A partir de um vasto trabalho de pesquisa de campo no seio de uma rede de práticas culturais jovens marginalizadas especialmente na cidade do Rio de Janeiro, embora não somente nela, circulando entre a pichação, as Torcidas Organizadas, os Bailes Funk de “Corredor” e as turmas de Bate-Bolas – uma espécie de constelação maldita das ruas cariocas –, emergiram materiais empíricos como expressões, gestos, narrativas, etnografias, objetos, fotos e vídeos.
Esta obra, resultado de uma tese de doutoramento, sugere a potência de tais cotidianos na performatização, mais ou menos inconsciente, de resistências às categorias tradicionais da epistemologia moderna, tais como a consciência, a boa razão, o risco zero, a vida “bem calculada”, enfim, todo o apanágio do reino da humanidade esclarecida. O texto dá especial atenção, também, aos desafios que essas estéticas lançam às amarras gramaticais da linguagem que, repousada sobre sua estrutura designativa, privilegiou um sistema interpretativo de “representação” e lançou a noção de “presença” à marginalidade de nossa subjetividade. Para tanto, é preciso entender esses cotidianos como vidas que, fazendo bom uso de seus enigmas, balançam a dinastia do pensamento dirigido.