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Manoel Tobias (parte 2)

Equipe Ludopédio 22 de outubro de 2014

No aniversário dos 5 anos do Ludopédio o nosso entrevistado é um grande camisa 5! Estamos falando do craque do futsal o ex-jogador Manoel Tobias, o Rei do futsal. Durante 13 anos defendeu a seleção brasileira de futsal e passou por grandes clubes do Brasil (Vasco, Fluminense, Grêmio, Atlético Mineiro, Malwee etc.) e da Espanha. Foi eleito três vezes o melhor jogador do mundo.

Diretamente de Fortaleza, por telefone, Manoel Tobias concedeu a entrevista para o Ludopédio mostrando que o craque da bola também é um craque com as palavras ele contou a sua trajetória no futsal, as experiências acumuladas, passou por questões políticas em torno da modalidade etc. Então fique com a companhia de Manoel Tobias, o Rei do futsal. Boa leitura!!!

Manoel Tobias. Foto: Arquivo pessoal.
Em 2013, Manoel Tobias foi confirmado como auxiliar do novo técnico da Seleção Brasileira de Futsal. Foto: Arquivo pessoal.

 

Você falou que o futsal não se transformou em uma modalidade olímpica por questões políticas. Você poderia dar maiores informações sobre isso?

Eu acho que a questão é em relação às federações internacionais que não são unidas. Poderiam deixar essa rivalidade que existe Brasil e Espanha, Brasil e Rússia, Rússia e Espanha, Itália e Rússia e essa rivalidade tem que até existir no esporte, que é bacana, né? Essa rivalidade não pode sair da quadra. Tem que ficar dentro da quadra. E fora da quadra eu vejo que as federações não se organizam para que tudo isso aconteça. Não se organizam. O que é uma pena. Por isso que acho que é uma questão política. Se as federações se unissem, principalmente as mais potentes: Rússia, Itália, Espanha, Brasil, Portugal. Essas federações, essas cinco, se unissem realmente, em prol de um objetivo olímpico eu acho que era questão de tempo o futsal ser inserido nas Olimpíadas. O problema é que eles não tem um bom relacionamento, mas a rivalidade ultrapassa a quadra, entendeu? E, infelizmente, a gente torce para que eles possam se unir verdadeiramente, não só de “faz de conta”, mas verdadeiramente para que isso aconteça.

Pensando no processo de encerramento de sua carreira. O Falcão, de 1982, disse que o jogador de futebol morre duas vezes: quando ele aposenta e quando ele morre de fato. Como foi a aposentadoria para você, como jogador de futsal? Você se preparou para o final da carreira?

Tranquilo. Minha parada foi tranquila. Ela foi planejada. Eu parei no meu auge. Podia ter jogado mais 2, 3 anos, mas não quis. Me planejei para parar, para morar em Fortaleza. E na verdade eu nunca tive problema com a fama. Eu sempre soube que teria o início, o meio e o fim. Eu sempre fui pé no chão, porque um dia eu iria voltar a ser normal. O problema de muitos é que sente falta, né? De saudosismo, de ser reconhecido na rua, de dar um autógrafo. Eu nunca tive esse saudosismo. Eu não tenho esse saudosismo. Tenho saudade de outras coisas. Mas de ser a referência, de ser a figura, de ser… porque, graças a Deus, eu fui um atleta e sou um homem, uma pessoa totalmente realizada. Então essa saudade do futsal, de jogar não tenho. Sinceramente falando. Muitos não acreditam, mas eu não tenho mesmo.

Em 2007, quando estava para sair da Ulbra, andamos lendo que você tinha interesse em trabalhar como descobridor de talentos, logo após a sua aposentadoria. Você conseguiu levar esse projeto adiante?

Consegui. Uma das atividades que eu tenho hoje aqui em Fortaleza é esse. Eu tenho um projeto “Manoel Tobias Futsal Fest”. É um projeto que já dura 7 anos. É uma parceria que a gente fez com o SESC de Fortaleza. Tem 17 núcleos nas unidades do SESC. Tem as seleções do projeto. Categorias de base, né? Do sub-9 até o sub-20. E a gente tem descoberto alguns talentos importantíssimos. Para o futsal cearense e para o futsal brasileiro. Já tem uns 3 ou 4 alunos nossos, que uns 4 anos atrás, trabalharam com a gente e hoje jogam no campeonato paranaense e catarinense.

