60 Anos da Copa de 1958:

Depoimentos de jogadores da Seleção

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Zito durante entrevista realizada nas dependências do Santos Futebol Clube.

 

Nota Explicativa

Esta série é parte integrante do projeto “Futebol, Memória e Patrimônio”, desenvolvida entre os anos de 2011 e 2012, com o apoio da FAPESP.A pesquisa foi realizada em parceria pelo CPDOC, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), e pelo Centro de Referência do Futebol Brasileiro (CRFB), equipamento público vinculado ao Museu do Futebol/Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Nesta seção, serão apresentadas as edições de 4 entrevistas concedidas por atletas brasileiros que estiveram presentes na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, a sexta edição do torneio organizado pela FIFA. São eles: Dino Sani, Djalma Santos, Pepe e Zito. O propósito dos depoimentos, com base em sua história de vida, método caro à História Oral, foi rememorar as lembranças dos futebolistas acerca de sua participação na competição, de modo a destacar os preparativos para o Mundial, os jogos e a volta ao Brasil, após a conquista do título inédito. O depoimento a seguir foi concedido no dia 29 de junho de 2012, no Memorial das Conquistas, nas dependências do Santos Futebol Clube. Para assistir ao vídeo com a gravação completa, clique aqui.

 

Entrevistadores: Bernardo Buarque (FGV/CPDOC) e José Paulo Florenzano (PUC-SP); Transcrição: Líris Ramos de Souza: Edição: Pedro Zanquetta

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Zito. Ilustração: Xico.

 

Zito

José Ely Miranda nasceu no dia oito de agosto de 1932, na cidade de Roseira, interior de São Paulo. Revelado pelo Esporte Clube Taubaté, iniciou carreira nas categorias de base e jogou de 1948 a 1951. No ano seguinte, foi negociado com o Santos Futebol Clube. No alvinegro praiano, fez 733 jogos e marcou 57 gols. Na posição de volante, sempre se destacou por sua liderança dentro de campo. Apelidado de “Gerente”, tinha o aval do técnico Lula para comandar os jogadores no gramado durante as partidas. Seus gritos chamavam a atenção, com incentivo aos companheiros para continuar a marcar gols, mesmo com as partidas já decididas. Foi peça importante no legendário Santos de Pelé, integrado por jogadores como Pepe, Coutinho, Mengálvio e outros. Conquistou nove Campeonatos Paulistas, quatro Taças Brasil, duas Taças Libertadores da América, dois Mundiais Interclubes e quatro Torneios Rio-São Paulo. Teve grande destaque na Seleção Brasileira, desde sua estreia em 1955, em um empate por 3 a 3 contra o Paraguai. Participou das conquistas das Copas do Mundo de 1958 e 1962. Ao todo, foram cinquenta partidas e três gols marcados. Na Copa da Suécia, foi titular nas quatro últimas partidas e no mundial do Chile foi titular em todos os jogos. Nesta última, fez um dos gols da final, contra a Tchecoslováquia.  Atuou como dirigente do Santos e foi vice-presidente do clube. Conquistou os títulos de 1978 e 1984 do Campeonato Paulista. Atualmente, está aposentado e vive na cidade portuária paulista que o projetou.

 

Depoimento

Zito, fale um pouco sobre a sua infância.

Nasci em Roseira, no Vale do Paraíba, em 1932. Meus pais, apesar de não serem de lá, fizeram a vida na região. A família tinha um armazém – o município era tão pequeno que não havia supermercado –, onde eu e meus irmãos ajudávamos. Sábado gerava um grande movimento, pois é dia de folga na roça e compras na área urbanizada. Só existiam dois programas: jogar bola com papel e ir ao cinema. Assistia aos filmes em bancos de tábua e comprava ingresso com o dinheiro do faturamento da loja. 

E quando surge o futebol na sua vida?

Fui me projetando devagarzinho, crescendo no futebol de Roseira. Ainda menino, enfrentava um time de Taubaté. Ganhamos uma partida, fui bem e me indicaram. Eles se dirigiram à minha casa, conversaram com a família e tentaram me levar. Queria muito ir, pois o meu negócio era futebol. Estudar, que nada! E cheguei ao Taubaté já profissional. 

A família entendia e apoiava a sua paixão?

