Charles Miller foi o pioneiro do futebol paulista e considerado patrono do futebol brasileiro com sua chegada em 1895. Mas será que ele foi o único a difundir o futebol pelo Brasil?
Nesse divertido vídeo, produzido pelo Núcleo Educativo do Museu do Futebol, contamos um pouco sobre outros pioneiros que chegaram para difundir o futebol no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia.
Apresentado pelos educadores Diego Sales, Júlia Paccanaro Rosa e Débora Oliveira, com participações de Kevin Murilo e Daniel Magnanelli, e direção e edição de Kenji Higashi.
Um dos editores do Ludopédio, Sérgio Settani Giglio, foi entrevistado por Vagner Magalhães, jornalista do UOL, para a reportagem publicada no dia 29 de maio de 2015. Leia a reportagem na íntegra.
Escândalos de corrupção diminuem a paixão do torcedor? Vale a discussão
Luiza Oliveira e Vagner Magalhães
Do UOL, em São Paulo
Todo brasileiro sabe a paixão que o futebol desperta. Desde os primeiros passos até a vida adulta, os gols históricos do time do coração ficam eternizados na memória e os jogos são seguidos quase como uma religião. Mas o futebol não é só feito desses momentos. Os escândalos de corrupção têm cada vez mais ocupado espaço no noticiário esportivo e manchado a imagem do esporte mais popular do mundo. Mas será que todas as acusações diminuem a paixão que o torcedor sente pelo futebol?
Na última quarta-feira, um dos maiores escândalos da história do futebol chamou a atenção de todo o mundo. Uma operação realizada pela Procuradoria Federal de Nova York e pelo FBI, em parceria com a polícia suíça, deteve sete dirigentes de alto escalão ligados à Fifa, entre eles o ex-presidente da CBF Jose Maria Marin. A acusação é de crimes como corrupção, extorsão, fraude e lavagem de dinheiro, entre outras irregularidades.
Mas até que ponto isso influencia no sentimento do torcedor? O UOL Esporte abriu a discussão e procurou especialistas na área esportiva para debater mais o assunto.
Katia Rubio é psicóloga e professora da Escola de Educação Física e Esporte da USP. Ela acredita que, apesar da gravidade dos fatos, os crimes pouco interferem na relação do fã com o esporte. Em sua visão, o lado passional se sobrepõe à razão. Não é à toa que torcedores continuem fanáticos pelo seu time do coração, mesmo cientes de acusações de corrupção que envolvem clubes e dirigentes.
“O sentimento do torcedor não muda em nada, ele consegue separar o espetáculo esportivo da gestão do esporte. Se as coisas estivessem mais próximas, talvez o torcedor fosse mais ativo no controle das falcatruas do esporte. Mas isso fica muito bem dividido. De um lado a gestão e a administração, que é um evento absolutamente racional, de outro o espetáculo e o emocional”, disse.
“Esse distanciamento de uma postura crítica é muito comum, muito torcedor fica alheio à sua posição de cidadão, de fazer uma crítica e desejar uma atitude das autoridades em relação à corrupção. O exercício da cidadania não é comum a todos os cidadãos. Não se pode esperar que o espectador tenha uma postura crítica”.
Katia é ainda mais enfática e compara a postura de muitos torcedores a de uma mulher que sofre agressões do marido ou parceiro e ainda assim aceita a situação por motivos exclusivamente passionais.
“A paixão é no campo da emoção, não necessariamente se relaciona com a razão, e a pessoa é mobilizada por essa emoção. Como mulheres de homens agressivos que, seja pela paixão ou pelo medo da perda, muitas vezes aceitam uma atitude agressiva do seu homem com medo de perder essa paixão”, explica.
Doutor em sociologia pela Universidade de Nova York e com um pós-doutorado em Buenos Aires, sempre com teses relacionadas ao futebol, Ronaldo Helal tem uma visão diferente de Katia. Em sua visão, um escândalo de corrupção ou a queda da credibilidade de um campeonato ou de uma entidade gestora no futebol pode sim influenciar no sentimento dos torcedores.
