drible?

Ele aplicava o seu esquema próprio, mas o Botafogo nunca foi muito à frente. Permanecíamos um pouco atrás, saindo na velocidade, atraindo o adversário e fazendo jogadas combinadas – eu, Gérson e Jairzinho.

Em 1966, tem a Copa do Mundo. Como foi essa contusão que te tirou?

Estava arrebentado, com o joelho meio bravo. Tinha os meniscos estourados. Hoje, você opera sentado e em quinze dias está em campo. Mas, na época, tirar o menisco deixava a gente um bom tempinho parado.

Foi em uma partida que se machucou?

Vinha meio baleado. Jogava sentindo. Tive que operar, não dava mais, estava me prendendo a perna. Foi quando aconteceu a convocação.

No Botafogo, como era a sua relação com os dirigentes? Vocês viajavam muito, tinham que negociar contrato, dinheiro?  

Não, meu irmão fazia isso, o Aymoré. Era o meu procurador. Mexer no dinheiro era com ele. Eu ligava e dizia: – “Olha, o presidente do Botafogo quer falar contigo. É sobre dinheiro”.

Uma vez, o campeonato estava acabando e eu era o artilheiro. O meu contrato terminou, restavam três jogos: Fluminense, outro time e Vasco. O meu irmão estava com o Xisto Toniato[10], dirigente do Botafogo. Ele queria renovar e, em razão da artilharia, meu irmão queria mais. O diretor disse: – “Não, isso não vou dar”. O Aymoré falou: – “Roberto, sai e não vai ao treino”. Isso no meio da semana do jogo do Fluminense. Tinha que me apresentar no treino na terça-feira, não fui. Meu irmão aconselhou: – “Você fica se cuidando. Treina sozinho. Vai para Friburgo”.

Fui e fiquei lá. Na terça feira, a imprensa toda: – “Cadê o Roberto?”. – “Não veio”. – “Por quê?”. – “Por causa do contrato”. Na quarta e quinta-feira, não apareci de novo. Continuei treinando sozinho. O pessoal: – “Você está maluco, Xisto? Dá logo o que ele quer”. Chegou sexta-feira, tinha treino à tarde e não compareci. Era o último coletivo. À noite, o Aymoré recomendou: – “Desce, vai direto à concentração, ele vai dar uma grana boa por fora. Não assinamos contrato, mas ele vai pagar só essa partida”. Apareci na concentração. Domingo estou em campo e todo mundo: – “Pô, mas o Roberto está em campo?”. Três a um, fiz dois gols. Meu irmão: – “Volta para Friburgo”. O Xisto: – “Não volta não, vou dar o que ele quer”.

Jogou sem contrato?

Joguei, mas meu irmão fez um seguro. Ele trabalhava com isso e disse ao pessoal do Botafogo: – “Vocês vão assegurar ele e mais a grana”. – “Está bom”. Só por aquele jogo.

Depois renovou por mais quanto tempo?

Por mais um ano, ou um ano e meio. Foi em 1968. Ganhamos do Vasco, quatro a zero na final e marquei o primeiro gol da partida.

Em 1968, foi bicampeão. A imprensa falava muito de você, chegaram a te chamar de Vendaval.

Eles me chamavam assim por causa do meu tipo de jogo. Não tinha medo, sempre apanhei, desde o juvenil. Quando pegava a bola, batiam mesmo. Sentia tudo quanto era dor. Eu entrava, encarava os caras, ia para dentro. O Jorge Curi[11] colocou esse apelido, pois peguei uma bola, passei por três jogadores e ele: – “Parece um vendaval”. No outro dia, saiu na imprensa e pegou. 

Você foi expulso muitas vezes?

Sim, em algumas partidas. Tem hora que você não aguenta. Vai falar com o árbitro e ele finge que não escuta. Eu apelava e era expulso. Ou então, com o Fontana. Com ele era sempre. Vou espalhar um negócio que não vão acreditar: toda vez que jogava contra o Fontana – ele no Cruzeiro e eu no Vasco – não podia dar as costas que ele me dava tapa na cara. Grandão para caramba, aquele bração… Ele me arranhava. Me deixava louco.