Eu morava numa rua larga, a principal de Roseira. Minha mãe ficava sentada na calçada, junto com a irmã dela e quem quisesse assistir. Lembro que ela fez questão de ler o primeiro contrato com o Taubaté. Não entendeu nada, mas quis olhar a proposta. Meus irmãos também jogavam, mas só o feijão com arroz. Faltava algo ao Hélio e ao Jairo.

Qual era o seu clube de coração? Havia algum jeito de acompanhar o campeonato naquela época?

Fui palmeirense na infância. Depois, cresci e mudei. Ouvia os jogos pelo rádio. O único que assisti no estádio foi em São Paulo, aos 16 anos. Eu e um amigo pegamos um trem e vimos o Palmeiras. Uma experiência fora do comum. Batia medo de nos perder na capital, o que não aconteceu.

O senhor sempre foi volante?

O posicionamento surgiu naturalmente. Nunca fui driblador ou atacante, gostava de distribuir o jogo. A postura de ficar gritando e chamando a atenção dos companheiros veio lá de Roseira.

Quando surge a chance de trocar o Taubaté pelo Santos?

O negócio foi concretizado em 1952. Convivia com o delegado regional de Taubaté, um cara fanático por futebol, que via todas as nossas partidas e frequentava a sede social do clube. Em determinada época, ele se mudou para a Baixada e deu a dica: “Tem um jogador no interior que atua de tal forma, joga muito…” Não demorou muito até um funcionário do Santos correr atrás de mim. Quis ir logo de cara. Minha mãe, medrosa, exigiu mundos e fundos. No fim, tudo deu certo.

O senhor se adaptou rápido ao clube e à cidade?

Santos tem praia, algo que não costumava ver. Então, logo percebi que seria a minha casa. Nunca tive problemas, só fiz amizades. O clube cresceu a partir da gestão Modesto Roma, um presidente bastante ousado. Ele construiu a concentração, onde passamos a morar, e a equipe foi evoluindo. Vários técnicos passaram por lá até a chegada do Lula, que gostava de atletas jovens. Rapidamente, puxou o Pepe para o time de cima. Ainda tínhamos o Hélvio[1] na zaga, o Ivan[2] na lateral esquerda e o Ramiro[3], outro do juvenil. Formamos uma base repleta de garotos e nos sagramos campeões.

E depois ainda veio o Pelé…

Exatamente. O presidente Athiê Jorge Coury veio nos comunicar da chegada do Pelé: “Gostaria que vocês esperassem o Waldemar de Brito aqui na concentração porque ele vai trazer um menino de Bauru.” E lá ficamos nós aguardando a fera. Chegou de terninho e gravatinha, ainda novinho. Organizamos uma festa em sua homenagem. Rapidinho subiu aos profissionais, pois, apesar de pequeno, era forte. Aí o Santos deixou de ser grande e virou gigante.

Havia algo diferente na rotina de treinos em relação às outras equipes? Ou a estratégia era apenas apostar nos jovens, que tinham mais fôlego?

Tínhamos raiva de preparação física, fazíamos mais ou menos. Evidente que evoluímos neste aspecto também, mas não existiam muitas atividades naquela época. Queríamos bola e priorizávamos os coletivos. Tudo isso unido à presença da garotada, que o Lula sabia usar.

E no aspecto disciplinar?

Sempre fui muito chato, praticamente um militar. Pegava no pé de todo mundo por causa do extracampo. Mas devo confessar que formamos um belo grupo e nunca tivemos qualquer problema disciplinar.

Na seleção brasileira, o senhor atua pela primeira vez em 1955, contra o Paraguai, no Pacaembu, pela Taça Osvaldo Cruz. Dali em diante, as convocações são frequentes e a briga por uma vaga no time titular se acirra até a Copa do Mundo. Quem concorria por uma vaga na sua posição?

O Dino Sani foi titular na primeira Copa que vencemos, em 1958. Não atuava muito como volante, mas como meia-esquerda. Ele jogou as duas primeiras partidas, contra Áustria e Inglaterra. Depois, houve uma adaptação no posicionamento e entrei contra a União Soviética. Nós ficávamos sabendo das mudanças por um papel. Havia uma programação diária da seleção, e procurávamos nos situar ali sobre a jornada. Quando vi que entraria em campo, fiz uma festa. Mesmo sem entender o motivo da alteração. Tinha dúvida se teria uma chance porque ele era do São Paulo, ex-clube do Feola e do Paulo Machado de Carvalho (técnico e presidente, respectivamente). Falo isso sem querer ofender o Dino, que foi um grande profissional. Por isso, cheguei desconfiado a Suécia.

