Esta tese analisa a memória do futebol brasileiro a partir das narrativas produzidas pela imprensa esportiva, dos seus conceitos, dos processos de esquecimento e da sua função no futebol, enquanto uma das instituições mantenedoras da identidade nacional. Dialoga com as literaturas que pesquisam esta questão e investiga as narrativas jornalísticas, especificamente no evento da Copa do Mundo de 1970, pela sua importância e como um marco de referência no futebol, comparando-as com os conteúdos das narrativas atuais das Copas de 1998 e 2002. Acessoriamente realiza entrevistas com os integrantes da comissão técnica e jogadores da seleção de 1970, com especialistas do futebol e com os espectadores do evento, buscando o aprofundamento destas questões. A partir destes pressupostos, levantamos como hipótese que, ao serem narrados pela imprensa, os eventos sobre a seleção tricampeã de 70, sofreram um processo de seleção e edição, ajustados às necessidades de afirmação da identidade do “futebol-arte”, cujas imagens e categorias se confundem com a própria identidade do brasileiro. Apontamos também que o processo de treinamento físico e que a elaboração de uma estratégia de adaptação da seleção ou do time ou dos jogadores à altitude foram importantes para a obtenção da conquista em 70. Entretanto, tais estratégias vinculadas às imagens de racionalização e de ciência foram secundarizadas, por não se ajustarem às imagens de “arte” e de “genialidade” do jogador brasileiro. Enfim afirmamos que a seleção de 70, nas narrativas jornalísticas do presente, torna-se um mito para cumprir seu papel de exemplaridade heróica e para suprir as necessidades de afirmação da identidade de um futebol que apesar de globalizado, continua a ser parte constituinte da identidade do brasileiro.
Palavras-chaves: futebol; memória; Copa de 70; imprensa; identidade