10.4

Arnaldo Santos (parte 2)

Equipe Ludopédio 25 de fevereiro de 2014

O radialista e cronista esportivo manauara Arnaldo dos Santos Andrade, popularmente conhecido como Arnaldo Santos, iniciou a carreira como locutor em 1959. Além do futebol, Arnaldo participou de transmissões de diversos esportes, como Formula 1, Voleibol, Handebol, Futsal, entre outros. Em 1970 começou a apresentar o programa “AS nos Esportes” na TV Ajuricaba (na época filiada à Rede Globo), no qual permaneceu por 14 anos. 

Fez parte do grupo executivo de construção do Estádio Vivaldo Lima e transmitiu pela Rádio Baré a festa de pré-inaguração do “Vivaldão” em 1970, que contou com a presença da Seleção Brasileira que viria ser campeã da Copa do Mundo naquele ano. Nomeado subsecretário de desportos da Secretaria de Estado, Cultura e Deportos–Seduc em 1995, Arnaldo teve como principal missão recuperar o Estádio Vivaldo Lima. O estádio passou por uma ampla reforma e em dezembro de 1995 foi reinagurado em uma partida Brasil x Colômbia. 

Em 1998, Arnaldo Santos passou a coordenar o Campeonato de Peladas do Amazonas, conhecido popularmente como Peladão, o maior campeonato de futebol amador do Brasil. Disputado anualmente desde 1973, o Peladão é organizado pela Rede Calderano de Comunicação (RCC), e mobiliza diversos segmentos e públicos da população manauara: homens, mulheres, jovens, veteranos e indígenas. No Vivaldão, em janeiro de 2010, um público de 45.000 pessoas lotou o estádio para assistir a final do Peladão Verde. Foi o último jogo do Peladão no estádio antes da demolição do Vivaldão para a construção da Arena da Amazônia, que sediará a Copa do Mundo de 2014 em Manaus.

A entrevista foi realizada por Rodrigo Chiquetto, Mariane Pisani, Giuliana Nishiyama, William Contini e Enrico Spaggiari; equipe do filme-documentário sobre futebol amador em Manaus e São Paulo, produzido pelo NAU – Núcleo de Antropologia Urbana da USP e pelo LUDENS – Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Futebol e Modalidades Lúdicas.

Por fim, um agradecimento muito especial a Rick Olliver, assistente da coordenação do Peladão, pela leitura e revisão da entrevista.

Boa leitura!

 

Arnaldo Santos iniciou a carreira de locutor esportivo transmitindo jogos de voleibol, basquetebol, e futebol de salão. Foto: Enrico Spaggiari.

 

 

 

Segunda parte

 

Arnaldo, como é a sua relação com os diretores das equipes, patrocinadores dos times e lideranças do Peladão?

O Peladão é fantástico. E precisamos entender, saber dizer não, saber dizer sim, às vezes até dar um passo para trás, mas na certeza de que o objetivo deve sempre ser alcançado. Por que eu falo assim? Porque é uma sociedade de culturas mil, e de interesses emocionais, muitas vezes, aquilo que está sentindo dentro de si não reflete a própria realidade. Eu aprendi isso com o tempo, no começo ficava um pouco constrangido. Por ser cronista esportivo, talvez eu receba um tratamento diferenciado. Mas na hora que o time perde ou mesmo é eliminado pelo regulamento da competição, alguns extravasam, chegando a cometer atitudes inconvenientes. E a única coisa que eu não gosto que façam é mexer com a minha mãe. Com o resto, tudo bem (risos). Eu sempre perdoo. Mas, por exemplo, encontrei um grupo de pessoas – e que talvez ainda hoje pensem assim – que acreditam que nós acabamos com o Peladão. Eu estou dizendo aquilo que me chega, aquilo que eu ouço. Porquê? Porque passamos a ser exigentes demais. Porque é uma brincadeira. Sim, mas é uma brincadeira organizada, você tem deveres para cumprir. E se você não exige isso, você não consegue. Tanto que alguns times deixaram de participar. Mas em contraposição, outros vieram. E o mais importante é saber que hoje há um certo equilíbrio de entender: “cuidado, se vai entrar no Peladão, tem que cumprir o regulamento. Se não cumprir o regulamento, não entra”. Aqui tinha um líder indígena chamado Ajuricaba, que acabou morrendo no meio do rio, mas não se entregava nunca. Talvez eu tenha um pouco desse pulsar no sangue. Eu sou daquele tipo que fui treinado para dizer ‘não’. Essa diferença está exatamente na minha consciência. Se na minha forma de interpretar eu sinto que o ‘sim’ não deve ser dado, eu digo: não. Porque eu não suporto os que bancam o coitadinho. Aqui não existe distinção social, ou seja, todos são iguais perante as regras do Peladão.