Falando no Paulo Machado de Carvalho, a conquista de 1958 é marcada pela mudança na preparação e na organização. Vocês notaram a montagem de uma nova estrutura?

Foi a Copa da mudança. Tudo partiu do João Havelange, então presidente da CBD. Ele trouxe o Paulo Machado de Carvalho, que chamou o Feola. E ainda levou o Carlos Nascimento, o durão da história. Não podia fazer nada de errado, que ele sempre estava perto. A seriedade imposta nos ajudou durante o Mundial, algo inexistente em seleções anteriores. Posso dizer que eles profissionalizaram o futebol.

Quando vocês se convenceram de que o título mundial era realmente possível?

Garanto que não desde o princípio. Conforme ganhávamos, a moral crescia e nos perguntávamos: “Será que vai dar?” Passamos a acreditar nisso. Na final, saímos atrás no placar e o Didi veio do meio de campo pegar a bola no fundo da rede. Andou devagarzinho com ela e disse: “Moçada, vamos ficar tranquilos e jogar.” Não me esqueço disso. Veio o cara experiente, acalmou todo mundo e, quando recomeçou a partida, deu no que deu.

Vocês tinham acesso a informações sobre as outras seleções?

Acompanhávamos o treino de algumas. A União Soviética, por exemplo, estava próxima de nós. Então, ficávamos observando. Eles, igualmente. No fim, se você quer saber, até fizemos amizade com os russos. E percebemos que não jogavam nada.

Havia uma mobilização na Suécia para a Copa? Qual era a rotina da seleção?

Ficávamos numa cidade com clima de roça, um hotel cercado por árvores. Não sei como a Confederação descobriu esse lugar. Muita gente morava por ali, em chácaras, mas pouco saía de casa. Os meninos suecos não desgrudavam de nós, e batíamos bola com eles.

Exceto a final, que merece um capítulo à parte, quais partidas te marcaram neste Mundial?

Vou citar duas. As quartas, contra o País de Gales, que considero a mais difícil. Vencemos por 1 x 0, gol do Pelé, e encaramos uma marcação muito dura, bem ao estilo britânico. E a semifinal contra a França. Uma bela seleção, com jogadores excelentes, que praticava um futebol de dribles parecido com o nosso. O Raymond Kopa era o melhor deles. Fiquei com ódio dele depois que tomei uma bola no meio das pernas. Além dele, havia o Just Fontaine, belíssimo atacante. Pode se dizer que tinham o segundo melhor time da Copa, atrás apenas da gente. Por isso, acho que foi o grande espetáculo do torneio.

Na decisão em si, havia um receio por enfrentar o país-sede?

Nenhum. Conhecíamos o futebol deles, já que assistimos a vários jogos da Suécia. Só perderíamos se tivéssemos muito azar. Com Pelé, Garrincha, Nilton Santos e Didi, sem chance de perder. Não é demérito ao adversário, apenas uma constatação da superioridade brasileira. Portanto, entramos tranquilos e disputamos uma final fácil.

Como foi a comemoração do título?

Linda. Todos queriam pegar a bandeira, cada um puxando de um lado. Chamamos até o Rei da Suécia para uma foto. O Mário Américo, massagista, colocou a mão nas costas dele e o trouxe. Ele veio tranquilamente, todo sorridente. Acho que não tenho mais essa fotografia, uma bobagem minha.

Vocês tinham dimensão da proporção tomada pela conquista no Brasil?

Só percebemos a grandiosidade da festa e a felicidade do brasileiro quando voltamos ao país. Fizeram o nosso avião descer no Nordeste para sermos recepcionados. Algo fenomenal, apaixonante. No Rio, o povo todo correu do aeroporto até o Palácio do Catete acompanhando a carreata. Parecíamos heróis nacionais, tamanho o fanatismo.

Imagino que a vida pós-Copa, no Santos, não tenha sido mais a mesma.

A paixão pelo futebol cresceu ainda mais. Financeiramente falando, as coisas aconteceram devagar. A partir daquele título – e também do Pelé –, é que os salários melhoraram. Mesmo assim, a realidade era bem diferente da atual.

O dinheiro também começou a vir das excursões e torneios internacionais, não é?

