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Entrevista com o historiador João Malaia sobre “A Revolução Vascaína”

#Entrevista #RevoluçãoVascaína

Após uma década da conclusão da pesquisa que deu origem a tese de doutorado “A Revolução Vascaína”, o Ludopédio entrevista o historiador João Malaia sobre as possíveis interpretações que a memória vascaína traz para os dias atuais.

Sob a perspectiva da História Pública, as narrativas históricas do Vasco da Gama são objeto de estudo importante para compreender os diferentes usos políticos do passado. A equipe do Ludo convidou diferentes pesquisadores para compor essa sabatina que rola no dia 01 de setembro, a partir das 21h, com transmissão simultânea no nosso canal do Youtube e também no Facebook.

Não conhece essa pesquisa ou nunca a encontrou? Ela está disponível na nossa biblioteca digital pública do Ludopédio!

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#23: 100 anos da Lusa com Capitão e João Carlos Assumpção

#23: 100 anos da Lusa com Capitão e João Carlos Assumpção

#Lusa100anos #Ludopédio

Para celebrar o centenário da Portuguesa de Desportos, o Ludopédio em Casa convida o jornalista João Carlos Assumpção e o Capitão, icônico jogador da Lusa, aquele volante raiz que tanto respeitamos.

Não deixe de se inscrever e ativar as notificações.

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#22 com Felipe Lobo (Trivela) e Aurélio Araújo (Copa Além da Copa)

Neste episódio do Ludopédio em Casa convidamos os parceiros da Trivela e do podcast Copa Além da Copa para discutirmos o cenário independente de produção de conteúdo sobre futebol.

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#21 com Diana Mendes e Raphael Rajão discute o futebol de várzea em SP e BH

#LudopédioemCasa #Várzea

Demorou, mas enfim o futebol de várzea é pauta do #LudopédioemCasa. Para abrir a primeira conversa sobre o tema, convidamos Diana Mendes (Historiadora) e Raphael Rajão (Historiador) para trazer histórias sobre o futebol varzeano em São Paulo e Belo Horizonte, respectivamente.

Muito além do futebol mainstream. Aqui no Ludopédio todos os corpos, mentes e futebóis são bem vindos pra jogar!

Conheça a pesquisa de Diana Mendes sobre o Anhanguera, time da várzea de SP.

E também a pesquisa de Raphael Rajão sobre a várzea de BH

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Gestão do futebol

#LudopédioemCasa #Gestão #Futebol

Para o encerramento da segunda temporada do Ludo em Casa, a pauta será Gestão do Futebol. Para discutir esse assunto, convidamos a ex-jogadora e atual dirigente da Federação Paulista de Futebol, Aline Pellegrino e a pesquisadora e doutoranda da Unicamp Júlia Barreira.

Quais os desafios do futebol feminino após a parada da quarentena? Quais as expectativas com relação ao novo campeonato brasileiro organizado pela CBF? Quais modelos de massificação da modalidade poderiam ser adotados no Brasil?

Confira mais um #LudopédioemCasa!

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Gestão do futebol

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Como olham o futebol feminino a partir do “novo normal”?

Aline Pellegrino

Achei extremamente pertinente sua fala inicial. A sua pergunta também.

Tudo passa pelas pessoas. Teste a fotografia do momento. O que as pessoas não entenderam ainda é que o que vai trazer segurança é a responsabilidade com os outros. Então, continua dentro de casa. Esse é o maior ponto. Olhando para o novo normal no futebol feminino. No masculino é não ter torcida. No feminino isso é normal. No masculino é não ter renda. No feminino é normal. Como fazer com que o futebol feminino consiga cumprir as exigências de segurança, os protocolos exigidos pelo combate à covid-19. A dificuldade do futebol feminino está muito aí. Mas também passa pela gestão. Os projetos eram feitos para o momento e não estavam preocupados com o longo prazo. Temos de tentar pegar essa gestão mais fraca e tentar cumprir os protocolos. Talvez a régua esteja alta para a estrutura. Se deixar o futebol feminino neste novo normal, aí vai ficar mais complicado.

Vieram várias possibilidades com este novo momento. Todas essas discussões tão pertinentes que isso se reflita na prática. Que a gente consiga enquanto gestores colocar em prática. A gente teve momento para ouvir tanta gente e que a gente consiga começar 2020 melhores do que éramos.

Júlia Barreira

Ela passou uma visão mais macro, da Federação. Eu vejo mais micro. O choque muito grande de ficar em casa foi dessa impossibilidade de desenvolver aspectos táticos, técnicos, físicos. Quando pensamos os aspectos históricos, sociais eles podem ser dialogados em casa. Esses gestores podem fazer essas discussões de modo online. Então, vejo esse como uma possibilidade de atuação. Quando voltar ao novo normal, que isso seja levado para dentro de campo. Que não se restrinjam só neste momento.

 

É o momento oportuno para colocar coisas mais sólidas na programação televisiva? E nos bastidores, o que têm reparado?

Aline Pellegrino

Eu brinco que o trabalho triplicou. Cada reunião por videoconferência é uma demanda. Conseguimos colocar metodologia no papel, o contato com o Centro Olímpico. Para a FPF é muito bom. De 2016 para 19, a evolução foi legal.

2020 em tese não aconteceu e não dá para comparar. A manutenção das competições. A CBF cravou data para a A1, A2. A FPF vai ter campeonato adulto. Para ter a base, precisa das autoridades de saúde. Não terá Libertadores neste ano. Já era impossível dado o calendário. Uma das coisas mais importantes é que todos os agentes estavam juntos. Pensando nisso, a CBF anunciou que a Guaraná vem para o Campeonato Brasileiro por três anos. Temos de discutir para melhorar a base, os horários etc. mas 20, 21 e 22 estariam esquecidos. A partir do ano que vem, entraríamos num marasmo do período entre Copas e Olimpíadas.

Copa do Mundo em 23, com Nova Zelândia e Austrália terá um planejamento legal.

O golaço já vem desde 2015.

Júlia Barreira

Eu acho que a gente vive algumas ondas de visibilidade de futebol de mulheres. Talvez 2019 foi a maior delas. Foi uma delas ou veio para ficar? O futebol de mulheres precisa contar com a organização de clubes, escolas e mais para que ele seja sustentável. Que tenhamos um plano que envolva todos os agentes do sistema. Ter ficado em casa fez com que algumas organizações se estruturassem nesse sentido. A Federação da África do Sul foi uma delas. A preocupação da FPF é esta também.

