15.6

Ronaldo Moraes (parte 2)

Equipe Ludopédio 26 de agosto de 2016

O lateral-direito Ronaldo Moraes foi revelado nas categorias de base do Corinthians, clube onde iniciou sua carreira profissional em 1982, sendo bicampeão paulista em 1982 e 1983. Em 1985, transferiu-se para o Grêmio e foi campeão gaúcho. Depois do Grêmio, Ronaldo Moraes jogou no futebol paranaense, defendeu equipes do Chile e retornou ao futebol paulista no final dos anos 80 para jogar no Santo André. Em 1990, atuou no Botafogo de Ribeirão Preto. Em 1984, disputou os Jogos Olímpicos de 1984, de Los Angeles, pela Seleção Brasileira, quando recebeu a medalha de prata. Após encerrar a carreira, atuou como treinador de categorias de base em clubes de São Paulo.

Ronaldo Moraes. Foto: Max Rocha.
Ronaldo Moraes. Foto: Max Rocha.

Segunda parte

Sobre o jogo contra a Itália, além do que já foi perguntado, a derrota do Sarriá faz uma pressão sobre a seleção, principalmente na principal, se ela não estaria “atrasada” em relação ao futebol europeu, que seria um futebol total e dito um “futebol moderno”. Em 84 você joga, ainda está presente a ideia que o futebol brasileiro é diferente do europeu ou que o futebol brasileiro tem uma característica que costumamos denominar de futebol arte, isso está presente no discurso, seja da imprensa ou dos jogadores? Existe a presença da ideia de futebol arte?

Na época nós sempre achamos e eu não concordo que a gente é o futebol arte, quando o futebol arte, em minha opinião, envolve várias coisas, a Alemanha demonstrou isso aqui  na Copa de 2014. Jogou um futebol arte, alguns erros e equívocos de ordem diretiva aconteceu o que aconteceu com a seleção brasileira. Mas naquela época a gente achava que nós tínhamos uma qualidade individual, técnica, uma habilidade maior e melhor que os jogadores da Europa realmente, mesmo sendo a Itália. “Então como você explica lá no Sarriá”? O que aconteceu, na minha opinião, foram gols de falhas individuais de posicionamento. Eu me lembro exatamente de um gol, em que o Júnior sai a defesa saiu de um escanteio, a bola foi levantada a defesa saiu, mas o Júnior ficou lá, ficou pertinho, não acompanhou a linha da defesa, se ele tivesse saído esse o gol o Paolo Rossi não faria. São erros individuais que foram acontecendo, e o porquê de acontecer isso? Foi o jogo de mata a mata, a seleção vinha jogando muito bem, um espetáculo, jogando bem, e isso pode acontecer em Copa do Mundo como nas Olimpíadas, um time muito bom, um espetáculo, mas em um jogo que tem falhas individuais ou coletiva da defesa, ou até o ataque que não consegue fazer os gols, uma somatória que acaba sobrando no resultado. Eu sempre brinco que a história não vai se colocar, pode até colocar, “o Brasil perdeu o jogo por erros individuais, coletivos”, porém o resultado continua o mesmo, o Brasil perdeu e a Itália ganhou. No jogo da semifinal olímpica a Itália teve várias situações de gols e não fez, o resultado também não vai mudar, o Brasil ganhou por 2 x 1. O futebol tem muito disso em várias competições, mas quando elas se decidem um somente um jogo, como na Copa e na Olimpíada, eu acho que é complicado, ele te dá um soco muito forte, e dói porque você sabe que o seu time é muito bom, tem condições de chegar lá na final, mas em um jogo por uma falha individual e acaba perdendo o jogo. Se chegar na fase eliminatória e tiver falhas o time irá perder, pode ser nas Olimpíadas ou na Copa do Mundo, ele ficará novamente sem a medalha de outro e sem o título da Copa do Mundo.

