Muitas cidades em uma só

Desde a época do despontamento como capital imperial, escritores, cronistas, cineastas, sociólogos e historiadores vêm escolhendo o Rio de Janeiro como foco constante dos seus trabalhos. Nesses últimos anos, a cidade passa por um momento de intensa recepção dos megaeventos. Em 2013, foi sede da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) organizada pela Igreja Católica. Já em 2014, tornou-se um espaço chave para a realização dos jogos da Copa do Mundo de futebol, tendo sido o Rio escolhido para acolher a tão esperada partida final. E, atualmente, acabou de sediar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de Verão de 2016. Arrola-se, aqui, então, uma série de discursos midiáticos que posicionam como questão central a representação da paisagem durante o recorte de 2009-2014, momento chave para a consolidação de uma nova interpretação acerca do urbano carioca. Desta forma, a tese é dividida em três unidades principais. A primeira aborda o ordenamento dos discursos oficiais, perscrutando o modelo de cidade olímpica/cartão postal através da leitura do Dossiê oficial da Candidatura Olímpica e os vídeos institucionais associados a esta dirigido por Fernando Meirelles. Por sua vez, a segunda unidade aborda o projeto transmídia Rio eu te amo , estudando o movimento Rio eu te amo , articulação entre o branding urbano e a produção das mídias sociais e a película homônima, carro chefe do projeto, apresentando em ambas paisagens de uma cidade apaixonante . Em contraposição a estas narrativas, arrola-se na última unidade produções e discursos que se contestam uma visão idílica da cidade. Desta forma, empreende-se uma análise conjunta entre a tese produzida pelo documentário Domínio Público e o material do Dossiê Popular da Copa do Mundo, cujo principal mote é a exposição dos abusos governamentais e privados sob o pretexto de mudanças em prol dos megaeventos. Além disso, outros dois filmes lançados no mesmo ano dos materiais acima citados, 2014, Remoção e Rio em chamas constroem um imaginário sobre uma paisagem urbana que revela espaços apagados e sujeitos excluídos exercendo sua posição enquanto atores de uma urbe em disputa. São, assim, em esta periodização, muitas cidades em uma só.

Palavras-Chave: Rio de Janeiro. Espaço. Paisagem. Discurso. Filmes. Conflito.

Ever since Rio de Janeiro established itself as an imperial capital, in the early XIX century, writers, sociologists, moviemakers and historians have chosen Rio de Janeiro as a constant target of their works. In the last ten years (2008-2018), the city is goin through changes due to the intense preparation for the megaevents. In 2013, it hosted the World´s Young People Journey of the Catholic Church. In the latter year, it became a key city for Brazil´s hosting of football´s World cup, having Rio the task of hosting the last match of the event. And finally, in 2016, it was the last city to host the Summer Olympics. It is gathered here a series of midiatic discourses that position the representation of Rio´s landscape, during the periodization of 2009 thru 2014, a key moment of the consoladation of a new interpretation of its urban space. This thesis is divided into three main sections. The first unity interprets the signification of offical discourse, researching the paradigma of the olympic/postcard city through the Reading of the oficial documents of the 2009 olympic bid of Rio de Janeiro and the institucional vídeos directed by Fernando Meirelles in its victorious campaign. The second section has as its main object the transmidia Project Rio eu te amo [Rio, I love you), encompassing the moviment Rio eu te amo , that articulated forms of urban branding with social media activities and the film, known by the sane name, presenting in both productions, landscapes of a passionate city . In contraposition to these narratives, the last unity gathers discourses that presente another representation of contemporary Rio de Janeiro. Therefore, it is here presented a joint analysis between the content produced by the documentary Dominio Público [Public Domain] and the findings of the documents of the Popular Comitee of the World Cup, whose conjoined main narrative is to expose governament and corporate abuse made through the pretexto of drastic changes in the name of the megaevents. Beside that, two other films are released in the same year of the material here cited (2014), Remoção [Removal] and Rio em chamas [Rio is burning] constructo an imaginary about an urban landscape that reveal the erased spaces and historically neglected subjects exercicing their position as actors in a city being disputed. In conclusion, according to the periodization here proposed, there are many cities in one. 

Keywords: Rio de Janeiro. Space. Landscape. Discourse. Films. Conflicts

INTRODUÇÃO, 10

1 SOBRE O CONCEITO DE PAISAGEM: UM ENCONTRO INTERDISCIPLINAR, 19

2 PAISAGENS OFICIAIS E DISCURSOS OLÍMPICOS, 35
2.1 O projeto da cidade olímpica e neoliberal de André Urani, 37
2.2 O imaginário do projeto de paisagem carioca no Dossiê da Candidatura de 2016, 47
2.2.1 As regiões da Olimpíada: Maracanã e Deodoro, 51
2.2.2 As Regiões da Olimpíada (II): Barra da Tijuca, 52
2.2.3 As Regiões da Olímpiada (III): Zona Sul e a vocação carioca, 54
2.3 Vídeos institucionais, Rio de Janeiro e Brasil, 56
2.3.1 “Passion” e a paisagem carioca/brasileira no vídeo oficial olímpico, 60
2.3.2 “Unity” e a paisagem carioca/brasileira no vídeo oficial olímpico, 63

3 PAISAGENS DA CIDADE APAIXONANTE: O PROJETO RIO EU TE AMO, 67
3.1 O movimento “Rio eu te amo” nas redes sociais (2013-2014) e a redescrição da cidade apaixonante, 68
3.1.2 Rio, eu tatuo: Paisagens da “cidade apaixonante” sob jovens corpos, 77
3.2 Sobre o conceito de estereótipo, 85
3.3 O filme “Rio, eu te amo” e suas paisagens de estereótipos, 89
3.3.1 Paisagens exóticas, 92
3.3.2 Paisagens de cartões postais naturais, 94
3.3.3 Paisagens de mazelas sociais, 99
3.3.4 Paisagens modernas na zona central, 101

4 PAISAGENS HETEROTÓPICAS E SEUS DISCURSOS CONTRAHEGEMÔNICOS, 105
4.1 Paisagem mercantilizada: o projeto de “cidade neoliberal” e as suas marcas, 107
4.2 Paisagem militarizada: o caso das UPP´s, 118
4.3 Paisagem de remoções, 129
4.3.1 Outras paisagens de exclusão: Uma análise sobre memória coletiva no filme “Remoção”, 138
4.4 Paisagem de resistências, 148
4.4.1 Paisagem de manifestações: As imagens de um “Rio em chamas”, 155

CONCLUSÃO, 163
REFERÊNCIAS, 169