 

Queria retomar algumas provocações, quando comparamos com o futebol masculino. Até que ponto o futebol de mulheres precisa estar próximo do de homens ou são mundos muito diferentes?

Aline Pellegrino

Não tem o caminho certo, tem os momentos e os contextos. Na semana passada, o Reinaldo disse algo legal. Eu acredito muito na vida própria. Senão, a gente fica tentando colocar o feminino no masculino. O masculino tem um processo diferente. É válido usar a visibilidade do masculino, mas que tenham vida separado. Ex. Ferroviária. Eles têm caixa diferentes. É um clube só, mas ele se aproveita do que tem de melhor para um e outro. O importante é crescer a marca do clube. Precisamos separar do masculino. Pouco importa se teremos mil seguidores ou cem mil. Depende muito de cada momento. O Manchester City decidiu unificar as redes sociais. Não tem o certo e o errado. Depende do planejamento e do diagnóstico de cada dia. Eu tenho um feeling de 80% separado.

Júlia Barreira

Eu concordo com a Aline. Não existe uma fórmula única como lidar o futebol de mulheres. Seria adequado reproduzir o futebol de homens no de mulheres? Na Europa, eles se apoiam no modelo clubístico. Aquilo é o que faz a base do sistema feminino. Isso funciona e dá certo. No modelo dos EUA e Canadá, eles se baseiam na universidade. Também dá certo. Não existe uma fórmula para replicar em todo mundo. O esporte se concentra mais nas escolas ou nos clubes? Seria bom saber onde estão os gargalos dentro do sistema antes de sair replicando.

 

Nesses dois cenários que descreveu, clubes ou escolas, tem uma realidade policlubística diferente do Brasil. Que estrutura é essa que devemos propor e em que lugar entra o poder público, seja na escola, na comunidade, nos clubes, na instância municipal, federal…? Quais os pontos sensíveis no município, escola-modelo?

Aline Pellegrino

Na sexta-feira passada, discutimos isso em nossa reunião. Esse é o mundo ideal. Está tudo ali, mas não está acontecendo. Quem que é esse modelo? Vamos nos aproximar do município e a gente buscar. Não podemos esperar acontecer de cima para baixo. A escola, o CDC, a FPF. Falta o Plano Nacional de Esporte. Cada modalidade tem a sua dor. A turma da natação também quer aumentar os praticantes. Quando falamos do futebol de homens, ele se deslocou disso. O feminino viveu no limbo por muito tempo.

Muito do que a FPF tem tentado fazer é criar projetos pilotos. Começamos com 15 equipes. No último tivemos quase 300 atletas. Vamos incomodar o poder público. Quem deveria estar fazendo isso? A FPF nunca faria uma peneira pensando em futebol de homens. Temos de aprender com eles o que não deu certo, já que estão a 60 anos em nossa frente. Quem mais pode fazer? A FPF tem de assumir seu papel. Vamos assumir mais responsabilidades dentro do que é possível. Isso gera transformação. Isso é utópico.

Até porque está mais próximo. A gente usou o CEPEUSP. Os festivais foram em Araraquara e em Taubaté. O Campeonato adulto está na Lei do Incentivo. Conseguimos no ano passado quase 800 mil reais.

Os espaços físicos são ocupados majoritariamente pelos homens.

Júlia Barreira

Gosto de pensar no desenvolvimento do futebol de mulheres. Precisamos fazer com que mais meninas e mulheres entrem no futebol feminino, seja criança ou adolescente. Temos de oferecer recursos para que ela possa continuar. A literatura aponta para espaços físicos para elas jogarem. Querendo ou não, temos quadras e clubes. Quem está se apropriando desses espaços, elas se sentem confiantes para atuar neles, quem são esses profissionais que promovem essa entrada delas?

Quando falamos de universidades públicas, estamos formando bons profissionais. Vejo diversas áreas de atuação do poder público.

Dentro do município, isso acontece mais. Em Araraquara, temos uma ação maior.

 

Quais são as barreiras que precisam ser quebradas nessas estruturas? Como aproximar a universidade de uma estrutura de gestão das entidades que regulam as modalidades? Quais os lugares de diálogo?

Aline Pellegrino

Você tinha a fome com a vontade de comer. A pesquisa científica é um de meus pilares. Quando a Júlia me trouxe, me trouxe em outra perspectiva. A gente só tem a crescer com essa parceria. Vamos lá do Reitor da Unicamp direto com o Reinaldo, vai demorar. Vamos tentar de outro tempo. Na hora que chega na presidência, já chega com resultados. Alguém precisa dar esse primeiro passo. Falta só a operação, fazer girar. Eu vejo o futebol feminino como um grande projeto piloto para tudo. Isso faz com que cresça muito. Nos tira da inércia. A academia tem total possibilidade disso. Faz todo o sentido, mas criou-se uma estrutura de distância. Aproximar vai ser melhor para todo mundo, construindo um esporte melhor. Não consigo ver como o resultado disso vai ser ruim.

Júlia Barreira

Para acessar a Aline, não existe barreira. Meu contato com ela… De fato, isso que você falou me preocupa. EU vejo esse distanciamento, principalmente nas falas e nos conteúdos. Eu achava que o que produzia não seria lida por ninguém. Para ganhar mais confiança com minha escrita, tinha de me aproximar da prática. Disse para a Aline. Eu tenho tempo e disponibilidade. Ela super me recebeu. “Vamos tentar.” Fizemos um mapeamento. Criamos quase que uma rotina de encontros entre uma literatura que lia e ela me passava as dificuldades do dia a dia. Sempre falo muito isso para quem quer praticar gestão de futebol de mulheres. Abertura tem. Está todo mundo querer fazer em prol da comunidade. Não sei como é em outras federações. No estado de SP, eu vejo com bons olhares.

Em outros sistemas do mundo, quem forma os profissionais são as entidades. No Brasil, são as universidades. Por que as federações e as universidades não se juntam e formam parcerias nesse sentido?

 

Clubes da primeira são obrigados a terem times femininos. E se eles rebaixam?