Para a final olímpica contra uma seleção que era muito forte, como a seleção francesa, vocês receberam algum tipo de instrução, de diálogo, de debate em termos de estudar como joga a França ou nós precisamos ter atenção com esses jogadores? Houve um estudo detalhado para essa final? Houve alguma preparação diferenciada para a final?

Eu não me lembro de detalhes específicos em cima da preparação, sinceramente não. Não sei se comentaram a França joga assim então faz isso, não me lembro. Com certeza o Jair deve ter falado alguma, mas eu realmente não lembro já faz muitos anos. Isso é praxe de um técnico de quando chega na final estudar o adversário, é um trabalho mais da comissão, mas não foi mostrado, eu pelo menos não me recordo de ter passado um vídeo deles jogando, por exemplo, e com certeza foi falado como eles jogavam em algum momento. O resultado foi pontual, tomamos o primeiro gol em uma bola cruzada, o cara cabeceou e a bola foi lá no ângulo, tomamos o gol em uma final. Quem em uma final consegue fazer o gol na frente já sai com um outro espírito, ganha mais confiança, o adversário fica mais pressionado, já sai na frente não só no placar, mas no psicológico também. Perdendo o jogo nós tivemos que sair mais, adiantar a marcação, tanto que me lembro que estava comentando com um repórter depois do jogo e falei: “acho que nós tomamos o primeiro gol, isso prejudicou bastante, nós tivemos que sair e tomamos o segundo no contra-ataque, e com um time como a França ficou mais difícil e não deu para levantar”. E o Jair Picerni falou que isso era verdade. Compartilhamos o mesmo ponto de vista.

A respeito da questão das medalhas, a imprensa constrói uma certa tradição em relação ao fato do Brasil nunca ter conquistado a medalha de ouro. Atualmente com essa questão das Olimpíadas começando a aparecer de novo, vimos comentários da imprensa dizendo que isso é uma supervalorização, o fato do futebol brasileiro não ter a medalha de ouro é uma supervalorização da questão, que isso não seria fundamental. Queria saber a sua opinião sobre essa polêmica.

Eu sempre ouço, principalmente na época de Olimpíadas, sobre isso. Mas para nós jogadores, comissão técnica, quem trabalha com o futebol não é uma preocupação grande nunca ter ganho a medalha de ouro. A gente vê pelo que se coloca que é a única competição importante que o Brasil ainda não conseguiu o título, nesse caso a medalha de ouro, eu particularmente não acho que isso tem um peso assim tão grande. O principal para mim no futebol não é o fato do Brasil não ter ganho uma medalha de ouro no futebol olímpico, acho que em uma hora vai chegar, pode ser agora na Olimpíada do Rio ou em outra, mas em uma hora vai chegar. O Brasil tem condições de chegar a conquistar essa medalha, o principal vai muito além disso, vai da organização tática, a organização individual dos jogadores, do trabalho feito nas categorias de base bem feito, como fez a Alemanha, além da questão da organização administrativa. Eu não sou a favor de um comandante, uma pessoa ser o presidente de uma organização como a CBF anos e anos, como foi o João Havelange, o Ricardo Teixeira, agora o Del Nero. Tem que dar oportunidades para ideias novas, para outros que venham com ideias novas, e até injetar essas ideias para melhorar as coisas, e não um cara ficar anos e anos mandando naquilo ali, além da sujeira, como a corrupção. Tem que chegar o momento que nós temos que mudar, nós até estamos em um momento político brasileiro diferente. Então, chega uma hora em que todos precisam mudar, principalmente quem tem filhos, o que nós vamos deixar para eles, qual vai ser o nosso legado. Nós sempre temos que estar pensando em melhorar, tem que se trabalhar uma maneira positiva para poder ganhar, tem que haver uma mudança para esse ganho continuar acontecendo.

Você apontou que na época existia uma leitura que a qualidade individual do jogador brasileiro de fato se destacava do futebol europeu. Se a técnica do jogador brasileiro é diferenciada gostaríamos de saber se vocês naquele período se inspiravam, quais eram a suas referências e as do grupo sobre as práticas, as táticas, as técnicas?

