A morte em 2014 de Eusébio da Silva Ferreira, considerado o maior jogador de futebol africano, deu origem a um processo de patrimonialização conduzido pelo Estado português, que levou o seu corpo ao Panteão Nacional, lugar de celebração dos heróis nacionais. Nascido na capital de Moçambique colonial, Eusébio veio para Portugal com 18 anos, onde jogou e representou a seleção portuguesa. A celebração de Eusébio enquanto herói português ofereceu ao Estado um meio de narrar o processo traumático do fim do seu império, evocando as virtudes de uma excecional experiência colonial. Explorando a economia afetiva gerada pelo futebol, a construção biográfica oficial “de um herói do povo” oculta o processo de edificação de uma sociedade colonial violenta e desigual e reifica o lugar social do subordinado.
Palavras-chave: Portugal, nacionalismo, colonialismo, cultura popular, futebol, Moçambique.