Aline Pellegrino

Mudar a percepção sobre o espaço e o futebol das mulheres é nossa luta. Essa questão do licenciamento vem da FIFA. Em 10 anos, mudar o número de praticantes. O licenciamento de clubes significa melhorar a gestão. São vários critérios esportivos, administrativos e financeiros. O objetivo dos clubes é desenvolver o futebol para homens e para mulheres. Para esses que estão na Série A, tem de ser assim. É uma transição. Se olharmos o próprio Corinthians, muito em conta do Profut, consolidou isso em anos. Para quem começou na parceria, agora não pode mais. São mecanismos. Se não fosse o licenciamento, levaria 10 anos. Deixar sozinho, não daria certo. Como fazer com que aquele clube melhore sua gestão? A percepção muda com os pares. Se o rival faz bem, sua torcida te cobra. O Real Madrid na semana passada lançou sem nenhum tipo de licenciamento. O que está acontecendo no mundo? Esses clubes vão ficar para trás e vão ter de correr atrás. É gestão. Não ter equipe feminina, você bloqueia torcedoras. É uma estratégia de melhorar a marca do clube.

Júlia Barreira

Só para complementar sua resposta, as diretrizes prezam por mulheres em cargos de gestão. Quando uma mulher tem cargo de gestão, acontece mais.

 

Como reconfigurar a parte interna? Para ter essa mudança, é preciso a parte interna.

Aline Pellegrino

Concordo plenamente. Independente de ter a mulher, precisa ter o ponto focal. Meu olho bate naquilo que é feminino. Se não tem essa pessoa, ela vai olhar para a maior demanda, que ainda é o futebol dos homens. Se não tiver essa pessoa, vai patinar. Precisa ficar sólido. Eu vejo muito por minha chegada na FPF. Porque começou a ser feito alguma coisa que é importante para o futebol feminino. A gente já faz o principal campeonato há 22 anos. Vamos fazer premiação? O campeonato não acaba mais na final, vai continuar por uma semana discutindo quem são as melhores. A gente precisa ter mais competições. Fizemos uma competição de base. Ter alguém focado só no futebol feminino.

Júlia Barreira

Em 2014, uma análise tentou avaliar variáveis nos diversos países. Uma das variáveis é a quantidade de pessoas dentro do futebol feminino. Aqui estou fazendo um paralelo com o desempenho feminino. Quanto mais pessoas tiverem pensando essas questões, melhor será o futebol praticado por um país.

Quanto melhor for a gestão, mais será feito para que mulheres pratiquem futebol.

E vale lembrar que a FIFA tem cobrado muito isso das Federações. Quantas mulheres atuam na Conmebol, na UEFA etc. Tem uma pressão de cima para baixo. Precisamos ter essa mulher assumindo a gestão.

 

O que foi um reforço a chegada da Pia ou a saída Marco Pólo?

Aline Pellegrino

Dentro do que ele fez em quatro anos, fez muito. O Brasil foi campeão sub-20. Isso é quase uma obrigação nossa.

Eu construí uma história dentro da FPF em quatro anos. Quando o Marco chega, ele não tem essa preocupação. A seleção viajar numa situação melhor, já é positivo. Isso é por que temos uma pessoa destinada para isso.

São outros tempos.

O ponto ápice da gestão dele é a chegada da Pia. De novo, o futebol feminino quebrando barreiras. Guardiola no ápice e não foi sequer cogitado para a masculina.

Ele cumpriu bem seu papel em quatro anos e entregou melhor do que recebeu.

Júlia Barreira

Certa vez, entrevistando a Silvana Goellner, ela falou de vontade política. Deixo a bomba no ar e as pessoas interpretam cada uma a sua maneira.

 

Falando em vontade política, a FIFA…?

Aline Pellegrino

Começando pela Conmebol, do Evolución, está em sua estrutura de desenvolvimento. Isso contemplaria o departamento de futebol feminino. Hoje dentro da Conmebol, ele é trabalhado. As 10 federações membro. Está no departamento mais forte. Aí a gente vai para a vontade política. Vamos ganhando força aqui para depois conseguir outras coisas. O quanto a Libertadores tem um peso aqui. Essa vontade política quando vai descendo passa muito pelo contexto, pela questão social, pelo machismo, pela mulher. A vontade política passa muito pela percepção, que é difícil de mudar. O politicamente correto faz andarmos para frente. Fazer o politicamente correto de forma correta é o mais importante. É difícil. Mesmo com o mecanismo, às vezes não adianta colocar minha energia nisso. Precisamos levar para outras questões. Falar só com gestor do clube não adianta. Precisamos pensar estratégias. Acho que temos sido assertivos. Talvez dessa forma, caminhemos em 10 anos. Sem isso, 20.

Júlia Barreira

Falo um pouquinho do que li dos programas de desenvolvimento do futebol feminino. Acho muito importante em pensar na trajetória do futebol feminino, no consumo do futebol feminino. Primeiro, a FIFA desaconselhou por muito tempo a prática do futebol de mulheres. Lá em 70, quando começaram as grandes participações, no México, a FIFA não participou. Ela se incomodou com a audiência, passou a olhar a comercialização, não deu visibilidade. De lá pra cá, vieram as organizações. Em 86, a FIFA é pressionada pela Noruega a dar atenção ao futebol de mulheres. Não coincidentemente, dois anos depois tem o primeiro torneio experimental. Deu certo e em 91 teve a primeira Copa do Mundo. Sempre por pressões externas. O grande marco é em 2004 quando ela incorpora o futebol feminino em seu desenvolvimento. É quando ela começa a pressionar as federações continentais a fazerem isso. A UEFA é a primeira a seguir. A Oceania tem uma estrutura organizada. A América do Norte também. Até a África melhorou muito. A Conmebol praticamente não fala dessa imposição para que clubes masculinos tenham times femininos. Isso é feito por pressão da FIFA. O sub-20, 17 são criadas por uma demanda da FIFA. O programa Evolution é voltado para a qualificação dos profissionais. Isso é mais recente, de 2017 para cá. É um primeiro passo. Sei que a Aline já participou de alguns programas na Europa.

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#19 Futebol e Democracia

#LudopédioemCasa #EsportepelaDemocracia 

O Ludopédio em Casa recebe os jornalistas Vitor Guedes e Menon, membros do movimento Esporte pela Democracia. As perspectivas que o futebol pode trazer na defesa da democracia diante do longo período de isolamento social está em pauta.