Eu sempre sou suspeito para falar, eu tenho 53 anos, mas sou suspeito para falar do nível técnico daquela época. Naquela época a qualidade individual do futebol brasileiro era muito boa, você tinha muitos goleiros de qualidade, muitos laterais, na verdade, em cada posição você tinha vários jogadores com muita qualidade.

A que se deve isso?

Hoje em dia está diferente, o nível está mais baixo e está mais baixo, em minha opinião, porque os espaços foram reduzidos. Antigamente eu jogava na rua, uma rua larga e de terra, depois você tinha um tempo maior de brincar, de ir no campinho de futebol jogar. Hoje em dia não há mais terrenos baldios, onde se podia fazer um campinho com uma travinha ou um chinelinho para jogar, acho que isso é um dos motivos. O outro são as atividades, hoje os garotos têm que começar a trabalhar mais cedo ficando assim pouco tempo para praticar. Você só melhora a sua habilidade jogando, se você não tem os espaços ideais para essa prática você acaba perdendo talento. Um local que pode ser uma alternativa é a escolinha de futebol, eu acho uma boa, começa a partir dos sete anos de idade, não antes por causa da questão motora e da maturidade. Mas é basicamente isso antigamente tinha muitos jogadores de qualidade, porque tinha muito espaço para jogar, essa habilidade natural que eles tinham com o treino só iam crescendo e hoje infelizmente já não tem tanto.

Ronaldo Moraes. Foto: Max Rocha.
Ronaldo Moraes. Foto: Max Rocha.

Você se referiu à questão política. Em 84 é o período das aberturas políticas, das Diretas Já, esse ambiente político estava presente na seleção, vocês na condição de jogadores estavam envolvidos nessas questões ou só estavam concentrados na questão da partida, do torneio?

Não, estávamos mais fechados mesmo, na Vila Olímpica. Como já disse nós não tínhamos muito acesso a notícias. Eu, por exemplo, me casei e fui para as Olimpíadas, eu não tinha muito contato com a minha esposa, eu não conseguia falar, tinha mesmo muita dificuldade naquela época, às vezes conseguia falar no telefone, mas era uma luta. Estávamos bem fechados mesmo, não chegava informações.

Como foi fazer parte do Corinthians nessa época?

Foi a Democracia Corintiana em 83. Foi a época realmente que mais me destaquei, em 84 já estava saindo. Em 83 estava na equipe principal, onde eu ganhei a posição principal, jogava comigo o Sócrates, o Casagrande, o Wladimir, que eram as cabeças pensantes na época da Democracia e o Adilson Monteiro Alves que era o principal, diretor na época. Mexemos muito nessa questão da gente lutar pela democracia, Diretas Já, teve também a situação do Sócrates dele lutar. Nessa época sim lutávamos bastante, principalmente o Corinthians, mas na seleção não, era um grupo bem mais fechado, formado principalmente por gaúchos, estávamos mais focados na competição.

Pegando esse gancho da Democracia Corintiana, sempre ouvimos falar muito dos líderes, mas você super jovem, querendo seu espaço, você e os outros jovens que estavam no elenco eram estimulados a se posicionar diante do grupo, convidados ou eram somente a liderança que assumia esse papel?

Via liderança. Eu não me recordo de nenhuma reunião com todo o elenco para decidir sobre concentração, sobre quem vai contratar, o treinador, não me recordo, pode até ter acontecido mas não sei dizer. Me recordo realmente daqueles que mais falavam. Era mais o Sócrates, o Wladimir, o Casagrande. O Adilson que também tinha a liderança e podia contar com os rapazes como os seus braços direitos, pelas ideias e tudo que vinha era dali. Me lembro de uma situação que tive com o Emerson Leão, que era uma cara totalmente radical, individualista, tive um problema de relacionamento com ele. O Sócrates chamou uma reunião na semana do ocorrido, essa reunião aconteceu no departamento integrado com os jogadores e ele também, essa reunião eu me recordo. Tinha muitas cabeças pensantes e quem era o maior cabeça na minha opinião era o Magrão, que era um cara superinteligente. Como são as coisas, um cara superinteligente acabou com a própria vida, com a saúde dele mesmo, ele era médico e sabia o mal que esse vício estava fazendo.