Isso me fez com que batesse de frente. Troquei muita gente da minha equipe, porque não comungavam do mesmo ideal. Mas o tempo foi passando, já estamos há 15 anos, e vamos sentindo de perto que verdadeiramente as pessoas começam a respeitar. Eu lembro muito bem que quando começamos os campeonatos espalhados pelos bairros tinham um regulamento muito pequeno. E hoje é o contrário. Eles vêm aqui, pegam nosso regulamento, fazem adaptação. Isso para nós foi a maior contribuição que podia existir. Foi do nosso não, do nosso repúdio, das coisas que não concordávamos, que acabou fazendo essa grande separação entre aqueles que acham que devem simplesmente brincar sem responsabilidade, e aqueles que devem seguir dentro dos nossos valores. Eu não sei, pode até ser que eu esteja exagerando, mas quem não é político? Todos nós somos políticos. Mas eu abomino essa politicagem de dizer: “coitadinho, vem cá, você está certo, está perdoado”. E o que me deixa feliz é saber que muitos daqueles clubes que no começo não nos entenderam e saíram, depois voltaram. Essa é a maior prova de que parece que as coisas estão caminhando numa direção capaz de ser correta. Não sou o dono da verdade, nem sou tão puro assim, nada disso. Eu simplesmente trabalho e exercito, onde estou cobro por este valor, e acho que o esporte é fundamental por isso. Ele tem que ter esses valores. Eu digo para alguns amigos que estou vivendo uma fase da minha vida, chegando ao fim – aquela velha história do poeta que diz, “não vou viver mais do que os anos que já vivi” -, tenho 75 anos, 53 anos de crônica esportiva, sempre voltado ao esporte, não vou virar pedra. Meu amanhã está bem ali e preciso caminhar na direção dele. E vou sempre por estes valores. Dignidade, responsabilidade. Compreensão? Sim. Por as mãos nas costas e caminhar juntos? Sim. Mas nunca perdoar simplesmente pelo fato de querer ser, em vez do que pode ser. É assim que estou, e assim que eu vejo a comunidade do Peladão interagir dentro desse espaço. Tanto que os números estão aí provando, a cada ano eles se mantêm sempre no mesmo nível, uns para mais, outros para menos, mas sempre dentro de uma massa crítica capaz de movimentar várias direções dentro dessa sociedade.

E como funciona a arbitragem no Peladão?

A arbitragem é um fato bastante importante no resultado final da competição. Imagina, mais de 50 campos, quase 200 jogos, e ter árbitro para tudo isso. Há de se perguntar: como é essa estrutura? Aí vem o belo trabalho feito na tradição do Peladão. Desde o começo, ao se inscrever, cada time tem que ter o trio de arbitragem, além do presidente e do representante. Essa arbitragem é escalada por nós para dentro do distrito de realização dos jogos. E eles têm deveres e obrigações muito bem definidos. Por exemplo. Se eles não vão, o time é eliminado. Se houver qualquer irregularidade durante a partida, o trio de arbitragem deve relatar na súmula do jogo e nós não deixamos de protegê-los em momento nenhum. Damos sempre oportunidade, não só através dos nossos atos administrativos, porque são dois poderes, depois então nós temos o mais democrático, a comissão disciplinar, que analisa todos os fatos para chegar à conclusão final. Então essa é a única proteção que eles têm. A outra proteção que o árbitro tem é o nosso famoso ‘livro negro’. E o ‘livro negro” é assim incrível, irredutível. Porque se houver agressão ao árbitro, vai para o ‘livro negro’ e fica lá três anos. Após três anos sem jogar, se o atleta quiser voltar, tem que pedir reabilitação. E não se sabe se terá a reabilitação ou não. Quem vai dizer é a estância máxima superior, a Comissão Disciplinar. Então os árbitros têm uma capa de proteção, mas têm uma responsabilidade muito grande. E veja quantas coisas são interessantes de serem analisadas. Pertencendo ao mesmo e à mesma chave dos times que estão apitando, os árbitros, em sua grande maioria, fazem justiça. Se assim não fosse, já teríamos parado com isso. Esporadicamente, um ou outro deixa de cumprir, mas a grande maioria cumpre com dignidade aquilo que foi passado. Até porque o árbitro é humano, ele pode errar. Mas ele não pode ter o dolo, a intenção de fazer. E aqueles que assim procedem são eliminados, são afastados da competição. Isso fazemos com o maior rigor possível. Até porque, sem árbitro, não pode ter jogo. Um detalhe importante: se o árbitro escalado não vai, as duas equipes têm a obrigação de fazer acontecer o jogo. Elas vão, pegam um árbitro da arquibancada, da onde for, e fazem o jogo. De comum acordo, eles colocam e fazem o jogo. Essa é a magia do Peladão. E quando nós falamos que são mil e tantos jogos, muitos não querem acreditar, pois acham que precisa de uma super estrutura, que só é possível pela famosa democracia republicana, onde todos se unem para um só objetivo: o bem do Peladão. O regulamento da competição tem tudo o que você possa imaginar. Inclusive, a Comissão Disciplinar e todas as normas e leis que regem o Peladão.