Jornalismo esportivo, democracia, seleção brasileira, antifas e futebol brasileiro são assuntos do bate-papo com os colunistas Menon e Vitão!

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#19 Futebol e Democracia

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Como vocês têm proposto a abordar assuntos para além do futebol mesmo diante de um público? Quais os desafios?

Menon

Queria começar protestando. Sofri dois bullyings. Não sou gordo e não tenho idade para ser avô do Vitor.

Saí do Jornal da Tarde e estava sem emprego. Adoro jornalismo popular. Agora no UOL tenho minha coluna, não necessariamente escrevo sobre futebol. Mas sei dos meus limites. Eu escrevo menos de política do que o Juca Kfouri, por exemplo. O post mais lido foi o do Kid Vinil. Tinha uma foto tristíssima de seu velório. Triste país é este que cara famoso tem de dar beijo escondido. Eu sou mais ativo mesmo na rede social.

Aí o que Vitor falou é que tento sempre ir contra a corrente. No jornalismo hoje, o que os repórteres têm de bom sentido são engolidos pelas assessorias de comunicação.

No São Paulo, transformaram agora o Juanfran em um cara essencial. Acima de tudo tem de ser bom de bola. Sou contra a narrativa construída.

Tem vez que eu confesso que gosto para desagradar as pessoas. Tenho um pouco esse negócio de discurso pré-estabelecido. Por exemplo: o Corinthians é o bastião da democracia no Brasil. Tem o lado também de ser o laranja da máfia russa. Tem sempre mais de um lado.

Vitor Guedes

O Menon é um amigo que tenho há muitos anos.

Caneladas do Vitão. Iria chamar Caneladas do Alemão. Tenho o Ruiz também em meu nome, mas assino Guedes. A coluna começou em 2006, na época da Copa da Alemanha. Para não ter relação com a Copa, ficou Vitão. Meu apelido era Alemão. Agora pegou o nome. Caneladas é um título bom, era para diferenciar meu trabalho de repórter e de colunista, o que era sério e o que era humor. Quase que um personagem.

No começo, era só brincadeira. Depois vi que foi definitivo. Eu sempre fui o anti Caio Ribeiro em pessoa, acho que todos têm de se posicionar em tudo. Sempre me posicionei. Tudo na vida é conquista. Quando consegui esse espaço para dar opinião, aprendi a não querer agradar os outros. Nunca adapto meu discurso à plateia. Adapto à forma, mas não o conteúdo. Quero agradar os outros, mas não meu discurso.

Em relação a querer agradar, eu sou contra à polêmica pela polêmica. Eu não mudo meu discurso para ser do contra.

Nem sempre o diferente é legal. Exemplo é o Thiago Leiffert. Não tenho nada contra ele. Para mim, jornalismo não tem nada a ver com entretenimento.

Eu acho uma bosta. E não é o que penso para o jornalismo.

O jornalista tem de falar a verdade. O fato de ser corinthiano declarado não invalida minhas posições.

A máfia russa no Corinthians não apaga a Democracia Corinthiana. As roubalheiras das pessoas não invalidam as instituições. Precisamos separar as pessoas das instituições.

 

Isso vale para a FIFA?

Menon

Reconheço muito o trabalho da Democracia Corinthiana. Tenho o maior respeito.

Podemos trazer a discussão da FIFA para o Brasil.

Estamos misturando a CBF com a seleção. Hoje tem menos amor do que 58, 70 e tudo. A CBF é um covil de bandidos: Havelange, Teixeira, Nabi… Não é gente que convidamos para almoçar em nossa casa.

O torcedor está longe por isso.

Os clubes aceitam tudo e o futebol brasileiro aceita tudo.

Vitor Guedes

A FIFA não é clube. A FIFA de Havelange, Blatter, Valcke… Nunca fez nada pela humanidade. Ah, tem mais associados do que a ONU. E o que ela fez para o mundo. Nunca fez nada!

Concordo com tudo o que ele disse. Em 82 ele tem muito mais lembrança do que eu. Minha primeira lembrança é o Brasil x URSS. E lembro da final do Paulista, Corinthians x São Paulo. Só que nessa Copa não me lembro de ninguém de torcer contra por ser jogador do Corinthians, São Paulo ou Flamengo. Hoje em dia se um jogador é convocado, as pessoas vão dizer que foi convocado porque é do Corinthians. Se não convocou também é para ajudar o time A. A CBF tem grande culpa nisso.

Nunca deixei de torcer para o Corinthians por causa de bandidos. No meu caso, é que a seleção virou uniforme de fascista. Eu não sou fascista, não quero matar todo mundo, negros, gays, indígenas… Eu quero voltar a usar a amarelinha para não deixá-los vencer. Mas não quero usar porque não quero ser confundido com eles.

 

O tema da camisa amarela já apareceu outras vezes. Ele roubaram nossa camisa. Roubaram o discurso da moralidade. O lavajatismo já tinha feito isso. O foda são os símbolos nacionais. Enquanto comunicadores, que tipo de conversa vocês poderiam ter para discutir isso? Não tem proposta pronta para isso. Usar azul, branco? Pouco importa. Apesar da desigualdade, estamos constrangidos de usar um símbolo nacional?

Menon

João Carlos Assunção está fazendo uma campanha internacional para usar branco.

Sinceramente, eu dou essa batalha como perdida. Estou tão descrente pela seleção. Não sinto necessidade desse resgate, não. Nunca me identifiquei muito com a camisa. Pode deixar com eles, que não quero de volta não.

Em 82, ninguém torcia contra um jogador ou outro. Havia uma unanimidade na torcida. A rivalidade era grande.

Hoje ninguém quer seu jogador na seleção.

O Catar foi vice-campeão mundial de handebol e tinha 12 jogadores estrangeiros.

Vitor Guedes

Uma coisa que você citou qualquer torcedor fanático gosta mais do clube do que da seleção. A audiência mostra que não.

O João Carlos Martins será embaixador da Lusa.

A Fafá de Belém disse que os militares roubaram os símbolos pátrios.

Antes do amarelo, do fascismo, eu sou filho de português com alemão. Somos um país de imigrantes. É lógico que numa competição temos de ganhar dos adversários. Lá fora gostam tanto ou mais de futebol do que o Brasil. Turquia, Argentina, Inglaterra… Há um discurso muito xenófobo. O mundo de hoje é muito mais sem fronteiras.

