Anjo ou demônio

Por duas décadas, como atleta de ponta, Renato Gaúcho entrou sem pedir licença no doce lar de cada um de nós. Fosse em manchete de primeira página, capa de revista, televisão dia e noite, até em novela das nove o homem já deu as caras. Pois chegou o momento do Portaluppi jogador ganhar a eternidade, a imortalidade, através das letras. Anjo ou Demônio – a polêmica trajetória de Renato Gaúcho é mais do que um livro de futebol. É um thriller de ação, uma aventura viciante, em que cada frase contém um turbilhão de informações, em que a narrativa cativa o leitor pela agradável falta de linearidade, por seus cortes tipo roteiro de filme. E pelo personagem fascinante. Fascinante e o melhor, contemporâneo. Ou quem não se lembra do churrasco com Gaúcho, às vésperas da decisão do Brasileiro? E quando Telê o cortou do Mundial do México? A barrigada? Parece que foi ontem. De pesquisa e apuração, foram necessários 12 anos para que germinasse uma obra séria, uma leitura isenta o suficiente para percorrer com credibilidade por entre a ascensão social do menino pobre do interior gaúcho e a quase inevitável decadência do ídolo. Tudo com o tempero sensual que o personagem sugere. Nesse convite a viajar pelos bastidores de um universo que interessa muito a tricolores do Sul e do Rio, rubro-negros, cruzeirenses e também á curiosidade mórbida dos alvinegros mineiro e carioca, e tifffosis da Roma, um jogging por tudo de relevante que ocorreu no cenário brasileiro ao longo das décadas de 80 e 90. Num país pentacampeão mundial de futebol, em que, infelizmente, o hábito de leitura é exceção à regra, fez bem Marcos Eduardo Neves em despertar um sentimento tão intenso e prazeroso como a leitura, sob a forma da união com o mais apaixonante dos assuntos, o futebol, verbete da autoestima e símbolo universal da potencialidade nacional. É um livro polêmico? Não, polêmico é o protagonista do livro. É livro para quem gosta de futebol, fato. Mas acima de tudo, é livro para quem gosta de ler.