Ultimamente você teve uma passagem pela seleção brasileira de futsal, como membro da comissão técnica…

Com a duração de um ano e meio, onde a gente foi auxiliar técnico da seleção brasileira principal, técnico da seleção feminina adulto e técnico do sub-20. Foi uma experiência muito bacana e tivemos que ter essa mudança, porque você deve ter acompanhado, mudou o presidente. Entrou uma nova gestão, e essa nova gestão, com toda a autoridade, com toda a tranquilidade, que é de praxe no mundo do esporte, quis trabalhar com a sua comissão técnica. Isso é uma coisa normal. Eu acho bacana isto. O bom é que o futsal brasileiro não deixe de ganhar títulos, independente de quem esteja no comando. Eu sempre falei que para mim o mais importante é a seleção brasileira. Os ídolos passam. O mais importante é que a seleção brasileira continue em um caminho de vitórias, até porque comissão técnica, jogadores, muitos ídolos, enfim, ele passam pela seleção. Mas foi uma experiência bacana. Continuei coordenando esse projeto que eu te falei, que leva o meu nome, aqui no Ceará.

Manoel Tobias com a seleção feminina. Foto: Arquivo pessoal.

À frente da seleção brasileira você tinha algum projeto específico em vista? Você acha que obteve sucesso? Como você avalia?

Olha, nós contribuímos. Acho que a nossa comissão, que ficamos praticamente de janeiro de 2013 até julho agora de 2014, eu acho que teve a sua contribuição, né? Até porque nunca antes na história do futsal, o futsal foi tão valorizado. Não sei se você se lembra, teve alguns amistosos e um deles foi em São Paulo. Pela primeira vez na história a seleção brasileira feminina adulta fez a preliminar de uma seleção masculina adulta, em São Paulo. Hoje eu acho que o futsal feminino é muito conhecido. Tem algumas atletas conhecidas. Foi fundamental o trabalho. Acho que foi importante. Dentro de um ano e meio nós conseguimos ser campeão mundial feminino. O Brasil foi tetracampeão. Dentro da Espanha, lá na Espanha. Super difícil. Foi campeão. Nós fomos campeões sul-americanos na Venezuela. Campeão do Gran-Prix, Copa das Nações, enfim, foram importantes. E como eu falei, são circunstâncias que acontecem. De um presidente pedir demissão, pedir renúncia. Entrar outro presidente, que já vem com outra filosofia de trabalho. Como falei e volto a repetir, o qual eu entendo perfeitamente. Eu acho que comissão técnica você tem que trabalhar com aquelas pessoas, não é que o presidente atual não confiassem na Comissão, mas que não gostaria de trabalhar, e eu acho isso normalíssimo, entendeu? Agora o mais importante é que está registrado na história que o Manoel Tobias. Aí eu vou falar um pouquinho de mim: além de ser campeão como jogador do Mundial, campeão de vários torneios. Eu consegui também ter esse prazer de ser campeão como técnico. Então, eu posso dizer que eu fui vencedor também nessa curta carreira de técnico, de auxiliar, de um ano e seis meses. E eu fico muito feliz também por isso. São coisas que ninguém consegue mais tirar. Está na história lá a minha participação na Seleção Brasileira. Agora em uma área totalmente diferente. Não mais como jogador, mas na área de comissão técnica.


Em junho aconteceu a realização da Copa do Mundo de futebol de campo. Como você avalia a realização desse evento no Brasil, se você tem alguma opinião sobre isso. E, depois da derrota do Brasil diante da Alemanha, por 7 a 1, no campo estamos ouvindo uma série de propostas de reformulação desse futebol. Isso afeta o futsal? Tem alguma relação com o futsal? Ou são práticas esportivas independentes que eventualmente não se influenciariam?