Me pega muito essa coisa da nacionalização nas seleções. O Amauri só jogou na Itália, beleza. Essa coisa que o cara não tem nada a ver, mas se naturaliza para jogar uma competição por outra seleção. Isso é uma grande… A única graça da Copa do Mundo é a disputa nacional. Mas agora vão tirar a graça. Na Copa do Catar, a seleção não terá um nacional.

 

Nós gostamos de falar que somos o “país do futebol”, mas me parece que há um investimento cada vez maior em transformá-lo em produto para a televisão. Somos de fato o país do futebol? Isso vai produzir pessoas que não se interessam pelo futebol, me parece. Se não houver um investimento para que nossos filhos torçam por um clube, eles não irão torcer por nenhum clube. Está se perdendo essa chave?

Menon

Acho que sim. O mundo globalizou e a criançada tem camisa e sabe todos os jogadores de clubes europeus. O que a gente está ofertando é pouco. O jogador vai embora antes de estrear. O SP vendeu dois: o Morato e o Maia. O Diego Carlos parece que é um grande zagueiro na Europa. Saiu do Madureira e ninguém viu.

Todo grande jogador quando sai fazem uma despedida. O Uruguai fez isso, o Peru faz isso para ter um congraçamento. O Brasil nem isso faz. Não tem jogo de despedida.

Na Copa de 2006, o Brasil perdeu e no outro dia o Ronaldinho estava em uma discoteca. Eles não fazem nada para ter uma identificação. Não tem congraçamento, não tem título, não cria laços.

Vitor Guedes

Meu filho vê muito futebol, mas não torce pela seleção. Ele tem 11 anos. Ele tinha motivos para torcer pelo Brasil por causa do Tite. A seleção não empolga nem quem é criança. Ele é um caso que tinha tudo para torcer pela seleção brasileira. Minha mulher é corinthiana, mas torce mais pela seleção em Copas do que pelo Corinthians.

O Brasil foi o único país que não se apresentou nem se despediu junto.

Eu debati isso no Baita Amigos. Tem uma data FIFA dia 7 de setembro. Ser eliminado pela Bélgica é como o Corinthians ser eliminado pelo Santo André.

Por que não faz jogo em Salvador Tem cabimento fazer uma Copa do Mundo no Brasil e não jogar no Maracanã Fizeram uma tabela em que o Brasil só jogaria no Maracanã numa final.

Não tem uma identidade. Fizeram um CT num lugar que tem neblina todo dia. Fica num condomínio fechado. Aquilo não tem nada a ver com o Brasil.

Os alemães estavam falando com baianas que vendiam acarajé.

É mais fácil falar com Dilma, Obama do que com os jogadores da seleção.

Em 2010, eu me emocionei. Era minha primeira Copa. Mas quando vai cobrir, tem uma frescura que acaba torcendo contra.

 

Dois textos publicados por vocês. Alexandre Pato é o que para você? Como você vê o Pato?

Menon

Na minha opinião, não vira mais. O que ele prometia ser acho que não vira mais. Acho que na Copa de 2010, o Brasil jogou com o Luís Fabiano. Dois jogadores que poderiam estar ali eram Adriano e Pato. Adriano por seus problemas emocionais e o Pato porque é Peter Pan, não consegue crescer. Disse que o sonho dele era o tapete vermelho do Oscar. Ele não é adulto. Acho um bom jogador, tem técnica. Tanto que está jogando no SP. Quem viu ele com 17 jamais diria que estaria no SP com 30. O que ele prometia era estar em uma grande liga na Europa. Estava na segunda divisão da China.

Quer ver outro exemplo. Ele cobrou um pênalti com cavadinha contra o Dida. Jogos depois ele cobrou com força e comemorou como se apagasse o que fez.

Se fosse como jogador, jamais bateria com cavadinha. Se faz, é herói. Mas se perde, não tem desculpa.

Vitor Guedes

Ele apanhou no vestiário. Se me perguntar do Pato, cai do ar… Eu não gosto do Pato porque apoia o Bolsonaro. O cara inventou o coração no ar e faz arminha…

 

Queria falar do Dérbi. Não tem futebol sem torcida. Estamos diante desse momento, se já era ruim com torcida única, agora não teremos torcida. Fale um pouco de seu texto. Eu não duvido que esse tipo de expediente seja repetido.

Menon

A mensagem do futebol hoje é: foda-se a sociedade. Morram!

Sou do tempo da corda no Morumbi, que ia para mais ou para menos conforme a chegada da torcida.

Como deixar de ter torcida única vou deixar de levar minha torcida para levar torcida adversária

No Estatuto do Torcedor, decidiram que o Brasileiro tem 60 cm de bunda. Perguntaram se o torcedor gostou diminuir o número de torcedores

Chegamos a esse impasse. Adoro torcida junto. Mas por que o Corinthians vai deixar de vender para si para vender para o palmeirense, o são-paulino

 

Vitor Guedes

Chamei de quarta-feira de cinzas. Em minha coluna, falo em nojo a volta do futebol. Eu fiquei três meses sem ir para a televisão e sem ganhar dinheiro. Eu sempre me posicionei radicalmente contrário à torcida única. Sou contra também esse discurso contrário às torcidas organizadas. Estudos falam em 6% de bandidos nas torcidas. O Congresso nacional tem muito mais. Lutamos para que esses saiam de lá. Não acabar com o Congresso.

Em relação à pandemia, é óbvio que não pode ter torcida em jogo. Sou contra porque eu acredito que somos da sociedade. Como vou pagar a escola do meu filho se só eu volto a trabalhar e outras profissões não.

O ápice da canalhice foi Flamengo e Bangu no Maracanã ao lado de um hospital de campanha.

Nenhum dos dois historiadores do Corinthians e do Palmeiras vão falar do jogo. Esse jogo não tem sentido. Quantas pessoas vão morrer amanhã 500… Nesta semana, tivemos recorde de mortos em SP. Não faz nenhum sentido, moral, esportivo…

Corinthians e Palmeiras é o clássico que mais amo na vida, mas não tenho nenhum tesão para ver este.

Ninguém mais está defendendo meio a meio, mas o direito de ter torcida adversária.

