O objetivo do presente trabalho é estudar, a partir do escrito de cronistas e memorialistas dos anos 1950, como o desenvolvimento do futebol expressou o contraditório processo de inscrição da sociedade brasileira na modernidade, aberta pela expansão capitalista do momento pós-guerra. Esses cronistas, muitas vezes, construíram a imagem dramatizada da angústia nacional em superar o atraso, em vencer o subdesenvolvimento para provar que eram um país civilizado. O futebol se apresenta, assim, como uma evidência do “caráter nacional brasileiro”. Desse modo, buscou-se perceber como os cronistas e memorialistas representaram as derrotas nas Copas do Mundo de 1950 e 1954, bem como a vitória brasileira em 1958. Constatou-se que os cronistas do Jornal dos Sports seguiam o ideal estabelecido por Mario Filho, na época dono do periódico. De acordo com a visão desse literato, era fundamental a obtenção do título para que ocorresse a afirmação das pessoas de cor na sociedade brasileira, algo que era apontado como um dos principais dilemas da modernidade nacional. Ao analisar a documentação, verificou-se que as crônicas eram eivadas de valores passionais, criando representações variadas sobre os acontecimentos, estratégia utilizada para que os literatos pudessem “controlar” os sentimentos dos torcedores – ora através do medo, ora através da expectativa e confiança no futuro e, em outros momentos, através do resgate de pontos positivos, mesmo diante de situações adversas. Tal situação gerou a tensão de um discurso que buscava incorporar elementos emergentes e modernizadores, mas que não conseguiu abandonar os valores passionais. Na visão dos literatos, a vitória em 1958 foi decorrente do amadurecimento do povo brasileiro, que conseguiu se libertar do sentimento de inferioridade que o acompanhava. Por isso, essa vitória apresentou um grande significado simbólico, já que permitiu aos cronistas afirmarem que o Brasil não possuía apenas os melhores jogadores, mas também um povo vibrante e promissor, representado por aqueles atletas, que sintetizavam a identidade do país de JK.
Palavras-chave: Futebol; modernidade; subdesenvolvimento; razão; paixão.