E a regra do mando de campo? Como funciona?

A regra do mando de campo é uma outra coisa que é muito interessante no Peladão. Você escolhe o campo em que vai jogar e tem um prazo para entregar junto à coordenação. Supondo que ninguém apresentasse mando de campo, nós temos selecionado um número de campos que ficam a disposição da competição. Então o campeonato não sofre nenhuma alteração. Isso evidentemente beneficia muito aqueles que podem jogar nos melhores campos. E aí surge um fato muito interessante e importante. O sonho de muitos jogadores que jamais pisariam no estádio do SESI, que é um campo oficial, ou jamais pisariam no Estádio da Colina, que hoje está sendo reformado para servir de centro de treinamento da Copa do Mundo, acabam tendo os seus sonhos realizados, disputando de igual valor, no mesmo gramado alugado por clubes de maior poder aquisitivo.

Como comunicador, o senhor viajou muito pelo Brasil. O que encontrou de futebol amador espalhado por outras cidades brasileiras e o que trouxe desses outros futebóis para o Peladão?

Eu conheci uma competição muito interessante no Amapá. Eles faziam uma competição na lama, num período em que o mar vem, bate, e eles fazem uma competição, é uma festa, e com o público. Mas era assim muito folclórico, muito livre, muito solto. Estou falando desse do Amapá para ir para São Paulo, aonde eu conheci um pouco da Copa Kaiser, que é diferente do nosso. O número de times é menor, mas o índice técnico é muito alto, porque são remanescentes de um futebol profissional ou um “amador marrom”, pois são tão profissionais quanto profissionais são aqueles que estão registrados. O que na verdade está acontecendo hoje no Peladão. Tem muitas equipes que fazem investimentos altíssimos, às vezes muito maior do que o futebol profissional, que hoje passa uma fase crítica aqui em Manaus. Por exemplo: eu tenho cartas de jogadores, quando termina o Campeonato Amazonense, que são só três meses, pedindo: “Olha, modifica esse regulamento, deixa pelo menos dois ou três jogadores profissionais que atuaram na competição jogar”. Eu digo: “não pode”. Muitos enxergam o Peladão como uma oportunidade.

Veja, o Brasil tem muitas competições. Em Porto Velho também tem uma competição amadora. No Pará tem uma competição de bairros. Mas o que percebi é que não tem essa exigência que nós fazemos aqui, de ter regulamento para ser cumprido, de ter normas para serem obedecidas, de ter uma comissão disciplinar que é a última instância para resolver os problemas. Tem um regulamento que discute tudo isso e que faz com que a gente tente empurrar para essa realidade. Mas é o Brasil pulsando em todas as direções. Afinal de contas, essa bola é uma coisa mágica, não tem outra forma. Eu cheguei até a fazer uma correspondência para a secretaria municipal de Esporte e Lazer de São Paulo, que era copatrocinadora da Copa Kaiser, e eu ressaltei a importância de fazermos um encontro entre o campeão do Peladão com o campeão da Copa Kaiser. Eu acho que a Kaiser, que é nacional, poderia patrocinar esse momento. Não para medir a capacidade técnica, mas fazer o entrelaçamento de dois extremos com objetivos e fins bem determinados que leva tudo a uma coisa só: jogar futebol.

Arnaldo dos Santos e o caso de amor insuperável com o Estádio Vivaldão. Foto: Enrico Spaggiari.

E como é a relação com o Flávio Adauto, organizador da Copa Kaiser? Como vocês se conheceram?