Em uma partida da Taça Libertadores, fomos primeiro em Minas. O Cruzeiro tinha  aquele timaço: Tostão, Dirceuzinho Lopes, José Carlos e Natal. Ganhamos lá dentro de um a zero, Mineirão lotado. Começamos a brigar ali. Ele dava porrada, eu revidava. O Fontana prometeu: – “No Rio, vou te arrebentar”. Respondi: – “Estou te esperando”. Começou o jogo, o Dirceuzinho foi lá e fez um a zero. Pensei: – “Estou encrencado”. Ele ameaçou: – “Está vendo? Agora vou deitar”.  Começou a me dar porrada. Uma hora no corner, dei as costas, o Fontana veio e me deu um tabefe na cara. Fiquei bravo, mas não podia revidar enquanto a gente estava perdendo de um a zero. Pensei: – “Vou ser expulso”.  Uma bola veio no segundo tempo, fui lá e empatei, um a um. 

Agora é comigo, digo: – “Não dá as costas que vou te torrar mesmo”. Em todo escanteio, dava soco na cabeça dele. Olhava o bandeirinha e o juiz, via que não estavam vendo e chegava dando. Depois saía gritando. O juiz me olhava de rabo de olho, eu falava: – “Ele está me dando porrada”. Eu tinha dado nele. Quando ele viu que estava no final, foi na frente de todo mundo e me deu um tabefe. Voltei nele e fomos brigando. O juiz: – “Podem sair vocês dois”. O delegado estava na boca do túnel, de terno branco, chamou a gente. Fomos cada um ao seu vestiário tomar banho, mas com um cara olhando. Estávamos presos ali. Fiquei com o maior arranhão e ele também todo marcado. Saiu um advogado para cada. Eles combinaram: – “Vão perguntar o que é isso. Vocês dizem: é o campo seco”. Um deles dizia: – “Vocês escorregaram e bateram a mão um no rosto do outro”. Isso para a gente não ficar preso. Fomos à delegacia de São Cristóvão, a mais próxima do Maracanã.

Como surgiu essa sua rivalidade com o Fontana?

Era coisa antiga, do tempo do Vasco. O Brito falava: – “Não bate que ele vai voltar, é pior”. O Fontana era teimoso. Na Seleção, em 1970, ele andou falando: – “Tem que dar nos caras”. Sempre foi um cara atirado. O Brito perto, ele mandava: – “Dá no cara”. O Brito: – “Por quê? Não é assim, tem que jogar. Você não quer jogar, quer dar porrada”. Ele era desse tipo: – “Não, mas tem que dar para amedrontar os caras”. Mas, no fundo, era boa pessoa. No final ficamos amigos. Ele reconheceu. Falei: – “Fontana, você não sabe jogar, você dá porrada! Isso aqui não é boxe”.

Quem foi o seu maior marcador?

Não gostava de jogar contra Anchieta e Figueroa. Esses dois sabiam jogar e eram grandões. O Figueiroa principalmente.

Esses confrontos com os zagueiros foi o que fez você ter tantas contusões depois?

Foi. Você é de carne e osso, tanta porrada. Em todos os jogos, você toma. Assim vai minando o cara. E outra coisa, eu sempre acreditava em todas as jogadas.

E quando surge a seleção principal?

A primeira vez foi com o Aymoré Moreira. Ele tinha uma porção de irmãos, que gostavam muito de mim: – “Convoca o Roberto…”. O Osvaldo Brandão[12] também me levava sempre. O próprio Vicente Feola falava: – “Esse é bom jogador, pode convocar para a principal”. Então, estes entravam na principal e me convocavam. O Hilton Gosling, médico, repetia: – “Ele é bom jogador, pode convocar”. Adiantavam: – “Você vai ser convocado, se cuida”.

Em 1969, o João Saldanha assume o time das eliminatórias e você não está.

Na primeira convocação, não fui relacionado. Não me dava muito bem com o Saldanha. Tivemos uma briguinha dentro do Botafogo, ele era muito exigente em certas coisas e eu não levava desaforo. Diziam: – “Ele é o treinador”. Respondi: – “E daí? Ele quer umas jogadas que não tem como fazer”. O técnico: – “Você vai entrar por aqui, fazer isso, fazer aquilo”. Questionei: –“Mas Saldanha?”. Ele era assim: – “Quer, quer?“. Falei: – “Não quero”. Ele: – “Então, pode sair”. Eu, artilheiro do campeonato, ele, treinador da seleção, convoca todo mundo e não me chama. Não vou às eliminatórias. Sendo o artilheiro e tudo mais. Ele era muito exigente.