Na visão dele, se não houver uma punição exemplar em relação aos réus, os fãs podem sentir uma decepção muito grande e ficarem desanimados. Por isso, ele considera fundamental que haja uma punição exemplar e cita o caso do Campeonato Brasileiro de 2005, em que foi descoberto um esquema de manipulação de resultados de jogos e onze partidas foram anuladas.
“A paixão está enraizada na cultura. Mas, por exemplo, resultados arranjados quebram esse ritual porque as pessoas esperam que a arbitragem seja neutra, então casos de corrupção afetam o futebol. Se não houver uma punição exemplar pode ter um impacto. Perde a graça. No caso do campeonato em que foram anulados os jogos, se isso se repetisse ao longo aos anos, você teria uma retração. Você tem que ter uma punição exemplar e mostrar que os erros são humanos, mas não planejados. Se não acontecer nada, cria um desencanto por parte do torcedor”.
Os dois especialistas ouvidos pelo UOL Esporte discordam quando o assunto é seleção brasileira. Katia acredita que o sentimento do torcedor pela equipe verde-amarela se mantém mesmo, até pela simbologia de o país estar representado.
“Muitas vezes a paixão pela seleção é maior do que pelo próprio clube, a seleção reúne aspectos da identidade nacional, é a afirmação da sua brasilidade amparada pela camiseta verde-amarela, é um símbolo de brasilidade muito forte, muito grande. Em momento de baixa autoestima, ver a seleção jogar suplanta qualquer percepção em relação à política, economia, família, leva a uma atitude às vezes muito conivente com a corrupção, com a má gestão e com tudo de ruim que acontece”.
Mas hoje em dia já é possível ver torcedores que perderam a identificação com a seleção brasileira. Muitos tratam a equipe como o ‘time da CBF’, torcem o nariz para a forma comercial como a seleção é tratada e até torcem para rivais históricos como a Argentina.
Helal acredita que essa conexão vem se perdendo ao longo das décadas, e escândalos de corrupção são agravantes ainda maiores.
“A relação do brasileiro com a seleção já não é a mesma do passado, como na década de 70. Hoje muitos torcedores preferem ver o time ser campeão brasileiro do que ver a seleção campeã do mundo. Por muitos fatores. Hoje tem muitos jogadores jogando fora, você perde a identidade, e a consolidação da ideia de que o futebol não é tão forte. A derrota em 50 foi uma derrota não só do time, mas a derrota de um projeto de nação, de um Brasil que não vai dar certo. Em 70, foi a vitória de um time e de um projeto de Brasil que ia dar certo. Em 2002, foi uma vitória apenas no universo esportivo.”
Segundo ele, as pessoas hoje entendem que a seleção é um time de futebol, não é a nação que está ali. “A corrupção é mais um aspecto. Tem os escândalos, a CPI da Nike. O Brasil perdeu de 7 a 1 e ninguém achou que o país ia ficar pior ou melhor, não é a nação quem está ali. Antes da Copa muita gente dizia que o resultado iria interferir nas eleições, o 7 a 1 não interferiu em nada, não foi citado em nenhum debate, e o partido da situação continuou no poder. A seleção perdeu, vida que segue e é saudável que seja assim. Hoje já virou piada, lembram com um tom jocoso”.
Sérgio Settani Giglio, professor da Faculdade de Educação Física da Unicamp e pesquisador do Ludens (Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Futebol e Modalidades Lúdicas), da Universidade de São Paulo, afirma que os acontecimentos recentes levam para caminhos obscuros.
“Cada vez mais as grandes instituições esportivas são colocadas em xeque e passam a ser questionadas. Apesar de muitos saberem que o jogo é sujo, as pessoas compram seu ingresso, participam, disputam um ingresso para a Copa. Sabem que as pessoas roubam, mas não se tem provas”, diz.
Porém, em sua opinião, à medida que a corrupção vai sendo revelada, passa a ser algo mais concreto e as pessoas passam a questionar mais. “Hoje, muita gente vai para a rua, com a camisa da seleção, protestar contra a corrupção. Talvez agora passe a ir sem camisa”.
Segundo ele é difícil falar sobre uma posição mais ampla dos torcedores. “É um grupo muito heterogêneo, mas a longo prazo poderá ter um reflexo em como as pessoas observam o futebol”.
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