Assim como a discussão a respeito da medalha de ouro ser uma referência, agora nem tanto, mas depois da derrota do Brasil para a Alemanha os 7 x 1, chegou a se comparar essa derrota com a derrota para o Uruguai no Maracanã. Esse 7 x 1 seria um marco, uma ferida e tal. Na sua opinião se isso trouxe transformações, se isso de fato ocorreu, se é um sinal de derrocadas, se isso é um acaso do futebol?

Sua pergunta é muito boa, porque ela é bem coerente. Eu acho que essa situação, os 7 x 1 da maneira que foi, realmente aconteceu para mostrar à administração do futebol brasileiro, para quem comanda o futebol brasileiro em todas as esferas, mas principalmente na CBF, que a coisa não estava legal. Eu não sou a favor de ditadura, sou uma pessoa democrática. O que aconteceu quando trouxeram novamente o Felipão, na minha opinião, foi um retrocesso, mas é um ponto de vista técnico, não sou um dono da verdade, é a minha opinião. Não foi bom trazer o Felipão porque eu acho que o futebol está caminhando de uma maneira que você tem que ser mais democrático, você tem que estudar várias situações e ser mais maleável com algumas situações, dar poder a sua comissão técnica para poder opinar, ajudar em algumas coisas. E ficou muito evidenciado nesses 7 x 1 que o Felipão é aquele cara radical mesmo, porque o sistema de jogo que colocou, jogar contra a Alemanha que vinha fazendo o que estava fazendo, da maneira que estava jogando, você jogar aberto como ele jogou, com um volante só de marcação, o outro volante saía bastante, três atacantes, foi realmente um suicídio. Será que ninguém falou isso para ele? Eu tenho certeza que se alguém falou, ele bateu no peito e disse “eu vou fazer isso”. E como eu sei? Quando começou um, dois, três durante o primeiro tempo, ele ia no banco e estava lá o Murtosa, auxiliar dele, o auxiliar com os dois pés para cima, apoiados na banquetinha. Em uma Copa do Mundo o Brasil perdendo e ele ali apoiado, o Felipão fala com ele, e mal era respondido, e o pior: Parreira não abriu a boca para falar nada, o Parreira com experiência que tem não falar nada e não fazer nada, no primeiro tempo já poderia ter mudado, feito alterações. Mas não isso não aconteceu, então conseguimos observar que havia muita ditadura, e a CBF nesse padrão, tanto é que a comissão técnica foi dessa forma. Na minha opinião pior foi quando retrocedeu novamente levando o Dunga, pois já havia trabalhado lá atrás e trouxeram novamente, sendo que poderiam naquele momento dar uma oportunidade para o Tite. Sou suspeito para falar já que estava no Corinthians junto com ele, ele no A e eu sendo técnico do B, em alguns treinamentos fizemos as coisas juntos, um time contra o outro, não fiquei conversando muito, mas pude ver o sistema de jogo, o comportamento, o comando que ele tinha com os jogadores, esse cara deveria estar na seleção, mas o que faz a CBF? Coloca o Dunga novamente.

Trazer o Mano Menezes era retrocesso ou não?

Eu acho que sim também. Ele demonstra ter um perfil como um ditador, pode ser que não, mas me parece que sim. Não estava no dia a dia e nunca conversei com ele, você diminui a sua margem de erro, eu posso estar absolutamente errado sobre o que eu estou falando sobre o Mano, mas no Felipão não e do Dunga também não, mas do Mano a margem de erro é maior, pode ser que eu esteja enganado, porém o perfil também era de ditador e um cara muito aberto ao que os comandantes da CBF diziam. Um outro detalhe, qual foi o técnico de futebol da CBF que nunca dirigiu um clube foi técnico da seleção brasileira? O Dunga, tantos técnicos para colocar, eles pegam um que nunca treinou ninguém.

