Na cidade de Pelotas a mão-de-obra escrava foi empregada de forma muito acentuada, o que explica a grande presença de afrodescendentes na cidade após a abolição. Na busca por vagas no mercado de trabalho livre, sofreram todos os tipos de discriminação, o que acabou por condicionar suas chances de ascensão social. O futebol chega a esta cidade justamente na virada do século XIX para o XX. Trazido, ou por membros da elite de países vizinhos, notadamente Uruguai e Argentina, ou por indivíduos das classes mais abastadas, que faziam negócios ou estudavam na Europa, ele se consolida, inicialmente, com um caráter elitista, de distinção social. Porém já na primeira década do século XX cresce o interesse pelo futebol e os mais pobres, dentre eles os negros, que sofriam duplo estigma, pela renda e pela cor, buscam alternativas para a prática do esporte. Frente ao contexto nacional (no qual, de um lado, havia uma elite buscando a manutenção do quadro de segregação dos afrodescendentes e, de outro, existia a resistência e a busca da superação dessa situação por parte dos negros), o que este trabalho busca entender, através de uma pesquisa qualitativa que tem como fontes jornais, revistas e acervos particulares, é de que forma o racismo se manifestou no futebol pelotense, no período de 1901 a 1930. Ao responder essa pergunta principal, será verificado também se este esporte serviu como instrumento de separação e/ou de aproximação dos afrodescendentes, como a comunidade negra reagiu ao preconceito no meio dos esportes e qual foi o papel das ligas de futebol da cidade neste processo.
Palavras-chave: racismo; futebol; Pelotas; pós-abolição.