A Copa do Mundo da Federação Internacional de Futebol em 2014 motivou os gestores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária na implementação de um Projeto Piloto para Categorização dos Serviços de Alimentação. A estratégia propôs a classificação dos locais por meio do cálculo da pontuação do risco sanitário, utilizado mundialmente para redução dos surtos de Doenças Transmitidas por Alimentos. Após sete anos do evento, o objetivo desta pesquisa foi investigar os desdobramentos da Categorização dos serviços de alimentação no país. Foi enviado um formulário eletrônico para todas as autoridades sanitárias participantes da Categorização, das diferentes esferas governamentais, com 29 perguntas abertas e fechadas com intuito de avaliar os desfechos no âmbito do respondente. Todos participantes foram contatados por e-mail; após três tentativas, o meio telefônico foi utilizado. Os dados qualitativos foram tratados por análise de conteúdo do tipo temática. Constatou-se a necessidade de propor um novo método de cálculo para pontuação de risco sanitário para a Lista de Avaliação, para isso, utilizou-se três fases. Na fase 1, ocorreu a identificação e simulação de diferentes métodos; na fase 2, pré-teste, foram testadas duas propostas de pontuação de risco sanitário para determinação do “Novo Método”; e na fase 3, a validação foi realizada a partir de um banco de dados secundário com 3072 avaliações realizadas em serviços de alimentação em dois ciclos de inspeções. Comparou-se a pontuação de risco e as classificações geradas pelo “Novo Método” com a metodologia adotada no Projeto Piloto. Analisou-se a correlação por teste de Lin e concordância por Kappa. No formulário eletrônico participaram da pesquisa 30 autoridades sanitárias (61%). A maioria do sexo feminino, com mais de 51 anos, mais de 10 anos de experiência na área de vigilância sanitária, sendo que a grande maioria continua na mesma área de atuação. Constatou-se a descontinuidade da estratégia de Categorização. Quanto à categoria “Legados e benefícios do projeto de Categorização” nas quais emergiram dos núcleos de sentido, sendo as subcategorias mais relevantes “Impacto positivo da Categorização na atuação da vigilância sanitária” e “Comunicação do risco sanitário: benefícios ao consumidor”. Dentre a categoria dos “Entraves e dificuldades do processo de Categorização” obteve-se 4 subcategorias: “Limitações da vigilância sanitária”, “Vulnerabilidade no processo de Categorização”, “Contexto desfavorável do setor regulado” e “Descontinuidade da Categorização a nível nacional”. Com relação ao uso do instrumento de avaliação e a pontuação de risco, poucas autoridades sanitárias referiram continuar utilizando a Lista validada pela Anvisa. Dentre os pontos levantados, ressalta-se o núcleo de sentido “Falta de adequação do cálculo da pontuação com a realidade do local” na categoria “entraves e dificuldades”. Nessa conjuntura, para proposta de um novo método com um cálculo para pontuação de risco adaptável à realidade das autoridades sanitárias locais, valores de Kappa de 0,756 (p<0,001) e 0,816 (p<0,001) foram obtidos no primeiro e segundo ciclos de inspeção, respectivamente, na fase 3 de validação. Verificou-se uma relação positiva e crescente, sendo os coeficientes de correlação de Lin 0,7433 (IC95 0,7288; 0,7572) e 0,8251 (IC95 0,8142; 0,8355) no primeiro e segundo ciclo, respectivamente. O “Novo Método” utiliza a classificação da consequência (C) conforme determinado por grupo de especialistas no Projeto Piloto e uma proposta de cálculo para probabilidade (P), sendo o Risco (R) calculado pela multiplicação C x P. Esse novo método pode ser utilizado em todo território brasileiro. Partiu da pontuação a metodologia adotada no Projeto Piloto, com o diferencial metodológico que viabiliza a inclusão de novos itens de avaliação e/ou exclusão de itens de avaliação na Lista de acordo com a realidade local. Os achados desta pesquisa revelam justificativas e implicações do projeto piloto de Categorização, que foi extremamente exitoso no Brasil. Porém, sem avançar para a implementação de um Programa em nível Nacional. Acredita-se que todas as barreiras políticas, tecnológicas e técnicas, podem ser superadas. O trabalho evidenciou que este sistema de Categorização reduz o risco sanitário e integra tanto o setor público com o privado quanto o serviço de vigilância sanitária. Ademais, motiva os proprietários dos serviços de alimentação a investirem na segurança dos alimentos e promove a comunicação de risco, sendo a categoria sanitária exposta ao consumidor que pode, então, fazer escolhas mais seguras.
Palavras-chave: Segurança dos alimentos; Avaliação de risco; Vigilância sanitária; Lista de verificação; Inspeção sanitária.