16.8

Victor Andrade de Melo (parte 2)

Equipe Ludopédio 15 de abril de 2017

Professor em Educação e em História Comparada/Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e também professor em Estudos do Lazer da Universidade Federal de Minas Gerais, Victor Melo tem se dedicados aos estudos do esporte e das práticas corporais em diferentes áreas: História, Educação Física, Lazer, Educação. Autor de uma vasta produção bibliográfica, com diversos livros e artigos dedicados à temática esportiva, atualmente é coordenador do Sport: Laboratório de História do Esporte e do Lazer e membro do Laboratório de Estudos da Educação do Corpo (Labec/UFRJ).

Foto: Sérgio Giglio
Victor Andrade de Melo. Foto: Sérgio Settani Giglio.

Segunda parte

Como surgiu a ideia e como foi a execução do projeto sobre esporte e arte, considerando que ele foi longo?

Pois é, foi um projeto longo. O que acontece é que eu gosto muito de arte… Comecei a perceber as coisas: “Pô, tem esporte neste filme! Tem esporte nesta obra de arte. Tem esporte aqui e ali…”. Como gostava de arte pra caramba, comecei a ler sobre linguagem artística e comecei e pensar: “Por que esporte não é arte?”. Esse debate, eu escrevi no livro Cinema e Esporte. É um pouco a ideia que esporte só não é arte por formação de campo, porque do ponto de vista da episteme ele tem todas as condições de ser considerado uma manifestação artística. Eu brinco que é a oitava arte, já que a sétima é o cinema. Quer dizer, começou a me chamar muito a atenção a questão dos aspectos estéticos da prática esportiva e, de fato, como é que esteticamente a gente vivencia a prática esportiva. Tinha lido em espanhol o livro do Gumbrecht, depois publicado pela Companhia das Letras com o nome de Elogio da beleza atlética, com o qual eu não concordava porque eu achava muito esteticista. Mesmo eu não concordando com a ideia do Gumbrecht, achei legal porque não era maluquice esse negócio de juntar estética com esporte…

Aí fui fazer um pós-doutorado com a Heloísa Buarque de Holanda na UFRJ, em que queria discutir representações do esporte no cinema brasileiro. Eu tinha feito um inventário dos filmes que existia, só que a Heloísa foi uma grande supervisora de pós-doutorado, porque ela me falou: “Ah, isso aí todo mundo faz. Isso aí é besteira.”. No início, eu fiquei um pouco decepcionado: “Besteira por quê?”, perguntei. “Porque isso todo mundo faz: negro no cinema, homossexual no cinema, sertão no cinema… Mais um?… Olha só: o tempo todo você está falando de esporte e estética. Acho que você tem que fazer um trabalho sobre diálogo intersemiótico, tem que tentar ampliar esse debate para mais do que representação e ver como é que as linguagens se interpenetram, se intercondicionam. Defender esse ponto de vista do esporte enquanto arte.”. Então, aquela sugestão foi muito legal. No início, eu fiquei pensando: “Eu não vou conseguir fazer isso daqui. Isso aqui é uma maluquice.”. Foi terrível, mas depois eu falei: “Vou tentar.”. E acabei abrindo para fazer isso.

Depois quando fiz o Esporte e cinema, eu acabei me sentindo empoderado: “Agora vou trabalhar com artes plásticas. Estou seguro para fazer.”. E assim foi, sempre com essa perspectiva de inventário e análise… Acho que uma das coisas mais bacanas do Ludopédio é isto: conseguir colocar em um lugar uma coisa que todo mundo quer encontrar. No mundo como o nosso, em que as informações são cada vez mais dispersas, disconectas, esses tipos de gates são fundamentais para a gente organizar o conhecimento. E lá no laboratório a gente sempre pensou nisso, a gente sempre fez muito inventário. Fizemos um inventário de cinema, depois fizemos um de obra de arte. Aí eu também fiz um de artes plásticas. Paralelamente, eu estava trabalhando com literatura. Sempre trabalhei muito com literatura enquanto fonte por causa do século XIX. Nisso, eu iria fazer um pós-doutorado sobre esporte e artes cênicas. Estava tudo alinhavado, eu já tinha escrito algumas coisas sobre dança, teatro e esporte e tal, mas daí entrou o projeto da África. Quando isso aconteceu, aquilo me moveu e eu deixei esse projeto um pouco de lado. Era o que faltava. Já tinha literatura e cinema. Tinha música também, mas eu sempre falei: “Não, não dá para mim, não tenho competência para isso.”. Depois, inclusive, lançaram alguns livros bem bacanas sobre isso. Então, o de artes cênicas ficou só com alguns ensaios.

