Esta tese explora uma categoria emic central na organização pública dos clubes que integram, em uma territorialidade local, o complexo e polifônico sistema futebolístico: os dirigentes nos clubes na condução do futebol profissional de elite na Argentina. Partindo de entrevistas, filmagens e observação participante com altos dirigentes dos clubes com times de futebol rivais na cidade de La Plata, Estudiantes de La Plata e Gimnasia y Esgrima La Plata, durante os últimos três (3) anos, o argumento situa a reflexão sobre o espaço de interações sociais e simbólicas, tanto formais como informais elaboradas nas práticas e representações dos seus dirigentes. O objetivo é definir as articulações entre dois tipos de signos que operam sobre as relações de poder: aqueles vindos do futebol e os do desenho institucional. O interesse do trabalho se baseia nos papéis dos dirigentes em sua dupla condição de diretores de estratégias de organização do trabalho e do espetáculo futebolístico, bem como de gerenciadores de modalidades de produção de identificações coletivas estruturadas historicamente. O clube é pensado assim como o laboratório cultural que integra fluxos simbólicos e práticas políticas (em direção ampla) que se orientam para a geração do espetáculo, a liturgia e as relações entre poder, autoridade e mudanças necessárias à tarefa dirigencial como referência empírica coletiva. O espaço de ação e decisão dirigencial é assim considerado como um lugar adequado para a interpretação de práticas e trajetórias que instituem relações de um tipo de poder político, uma vez que neles são particularizadas as coordenadas que circulam em torno ao conceito filosófico-político de sociedade civil. Dentro de um processo de “invenção” de valores morais e políticos objetivos, a tese presta especial atenção aos aspectos públicos que relacionam pertença profissional, memória, crise institucional e saberes práticos na esfera “dirigencial‟. Os dirigentes destas instituições são vistos como atores sociais dentro de um campo cultural de forças e de interpretação coletiva, ancorado em formas experimentais do poder e da política na modernidade, e que opera em tensão com os imaginários que pesam sobre as identidades profissionais. O dirigente do futebol argentino é um homem de estado, não porque ele submete-se à lógica do poder no futebol para alcançar um lugar – “depois”- na formação-estado, mas porque a interpela como “assunto que pertence à representação”.
Palavras chave: clubes, dirigentes, elites, esporte, experiência, futebol, poder, política, profissão, sociedade civil.