Nos anos 2010, o esporte ganhou visibilidade na pauta política, ao mesmo tempo em que se politizou, como nunca, o debate esportivo. Torcedores e torcedoras não ficaram alheios desse processo. Entre outras iniciativas e ações, deram origem a um novo modelo de organização torcedora que se difere das demais por constituir-se tendo como referência consciente e explícita uma concepção política. Tomando como objeto os coletivos torcedores que fazem, ou fizeram parte da Torcidas Antifascistas Unidas do Norte e Nordeste, procuro responder a algumas questões: Quando, como e por que essas organizações surgem? Quais são as dinâmicas de organização desses grupos? Como elas se diferenciam e se relacionam com outras formas de associativismo popular, pregressas ou atuais, dentro e fora dos estádios? Como agem, e o que pretendem? Como se articulam entre si e como se relacionam com outros sujeitos e organizações, ligados diretamente ao futebol ou não? Para isso, entrevistei lideranças de coletivos torcedores que fazem ou fizeram parte da TAU N-NE, e analisei as redes sociais destes coletivos. Tomando como pressuposto a totalidade como categoria ontológica da realidade, e inspirando-me no pensamento de Edward Thompson, que me ajuda a pensar o fazer-se da classe trabalhadora, resgato a história do associativismo torcedor no Brasil, sempre localizando-o a outros processos sociais, culturais, históricos e políticos mais amplos. Após isso, analiso mais detalhadamente a conjuntura da última década, destacando o processo de agudização da luta de classes, politização do cotidiano, ascensão da extrema-direita, desenvolvimento de novas ferramentas de informação e comunicação, e surgimento de novas formas de ativismo juvenil. Tudo isso, somados ainda a processos excludentes e restritivos de hipermercantilização do futebol, favoreceram ao avanço de uma consciência torcedora, que se manifesta em um conjunto de práticas, valores, ideias, discursos e projetos, que envolvem o reconhecimento de uma condição semelhante, a identificação de interesses compartilhados (antagônicos aos de um inimigo comum), a produção de pautas, ações, teorias e discursos, e a criação de novas articulações e entidades. Os coletivos antifascistas são parte desse processo, produtos e produtores do avanço dessa consciência torcedora. Abordo ainda, de forma mais aprofundada, os coletivos que formam, ou formaram, as Torcidas Antifascistas Unidas do Norte e Nordeste (TAU N-NE), expressão crítica mais radical (no sentido de ir às raízes) já produzida pelos torcedores e torcedoras brasileiras.
Palavras-Chaves: Futebol; torcida; associativismo torcedor; consciência torcedora; política.