No Brasil, as políticas públicas de esportes e lazer tem sido orientadas, desde a realização dos jogos Pan-americanos de 2007, pelo objetivo explícito de projetar internacionalmente o país, nos âmbitos, político e econômico. O país sediou, no intervalo alargado de uma década os maiores eventos esportivos da terra: Jogos Militares (2011), Copa das Confederações (2013), Copa Do Mundo F.I.F.A. de futebol (2014), Copa América (2015) e Jogos Olímpicos (2016). O argumento adotado pelos gestores, dos diferentes subníveis de governo, explicitado nos documentos de candidatura do Ministério dos Esportes, para legitimar a assunção de uma agenda demasiadamente comprometida com esportes era a de que o legado social dos megaeventos esportivos possibilitaria uma modernização da infraestrutura, requalificação dos serviços, mobilização social, descentralização econômica, estímulo às múltiplas formas de inovação, compromisso com o meio-ambiente e sustentabilidade, aprimoramento da transparência na gestão pública e disseminação da prática esportiva. Tomando este último aspecto como principal referência, o objetivo deste estudo foi verificar se, e em que medida, as doze cidades-sede brasileiras que receberam a Copa do Mundo de Futebol F.I.F.A. planejaram programas de democratização esportiva como legado do megaevento. Para a realização do estudo, foram coletados, analisados e discutidos os dados reunidos entre os anos de 2012-2016 em um projeto nacional, Cidades da Copa, de observação, proposição e monitoramento de documentos elaborados para o legado da copa, a partir da realização de um programa capitaneado por uma instituição esportiva do terceiro-setor, financiado com dinheiro público e viabilizado por meio de renúncia fiscal do setor privado, através da Lei de Incentivo ao Esporte. Realizaram-se encontros com todos os secretários de esportes das cidades-sede e demais setores da sociedade. Comparam-se as matrizes de responsabilidades e os planos de legado produzidos no Cidades da Copa. A análise pormenorizada de um conjunto de indicadores acordados pelos gestores públicos, das cidades-sede, relacionados ao legado esportivo, quais sejam, investimentos em infraestrutura, qualificação profissional para a universalização do acesso ao esporte, redimensionamento de políticas de incentivo ao esporte social em detrimento do esporte elitizado e de rendimento, desenvolvimento de programas de universalização do acesso ao esporte no ambiente escolar, demonstrou que nenhuma cidade-sede da Copa do Mundo prospectou quaisquer ações efetivas para o legado esportivo. Os planos de ação desenvolvidos não garantiam a representatividade do cabedal diversificado de interesse dos atores esportivos de cada localidade. Os gestores do esporte nos múltiplos subníveis de governo demonstraram pouco ou nenhum comprometimento com o legado esportivo. Os planos elaborados sequer passaram a fazer parte da agenda política de esportes das cidades-sede. O Projeto Cidades da Copa, com resultados obsoletos, poderia nunca ter sido realizado e se os investimentos que consumiu fossem direcionados ao atendimento direto de crianças e jovens em programas esportivos de longo prazo diminuiria a contradição quanto ao discurso falacioso de legado esportivo do megaevento e a efetivação de políticas públicas de universalização de acesso ao esporte.