O Santos passou a ser requisitado na América. Saíamos de Buenos Aires e íamos até o México participando de competições. Fizemos muitas exibições em outros continentes, que nos permitiu conhecer o mundo inteiro. Tudo em decorrência desse primeiro título mundial com a seleção. Apesar de cansativas, adorava essas viagens. Fora o cachê, um pouquinho maior. 

Quais jogadores, fora o Pelé, que te impressionavam pela qualidade?

O Jair Rosa Pinto foi uma das melhores coisas que surgiu no futebol. Era fã daquele magrinho. A perninha esquerda tinha uma potência… Fazia lançamentos bárbaros. O Pagão veio um pouco depois, mas também chamava a atenção. Ele queria entrar em campo de qualquer jeito, e o Coutinho também. Acabou que o São Paulo entrou na parada e o levou. Perdemos de cinco na primeira vez que nos enfrentamos. 

Fala-se muito da rivalidade com argentinos e uruguaios por conta das disputas entre as seleções e também pela entrada do Santos na Libertadores da América. Como era jogar nestes países?

Para nós, excelente. Eles nos adoravam, gostavam de enfrentar o Santos. Acredita que eu tinha fãs por lá? Iam nos buscar no aeroporto, aguardavam a nossa chegada. Recebíamos tratamento de ídolos. Mas, naquela época, os homens é que nos prestigiavam. Só agora as mulheres gostam mais de futebol.

Passando para a Copa do Mundo de 1962. Quais as lembranças daquele Mundial?

A primeira, ruim. Estreia e lesão grave do Pelé. Um desastre, que deixou o grupo apreensivo. Em compensação, passado o susto, acredito que o futebol praticado foi o melhor de todas as Copas. O substituto do Pelé, o Amarildo, era um baita atacante. Ele entrou e cumpriu muito bem o seu papel. E voltamos a montar um grande time, com o Zagallo ajudando na defesa. Depois, a melhor das lembranças. O Mauro me passou a bola e toquei para o Zagallo no lado esquerdo. Enquanto ele a conduzia ao ataque, saí em disparada rumo ao gol. Gritava: “Olha o Amarildo! Olha o Amarildo!” Ele fez exatamente o que falei. O Amarildo deu dois dribles na defesa tcheca, colocou a bola na minha cabeça, como se fosse com a mão, e fiz o 2 x 1. Cruzamento lindo, gol que nos trouxe alívio. De qualquer forma, era certo que ganharíamos aquela final. Tanto é que, logo em seguida, saiu o terceiro.

Antes da decisão, vocês enfrentam o Chile na semifinal. Novamente, um confronto importante contra o país-sede da Copa. Até que ponto a experiência de ter enfrentado a Suécia em 1958 os ajudou quatro anos mais tarde?

Não havia pressão, apenas a torcida. Algo bem diferente do Brasil. Acho que estes povos são mais educados, têm espírito esportivo. Sobre a partida, foi maravilhoso saber que enfrentaríamos o Chile. Pelo Santos, enfrentávamos todo ano os clubes de lá e os conhecíamos. Vitória relativamente fácil.

Muito se fala que a Copa de 1962 foi a do Garrincha. Não é um pouco injusto com o restante atribuir o título a uma pessoa apenas?

Ele só não fez chover naquela Copa. Mostrou tudo o que sabia durante as partidas. Pode até não ter feito o gol da vitória, mas foi o Mundial dele. Assim como tivemos a Copa do Pelé. Estes dois são ídolos, únicos no mundo. Gosto de ver o fora de série, principalmente no meu time. Se não estiver, paciência. Porém, o talento precisa vir em primeiro lugar. 

Assim que conquistaram o bicampeonato e voltaram ao país, novamente houve recepção do Presidente da República?

Sim, e era obrigatório descer em Brasília. O João Goulart nos recepcionou. Tem uma história engraçada dessa visita. O Mengálvio aproveitou a situação e pediu um emprego à irmã. Escreveu num papel e, quando abraçou o Jango, colocou a carta no bolso dele. Que cena sensacional! Recentemente, as duas filhas dele trabalhavam num fórum. Vai ver que conseguiu ajeitar o futuro dela também.

Após duas campanhas vitoriosas, eis que o Brasil faz uma campanha abaixo da expectativa em 1966.

Um desastre. Eu me machuquei num treino e não pude jogar. O Pelé foi mal também, pois voltava de contusão. O Feola treinou o time novamente, mas o comando do time cabia ao Paulo Amaral. Foi a Copa do azar. Melhor apagar do mapa.