Certo dia, estava treinando à tarde em General Severiano. Após dez minutos, começo a ver um monte de gente no portão. A comissão técnica da seleção: Jeronimo Bastos (o chefe da delegação), Antonio do Passo, todo mundo entrando e parando no alambrado onde estava o Zagallo, que disse: – “Pára o treino!”. Conversou dois minutos com eles, veio na minha direção e falou: – “Sai do treino”. Perguntei: – “O treino não começou agora?”. – “Sai do treino, rapaz”.  Saí, fui ao vestiário. Quando estou tirando a roupa, entrou a imprensa: – “Roberto, o que tu achas da tua convocação?”. Surpreso, respondi: – “Ele não me falou nada!”. – “Você está convocado”. – “É mesmo?”. O Zagallo chegou: – “Você nem vai para casa. Manda alguém vir trazer alguma roupa e levar nas Paineiras[13] hoje à noite, porque amanhã à tarde vamos treinar no Maracanã, coletivo”. Respondi: – “Está legal”. Meu irmão levou. Fomos convocados eu, Félix, o Leônidas…

O Zagallo foi informado nesse exato momento que seria o técnico da seleção? Você foi convocado junto com ele?  

Neste momento. Fomos para as Paineiras. Na tarde do outro dia, coletivo no Maracanã, ele me dá a camisa titular. Joguei com o Pelé na frente e fiz um ou dois gols. Eu sempre marcava no treino. Voltamos à concentração. No dia seguinte, outro treino, joguei no time titular, fazendo gol. Houve um amistoso entre Brasil e Chile no Morumbi. O estádio lotado, todo mundo falando: – “Esse garoto vai se dar bem. Está fazendo gol”. De novo, fiquei com o Pelé na frente e ganhamos de cinco a zero. Marquei dois, Pelé dois e o Gérson um. Pensei: – “Estou dentro. Não vou ser cortado. Estou treinando, jogando nos amistosos e fazendo gol”.

Teve outro jogo no Maracanã: Brasil e Chile. Ganhamos de dois a um. Foi quando eu e o Jairzinho fomos expulsos. O cara me deu uma pisada na barriga, em uma revista tem o lance. Ele me pisando, levantei e dei umas porradas. O Jairzinho veio me livrar. Mesmo assim, não me prejudicou. O Brasil ganhou de dois a um.

Veio a Bulgária no Morumbi. O Zagallo inventou uma e avisou: – “Vão jogar Roberto e Tostão. Pelé, tu vais ficar no banco dessa vez”. O Tostão estava com um probleminha e o Zagallo queria testá-lo. Eu era o cara imediato, ou joga o Tostão e o Pelé, ou eu e o Pelé, ou eu e o Tostão. Empatamos zero a zero. O Pelé: – “Está vendo? Sem mim vocês não fazem gol porque ficam querendo me tirar”. Ele sabia que ia ficar. O Zagallo estava testando. Mas, de sacanagem, falei: – “Está vendo? Coloquei você no banco”. Tudo brincadeira.

Nesse momento vem o corte. Próximo de irmos a Guanajuato, estávamos nas Paineiras, treinamos de manhã, almoçamos e subimos para os quartos. Acordei – não era muito de dormir –, e desci para pegar um pouco de água. Vi o Leônidas de terno, Zé do Milho (Dirceu Lopes) de terno e mais outro de terno. Perguntei: – “Rapazes, aonde vocês vão?”. Olha como eram as coisas, nem acordados éramos. – “Fomos cortados, vamos embora”. É chato para quem é cortado, para mim não. Pensei: – “Estou dentro. Vou viajar para a Copa do Mundo”.

Vocês sabiam que teria este corte?

Sabíamos, mas não naquela hora, naquele dia.

O Leão tinha sido cortado e voltou. Você estava neste período?

O Leão foi como terceiro goleiro. Ele ficava de terno. Quem mudava de roupa eram o Félix e o Ado, um jogava e o outro ficava na reserva. Fiquei no banco em todas as partidas, então lembro bem. O Zagallo me pedia: – “Amarra a chuteira e fica prontinho, você pode entrar na ponta direita, no Pelé ou no Tostão”. Entrei uma vez na ponta direita contra o Peru e como centroavante contra a Inglaterra.

Como era essa equipe da Seleção?

Espetacular. Não porque foi considerada uma das melhores seleções, eu também acho. Mas pela amizade. Todo mundo se dava bem um com o outro.

Até você com o Fontana?

Sim, impressionante! Antes de começar o treino, eles faziam aquela rodinha. Davam divididas para darmos paulada um no outro, brigar. Mas a gente sabia. Dizíamos: – “Que isso? Nós somos amigos”. Ficamos amigos ali.

E como foi o embarque para o México?

