O objetivo da presente pesquisa é analisar as abordagens futebolísticas nos roteiros, contos e crônicas de Nelson Rodrigues, entre 1951 e 1970, a partir de uma perspectiva teórica psicanalítica – haja vista os traumas, recalques e obsessões observáveis em suas obras. Se Nelson Rodrigues, independentemente do gênero que escrevia, mantinha-se na intersecção entre o factual e o fictício, pode-se constatar que, assim como a dramaticidade típica do teatro rodrigueano adentra a crônica esportiva, o futebol – enquanto tema do cotidiano – também ocupou um espaço na ficção, representada pelos contos e roteiros. Nesse sentido, quais as conjunções utilizadas por Nelson Rodrigues, ao retratar o futebol nos roteiros, contos e crônicas do período entre 1951 e 1970? O esporte nos roteiros e contos é o mesmo dramatizado nas crônicas ou assume papel preponderante na psicologização de seus personagens? E, em contrapartida, esse ponto de vista psicológico acerca dos personagens adentra a crônica esportiva? A fim de solucionar as questões levantadas previamente, fez-se necessário o uso da análise literária, proposta de Antonio Candido (1992, 2000), que considera tanto as questões do texto por si só, quanto os aspectos do contexto que, inevitavelmente, permeiam a obra. Junto a isso, contou-se ainda com alguns conceitos psicanalíticos propostos por Sigmund Freud. Com base na análise das fontes, constatou-se que, se na crônica esportiva, Nelson Rodrigues se utilizava da psicologia para falar do complexo de vira-latas e do bem-estar do atleta, que se sentia inferior diante de estrangeiro, nos contos e roteiros o autor estabelece o futebol como elemento de sublimação das repressões cotidianas. A trama teatral, que também se reflete no conto, atua como um meio de mostrar, de maneira prática, sob a forma de exemplo, os sentimentos em torno do esporte, expostos na crônica.