Esta dissertação tem como objetivo avaliar o grau de conformidade da cobertura do Jornal Nacional com requisitos de pluralidade, assegurados tanto no documento Princípios Editoriais das Organizações Globo, quanto no referencial teórico proposto. A temática da cobertura observada consistiu nos preparativos para os eventos Copa do Mundo e Copa das Confederações. O trabalho está dividido em duas partes: na primeira é discutida a noção de pluralidade no jornalismo; como este valor está relacionado com o modelo pluralista das teorias democráticas; em qual conjuntura política esta exigência da atividade jornalística ajuda a legitimar o jornalismo como fórum de mediação de posicionamentos diversos e antagônicos. Em paralelo, identificamos o documento de orientação editorial da Rede Globo como possível ferramenta de accountability, que possibilita a fiscalização do conteúdo jornalístico por parte dos usuários, de modo a verificar se a empresa entrega aquilo que assegura produzir. Os dispositivos orientados para cobrar publicidade dos processos jornalísticos e responsabilização dos que produzem um serviço de natureza pública são entendidos como uma via de fortalecimento da relação produtor-usuário, que concorre para ampliação da responsabilidade social da atividade. Na segunda parte, é apresentada a avaliação da pluralidade, na qual foi empregada uma metodologia, desenvolvida no âmbito do Programa de Pesquisa em Qualidade, Inovação e Tecnologia Aplicadas ao Jornalismo (Qualijor), que avaliou dois aspectos da empresa: o documento de princípios editoriais da Globo; e a cobertura do Jornal Nacional sobre os preparativos dos eventos citados, no tocante ao respeito aos requisitos para uma cobertura plural: 1) autonomia do veículo em relação às partes envolvidas na cobertura; 2) acessibilidade ao debate pelos agentes potencialmente envolvidos e 3) equilíbrio na participação dos envolvidos. Foram analisadas 84 matérias, veiculadas entre 15/06/2012 e 15/06/2013. A Rede Globo, enquanto parceira da FIFA e promotora da realização da Copa do Mundo, sedia o debate sobre o evento em seu telejornal, mas é também parte interessada, configurando assim uma situação de conflito de interesse que põe em xeque a condição elementar para promoção de uma cobertura plural, contradizendo garantias previstas em seu documento. Neste cenário, a pesquisa apura indícios de assimetria entre o que é prometido e o que, de fato, é oferecido pelo jornalismo da emissora no tocante à pluralidade, sugerindo assim, a ampliação no debate sobre mecanismos de fiscalização do conteúdo jornalístico em razão da qualidade pretendida por seus produtores.
Palavras-chave: Jornalismo; pluralidade; Princípios Editoriais; Jornal Nacional; accountability; Rede Globo.