Esta tese investiga o estilo no futebol como fenômeno de significação, argumentando que o comentário ao jogo funciona como tradução do que se vê em campo. Entendemos que os estilos, em geral associados a nações, só existem pelo olhar subjetivo coletivo dos observadores (comentaristas e aficionados, mas também, por reverberação, da parcela não torcedora de uma comunidade), os quais traduzem o estilo a cada partida, a cada acontecimento futebolístico na história. Essas práticas discursivas, por sua vez, se concretizam no que chamamos narrativas do estilo – produto da tradução do que Dominique Maingueneau classifica como o “discurso primeiro” do futebol no “discurso segundo” dos observadores, acumulado sistematicamente na língua “literária” que, segundo Benedict Anderson, reúne “comunidades imaginadas” nacionais em torno de jornais (mas este trabalho considera a hipótese de que outras mídias também sirvam como esse ponto de encontro) e romances, ou seja, no chão comum das narrativas impressas. Dois estudos de caso ilustram nossa argumentação teórica, ambos baseados na análise de textos de jornais: a partir de relatos sobre turnês de clubes britânicos a Buenos Aires nos anos 1920, investigamos a construção do que Richard Giulianotti conceitua como uma oposição “sintática” entre as comunidades nacionais de Inglaterra e Argentina; num segundo momento, buscamos as variações “semânticas”, ainda nos termos de Giulianotti, envolvendo comunidades locais/regionais em sua relação com a nação – em foco, o Arsenal de Londres e, novamente, a “comunidade imaginada” inglesa. O futebol, concluímos, só ganha sentido pleno numa sequência narrativa midiática e enraizada historicamente. As narrativas do estilo constroem um enredo comum – espécie de folhetim permanente e amálgama das identidades comunitárias. Por essa tendência à “folhetinização”, tanto na “forma” (simbiose com o veículo, a mídia) quanto no “conteúdo” (o acontecimento como matéria-prima fundamental), o futebol, sugerimos por fim, está para a cultura dos modernos esportes de competição como o romance – também derivado do folhetim – para a cultura literária, ambos como linguagens traduzíveis em narrativas e estilos.