Primeiro, fomos falar com o presidente. Recebemos uma santinha da esposa dele: – “Vá com Deus”. Havia problemas aqui no país, quando saímos, fomos avisados: – “Pode ter catástrofe lá no Brasil’. O Médici falava por telefone com o Brigadeiro todas as noites: – “Como estão os meninos? Têm que trazer a Copa do Mundo, senão vai ter confusão aqui”. – “Não, pode deixar”. Sempre víamos ele conversar com o presidente. Ele nos contava: – “O presidente ligou desejando boa sorte na partida de amanhã”.

Vocês sentiam esta pressão do presidente? Como reagiam a ela?

Não colocávamos isso na cabeça. Eu, particularmente, dizia: – “Quero é jogar”. O nosso jogo mais difícil foi contra a Inglaterra. Ali foi o caos.

Teve uma tensão do Médici com o Saldanha, não é?

Sim. Não estou falando que o Saldanha não era de brincadeira?! Muita gente brigava com ele. Não me importei, pensava: – “Está na metade da Copa do Mundo, estamos indo bem, pelos adversários que estava vendo”. E sentíamos: – “Pelo amor de Deus! O Brasil tem que ganhar”. Quando passamos da Inglaterra, da partida mais difícil, senti: – “Nós somos campeões mundiais”.

Qual era o clima dos torcedores e a expectativa em vocês?    

Confiança total. No México, a torcida mexicana era a nosso favor, todinha: – “Brasil, Brasil!”. Todo mundo era Brasil.

Como foi a preparação lá em Guanajuato?

Chegamos no México e comecei no time titular nos amistosos, pois o Tostão não estava bom ainda. Ele fazia tratamento, voltava. Ficamos treinando, treinando.

No México, jogando os amistosos, você achava que seria o titular?

Não, sabia que jogaria Pelé e Tostão, era só ele melhorar um pouquinho. Eles tinham vindo das eliminatórias, jogaram os dois, deram certo. Ganharam o título. E o Zagallo dificilmente mudava.

Então, você era coringa das três posições?

Sim. Três posições: Jairizinho, Pelé e o Tostão. Portanto, treinava com o Pelé ou o Tostão, e no dia em que o Jairzinho não jogou bem, entrei. Ele estava driblando muito próximo do lateral esquerdo, que toda hora tomava a bola dele. O Zagallo chegou perto de mim e avisou: – “Olha o Jairzinho como está. Driblou pertinho do cara. O cara está tomando toda hora dele. Você entra, dá uns dribles longos”. Cheguei a dar dribles longos, ele já estava cansado.

A estreia foi contra a Tchecoslováquia, não é?

Tchecoslováquia, quatro a um. Eles marcaram um a zero. Aquele cara que se ajoelhou quando fez o gol.

Não deu um medo ali? Começa a Copa, esse gol…

Não. Empatou e a gente começou em cima.

Veio o jogo com a Inglaterra…

Entrei nessa partida. O Tostão, antes de fazer a jogada do passe para o Pelé que resultou no gol do Jairzinho, olhou e me viu aquecendo. Falou: – “Vai entrar o Roberto”. Ele não estava bem, só fez aquilo. Fui a campo com a orientação: – “Roberto, você pega a bola e vai para cima deles”. Quase faço um gol. Dou drible para dentro, bati no canto, ela foi no cantinho e o goleiro espalmou. Você viu a cabeçada do Pelé? O goleiro deles era muito bom, quase pegou o chute do Jairzinho. Entrei para pegar a bola e fazer só… Porque eles estavam muito em cima. 

O Félix, nesse dia, era Deus que estava levantando a mão dele. O Bobby Charlton deu uma cabeçada perigosa, ele sozinho. O cara fez assim: bate e sai. Virei pro Félix: – “Foi Deus que levantou o seu braço, não é possível”. Em outra jogada, o inglês deu um chute e bateu na perna do Everaldo… O Félix caiu. Bate e sobe um deles, se o cara vai, faz o gol. O grandão que tinha lá, deu uma porrada e a bola sumiu. E se empata… Mas nós ganhamos de um a zero. Disse: – “Agora nós somos campeões”.

Encerrando a primeira fase, jogaram contra a Romênia.

Ganhamos de três a dois. Foi uma partida que você diz: – “Não!”. Três a dois não quer dizer o que foi a partida – é a minha opinião. Podia ter sido quatro a um Brasil, ou cinco. Foi três a dois porque é coisa de futebol, existe às vezes, mas o Brasil não perdia da Romênia.

