Este trabalho consiste em uma análise das representações sociais da etnicidade nos anúncios publicitários brasileiros veiculados durante a Copa do Mundo de 1998. A partir do estudo extensivo de um corpus de 415 anúncios publicitários, constatei a existência de uma “retórica visual” da representação dos grupos negros e brancos no contexto dos anúncios publicitários, que confirma e naturaliza a hegemonia dos grupos brancos sobre a sociedade brasileira. Enquanto aos brancos é adequado o papel de “torcedor brasileiro”, em casa, no trabalho ou no campo de futebol, aos negros ficam reservados os “papéis” de meninos pobres, sem camisa e bons de bola, ou de “membros” de torcidas em lugares públicos – em geral sem camisa – e jamais dentro das casas do mundo dos anúncios. Um outro lugar “adequado” aos atores negros no contexto dos comerciais é ao lado de brancos e japoneses, compondo uma versão visual do “mito das três raças”, legitimando a ideologia da “democracia racial” nos anúncios publicitários.