Sob o pretexto da paixão pelo futebol, Nelson Rodrigues e Eduardo Galeano abordaram importantes questões sociais – não apenas do contexto brasileiro e uruguaio, mas também da conjuntura latino-americana. Esta pesquisa, cujo objeto são as produções literárias esportivas destes dois renomados autores, remete a uma reflexão sobre o papel do futebol na constituição das identidades nacionais. A partir de satisfatórios resultados de suas seleções nacionais no esporte, Rodrigues e Galeano procuram construir um imaginário de nação hegemônica e vitoriosa, empenhando-se em subverter a lógica econômica mundial que posiciona seus países em uma categoria de inferioridade e subdesenvolvimento. Para construir este discurso, os autores desenvolvem uma teoria de unanimidade nacional em torno do futebol, constantemente empregando uma autoafirmação em oposição a alteridades – em geral, ilustradas em nações europeias. Entretanto, as produções aqui analisadas também prenunciam os sinais de um novo contexto, caracterizado pelo deslocamento do futebol de um campo identitário para um campo mercadológico. Relacionamos este fenômeno às mudanças em torno da comunidade nacional e do pensamento sobre a identidade que, nas teorias de Stuart Hall e Zygmunt Bauman, apontam para um sujeito descentrado e para a complexidade de uma abordagem da noção de identidade nacional na contemporaneidade.
Palavras-chave: Nelson Rodrigues. Eduardo Galeano. Futebol. Alteridade. Identidade Nacional.