Notamos que a racionalização das práticas que envolvem o futebol profissional no Brasil está cada vez mais presente, intensificada, sobretudo, a partir da promulgação da Lei 9615/98 (Lei Pelé). Com isso, presenciamos a inserção de elementos empresariais na administração dos clubes que transformaram este esporte em um grande negócio. Outra característica marcante do futebol profissional, intensificada no Brasil nos últimos anos, é a grande rotatividade dos jogadores, favorecida pelo aquecimento do mercado de “pés-de-obra”. Motivados, sobretudo, por questões profissionais – salário, condições de trabalho e visibilidade – os atletas se deparam com um cenário aparentemente novo nas relações que envolvem o futebol: a necessidade de conciliar seus próprios interesses profissionais e a paixão que envolve a relação do torcedor com seu clube. Existe, portanto, um campo de tensões entre lógicas contrapostas com as quais os atletas precisam conviver. Assim, esse trabalho busca investigar a existência de tais tensões no futebol profissional, verificando como os atletas constroem suas estratégias de mediação das tensões que envolvem a racionalidade da prática profissional e a paixão da torcida. Para isso, foram entrevistados nove atletas e ex-atletas profissionais que jogaram por vários clubes durante sua carreira futebolística. Através da pesquisa constatou-se que esta maior mercadorização do futebol tem influência decisiva na relação ente atletas, torcedores e clubes. Neste contexto, merece destaque o fato de que os jogadores consideram importante permanecer um tempo maior no clube, sob a alegação de que esta é uma condição fundamental para a criação de vínculos afetivos, participação na comunidade imaginada da torcida e se tornar um ídolo. No entanto, com a maior facilidade de ganhos salariais advindas das transações, os mesmos privilegiam o “rodar” ao invés de permanecer em um mesmo clube. Em síntese, podemos dizer que as tentativas de conciliação mapeadas não significam nem uma atitude calculista, nem uma negação da dimensão prática, racional do futebol profissional, mas uma elaboração específica, necessária a uma prática que, mesmo em sua dimensão profissional, parece resistir à racionalização.
Palavras-chave: Futebol profissional. Atleta. Torcida. Identidade.