O Flávio Adauto eu conheci quando ele foi presidente da ABRACE – Associação Brasileira de Cronistas Esportivos. Ele era o presidente da ABRACE e eu fui eleito presidente da ACLEA, sigla da nossa associação no Amazonas. E nos candidatamos a ser sede de um encontro nacional. Eu fiz o projeto, fui muito bem recebido. Eles não acreditaram a principio muito no que eu estava falando, mas fizemos esse evento aqui em Manaus. Ele, Flávio Adauto, foi quem presidiu e com isso estabelecemos uma grande amizade que perdura no tempo. E tudo isso porque a gente visa sempre a mesma coisa. O futebol é uma algo mágico, não sai do caminho da gente. E foi assim, uma amizade muito grande.

E como você entende essa profissionalização do futebol amador?

Um jornalista alemão veio aqui fazer a cobertura duas semanas atrás e ele me fez uma pergunta que tem uma certa relevância. “Olha, conversando com o time, eles disseram que outrora, o Peladão tinha muito mais participação porque as pessoas de poder aquisitivo não se integravam a essa realidade. E hoje, na nossa administração, os times investem muito em jogadores. Inclusive jogadores que foram famosos”. Por exemplo, o Lima, que jogou no São Paulo e foi para a Roma (Itália), veio para Manaus, está jogando, foi contratado por um time de Master. O João Carlos Cavalo, que jogou no profissional aqui, e hoje é técnico em Brasília, vem nas férias só para disputar as finais da competição. Talvez esse ano ele não consiga porque nós vamos terminar o campeonato dia 21 de dezembro deste ano (2013). Essa influência fez com que muitos times saíssem da competição. Isso é o jornalista alemão me dizendo. “E como é que o senhor vê isso?”. Tal como vocês me perguntaram. Eu digo: “É fácil, quer ver?”. Abri a página do nosso relatório para mostrar todos os campeões, e todos os campeões que estão aqui são aqueles que tinham, na verdade, o maior poder aquisitivo, e poderiam investir mais e ter os melhores jogadores. Isso faz parte. Infelizmente é assim: uns participam, outros disputam título. Uns brincam e se divertem, outros querem ganhar e galgar os títulos. Esse é o mundo em que nós vivemos. Infelizmente é assim. Para nós seria muito desagradável dizer assim: “Qual é o seu imposto de renda, por favor? Traga aqui, para que possamos fazer uma avaliação e ver se você pode ou não participar”. E por incrível que pareça, o time que o jornalista alemão entrevistou, está aqui, ganhou dois campeonatos. E quando você volta para a década de 70, quem era advogado, quem tinha escolas particulares, tinha um certo poder econômico e times melhores, que foram campeões.

Como jornalista, organizador do Peladão e morador de Manaus: quais são suas impressões sobre os preparativos para a Copa do Mundo em Manaus? Como será esse megaevento? O que podemos esperar?

Existem duas palavras que eu não gosto muito de usar. Uma é, e não sei vocês usam esse termo lá no Sudeste do país, “cabotino”. E a outra palavra que eu não gosto é: pessimismo. Elas não se enquadram dentro de mim. Mas, honestamente, hoje eu sou uma pessoa um pouco descrente e triste. Eu vejo os dias passarem com uma rapidez tão fantástica e não vejo a resposta para o que nós precisamos oferecer ao mundo com esse evento chamado Copa do Mundo. Eu tive a felicidade de vivenciar algumas Copas. Eu estava me preparando para ir para a Copa do Mundo na Colômbia em 1986, e acabei assistindo a Copa do Mundo no México. E com essas Copas e esse padrão FIFA – e olha que não estou falando desse século, estou falando do século passado -, eu fico estarrecido quando se analisa a Copa do Mundo no Brasil. É só pegar os noticiários. Hoje já se discute: “vale a pena ir assistir a Copa do Mundo no Brasil com o clima de violência que está acontecendo, os preços absurdos que estão sendo cobrados?”. Tantas coisas acabam ofuscando a beleza de um país que tem tantas oportunidades de mostrar a sua força e a sua beleza. E eu fico me questionando todos os dias: “o que vai acontecer?”. Na Copa das Confederações fizeram os arrumadinhos de última hora para poder sair a Copa. Eles tiveram tempo agora de aperfeiçoar. A mesma coisa vai acontecer com a gente, com aqueles que não participaram da Copa das Confederações.

Quantas copas o senhor acompanhou?