No período que estava no banco, você observava os outros times, os outros jogadores da Copa?

Prestava atenção na zaga deles, pois estava preparado para entrar. Me programava: – “Quero ver onde caio melhor”. O Zagallo: – “Você cai na direita ou na…”. Respondia: – “Deixa cair no lugar que me sentir melhor”. Uma vez, no Botafogo, ele me disse: – “Vai pela direita”. Cheguei, estava difícil, fui na esquerda. Marquei dois gols e falei: – “Está bom?”. Ele disse: – “Ótimo!”. [Risos]

Você o chamava de Zagallo, não tinha esse negócio de professor?

Não, jogamos juntos. Chamava de Zagallinho. Éramos amigos mesmo.

Falam que o Pelé estava com uma mística interna e queria vencer muito essa Copa, pois em 1962 e 1966 ele se machucou e muitos falavam que não conseguiria mais ganhar.

Falar do Pelé… Em campo ele era… Não é à toa, não sei se vocês sabem, queriam sequestrar o negão. Ele vivia protegido, ficava só no quarto. Tínhamos uma mania, íamos ao vestiário e cada um tinha uma sacola azul lá: camisa, calção, sunga, chuteira. O jogador era responsável pelo seu material, senão levava. O Pelé chegava no vestiário e fazia daquilo um travesseiro. Fechava os olhos, deitava uns vinte minutos como se fosse dormir. Talvez ficasse pensando na jogada que queria fazer. Fazia isso em todos os jogos. – “Acorda a fera não, deixa ele…”. Ele ia a campo com tudo. Queria ganhar a Copa do Mundo.

Ele falava sobre isso com vocês?

Você sentia nele. A primeira coisa: ele não queria ver ninguém: – “Não, me deixa descansar um pouquinho. Deixa eu mentalizar”. Em todos os jogos era assim. Vestiário é um barulho, um brinca com outro, e o negão lá mentalizando. Entrava em campo e era aquele safado, jogava para caramba. Era liso. Cada jogada que fez! Contra o Uruguai, em uma o goleiro bate e ele pega de primeira. Em outra ele passa e larga a bola. O Pelé era fogo.

Dizem que no período de jogos tinha muita reunião entre vocês jogadores. Como era?

Queríamos ganhar. Então, a gente dizia: – “Não podemos relaxar. Vamos para dentro. Não interessa quem vem jogar contra nós, temos que chegar lá e dar o máximo de cada um”.

Tinha os líderes, aquele pessoal do Carlos Alberto?

O Pelé mesmo quase não falava, quem falava era o Carlos Alberto, o Gérson. O negão era como um jogador comum, só ficava na dele. Agora, quando entrava em campo era ele, não é? As possibilidades, quem fazia tudo era ele. Nunca joguei no Santos, mas dizem que o Zito dava bronca nele: – “Vai lá Pelé, tu tens que fazer isso”. O cara fazia de tudo, reclamavam e ele ficava quieto. Os caras do Santos me contam.

O Zito era muito esquentado, não?

Pois é. Eu dizia: – “Que história é essa: o Zito dava bronca e você não respondia?”. [Risos]

Fim da primeira fase, vêm as quartas de final e você entra contra o Peru.

O time do Peru era muito bom, tinha o Baylón[14], Cubillas[15], Mifflin[16]. Um timaço! Mas, quando fomos ao estádio, o vestiário do Peru ficava de um lado e o nosso do outro. Havia uma imagem de um santo no meio, eles estavam todos rezando. Chegamos falando alto e os jogadores se assustaram. Pararam de rezar e ficaram nos olhando. Fomos ao nosso vestiário e eles continuaram lá. Ali sentiram: – “Não vai dar para ganhar dos caras”. O Brasil fez dois a zero, eles fizeram dois a um, três a um pra gente, eles marcaram três a dois, fizemos quatro. Quando tomavam o gol, queriam ir para cima. A gente fazia um gol e recuava. Eles não eram fáceis, não.

E a sua entrada no jogo?

O Zagallo me chamou e disse: – “O Jairzinho está driblando muito em cima do lateral”. Era um garoto rápido também. – “Você dribla longo”. Comecei e ele não tinha mais perna para me acompanhar.

Vocês chegaram a encontrar o Didi nesse dia?

Encontramos antes do jogo. Ele disse: – “Nós viemos bem, vamos perder só para vocês. Podíamos chegar até a final, o meu time é bom, mas pegou o Brasil…”.

Depois da partida, você encontrou com ele? Vocês jogaram juntos, não foi?