A nossa conversa liga 1984 e 2016. Você tem um contato com o Dunga em 84, ele como um jovem jogador e ele vai se caracterizar na seleção como um grande líder dentro do grupo, pelo menos isso é o que chega para quem não está lá no dia a dia. Nessa seleção de 84 o Dunga era um líder?

Era um líder, mas era um líder que não gostávamos muito, porque ele não ficava muito com a gente. Ele sempre foi desse jeito sério, nunca se misturava muito, e o pior ele só ficava junto com a diretoria, isso deixava a gente invocado. Tanto é que um dos motivos que achamos que a CBF fez dele técnico da seleção é porque ele já tinha sido convocado várias e várias seleções e era um cara muito ligado a CBF. Então, pensaram, vamos colocar ele. De uma coisa eu te garanto, ele não é um cara de grupo, não que nem o Tite, este último tem a equipe na mão. Um comandante tem que ter o equilíbrio, ele não pode ser muito aberto com o jogador, senão os caras sobem em cima e também não pode ser muito fechado.

Retomando a questão política, os jogos de 84 foram o troco soviético do boicote que os Estados Unidos tinham feito em Moscou 80. O que fica para vocês vivendo aquele momento em Los Angeles desse boicote? A URSS que era uma potência olímpica não leva os seus atletas, e as equipes do Leste Europeu que ganharam muitas medalhas também não foram. O que aparece para vocês?

Nós não tínhamos isso em evidência, não pensávamos muito nisso, na verdade as informações não chegavam muito para a gente. Eu lembro que ficávamos no quarto e não assistia televisão, não tinha contato com a informação que vinha de fora. Só nos preocupávamos mesmo com o treinamento, com a preparação para a competição, isso para a gente não fez muita diferença não.

Ronaldo Moraes. Foto: Max Rocha.
Ronaldo Moraes. Foto: Max Rocha.

Em Los Angeles 84 é uma das edições olímpicas onde o país sede fala que não vai construir grandes estruturas, eles dizem que vão usar o que tem. Trinta e dois anos depois os jogos estão aqui no Rio, e qual é a análise que você pode fazer de alguém que esteve dentro dos jogos em 84, e participou de uma edição que o discurso era esse “não vamos construir grandes obras, porque temos condições de fazer um evento com o que nós temos”, para em 2014 Copa do Mundo construções de estádios, e em 2016 a construção do parque olímpico no Rio de Janeiro, envolvendo uma série de questões ambientais, sociais, onde as pessoas estão sendo removidas, econômicas, etc. Como é o seu olhar dessa distância de 32 anos de Los Angeles e do Rio de Janeiro, fazendo uma análise da edição atual?

Essas últimas palavras suas marcam muito, 32 anos pode acontecer muita coisa. Nos Estados Unidos naquela época eu vi situações que, por exemplo, em um estádio em que iríamos jogar tinha secador de cabelo e um dos nossos jogadores queria pegar, você vê como são as coisas. Os estádios em que nós jogávamos eram um espetáculo, campo de treinamento era um tapete, em 84, diferente de quando nós jogávamos aqui no Brasil, as condições aqui eram muito ruins, a maioria dos campos de futebol eram ruins, mas lá nos Estados Unidos os campos de treinamento e os de jogos eram um tapete, já em 84 existia uma condição muito legal falando no caso do futebol. Hoje a gente vê o que a gente vê, os estádios que tem, eu não sei como estão as coisas lá no Rio estão, eu não acompanhei as condições dos estádios, dos locais de treinamento, de competições, devem estar muito legais. O que nós vemos são as notícias do dia a dia, a Austrália chegou na Vila e saíram, por causa do encanamento e da parte elétrica, você para e pensa isso é um absurdo, um evento desse porte que teve um tempo de programação, não se prepara como deveria você pensa tem alguma coisa errada, e a culpa é da gestão, da má administração, do planejamento que não aconteceu. Espero que isso acabe mudando, porque são os nosso filhos e netos que irão ficar com esse país, nós vamos desaparecer eles ainda vão ter um tempo aqui mais longo. Eu como técnico de futebol já vi muitas coisas e acho que ao trabalharmos com um ser humano, com um grupo de seres humanos a nossa conduta tem que ser exemplar, porque eles reproduzem o que aprendem. Tem que haver uma linha de conduta, é uma linha que você segue, a mesma linha de organização, de preparação de um evento como esse tem que ser sério, e infelizmente eu duvido que vão tratar isso com seriedade é uma pena.

