O Brasil sediou um dos principais eventos esportivos mundiais em 2014: a Copa do Mundo, realizada pela FIFA – Fédération Internacionale de Football Association. Muitas transformações de cunho social, político, cultural e econômico passaram a ser associadas ao megaevento num sistema de apoio logístico. Esse processo ocorreu em meio ao que Agambem (2004) denomina de Estado de Exceção e gera a cidade de exceção, quando os investimentos em infraestrutura encontram lacunas na própria legislação urbana brasileira ao serem mediados por interesses que passam pelo setor imobiliário, utilizando-se de recursos públicos. O evento movimentou altos recursos financeiros, em especial aqueles direcionados a obras que foram pensadas no momento da Copa do Mundo, e que fogem aos interesses de ordem pública, atendendo aos interesses de grupos políticos e empresariais, utilizando-se de um modelo de governança urbana que tem sido instalado nos países que sediam grandes eventos esportivos. Esta tese se preocupa em compreender o processo de reprodução do espaço urbano levando-se em consideração as remoções urbanas que antecederam a realização de megaeventos no Brasil analisando as transformações urbanas associadas às mudanças do espaço público e privado e as intervenções socioambientais que ocorreram em virtude da realização da Copa do Mundo em Cuiabá. Para demonstrar esse sistema, que envolve as mudanças urbanas em fase de preparação e desenvolvimento da Copa do Mundo em Cuiabá-MT, esta análise parte de uma abordagem qualitativa (MINAYO;GOMES, 2012). A sequência metodológica se inicia com os levantamentos secundários sobre a reestruturação urbana, os investimentos públicos e privados e as informações sobre a ação dos agentes modificadores do espaço urbano. As hipóteses foram corroboradas a partir do método, no sentido de fazer com que a pesquisa esteja diante de processos analíticos que compreendam a ação dos investimentos públicos e privados para a realização da Copa do Mundo em Cuiabá. No que tange ao processo de compreensão das intervenções socioambientais, será enfatizado o processo de ocupação das margens do Córrego do Barbado, marcado pela segregação socioespacial, pela população periférica desde a década de 1970. Atualmente vem sendo apropriada por grupos imobiliários que agem nacionalmente na construção de edifícios voltados para o público de alto poder aquisitivo. A dicotomia dessa relação está marcada pelo conflito de interesses que diferencia ocupações existentes na mesma área em virtude do processo de valorização da terra urbana e que, devido à Copa do Mundo, cogitou-se remover apenas as famílias de baixo poder aquisitivo que historicamente vivem em Área de Preservação Permanente (APP), passando a ter o seu direito à moradia questionado em virtude da realização do Megaevento. Sabem-se das relações conflitantes do processo de organização da Copa do Mundo, das disputas políticas, dos jogos de interesses, porém torna-se necessário refletir sobre a vida nos ambientes urbanos, sobre as pessoas que estão muito aquém dessa discussão, mas que estão diretamente ligadas ao resultado que as decisões político-administrativas trazem à cidade.
Palavras-chave: 1. Cuiabá; 2. Copa do Mundo; 3. Periferia.