Sim, a gente conversou, ele deu os parabéns. O Didi sempre foi um cara legal. Jogávamos cartas na concentração. Malandrão, jogava aqui, ficava olhando, observando tudo. E me dava muitos conselhos, sempre meu amigão. Eu vinha do juvenil. Ele e o Nilton Santos, os mais velhos, sempre falavam comigo: – “Faz de conta que você está no juvenil”. No dia do jogo deles, acordavam cedo para ver o juvenil do Botafogo.

Na semifinal, a Seleção pegou o Uruguai vinte anos depois de 1950. Foi muito preocupante por causa do histórico?

Sim, quando eles fizeram o primeiro gol, os torcedores começaram a gritar: –“Maracanã, Maracanã!”. Sabia disso? A torcida do Uruguai lembrando 1950. O Brasil empata, faz dois a um, três a um. A torcida era toda nossa no estádio. Que Uruguai que nada! Tem uma jogada: o cara dá uma porrada no Pelé. O Ubiña[17], lateral forte, estava na risca do campo. O negão recebe uma bola e procura ele. A jogada do Pelé… A corrida dele…  Atrasou a passada para deixar o jogador encostar, quando encostou, ele acertou o queixo do cara. Fez de sacanagem, pois o uruguaio tinha acertado ele antes.

E você no banco?

Sim. Mas aí o Clodoaldo marcou, empatamos um a um, depois viramos, três a um. – “Que Maracanã. Vai ser aqui, meu filho. Vocês estão fora”.

Mas bateu um terror ali? Para quem está de fora do campo deve ser um suplício.

A torcida deles lembrou. Um a zero igual no Maracanã. Pensaram: –“Vai ser igual”. Você fica louco, mais nervoso. Em campo, eu não ficava nervoso, fora ficava. Às vezes, vê uma jogada e quer entrar. Mas, fazer o que, não é?

Vocês tinham ideia de como estavam as coisas aqui no Brasil, a torcida…?

Tínhamos, pois não saímos. Acabava a partida, entrávamos no ônibus. O hotel que ficamos em Guadalajara tinha um muro alto, redondo.  Eu não ouvia um ruído. Só entre nós. E no Brasil a maior festa, imaginávamos: – “Lá deve estar o maior carnaval”.

Não tinha visita íntima?

Não, tivemos uma saída em Guadalajara durante a Copa do Mundo. Assim mesmo das 5 às 10 horas. Mas aí que está. Você quer ir e ganhar a Copa do Mundo. Depois que parei de jogar, assisti à Copa do Mundo da Itália e da Alemanha. Às vezes, íamos visitar a seleção brasileira nos treinamentos. A nossa parecia de irmãos. Na Itália, tinha um grupo aqui e outro lá que não se dava com esse. Vai ganhar a Copa do Mundo como? E outra coisa, eles saíam. Treinou: – “Vou até ali”. A gente não podia, senão era preso.  A nossa comissão técnica era toda militar. Éramos iguais a milicos.

Qual era a rotina antes dos jogos? O Zagallo falava com vocês e depois os jogadores se reuniam no vestiário?

Não, o Zagallo sempre foi um cara de falar muito pouco. Fazia o esquema e dava a liberdade de você perguntar: – “Zagallo, você não acha…”. Não exigia as coisas: – “Vai fazer isso”. Ele dava abertura ao diálogo: – “Você não acha melhor por aqui?”. Sempre foi assim.

Teve uma preparação maior na final da Copa do Mundo?

Para não deixar cair no “já ganhou”, eu avisei: – “Olha, vamos começar a Copa do Mundo ainda. Não tem nada definido não”. No meu interior, sabia: – “Pelas outras seleções que estão chegando. Nós temos 90% de chance de sermos campeões mundiais”. Mas depois pensava: – “Não, nada disso. Vamos lá, vamos batalhar. Temos que acordar 5 horas da manhã para treinar. Não tem nada ganho até aqui, só depois que o juiz apitar acaba a Copa do Mundo. Aí sim, se formos nós, tudo bem”.

O Zagallo fez alguma observação diferente para a final contra a Itália?

Ele viu que, por exemplo, o Jair estava muito bem na ponta direita. A Itália tinha aquele Facchetti[18], um lateral. Nós o achávamos meio lento. O Jair era rápido, fez o gol quase em cima da linha de tanto fazer aquele facão, o Facchetti não tinha perna para acompanhar.