De 1974 para cá, exceto a de 2002, no Japão e Coreia do Sul. Estava trabalhando no governo do Amazonas e, quando eu vou é para assistir a Copa inteira. Com a obrigação de um cargo que eu assumi, com a missão de reformar o estádio Vivaldo Lima (Vivaldão), o qual eu vi nascer, construir e vi tristemente derrubarem para a construção da Arena da Amazônia. Vamos voltar a falar das Copas. Um momento de felicidade aconteceu no dia do meu aniversário, 17 de julho, na Pasadena, no Rose Bowl, vi o italiano Baggio bater a bola por cima da trave na cobrança dos pênaltis e o Brasil ser campeão do mundo. Você quer maior prazer do que esse? Não tem. Uma das coisas que tenho discutido com alguns amigos e o que me apavora é ver nosso comportamento hoje em relação à África. Todo mundo sabe que essa Copa do Mundo só veio para a África do Sul simplesmente por um compromisso político, tal como aconteceu na África. “Olha, precisamos fazer um campeonato na África e uma na América do Sul e daí para frente, meu amigo, é para quem der mais…”. Na Rússia já tem quase 90% tudo pronto para receber a Copa do Mundo. No Catar tem dinheiro para fazer o que bem entender, embora não tenha grande tradição no futebol. É completamente diferente do que estamos vivendo. “Ah, porque o Brasil é pentacampeão do mundo, tem que ser respeitado”. Respeitado coisa nenhuma. Não existe isso. É a irresponsabilidade da responsabilidade. É aquela velha história. A FIFA colocou na mão do nosso presidente eleito por uma maioria esmagadora, enaltecido por esse país afora, chamado Lula. “Se vocês cumprirem isso que está aqui, ótimo, vamos fazer lá no Brasil”. Amigo, já se passaram oito anos. E estamos passando por tantas e tantas dificuldades. Voltando ao comportamento africano. Eu vi aquele povo sofrido fazer uma festa, mostrando para o mundo que eles são alegres, descontraídos, sem brigas, sem confusão, sem nada. Será que nós podemos garantir isso na Copa do Mundo aqui no Brasil, com estes movimentos de protestos que estão tendo e que vão crescer? Será que só agora nós vimos que Copa do Mundo não era para ser feita aqui? E como é que nós vamos mostrar nossa cara para o mundo? Isso me constrange. A minha cidade. Vai ficar pronta, Arena? Sim. Mas e os acessos? Como vai se comportar isso? E todo legado pelo qual se brigou, para conseguir isso, no qual o Peladão foi inclusive um ponto de apoio no projeto do Amazonas para dizer: “olha, o pessoal gosta de futebol, porque aqui tem o maior campeonato de peladas do mundo”. Porque nosso campeonato de futebol profissional praticamente não existe no cenário nacional. Veja que são coisas diferenciadas e a gente sente isso. Uma coisa é você analisar a Copa Kaiser dentro de São Paulo, com a potência que é em todos os sentidos, sobretudo no esporte, e a outra somos nós debaixo da selva, tomando conta da floresta para o mundo respirar melhor. Paciência. O quê fazer? Vou morrer assim, protestando e gritando. Não dá para ser de forma diferente.

O Peladão agrega as questões da sociedade manauara. Os problemas e as coisas boas da sociedade também aparecem no Peladão. Como é essa relação entre o campeonato de futebol e as questões sociais da capital?

Uma das coisas que se fez, quando se começou a montar a estratégia para Manaus ser candidata a Copa do Mundo, foi trabalhar em cima da sustentabilidade do meio ambiente. E quem estava mais próximo do povo, fora as ações políticas, mas que de certa forma interage com seus líderes comunitários é essa brincadeira chamada Peladão. Quando nós percebemos que isso era importante, o que nós fizemos? Acrescentamos a palavra “Verde”. Peladão Verde. O ciclo do Verde na nossa representa a sustentabilidade, a acessibilidade, a responsabilidade que temos com o mundo de mostrar a nossa cara, sofrendo as influências, diretas e indiretas, de um sistema que precisa ser rediscutido em muitos segmentos. O Peladão é multicor, capaz de se transformar a qualquer momento tentando contribuir na construção de uma sociedade melhor.

 

Arnaldo Santos presenciou no centro do gramado do “Vivaldão”, em meio a convidados e autoridades,o governador Eduardo Braga anunciar a ‘Arena da Amazônia’ para a Copa do Mundo de 2014. Foto: Enrico Spaggiari.
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