Nenhum clube trabalha com 100%, nem Flamengo, nem Corinthians. Eles preferem perder torcida a ter o estádio completo.

Quando o SP estava na merda, abaixou preço. Outro dia melhorou um pouco já enfiaram a faca no torcedor também. E mesmo assim nunca trabalhou com 50%.

O Corinthians fez algo tão hipócrita ontem. O Corinthians é “o time do povo”, só que a camisa custa R$400,00.

É óbvio que o jogo do Corinthians vale mais porque tem mais torcida. O problema é a correlação com os outros clubes.

Falta democratizar o esporte.

Algo que me incomoda demais. Tenho um filho de 11 anos. Além do embranquecimento na arquibancada, teremos um dentro de campo. Hoje é tudo escolinha. Não tem mais negros nem nos times de ONG. Daqui 10 anos não vai ter negro nem em time de periferia. Falo disso como pai que acompanha um filho a jogar bola. Estamos perdendo a luta no futebol de base.

 

O estádio vazio não é o problema, é o sintoma do problema. Estamos falando do individualismo. É um projeto. O projeto do futebol é o projeto do Brasil.

Menon

É isso. Compra de ingresso pela internet. Tenho um amigo, o Moacir, de Indaiatuba. Ele compra para ter direito a comprar quando o jogo valer.

“Futebol tem que ser caro porque quem não tem condição tem de ver pela TV.”

O primeiro jogo do campeonato foi no Premiere, no pago do pago.

O primeiro jogo deveria ser entre o campeão da Série B e o da Série A. Eles colocam no escondido do escondido.

Tem um amigo meu, jornalista, que cortou o Premiere porque a situação não está fácil.

Mais pobre quer dizer mais preto.

Toda vez que vejo o 7 a 1 vejo uma mulher branca chorando. Tenho certeza que aquilo é fingimento.

O Maracanazo foi tragédia, o Minerazo foi comédia. A carta da Dona Lúcia foi o estopim.

Vitor Guedes

O último jogo antes da Copa do Mundo de 2014 foi no Morumbi, contra a Sérvia. Metade dos ingressos da seleção brasileira é de público que são clientes dos patrocinadores da seleção. São pessoas que não iriam ver o jogo. Estão indo porque ganharam o ingresso. O clima é esse.

O Felipão foi péssimo. A escolha do Bernard para estar no 7 a 1 é porque ele era de BH. O público, contudo, era de SP e RJ. O percentual de atleticano era o de atleticanos no Brasil, baixo. Não havia clima nenhum. Estive em dois 7 a 1. No Corinthians e Santos em 2005 e no Brasil e Alemanha em 2014. O pouco que teve de comoção foi inventado. A vergonha foi pelo placar. Era público de cinema, de teatro. No 7 a 1, não havia clima de fim de mundo. As pessoas não estavam nem aí.

 

Não poderíamos deixar de falar do Esporte pela Democracia, grupo do qual vocês fazem parte. Como esse grupo se forma? Falem um pouco dele. O que espera-se dele no longo prazo?

Menon

O grupo foi criado após o assassinato de George Floyd. O Gilvan disse que o grau de ansiedade do Casagrande se reflete. Ele quer fazer live sobre vários assuntos. Ele vai para todas as pontas. Acho que de uma maneira ou de outra ele tenta debater. Acho bacana essa falta de ordem dele. O grupo cumpre seu papel, é um grilo falante da sociedade. Está bem organizado. Outro dia teve um debate.

Escrever literatura fantástica na Am. Latina é fácil. É nossa realidade.

 

Vitor Guedes

No sábado, falei na discussão do alcoolismo. O grupo Esporte pela Democracia tem algumas bandeiras comuns: antirracismo, antifascismo e luta pela democracia. É um grupo heterogêneo. Há pessoas de direita, de centro, de esquerda. O grupo tenta se posicionar e em que lado está a democracia. O que acho que falta no grupo e o que acho que vamos atingir é ir para a rua. Além da heterogeneidade, cada um pode fazer mais pela democracia. O que eu posso fazer? O que o Casão diz é um canhão. Acho que falta falarmos mais para fora do grupo, para além do jornalismo. Na minha bolha, o Haddad ganhou no primeiro turno. Na realidade… Precisamos nos comunicar com o público. Nosso discurso não está atingindo o público faz tempo.

O grupo é eclético, defende causas importantes, mas precisamos canalizar isso para os que pensam contrários a nós, aos neutros, não aos fascistas.

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#18 Wagner Camargo e Bernardo Gonzales

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Wagner

Jogador da Premier League: carta de como está sendo duro ele manter um falso status de heterossexual.

Literatura está denunciando há uns 30 anos. Pedir aposentadoria precoce.

Homofobia é uma expressão por parte daqueles que querem se prevenir de uma disrupção dentro de um mundo heteronormativo. Expressão de salvaguarda. Ataque preventivo. Às vezes, nem foi identificado nada. Ataque homofóbico preventivo. É uma lástima que isso exista na sociedade e no futebol. E que os atletas tenham de lidar com esse medo disparado.

Quando a gente fala de um corpo no esporte, estamos falando de uma corpotividade. Isso mostra uma coerência entre uma normatividade e uma forma.

Pessoas com deficiência ou outras expressões da sexualidade no mundo esportivo, quando fugimos disso temos um abalo na estrutura. Daí a homofobia, transfobia, lesbofobia, bifobia.

Um homem que diz que gosta de homem e de mulher, ele não é aceito. É condenado pelo meio.

Quando falamos de um esporte tem base na masculinidade, a gente vai para essa área da aversão ao feminino. Misoginia instalada. Aversão ao corpo e às características imputadas a esses corpos.

Mulheres “têm” de ser feminina, bela, maternal. Narrativas de corpos de mulheres no esporte.

Bernardo

Concordo com o Wagner, mas queria trazer alguns elementos para a discussão. Como a transfobia, como um discurso recorrente no futebol. Eu considero a homofobia como um sintoma. Tudo que vemos de uma expressão de homofobia é um sintoma de uma sociedade heteronormativa. Por outro lado, à medida que se reforça esse cisheteronormativo, esse discurso mostra que a misoginia impera. O futebol feminino também apresenta esses fenômenos de uma sociedade que prioriza um homem branco, hétero. A homofobia é um braço.