Vi os italianos jogando contra a Alemanha. Teve uma prorrogação. A Itália estava indo de Puebla e nós de Guadalajara para a capital, onde ia ser a final. Pegamos o mesmo avião. Eles nos olhavam com cara de morto. Estavam derrotados, senti isso na cara deles. O time não tinha nada demais, estava aberto ali. A gente sentia. Começaram lá atrás, com medo: – “Vou perder, mas vou tomar de dois a um no máximo”. Foi quatro a um e era para ser mais ainda.

Nem na final, no vestiário, o Pelé se dirigiu a vocês para falar alguma coisa?

Não. Se falou, não vi. Ele era muito reservado.

E aqueles noventa minutos no aguardo para ser campeão do mundo. Como foi ouvir o apito final?

Quando terminou, rapaz, a ficha não caiu. Você fica: – “Sou campeão mundial”. Chamavam a gente: – “Sobe para receber a medalha”.  O pessoal nem estava ligando para a medalha, queria festejar. A torcida mexicana entrou em campo e fomos obrigados a correr para o vestiário, pois queriam arrancar tudo da gente.

O Tostão ficou de sunga, não foi?

Para você ver… Estávamos no vestiário. Depois de muito tempo falaram: – “Agora vocês têm que ir lá receber a medalha”. Eu ia até tomar banho e o Brigadeiro avisou: – “Nunca dei nada a vocês. Vou falar com o Presidente da República agora. Tem uma boate com mulheres alugada só para a seleção. Façam o que vocês quiserem”. Ele abriu mesmo. Teve gente que veio dormir só aqui no Brasil.

Brasileiras ou mexicanas?

De tudo. O pessoal ficou contente. Voltamos e o presidente Médici ficou muito agradecido.

E a chegada no Brasil?

Foi uma loucura. Passamos em Brasília e almoçamos. Não tinha guardanapo e o Brito começou a limpar os dedos na cortina do palácio. [Risos] Tem coisa mais engraçada?  Fomos ao Palace Hotel, em Copacabana. Ofereceram um jantar, mas precisávamos ter cuidado, estávamos com muito dinheiro no bolso, cheio de grana. Eu e o Gérson fomos para Niterói neste dia, ele disse: – “Roberto, vamos embora senão não vão deixar a gente sair. Vamos sair por trás do hotel”. Tinha um policial com uma moto que escoltou nosso carro até aqui em Niterói, nas barcas.

Vocês foram no carro de alguém? Onde você morava?

Tinha um cara esperando a gente. Neste tempo, estava em Niterói.

Como foi em casa? O Gérson foi para casa dele e você para a sua?

Foi demais. Cada um foi para sua casa. Depois nos encontramos novamente, pois o prefeito aqui de Niterói ia nos dar um coquetel, e desfilaríamos em carro aberto dos bombeiros. Mas aí não dá mais, o pessoal te rasga todo. Não é mais festança. [Risos] Ficamos preocupados, comentei com o Gérson: – “Não vamos porque esses caras ficam jogando coisa em cima da gente… É festa, mas não é assim”.

E a volta para o Botafogo como tricampeão mundial?

Tem prêmio para tudo que é lado. Para começarmos a treinar no Botafogo, primeiro tínhamos que ir ao Banco do Brasil: – “Tem um dinheiro lá pelo campeonato. Tem a Petrobrás. Tem outro chequinho lá”.

Tem o fusca.

O fusca foi em São Paulo, do Maluf[19], um verdinho da Volkswagen, 1970. Tudo da mesma cor. Deu um para cada um. 

Quando voltou a jogar, você sentiu diferença?

Aos pouquinhos, volta ao normal. Fica mais difícil, os adversários começam a te marcar muito em cima: – “Os caras são Seleção”. Você quer fazer uma jogada e vêm dois, três em cima. Qualquer treinador do outro time: – “Vai nele, marca nele, não deixa ele…”. É quando vem as pauladas.

Você chegou, era campeão mundial, o máximo que se pode atingir. Voltou a jogar em Madureira, Olaria, Bonsucesso, São Cristóvão. Ainda tinha vontade de jogar?

Não tanto mais, a não ser quando vai se aproximando da outra Copa. Aí, você dá tudo de si de novo. [Risos] Mas, você falou uma coisa certa, agora não é mais aquela… Tu falas: – “Já sou campeão mundial”. Não entra em qualquer jogada. Começa a se cuidar mais.

Quando você parou de jogar na Seleção?

