Charles Miller foi o introdutor e difusor do futebol no Brasil. Essa é a informação recorrente na mídia. Contudo, a cada dia, novas pesquisas demonstram que o “esporte bretão” foi introduzido e difundido pelo território brasileiro de forma diferente do que muitos afirmam.
Nos fins do século XIX e início do século XX, o Brasil estava muito longe de ser um país integrado. Os estados tinham poucos contatos uns com os outros, vivendo isolados por vários motivos. Essa configuração territorial impediu que o futebol fosse introduzido e difundido em nosso território por um único pólo, como aconteceu, por exemplo, em outros países sul-americanos. Assim, no Brasil o futebol foi introduzido e difundido por vários atores e em ritmos diferentes, independentemente do que acontecia ao futebol no eixo Rio-São Paulo.
O livro de Gaspar Vieira Neto, “Memórias do esporte bretão caboclo – os primórdios do futebol no Amazonas” conta uma parte dessa história, a introdução e difusão do futebol no Amazonas entre 1903 e 1914, período que antecedeu a disputa do primeiro Campeonato Amazonense de Futebol, vencido pelo Manáos Athletic Club, um clube fundado por ingleses.
“Memórias do esporte bretão caboclo” foi lançado apenas no formato digital e em mais de 600 páginas, várias delas com informações inéditas, traça um panorama da vida em Manaus, a “Paris dos Trópicos”, no início do século XX, quando vivia o auge da exportação da borracha e se tornou uma cidade moderna com todos os seus luxos e também suas misérias. Mesmo tendo como tema principal o futebol, o autor não deixou de lado outros esportes praticados na cidade naquele período, tais como o turfe, o ciclismo, o remos, o tiro e até o beisebol.
No período abordado pelo livro, o autor encontrou dezenas clubes criados para a prática do futebol, começando com o primeiro clube fundado no estado, o Racing Club Amazonense, e passando por muitos outros, como o Sport Club Foot-Ball Manáos, Brasil Foot-ball Club, Reserve Club, Guarany Foot-ball Club, Internacional Team e até o primeiro Vasco da Gama que jogou futebol no Brasil, inclusive com a “cruz de malta” na camisa. De todos os 50 clubes encontrados pela pesquisa, apenas dois sobreviveram até a atualidade, os tradicionais Nacional e Rio Negro, o maiores campeões do estado.
Gaspar Vieira Neto é amazonense, formado em História pela Universidade Federal do Amazonas e professor da rede municipal de ensino de Manaus. Ele pesquisou durante cinco anos (2011 a 2016) nos jornais arquivados pelo Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas. O livro apresenta muitos trechos originais dos jornais e também imagens das equipes do período, algumas inéditas.