Você se deparou com uma produção cinematográfica sobre futebol. Como era? Você olhava só a produção brasileira ou você olhava como um todo? Ao se deparar com isso, quais são as análises que acabou fazendo?

No início, o interesse era só Brasil, mas eu tenho uma videoteca pessoal de uns 800 filmes de esportes. Eu fui comprando, fui gravando, fui adquirindo… Hoje eu faço menos, porque já não tenho tanta paciência, mas ainda assim eu descobri neste semestre um cara que vende filmes clássicos norte-americanos da primeira metade do século. Então, comprei uns 20 filmes de esporte. Vou inventariando e um dia verei o que faço com aquilo, porque não tem sentido ficar em minha casa. Ao mesmo tempo, a universidade não tem uma estrutura para receber. O legal seria se tivesse um espaço para os alunos poderem ver aquela coisa, e não ficar preso em casa… Então, o que eu fui fazendo foi um pouco desencadeando trabalhos a partir daqueles filmes que me chamavam mais a atenção, fossem de futebol ou não.

Sobre futebol, eu acabei escrevendo alguma coisa um pouco impelido pelas pessoas, já que muitas delas me perguntavam e tudo mais. Nessa época, também estava trabalhando com isso o Maurício Murad. Ele até começou antes de mim, já tinha lançado um artigo sobre futebol e cinema. Aliás, já havia um artigo anterior em uma revista de São Paulo, na época que o Witter estava tocando os estudos de futebol. Mas eu achava que faltava alguma coisa mais sistematizada. Então, acabei tentando fazer isso.

O que sempre me chamou atenção de futebol é a ideia que as pessoas tinham: “Não há futebol no cinema brasileiro.”. Há muito futebol no cinema brasileiro. Agora, tem de ver o que a gente chama de “cinema brasileiro”. Se a gente chamasse só a ficção de cinema brasileiro, ainda assim tem alguma coisa, mas tem muito filme e muita coisa produzida em documentários. E tem muita imagem produzida nos cinejornais, que a gente poderia recuperar se a gente tivesse um trabalho sério com a Cinemateca Brasileira. A Cinemateca tem um acervo enorme de cinejornais, inclusive imagens esportivas não só de futebol, mas de tudo quanto é esporte. Agora, aquilo lá está parado por todos os problemas que cercam a manutenção de arquivos culturais aqui no Brasil.

Eu tentava, então, contestar essa ideia de que a gente tinha poucos filmes de futebol. Ela não condizia com a realidade, ainda mais contando as peculiaridades do futebol para ser filmado. Quer dizer, o futebol é difícil de ser recriado cenicamente. Hoje em dia há mais recursos, não é por acaso que nos últimos anos cresceu pra caramba o número de filmes sobre futebol. Um pouco se deve pelo interesse da molecada que está produzindo esses filmes, também por que o futebol é capaz de gerar histórias incríveis, e os caras estão procurando histórias incríveis, mas acho que fundamentalmente por causa dos novos recursos digitais. Antes você não podia queimar película, ela era cara para revelar. Hoje, com os recursos digitais, você pode recriar melhor as partidas com o processo de edição. Era difícil fazer um bom filme de futebol, era difícil um ator que jogasse bem bola… Eu sempre brinco que no Fuga para a vitória, um filme em que o Stallone é o goleiro, o Pelé atua no filme, tinha umas maluquices assim… Na ficção ou no documentário, era mais fácil fazer. No documentário, tinha também o problema das imagens. O Canal 100, de um lado, prestou um serviço ao imaginário do futebol, mas, de outro, o dono daquele acervo está sentado em cima dele. Entendeu? Aquele acervo deveria ser desapropriado para o bem público, porque é difícil conseguir aquele acervo para ver para outro uso.

A gente sempre comparava e falava: “O cinema norte-americano tem muito filme de baseball.”. O cinema norte-americano tem muito filme de tudo! Qualquer coisa que imaginar, eles têm filme. Não dá para a gente comparar com esse patamar… Acho que é bacana a gente perceber como os filmes de futebol, de alguma maneira, foram conformando determinadas hipóteses identitárias sobre a nação. Essa linha inaugurada pelo Gilberto Freyre teve uma grande adesão durante muito tempo. Quer dizer, a construção da ideia freyreana tem uma enorme força de repercussão, não só no âmbito do esporte, mas no âmbito da cultura como um todo. Aquela abordagem lusotropicalista, de fato, tem um poder de convencimento grande. É impressionante e legal ver como os filmes, de alguma maneira, trabalham e reiteram essa hipótese. A não ser os filmes, é lógico, como por exemplo o caso do Garrincha, que é um filme do Cinema Novo, com o Joaquim Pedro de Andrade, em que se tem uma outra pegada…

Certamente esse meu estudo acabou quando começou a febre de futebol. Quando a gente organizou a primeira mostra de cinema no Rio de Janeiro, foram quatro edições. Só tinha tido uma no CCBB. Quer dizer, não havia isso antes. Hoje tem o Cinefut, o Five… O Cinefut está na sétima edição, é um trabalho impressionante… É legal, né! Essas coisas se espraiaram e agora a análise se torna muito mais difícil, porque se tem muito mais gente produzindo, e produzindo coisas bacanas.