Meu nome estava nos jornais entre os convocados para a Copa do Mundo de 1974. Tinham ligado e falado: – “Roberto, vai ser convocado de novo”. Do Corinthians, onde estava jogando, seríamos eu, Rivellino e Zé Maria. Mas, tive um problema no joelho e parei de vez. Em 1966 eu tinha tido aquela contusão, e em 1974 aconteceu de novo, era para ter disputado três Copas.

O doutor Osmar de Oliveira me mandou operar e disse: – “Você vai subir o pico de Jaraguá. Vão testar você ali”. Mas, não consegui. Quanto estou subindo, digo: – “Não dá”. Uma dor violenta: – “Chega. Você vai parar de jogar, não tem condição”. Encerrei no Corinthians.

O que você espera da Copa de 2014 no Brasil?

Como estaremos no nosso país, vamos ter tudo a nosso favor, tem tudo para ser campeão. Armando direitinho, não com o treinamento que está existindo. – “Ah, mas fulano não pode jogar porque joga em outro país”. Não tem problema, então não joga. Tem que começar a fazer agora, isso não se faz da noite para o dia. Precisa saber o nome dos jogadores todos que vão disputar a Copa do Mundo desde já. Quer colocar fulano e fulano que você não conhece. Daqui a pouco o meu primo está lá na Seleção.

Pelas obras que estou vendo… Esses dias, vindo de São Paulo, o avião passou em cima do Maracanã. Parece o Coliseu. Está cheio de mato, parece aqueles filmes romanos. Fui lá e não entrei: – “Que coisa horrível, o que vou fazer lá dentro?”. O estádio está assim.

Na Copa da Alemanha, entrei no hotel, era noite ainda, vi aquela torcida de ingleses, hooligans… Todos fortes, bebendo conhaque e cerveja misturados. Não sei como fazem aquilo. Eles estavam brigando, jogando o copo no chão, fazendo barulho. Vi um policial alemão encostado, fardado. Ele mexeu em um aparelho e, de repente, apareceu um camburão com cada alemão enorme. Pegaram os dois ingleses, jogaram lá dentro e saíram com o carro. Deram uma limpa sem dar um pio. Ficaram mais cinco policiais e os ingleses foram todos embora. Será que nós vamos ser assim? Porque eles vão vir aqui.

E outra coisa, o país está parecendo o Iraque. Toda hora tem tiroteio. O que a gente pode esperar? Até lá vai se arrumar isso? Vai-se tornar guerra? Isso é a primeira coisa. E os turistas? Porque eles querem ver tudo: ir ao campo, depois pegar a noitada. Será que vão poder fazer isso aqui? Não sei, é meio difícil. Vamos começar a ver, esperar.


[1] Tomás Soares da Silva, mais conhecido como Zizinho. Atacante que atuou no Flamengo, Bangu, São Paulo e na Seleção brasileira. Disputou a Copa do Mundo de 1950.

[2]Gentil Alves Cardoso comandou diversas equipes entre as décadas de 1930 e 1960. Foi treinador da Seleção brasileira no Campeonato Sul-Americano de 1959.

[3] Egídio Landolfi, mais conhecido como Paraguaio.

[4] Treinador da Seleção brasileira. Comandou a equipe em 1953, 1961-1963, 1965, 1967 e 1968.

[5] Técnico da Seleção brasileira em 1955, 1958-1959, 1960, 1964-1965 e 1966.

[6] Hilton Lopes Gosling, médico da seleção brasileira nas Copas do Mundo de 1958, 1962 e 1966.

[7] Ephigênio de Freitas Bahiense, conhecido como Geninho.

[8]Antônio Ferreira, mais conhecido como Toninho Guerreiro.

[9] República Árabe Unida.

[10] Zeferino Xisto Toniato.

[11]Um dos mais importantes locutores esportivos do Brasil entre as décadas de 1940 e 1980.

[12] Treinou a Seleção brasileira em 1955-1956, 1957, 1965 e 1975-1977.

[13] Hotel das Paineiras, localizado no Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro.

[14] Julio Alberto Temístocles Baylon Aragonés.

[15] Teófilo Juan Cubillas Arizaga.

[16] Ramón Mifflin.

[17] Luis Ubiña.

[18] Giacinto Facchetti.

[19] Paulo Maluf era prefeito de São Paulo entre 1969-1971.

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Bernardo Borges Buarque de Hollanda

Professor-pesquisador da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV).

Daniela Alfonsi

Antropóloga, Diretora Técnica do Museu do Futebol e doutoranda pela USP. Trabalha com e pesquisa sobre os museus esportivos.
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