Para o encerramento da segunda temporada do Ludo em Casa, a pauta será Gestão do Futebol. Para discutir esse assunto, convidamos a ex-jogadora e atual dirigente da Federação Paulista de Futebol, Aline Pellegrino e a pesquisadora e doutoranda da Unicamp Júlia Barreira.
Quais os desafios do futebol feminino após a parada da quarentena? Quais as expectativas com relação ao novo campeonato brasileiro organizado pela CBF? Quais modelos de massificação da modalidade poderiam ser adotados no Brasil?
A despeito da crise do Covid-19, a bola já está rolando em diversas ligas mundo afora. O retorno que é discutível mesmo em países que já controlaram a pandemia, modula perigosamente parte da opinião pública brasileira e fortalece a volta aos treinos de algumas equipes.
No episódio que abre a segunda temporada, o jornalista Breiller Pires e o gestor do esporte Marco Sirangelo, que também é colunista do Ludopédio, analisam os riscos da flexibilização da quarentena e as expectativas para as próximas semanas.
A VOLTA PRECIPITADA DO FUTEBOL
Breiller Pires: “Vejo com muita apreensão essa forçada de barra dos clubes. Acho natural discutir protocolos. Faz parte tentar elaborar documentos. O que não faz nenhum sentido é se reunirem com políticos. Ainda mais pelo momento vivido pelo país. Eles [os presidentes dos clubes] não enxergam a dimensão social do futebol. Deveriam servir de exemplo e não se prestar a esse papelão de ir a Brasília. Não deveriam deixar seus clubes virarem massa de manobra para o presidente [da República].”
O PAPEL DA CBF
Marcos Sirangelo: “A CBF inevitavelmente terá de financiar os clubes, pelo menos dar um suporte aos clubes menores. A grande contribuição seria tentar organizar o futebol. Só que não está funcionando. Cada estado está criando seus próprios protocolos.”
O USO POLÍTICO DO FUTEBOL
Breiller Pires: “Eu sempre me revolto muito com essa tentativa de despolitizar o futebol. A essência do futebol é política. Não dá para analisar o futebol de forma asséptica. Os torcedores não estão representados nessa [atual] estrutura do futebol. É muito difícil entrar em conselho deliberativo. É fundamental um movimento de democratização dos clubes. Fiquei muito esperançoso com esse movimento na Avenida Paulista [domingo, com torcidas antifascistas lutando por democracia e denunciando o fascismo crescente].”
CLUBE EMPRESA
Breiller Pires: “Eu não demonizo. Pode funcionar, desde que bem gerido e com a participação dos torcedores. Mas sou cético. Depende dos clubes. O que mais tem no futebol é oportunista. Tem de ter pé atrás. Gestores podem destruir clubes. A empresa vai abraçar causas se achar que aquilo é lucrativo. As empresas trabalham pela lógica do lucro.
Marcos Sirangelo: “No Brasil, [o projeto de clube empresa] tem de ser melhor debatido. A partir do momento em que tiver um dono, ele não vai sair. Você aceita entregar totalmente um clube [a um proprietário], as identidades correm risco.”
Marcos Sirangelo: “Tem dois projetos de lei sobre clube empresa no Congresso. Acho que vão fazer um bem bolado, um meio termo. Os clubes estão à mercê. Cada um vai ser livre para tomar suas próprias decisões.”
A ESPERANÇA PÓS-PANDEMIA
Breiller Pires: Os clubes precisam frear a elitização do futebol. É esse torcedor [com menos poder aquisitivo] quem vai salvar o clube. O primeiro passo é contemplar todas as camadas de torcedores. A economia pós-pandemia vai possibilitar isso. Toda a economia do futebol deverá ser revista: salários, preço de ingressos… Daí que os clubes vão tirar recursos. Tenho em vista uma economia social do futebol.”
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