O objetivo desta tese foi verificar como ocorreu o processo de institucionalização política dos interesses organizados do futebol no Brasil e na Argentina com base no neoinstitucionalismo histórico e no modelo de causalidade social dependente de trajetória. Para isso, realizamos análise bibliográfica e documental sobre o período 1930-2020 utilizando o método Comparative Process Tracing (CPT). As informações foram organizadas em conjunturas críticas e pontos focais, e a análise foi feita intra-casos e entre-casos. Para o Brasil, realizamos entrevistas semiestruturadas com o ex-deputado Silvio Torres e o jornalista Juca Kfouri. As limitações impostas pela pandemia de Covid19 impossibilitaram o contato para as entrevistas com políticos e jornalistas argentinos. As entrevistas permitiram maior detalhamento e a comparação da imagem produzida pela pesquisa com as impressões de observadores qualificados do fenômeno analisado, mas não sustentam isoladamente inferências e conclusões. Argumentamos que um processo de institucionalização iniciado antes do sistema partidário eleva os custos para a ruptura da trajetória, tendendo a mudanças institucionais por camada. Como resultado, identificamos que o conjunto de entidades futebolísticas se configurou instituição política informal nos dois países. A entrada dos interesses organizados do futebol na agenda do Estado está relacionada à crise do liberalismo. No entanto, há especificidades: a disputa entre dirigentes do futebol brasileiro e mobilização trabalhistas dos jogadores argentinos provocaram conflitos considerados deletérios. O arranjo concêntrico argentino potencializou os efeitos do contexto da região metropolitana portenha, trazendo para os assuntos do futebol a influência dos conflitos urbanos; o arranjo policêntrico brasileiro deslocou os conflitos para as disputas intra-elites. Assim, a entrada do Estado em cena ocorre na mesma época sob justificativa diferentes e geraram consequências presentes até os dias atuais: a relativa importância dos campeonatos e dos clássicos regionais no Brasil; a capacidade de mobilização dos jogadores argentinos e a concentração dos principais clubes em Buenos Aires e arredores. Outro ponto distintivo é o desenho institucional: o Federalismo institui relações intergovernamentais que, junto à capacidade do sistema partidário canalizar demandas, impactam na forma como os interesses são organizados e inseridos no sistema político. No Brasil, isso resultou em estratégias para atuação no Legislativo no período pós-redemocratização – vide a formação da “bancada da bola”. Na Argentina, os interesses dependem da participação de líderes provinciais e da atuação sobre o Executivo Federal.
Palavras-chave: Brasil; Argentina; Institucionalismo Histórico; Futebol; Sistema
Político.