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Celso Unzelte (parte 2)

Equipe Ludopédio 15 de setembro de 2010

Louco por futebol, Celso Unzelte é antes de tudo mais um do “bando de loucos”. Jornalista e pesquisador, Celso é uma autoridade quando o Sport Club Corinthians Paulista está em debate. Nesta entrevista, Celso Unzelte conta um pouco sobre a sua formação como jornalista, seu trabalho como pesquisador e sobre sua paixão pelo Timão.

Celso Unzelte, começou no jornalismo esportivo em 1990 na Revista Placar.
Celso Unzelte, começou no jornalismo esportivo em 1990 na Revista Placar.

São 100 anos do Sport Club Corinthians Paulista, seu time de coração. Há uma grande exploração do setor de marketing do clube para com esse momento. Você acredita que é possível explorar a memória através do marketing?

A memória é uma das mais poderosas armas do marketing. Mas essa exploração tem de ser feita logo, porque cada vez menos gente viu, por exemplo, o Rivellino jogando, e o conceito atual de ídolos efêmeros, como Tevez ou Ronaldo, não permite que essa história se renove com a mesma identificação que os ídolos tinham antes.

Quais foram, para você, os períodos e títulos mais importantes da história corintiana? Qual foi o seu momento mais marcante, como torcedor, em relação ao Sport Club Corinthians Paulista?

Costumo dizer que cada geração tem seu momento mais importante. Os pioneiros, que já foram, costumavam apontar o título paulista no ano do Centenário da Independência, em 1922. A geração do meu pai não troca o título do IV Centenário de São Paulo, em 1954, por nada. E com razão: se o mundo para eles era São Paulo, então aquela conquista equivaleu mesmo a um mundial. Já a minha geração, na faixa dos 40 anos, idolatra o título de campeão paulista de 1977, enquanto os mais jovens devem ter um fascínio maior pelo Mundial de 2000. Eu, particularmente, vivenciei com maior intensidade como torcedor o período da Democracia Corinthiana, de 1982 a 1984.

Como explicar o incrível crescimento da torcida do Corinthians durante o jejum de 23 anos? É algo a ser entendido somente dentro do cenário futebolístico ou temos que pensar contextualmente, ou seja, atrelando a fatores sociais, como o aumento da população, a migração nordestina e o crescimento industrial da cidade?

Esses fatores sociais de fato ajudaram no crescimento da torcida, mas não só do Corinthians como também do Santos. Quem torcia para vencer virava santista, quem se identificava com o sofrimento daqueles anos virava corintiano. Apesar do futebol maravilhoso apresentado pelo Santos de Pelé, o Corinthians, justamente por razões opostas, era tão e às vezes mais comentado naquela época quando o assunto era futebol. O fato de a Fiel ter crescido tanto foi realmente um fenômeno que ultrapassa o campo meramente esportivo.

Embora não seja possível afirmar que a jocosidade sobre a sexualidade sãopaulina foi inventada pelo jogador Vampeta em 2003, pode-se dizer que ele a reforçou decisivamente. Do mesmo modo que é possível identificar um evento catalisador desta jocosidade, é possível apontar as razões para a fixação do Corinthians pela conquista da Libertadores? É algo recente (da década de 1990 para cá) ou sempre existiu?

Não creio que o caso do Vampeta tenha a ver com a obsessão pela Libertadores. A Libertadores é apenas o desafio da vez. E o Corinthians já teve vários outros desafios com vários outros nomes ao longo de sua história: primeiro a reconquista do Paulistão depois de mais de 20 anos, depois a busca do primeiro título nacional, em 1990. O desafio da Libertadores é apenas um desses, inserido em um contexto de globalização que não existia há alguns anos. É errado dizer que o Corinthians sonha com uma Libertadores há 100 anos, até porque essa competição só tem 50.

Fazendo um exercício de futurologia, como você acha que serão os próximos 100 anos do Corinthians?

A grande questão é explorar o potencial que o clube tem. O Corinthians lembra muito o próprio Brasil: é grande, mas tem potencial para ser muito maior. Se nos próximos 100 anos o Corinthians tiver um grande estádio e um maior reconhecimento internacional creio que a missão estará cumprida.

Quais são seus projetos atuais no mundo das pesquisas sobre o futebol?

Estou envolvido em um livro sobre o Centenário do Santos, em 2012, com o amigo e jornalista Odir Cunha. Além disso, ainda em 2010, prometo a reedição do Almanaque do Timão, dessa vez publicado e distribuído por minha própria conta e risco.

O que é possível apreender da primeira Copa no continente africano? Foi uma Copa muito diferente das outras? O que você poderia realçar e o que te chamou atenção?

Que deve-se baixar o nível de exigência quando a Copa não é na Europa, nos Estados Unidos ou no Japão. A Fifa já parece ciente disso, e o principal beneficiado será o Brasil. Na prática, não acho que foi uma Copa muito diferente das demais, tecnicamente esteve até entre as mais fracas.

Qual o cenário pode ser delineado, desde já, para a Copa do Mundo de 2014 no Brasil? O país tem estrutura para receber um evento deste porte?

Infelizmente não tem estrutura e agora tem cada vez menos tempo para consegui-la. Mas acredito que de uma forma ou de outra a Copa vai acabar saindo.

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