Primeiramente sobre a Copa do Mundo. Eu achei, a título de organização, da área técnica, vamos dizer assim, foi fantástico. Fazia tempo que a gente não via uma Copa do Mundo com tantos gols, tantas jogadas bonitas, uma Copa do Mundo muito qualificada tecnicamente. Isso no campo técnico, na organização, nas arenas. Isso tudo internamente. Externamente todo mundo sabe que deixou a desejar, muitas coisas que não deram tempo de construir no entorno das arenas. Quem foi assistir aos jogos viu e passou, realmente, esse aperto. A Copa do Mundo, sem dúvida, na parte técnica não só de jogadores de nome, mas daqueles jogadores medianos realmente surpreendeu. Eu acho que estatisticamente falando foi a Copa que aconteceu mais gols de todos os tempos, né? E nós fomos premiados em ver uma Holanda ganhando de 5 a 2 de uma Espanha, uma Itália sendo eliminada daquela forma pelo Uruguai. E para nós foi uma decepção muito grande pela forma como a gente perdeu para a Alemanha, ninguém imaginava principalmente depois que o Brasil foi campeão do jeito que foi, um ano antes, da Copa das Confederações. O nosso sonho como torcedor era de jogar bonito e ganhar, mas deu tudo errado. Mas é claro, sobre o legado está surtindo algum efeito, equipes tentando se organizar. Eu não posso falar muito em termos de presidência, como é que se rege, como é que se conduz essa gestão do futebol porque é uma coisa totalmente diferente. Mas a gente sabe que essa “derrota” com certeza já surtiu efeito. Já teve a troca de Comissão Técnica, filosofia, modo de pensar diferente. E é isso mesmo, o Brasil tem que se reciclar. Difícil não é chegar, difícil é se manter. É preciso se reciclar. O Dunga está tentando fazer uma coisa totalmente diferente. E quanto a questão do futsal acho que não influi porque é totalmente diferente. O futsal é diferente do futebol apesar do futsal ser derivado do futebol. O universo do futsal é infinitamente menor do que o do futebol de campo. Eu falo infelizmente porque o futsal poderia estar no nível de mídia, de reconhecimento muito melhor do que está. Mas é aquilo, o futebol é o que rege. É o esporte mais praticado no mundo, no entorno do futebol existem coisas grandiosas, mas espero que nossos comandantes do futebol tenham aprendido a lição e, na verdade, já se iniciou esse ciclo para 2018. E que a gente tenha aprendido mesmo!

Ney Pereira e Manoel Tobias na seleção brasileira de futsal. Foto: Arquivo pessoal.

Vimos no seu site que, por diversas vezes, você se refere a sua condição de Evangélico. Por isso, gostaríamos de saber se você vê alguma influência dessa religião na sua carreira ou até teu posicionamento político. Como que você vivencia isso, como a religião ela impacta na tua carreira e até mesmo no teu posicionamento atual?

A vida espiritual é importantíssima e tem que existir. Todo homem necessita de um socorro espiritual. Agora vou dizer independente disso, nós temos que fazer a nossa parte. Os gols que Deus me abençoou, as corridas que eu fazia, os treinamentos que eu realizava já pensou se eu não fizesse e ficasse só pedindo a Deus? Não ia ter nada porque Deus é justo, é justiça. Agora, claro que na parte espiritual é importante para você ter serenidade, ter tranquilidade, ter fé. E às vezes um esportista quer quebrar recordes, quebrar barreiras, superação, um dia você está em cima no outro embaixo e você tem que raciocinar rápido. E claro que a vida espiritual é importantíssima, é fundamental para que te auxilie, te ajude a superar todas as dificuldades. E o mais importante é você dizer: “eu sou evangélico, mas não só da boca para fora. Dizer realmente e tentar praticar”. Nós temos direito a ter nossas crenças, mas o mais importante da parte espiritual, do auxílio espiritual é você fazer a sua parte. Ser um bom profissional, ter um bom marido, um filho, ser uma pessoa de caráter, tentar ter relacionamento com todos, ter paz com todos, tentar ajudar as pessoas no momento certo. Só de você fazer isso, é claro, atrai coisas positivas e espiritualmente falando isso me ajudou demais, me ajudou nos momentos de angústia e de pressão. Se você lê uma bíblia, um livro espiritual ou evangélico te traz uma paz por mais que você saiba que vai ter que batalhar, vai ter que buscar. Mas você faz isso com toda tranquilidade que é o mais importante juntamente com a paz de espírito. E só quem pode fazer isso aí com certeza, eu digo que não é nenhuma crença ou religião é realmente o relacionamento que você tem que ter com a pessoa de Deus através de Jesus Cristo.

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