A partir da aplicação aos Estudos de Tradução de algumas noções apresentadas pelo filósofo Jacques Derrida, podemos dizer que a tradução resulta de um exercício de leitura e interpretação, permitindo que novas leituras sejam adicionadas a um texto fonte na condição de suplemento, revitalizando a anterioridade e mantendo-o vivo, pronto para ser fruído pelas gerações futuras. Tal aspecto mostra-se evidente em releituras de obras escritas por autores canônicos, como as do dramaturgo inglês William Shakespeare. Assim, de um lado temos a peça Romeu Julieta (circa 1594) que narra a tragédia de dois jovens amantes pertencentes a famílias inimigas, do outro, o filme O Casamento de Romeu e Julieta (2005), baseado no conto Palmeiras, um caso de amor do escritor Mario Prata e dirigido por Bruno Barreto, que traz à tela do cinema uma comédia sobre o romance entre a capitã do time de futebol feminino do Palmeiras e o médico oftamologista, líder da torcida do Corinthians. A partir dos hipotextos de Shakespeare e Prata, Bruno Barreto constrói seu hipertexto fílmico (tradução intersemiótica), evidenciando na tradução, seu status de recriação a partir de um texto e uma série de outros com os quais dialoga. A pesquisa objetiva analisar traços de ressignificação e atualização do drama shakespeariano identificados na narrativa cinematográfica de Barreto, tendo em vista o panorama das relações entre textos discutidas por Julia Kristeva e Gerárd Genette, de modo a contribuir de modo crítico para futuras reflexões sobre a análise de traduções.
Palavras-chave: Futebol, Romeu e Julieta, tradução intersemiótica, William Shakespeare.