Enquanto jogava como menina, o que aparecia era uma lesbofobia. Se não mostrava-se assim, 

Sendo reconhecido socialmente como um homem, eu tenho peito e isso é usado por homens para me discriminar.

Tudo isso referenda que é um sistema político muito maior operando.

Não só há preconceito a quem foge da norma, mas também a tudo o que é expressão feminina no futebol.

Silvana Goellner → Escrever sobre mulheres é um ato político. Construir esse universo. Temos um fenômeno de feminilidade na música pop (Pablo Drag). Ela chega a esse lugar depois de décadas de lutas de muitas pessoas. Como construir essas histórias, quem tem construído essas histórias?

Wagner

A Pablo. Somos carentes de referências outras. Só o nome já é bom.

Pegando a ideia da biografia, escrever é um ato político. Temos de trazer essas vozes que estão por aí.

Eu estava inscrito em um Gay Games.

Tem várias biografias, mas temos poucos registros.

Fiquei sabendo que o João Neri foi um trans homem super importante nos anos 80 ainda. Essas histórias têm de vir à tona. É uma questão de visibilizar essas histórias, não só de uma época, mas pela luta de direitos.

Às vezes, até a pessoa envolvida se vê ameaçada pelo sistema. Sendo que na verdade não há nada de errado. É uma questão política e situacional também. É datado. Provavelmente hoje sairão mais livros, uma pena que mais fora do país do que no Brasil, de biografias de atletas. Não se trata dos atletas midiatizados, do espetáculo. Que saiam mais biografias desse tipo.

Bernardo

Esse é um tema muito curioso. Adoro a Chimamanda. Contar uma única história tem um objetivo. O fato de os transexuais não estarem nas histórias não significa que elas não estejam nos esportes.

Atenção na forma como temos feito isso.

Futebol para mim sempre foi algo muito importante. Não fiz carreira por não  ter espelho. Além de outros obstáculos (econômicos, psicológicos, do corpo), isso faz diferença para que não estivesse nesse lugar.

Temos uma experiência ruim de focar só naquilo.

Fui do Meninos Bons de Bola. Bater na tecla do pioneirismo, que surgiu em 2016, não contribui. Há desde então 11 times de homens trans. Ficamos batendo no pioneiro e não vemos o todo.

Não estou mais no time por questões políticas.

A Pablo não é única. Sabemos que existem outras expressões na música e que são muito diferentes dela.

A validade da coisa está na diferença.

A brisa daqui pra frente é construirmos pontes.

Uma outra colega que tem uma ótima pesquisa é a Aira Bonfim. Às vezes, quando se conta uma história, há um olhar do pesquisador que tem sempre histórias de mulheres muito mal contadas e que tornam esses corpos e essas pessoas fora da curva. Essas histórias são de resistência e de luta, mas iguais a de muitos outros. A forma como está sendo contado é algo muito importante. Precisamos evidenciar esses sistemas de sexo e gênero.

Tem algo importante quando falamos de história e biografia, é a gente entender a diferença entre visibilidade e representatividade. Hoje temos mais visibilidade, mas nossos corpos não têm ainda representatividade nos esportes. Temos feito um exercício de visibilidade no sentido de reparar a história. Precisamos construir a representatividade no esporte espetáculo e também na várzea.

Sabemos que somos poucos os pesquisadores que escrevem sobre isso, mesmo na academia.

Outra crítica que trago é que as pessoas tragam suas próprias histórias. Construímos nosso império próprio.

Interessante pensar nessa chave, Bernardo. Você fala de você, mas não no sentido de se promover, mas sim para que outros também tenham voz. Na coluna do Wagner, eu sempre aprendo algo. As piadas e jocosidades sobre isso me parecem mais atrapalhar do que ajudar. Queria saber de vocês sobre isso. A mídia joga nesse diálogo?

 

Wagner

Acho importante falar sobre isso. Houve uma metamorfose. Desde 2017, quando tenho feito minha pesquisa sobre a Champions Legay, eu percebi que esse futebol identitário surge como futebol gay. As primeiras reportagens surgem com essas piadinhas. Os times compactuaram com isso. Essa era a tônica. Tem passado por uma transformação, tanto do ponto de vista do discurso. Não aceitam mais serem chamados de gay. Não são só homens que têm relação com outros homens. Há pessoas trans que ora jogam em times femininos e ora masculinos. A Champions tem se mostrado mais diversa.

As pessoas com as quais estava conversando estavam não só anotando coisas como levando referências de fora. Expressões esportivas lgbt. Saber um pouco mais a fundo aquilo ali é importante. Mesmo que longínqua há um vínculo com as competições fora do Brasil. É preciso entender o que está sendo falado, feito. É algo transformador.

Eu estudo Gay Games desde 2006 e não é a mesma coisa.

A versão do Gay Games mais inclusiva é a de 2002. De lá pra cá, temos mais homossexuais masculinos. Infelizmente, temos mulheres e trans invisibilizados pelo sistema.

Temos outras formas de registro para além da mídia.

O Museu do Futebol não só deu espaço para o futebol de mulheres como para outras expressões, como as de clubes fundados de 2015 para cá. Isso é uma coisa importante, de registro. Isso não só é uma construção de orgulho para essas pessoas, mas é mais um tijolinho na construção da história desse núcleo.

E bom claro tem o Ludopédio. Ele me convidou para ser colunista num ponto de ônibus em 2016.

Futebol é hegemônico no Brasil e através dele podemos pensar muitas questões.

Minha coluna tem três anos. Cumpre esse papel de trazer outras expressões e esportes. Tem ali a pedra no sapato. Tem algo que não é futebol nem cisgênero.

Bernardo

Eu sempre farei um paralelo com o futebol feminino que é da onde eu vim. Sempre tinha uma figura de mulher de chuteira ser algo horroroso. O próprio Museu do Futebol fez isso. Isso diz muito sobre sexo e gênero. Isso também tem a ver com a colonialidade. Isso aparece no futebol feminino e vai aparecer nessas outras expressões.

O futebol feminino passou de lugar de chacota. Isso é visível nas chamadas da Globo no último mundial, quando passaram a ser heroínas.

Assim como acontece com os negros.

É um mesmo paradigma. Essas pessoas que constróem essas mídias têm de aprender mais sobre o tema. Um jornalista me chamar de laboratório ou de homem não convencional é uma ofensa.