Naquele ano, o país já estava sob novo regime político, o militar. Vocês sentiam essas mudanças?

Não tem nada a ver. Jogador de futebol nem liga para isso. Na verdade, o que houve foi um desgaste. O Feola perdeu poder antes da Copa e isso gerou repercussão. O Carlos Nascimento estava lá novamente e já quase ninguém gostava do estilo durão dele. Todos esses fatores abalaram a equipe.

O senhor fez referência ao comportamento das pessoas quando vocês voltam de uma Copa. Neste caso, como foi a retorno ao país?

A sensação foi de alegria, apesar do fiasco. Ao mesmo tempo que estava puto da vida porque não fizemos nada direito, havia o desejo de chegar logo em casa. Nem é bom contar muito desta Copa, pois falar mal é fácil. Sei que foi o pior período do Brasil.

Ao longo da carreira, o senhor recebeu propostas para atuar no exterior?

Nunca. Naquela época, fora a dificuldade de sair do país, os atacantes é que se valorizavam. Estes sim aproveitavam as boas ofertas e acabavam vendidos.

Quando começou a pensar em encerrar a carreira?

Após a Copa de 1966. Durante um treino no Santos, disputei uma bola com o Clodoaldo, ele sentou no meu joelho e fez um “crec”. Dói até hoje. Peguei a camisa na hora e disse: “Toma, agora ela é tua”. Fui para o vestiário e não voltei mais. Nem cheguei a operar. Parei por causa da contusão. Caso isso não tivesse acontecido, enganaria por mais alguns anos.

Neste momento, o senhor já pensava na próxima carreira?

Esta é uma preocupação de quase todos do meio, mas que eu não tive. Era sócio de uma fábrica em São Paulo, onde tinha meus negócios, e trabalhei lá por mais de dez anos. Atualmente, quem toma conta da empresa é meu filho.

Nunca teve vontade de ser técnico?

Nem pensar. Essa profissão deve ser horrível. O treinador é aquele cara que sempre quis jogar bola e nunca conseguiu. Então, deixa de seu um atleta frustrado e vira técnico.

Mesmo aposentado, o vínculo com o Santos continua forte. Qual é a sensação de ter pertencido àquela geração vitoriosa e ver hoje o clube com novos atletas encantadores?

Para mim, o Santos ainda é o grande time. Gosto de vê-los jogar. Tem sorte de achar esses meninos, de aparecer um craque com frequência. E acaba que todo mundo procura o clube primeiro, a não ser que sejam torcedores rivais. É o caso do Neymar, do Robinho e do Diego, que vieram muito cedo. O Santos está sempre no topo porque vence com meninos qualificados.

O senhor continua vinculado ao futebol?

Gosto de assistir às partidas e conversar a respeito. Tenho predileção em discutir com palmeirenses. São metidos para caramba, sendo que não ganharam nada na vida. E gozado é o corintiano, que tem um respeito danado pelo Santos de tanto que apanharam.

Por fim, o senhor prefere uma seleção brasileira vistosa e que não venceu, caso de 1982, ou uma criticada mas campeã, como a de 1994?

Todos gostam de futebol alegre e bem jogado, mas querem ganhar também. Por isso, é preciso unir as duas coisas. No nosso tempo, tínhamos o Didi como líder. Chato e exigente. Deu certo. Fomos campeões em 1958. Depois, passei a adotar o mesmo estilo. Não dava moleza. Precisava jogar sério e ganhar tudo. Em primeiro lugar, vem o resultado. Depois, as brincadeiras.


[1] Hélvio Pessanha Morreira foi zagueiro central de Fluminense, Jabaquara e Santos. Atuou 423 vezes com a camisa do Peixe.

[2] Ivan Vicente Melo atuou no Santos nos anos 1950 e se transferiu para o Corinthians em 1958.

[3] Ramiro Valente é um ex-zagueiro central do Santos durante quase toda a década de 1950. Atuou também no Atlético de Madrid, da Espanha. Anos depois, voltou ao clube santista na função de técnico.

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Bernardo Borges Buarque de Hollanda

Professor-pesquisador da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC-FGV).

Daniela Alfonsi

Antropóloga, Diretora Técnica do Museu do Futebol e doutoranda pela USP. Trabalha com e pesquisa sobre os museus esportivos.
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