Foto: Sérgio Giglio
Pesquisador Victor Andrade de Melo. Foto: Sérgio Settani Giglio.

Nessa dinâmica, como já comentou, deparou-se com a possibilidade de estudar os esportes na África. Como surgiu esse projeto e como apareceu o futebol nele, uma vez que pelo menos em nosso imaginário ele é muito frequente na África?

Esse é o projeto mais bacana e que eu gosto de ter participado. Tudo começou de forma absolutamente ocasional. Estava em uma banca. O nosso programa de História Comparada tem muita gente de história antiga e medieval, e pouca gente de contemporânea. Então, com esse negócio que tem que ter alguém de dentro na banca, nós da história contemporânea circulamos um pouco pelos temas não usuais. Volta e meia estou numa banca de relações internacionais ou alguma coisa assim, o que é bacana, mas enfim… Aí um professor que era de África lá no programa, o professor Silvio de Almeida Carvalho Filho, me convidou para uma banca sobre Paulo Freire na Guiné-Bissau. Falei: “Pô, Silvio, não entendo nada disso.”. “Mas tu sabes quem é Paulo Freire, não sabes?”, me questionou. “Sei.”, respondi. “Então, o pessoal de medieval e antiga não dá. É isso mesmo.”. “Tá bom.”, aceitei. Fui para a banca e conheci o Marcelo Bittencourt, que é um cara importante de estudos africanos, jovem também. Quando chegou na hora da minha arguição, falei para a moça assim: “Olha, eu vou fazer minha arguição, mas você sabe que sou da história do esporte. Estou aqui porque tem que ter alguém de dentro…”. Bom, a moça saiu, fechou a porta para a avaliação, e o Marcelo virou para mim e disse: “Você é de história do esporte?”. “Sou.”, respondi. “Temos que estudar esporte lá na África, cara! Porque não tem nada disso nos países de língua portuguesa, apenas alguma coisa nos países de língua inglesa. Há anos que eu penso nisso e tal… Pô, pensa nesse negócio. Aqui está meu cartão.”. Eu saí daquela defesa mexido: “Será? Agora vou me meter nesse negócio de África?”.

Aquilo me deixou inquieto e liguei para ele: “Ô, Marcelo, aqui é o Victor.”. “Porra, meu irmão! Vamos fazer o negócio?”, me incentivou. “Pois é, eu queria conversar contigo.”, falei. “Não, não. Vem pra cá! Está aberto o edital do CNPq para a gente fazer viagem e tal. Já estou com os livros selecionados. Vem pra cá, cara!”. O Marcelo é muito animado e aquilo acabou me animando. Fui pra lá e a gente continuou a conversa. “Vamos chamar o colega tal de Portugal. Você contato de alguém de Cabo Verde?”, me perguntou. “Tenho.”, respondi. E foi assim que o projeto começou há oito anos.

No início a ideia era ver como o esporte se organizou nos países africanos de língua portuguesa. Foi muito bacana para mim porque eu pude estudar história da África, que era uma coisa que nunca tinha pensado em estudar, pude ir aos países africanos, onde não tinha perspectiva de ir e nem pesquisar nos arquivos, e pude aprofundar as leituras. Como meu primeiro pós-doutorado tinha sido em estudos culturais, eu tinha uma leitura em estudos pós-coloniais e poderia aprofundá-la com o caso do esporte. A gente dividiu a turma, e eu fiquei responsável por Cabo Verde. Minha escolha foi absolutamente sentimental, porque eu adorava a música cabo-verdiana, uma vez que já conhecia por causa da Cesária Évora. Quando estava fazendo mestrado na UNICAMP, morei em São Paulo e trabalhei no SESC Pompeia, no projeto Curumim. Via muitos shows, e um dia chegou lá uma cantora cabo-verdiana chamada Cesária Évora. Eu fiquei absolutamente encantado com aquela cantora e passei a acompanhar ela e tudo que eu podia de música cabo-verdiana, gostava do país… Então, quando a gente fez o projeto, falei: “Eu quero ir a Cabo Verde.”.

