Na presente pesquisa, a partir do referencial teórico da Análise de Discurso de tradição pecheuxtiana, questiona-se o funcionamento do futebol em nossa sociedade, seus mecanismos ideológicos e seu papel na (re)produção de determinados sentidos e estereótipos, ao mesmo tempo em que se busca compreender o modo como ele interpela os sujeitos torcedores. No trabalho, assume-se o entendimento de que o futebol excede a prática esportiva e a forma de entretenimento, funcionando como um processo que pode forjar tensões entre instâncias distintas, capaz de instaurar discursos que fazem funcionar o motor da ideologia. Trata-se, em especial, dos dois clubes predominantes que compõem o clássico da cidade de Pelotas, situada no interior sul do estado do Rio Grande do Sul (RS), nominados Esporte Clube Pelotas e Grêmio Esportivo Brasil. Nesse viés, o tema do estudo refere-se ao futebol enquanto um potente dispositivo de interpelação, podendo até funcionar similarmente como um aparelho de estado conforme preceitos althusserianos dado seu caráter ideológico na reprodução das condições de produção. Assim, a problemática que fomenta a presente investigação diz respeito à relação existente entre futebol e ideologia, e como tal relação constitui os sujeitos tatuados torcedores dos dois clubes futebolísticos pelotenses. Objetivase, nesse caso, analisar os discursos, materializados na/pela língua e na/pela tatuagem, (re)produzidos por esses sujeitos na tentativa de se compreender o funcionamento da ideologia e do inconsciente no contexto futebolístico da cidade. O arquivo da pesquisa abrange, portanto, depoimentos de sujeitos tatuados torcedores, homens e mulheres, a respeito da sua relação com seu time, e também, de sua relação com o time adversário, somado a fotografias de tatuagens que esses sujeitos materializaram em seus corpos, alusivas a um dos dois times em questão. Trabalha-se, precisamente, com a língua e com o corpo-tatuado como formas materiais de subjetivação e textualização discursiva e, dessa forma, entende-se que se o sujeito se identifica com a língua para poder dizer, ele também se identifica com o seu corpo para significar no espaço em que vive. Logo, compreende-se que é na materialização do discurso, por meio de sua formulação e textualização que a memória se atualiza. Materializado, o discurso circula e movimenta-se, e nesse trajeto dos dizeres, é preciso observar o funcionamento do que é produzido, repetido, apagado e/ou renovado. Em outras palavras, ao analisar as entrevistas dos sujeitos tatuados torcedores áureo-cerúleo e rubro-negro e as tatuagens futebolísticas, deseja-se entender o que foi dito, o que se repete, o que se apaga, o que rompe, o que renova. Para tanto, observam-se dois funcionamentos discursivos selecionados na leitura do arquivo, sejam eles: o funcionamento da formação discursiva e o funcionamento de sobredeterminação. Observada a identificação dos sujeitos torcedores com seu clube, acredita-se que o estudo dos processos de subjetivação que os mesmos se utilizam para significar possibilita a compreensão do funcionamento ideológico da própria sociedade.
Palavras-chave: Futebol. Ideologia. Língua. Tatuagem. Sentidos.