O que representa o futebol para você?

Eu nunca pensei em ser um jogador de futebol, o Wladimir o lateral direito do Corinthians, um dos maiores do Corinthians, ele disse que um dia antes de participar da peneira do Corinthians ele não dormiu a noite toda, porque era o sonho dele. Eu nunca pensei em jogar, eu trabalhava no banco Bandeirantes, gostava do que eu fazia e me viram jogando, me deram vários cartões, todos muito entusiasmados. Minha mãe me incentivou para eu ir, eu fui e acabei seguindo, mas acabou sendo uma profissão que me levou a conquistar muitas coisas positivas, conheci muitos lugares lindos, conheci o mundo todo e foi o futebol que me proporcionou, uma condição que não é a condição financeira, porque na minha época não se ganhava muito bem como hoje em dia, hoje tem menos qualidade técnica e mais poder financeiro. O futebol me deu muitas coisas boas, positivas, não posso ser ingrato e dizer que não me deu nada. Lembro também das coisas negativas, como as minhas lesões, são ócios do ofício não tem jeito. O futebol foi a minha vida, joguei a minha vida toda desde os 15 anos de idade, comecei no Corinthians com 15 e terminei a minha carreira aos 33 anos, depois virei técnico, ainda trabalho como técnico, estou, portanto, no futebol não sei até quando.

Há alguma coisa que você gostaria de falar que nós não perguntamos?

Acho que até que não comentei antes, se me perguntarem como atleta olímpico o que eu acho da Olimpíada aqui no Brasil eu iria responder: “a Olimpíada é maravilhosa, muito linda a competição, o congraçamento dos atletas do mundo todo reunido aqui no Brasil, muito legal. Porém, não acho que o Brasil está no momento ideal para receber uma Olimpíada, ele tem outras prioridades, como a educação e a saúde”. Eu gostaria muito mais de poder não estar preocupado em colocar os meus filhos em um plano de saúde bom porque eu sei que a saúde pública é muito complicada é ruim, eu gostaria de ter uma saúde pública muito boa. Eu gostaria também de poder estar andando com um carro muito bom e não ser blindado, pois eu sei que a segurança é muito boa e a possibilidade de eu ser assaltado é muito pequena, porque as coisas funcionam. A cultura, por exemplo, deveria haver um estímulo maior, um investimento nessa área, na educação principalmente, porque é a partir da educação que ocorre a mudança. Se você tem um país educado, se você cria essa criança educada, ele vai crescer educado e a probabilidade de ele ser um marginal vai ser menor. Eu morei no Chile durante dois anos e eu ficava impressionado, isso há anos, eu via os garotos na escola arrumados, bonitinhos e eu sempre passava em um táxi chamado coletivo, onde iam as pessoas mais humildes, mas quando eles abriam a boca você tinha que ver como eram educados, um povo bem humilde, pobre mesmo. Mas isso vem lá de baixo, do começo, da escola, é lá que eles aprendem essa educação toda. Pela grandeza que é o nosso país poderia muito bem estar em outra situação oferecendo os serviços públicos de qualidade, mas não, prefere ter uma Olimpíada. O Brasil vai mostrar para o mundo algo que não somos na vida real, ele pode chegar a ser um dia, e tomara que seja.

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