Eu fiquei com Cabo Verde. O Augusto Nascimento, colega de Portugal, ficou com São Tomé e Príncipe. Depois o Nuno Domingos, que já estava fazendo um projeto paralelo com Moçambique, se aproximou e se incorporou ao grupo. O Marcelo Bittencourt e a Andrea Marzano ficaram com Angola. Ninguém naquele momento ficou com a Guiné portuguesa… Foi espetacular! Foram espetaculares as coisas que pude investigar, trabalhar… Um pouco foi a experiência de começar tudo do zero. Eu me lembro da primeira vez que cheguei em Cabo Verde, pensei: “E aí? E agora? Para onde vou?”. Fui à recepção e pedi um mapa da capital. A moça falou: “Mapa, não tem. Eu posso fazer no papel o que você quer.”. E passei um dia caminhando na capital para tentar conhecer e ter alguma inspiração. Começar tudo de novo, do zero, foi muito empolgante, foi um novo começo profissional, com outro grupo, outras pessoas, outro tema, outra pegada… Ainda mais Cabo Verde, que é um lugar incrível! Pô, estudar golfe em Cabo Verde, críquete em Cabo Verde… Trabalhar naqueles arquivos de países africanos, pô foi muito legal! Tem sido, melhor dizendo, muito legal.

É muito bacana perceber como o futebol é, de fato, um instrumento muito plástico. Comecei a trabalhar com Cabo Verde e tal, e aí vi a necessidade de estudar como que o colonizador desenvolveu uma política. Pensei: “Não dá para analisar isso só pela colônia, a gente tem que analisar a emissão da metrópole.”. Daí comecei a fazer uns trabalhos sobre a política colonial portuguesa, o que também estava pouco desenvolvido em Portugal. Depois outros colegas portugueses foram desenvolvendo isso de lá.

Outra coisa bacana, como disse, foi trabalhar nos arquivos portugueses. Eu adoro arquivo, adoro esse trabalho de mão de obra, de pedreiro, de historiador, de caçar vestígios e tal. Ao trabalhar na Biblioteca Nacional, no Arquivo Ultramarino e em outros lugares, fomos descobrindo uma série de coisas. O Marcelo, que era um parceiro de trabalho, tornou-se meu amigo. Comecei a escrever coisas sobre Angola com ele. Foi muito legal ver como o esporte é plástico, como ele serviu ao pensamento metropolitano, mas ele também serviu ao pensamento de contestação. Ele também foi uma das principais estratégias de organização dos movimentos revolucionários até recentemente.

Depois de Cabo Verde, eu falei: “Vou escrever sobre Guiné-Bissau.”, que não tinha nada. Eu tenho lançado uns trabalhos e deve sair um livro neste ano sobre a Guiné-Bissau. Foi muito legal também porque pude me aproximar do pensamento do Amílcar Cabral, que é um dos pensadores que eu mais admiro no século XX. E é incrível como o esporte está presente. No artigo que acabei de escrever, falo que, em seu livro principal, Unidade e luta, Amílcar Cabral trabalha o tempo inteiro com metáforas futebolísticas. Ele usa o futebol como uma forma de fazer as pessoas entender o que é uma luta revolucionária. Então, todos os caras que eram comandantes de exército do PAIGC, o partido revolucionário, ele arregimentou em campos de futebol. Como era um bom jogador, ele ia para os campos e se oferecia para treinar as equipes da periferia de Bissau. Ali, treinando, ele começava a dar uma ideia para arregimentar os caras para o início do que foi a luta revolucionária.

Neste último trabalho, eu escrevi mostrando como o futebol esteve presente no meio da guerra, já que eu descobri uns documentos da Fundação Mario Soares, em que os caras pediam bola, foram fotografados jogando bola. Então, no meio da guerra tanto o exército português quanto o exército do PAIGC tinham práticas constantes de futebol. Curiosamente, quando acabou a guerra, houve em determinadas áreas paz entre os dois exércitos, e essa paz que foi celebrada com jogos de futebol, dos quais temos imagens também. É impressionante como o futebol serve para um e para outro, para os dois. Além disso, ver como os africanos operaram os outros esportes, tal como o golfe. Os cabo-verdianos construíram a ideia de que o golfe é o esporte nacional. Eles têm um campo de terra, é uma coisa incrível! Enfim, tem sido muito bacana.

Agora, eu e o Marcelo, tentando sair da colonização portuguesa, estamos fazendo um trabalho da Guiné Equatorial, que teve colonização espanhola. A gente até já coletou as fontes na Biblioteca Nacional de Madrid, estive agora há pouco em Sevilha coletando coisas, quer dizer a gente está se organizando para continuar. O projeto de África é muito interessante e deve ter vida longa. Eu estou até saindo de esporte e estudando cinema em Cabo Verde. Então, tem muita coisa legal para fazer.

Confira a terceira parte da entrevista no dia 22 de abril!

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