O terceiro número de serrote traz um texto raro do pensador e crítico francês Roland Barthes sobre esportes. O ensaio, que permaneceu à margem da edição das obras completas de Barthes, chama-se “O que é o esporte” e foi escrito em 1961 para o documentário O esporte e os homens, do canadense Hubert Aquin. Trata-se de uma analise da tourada como uma tragédia em quatro atos: os passes de capa, os picadores, as banderillas e a morte do touro. Com a mesma riqueza de análise de seu livro clássico Mitologias, Barthes interpreta também fenômenos esportivos como o automobilismo, o ciclismo, o hóquei no gelo e o futebol.
As fotos tiradas durante as filmagens de outro documentário importante sobre esportes também aparecem na edição. Em 1964, Thomaz Farkas, um dos maiores fotógrafos em atividade no Brasil, produziu e foi diretor de fotografia do episódio “Subterrâneos do futebol”, que teve direção de Maurice Capovilla e fazia parte do filme de documentários Brasil verdade. O episódio foi rodado na várzea do rio Tietê, em São Paulo, em 1964, e teve como produtor o jornalista Vladimir Herzog, que, uma década depois, seria assassinado pela ditadura militar. Na impressionante foto do pânico de um goleiro diante de um pênalti, que abraça a capa e a contracapa da revista, Thomaz Farkas pode ser identificado, em cima de um tablado atrás do gol, rodando imagens do documentário.
Em final de ano que é véspera de Copa do Mundo, a serrote completa seu pacote de esportes com a entrevista concedida pelo escritor Julio Cortázar a Antonio Trilla, em 1983. Em um café de Madri, o escritor fala sobre sua paixão pelo boxe e pelo jazz e revela que não gostava de futebol, o que não deixa de ser curioso para um argentino que se identificava profundamente com as causas populares.