O Google apesar de tanta sujeira que tem pode informar muito bem as pessoas.

Como as pessoas cis, trans, negras, mulheres querem ser tratadas.

A cisgeneridade é o padrão. Precisam sair de sua zona de conforto e pesquisar sobre o assunto. Precisamos pensar sobre o assunto. Precisamos ser inseguros. O cisgêneros não têm isso. “Tudo bem falar bobagem, tudo bem me corrigirem.”

Queria fazer uma correção. O Museu do Futebol. A esmagadora maioria das pessoas do Museu é de mulheres. Elas fazem um trabalho impecável. Quando se fala, parece que são homens. Se a maioria é mulher, precisamos usar no gênero feminino. Se fosse um monte de homem, não seria bonito como é hoje.

Faria esse comentário mesmo. Queria falar das interfaces nas comunidades digitais. Como construir essas interfaces? Como o Ludopédio faz isso, para aprender.

 

Wagner

Esse consumo rápido das redes sociais é algo problemático. Eu uso o Facebook de forma profissional.

Eu percebo que é sintomático de uma foto minha trocada recebe mais de cem likes e uma coluna engajada tenho apenas uns 30. Meu público não é aleatório, mas de pessoas que conheço.

As pessoas não têm paciência de consumir notícias.

“Escreva algo atrativo e curto”, indicação de cursos sobre redes sociais.

O Ludopédio quer expandir, crescer e agregar pessoas diversas. Há uma pluralidade das formas de falar sobre assuntos, como o racismo.

O Ludopédio traz muita coisa, sobretudo de origem acadêmica. Mas questiona esse local onde a ciência é colocada, de homens. O Ludopédio quebra tudo isso.

Se as mídias todas tivessem essa meta de alcançar outros públicos, estaríamos melhor.

Mesmo e-books não fazem sucesso com pessoas jovens.

Claro que temos um marco regulador da internet, mas precisamos repensar como repassamos certas coisas ou vemos reproduzidos em canais de YouTube.

Os canais têm de promover a militância de gênero. As pessoas não devem crescer achando que são erradas ao não se ver. Ou as meninas e meninos que gostam de brinquedos de meninos/meninas.

Bernardo

Estamos vivendo um momento na mídia como um todo. As bases que estão a fim de discutir as questões não têm grandes bases de seguidores. Basta pegar uma câmera e gravar que fala. Existe uma esmagadora maioria de homens que têm mais de 10 milhões de seguidores. Eles são o modelo típico. Se for homem gay e gordo não tem nada. Aqueles corpos referendam estereótipos.

Que tipos de coisas estamos fazendo na mídia e que não estamos desconstruindo esses estereótipos.

Como colunista do Mídia Ninja e do Ludopédio, eu tenho medo de publicar por questionar a ciência. Não tenho segurança de publicar. O público não quer consumir isso.

É aquela velha pergunta da sociedade racista e da falta de racistas. Estão a fim de só levantar a plaquinha de politicamente correto.

Temos de dedicar a vida, de ler texto, coisas que demandam tempo.

A rede social trouxe essa questão da militância fast food. A militância crítica é algo mais difícil.

A Mídia Ninja agrega todo tipo de gente, quanto mais plural, mais visível será. Talvez fortalecer esse cenário seja por essa via.

Talvez demoremos 10 anos para coletar frutos.

Eu queria fazer uma crítica a minha própria fala. Podemos consumir coisas engraçadas. Podemos ver memes sobre signos. O documentário O Riso dos Outros mostra como podemos falar de forma leve e engraçada, mas não reforça nada opressivo.

O Brasil é o maior fabricador de memes, mas devemos refletir sobre que tipo de coisas estamos reproduzindo nisso.

Condições fisiológicas das mulheres trans?

Wagner

Concordo e tento complementar.

Essa questão do esporte está dada. O esporte não consegue sair dessa camisa binária, sempre resguardando o sexo. Há hormônios, estatura, peso… É uma questão paradoxal que ele não consegue resolver. A ciência do esporte é masculinista, foi inventada pelos homens, as mulheres foram excluídas. Isso tudo é uma balela. Essas pessoas que falam esse tipo de coisa olhando para mulheres trans buscam algum argumento para invibilizar a presença e a ação desses corpos indesejados.

Não é possível que estamos no séc. XIX e tenhamos pessoas falando em testosterona. Até a testosterona adquiriu um gênero. É inadmissível e inaceitável que FIFA e COI não pensem sobre isso.

O problema colocado aí é o corpo trans como reparação histórica, mas eles estão ainda controlando esses corpos com os hormônios.

Antes de competições, durante e depois. A redesignação sexual. Precisamos sair do operador biológico.

Precisamos sair dessa “adequação” de corpos de acordo com o que essas entidades pensam.

Por que não ver homens trans no futebol?

Bernardo

A natureza nada mais é do que uma construção humana. Portanto, todas as características fisiológicas têm um lugar e uma história no tempo. Antes do século XVIII tínhamos uma ideia de sexo único, o homem. O clitóris estava para o pênis como um órgão não desenvolvido. Muito tempo depois reconhecemos outro corpo.

Perigo de contar uma única história.

A gente está calcado num sistema de sexo e gênero que coloca as mulheres como fortes. O sistema é basicamente desigual. Trazendo essa ideia de biologia como dado, como inato é uma bobagem. Centraram na questão da testosterona justamente pela misoginia.

Uma mulher transexual tem que harmonizar seu corpo. É preciso tempo de adaptação. A Tiffany é a cara dessa natureza transfóbica. Mulher trans pode ser mais forte, mas temos de considerar muitas outras variáveis.  O esporte é uma coisa desigual. Superar esse paradigma é algo a ser feito. Quando jogar com homem cis, preciso estar número maior.

Ao longo da construção dessas entidades, o próprio COI passou a fazer testes de sangue e de cromossomos. Isso vai trazer para esses corpos outras performances. Eles buscaram adequar esses corpos que tinham taxas de hormônios diferentes ou cromossômico. Isso é prova maior de que há muitas outras questões a serem consideradas.

A forma contamos as histórias faz uma enorme diferença para lidarmos com as coisas.

Que tipo de competições queremos no mundo? Se não tiver violência, parece que não tem a sagacidade. Acho que os atletas não são máquinas.