Desde meados dos anos 1990 o futebol brasileiro vem passando por profundas transformações em suas técnicas de gerenciamento. Alçado cada vez mais à condição de bem de consumo, os atores sociais engajados nessa atividade social vêm testemunhando uma paulatina restrição dos usos e apropriações populares do esporte mais popular do país. Diante desse contexto, este trabalho se propõe a examinar esse processo à luz de atores coletivos que aqui nomeio de “movimentos de torcida”. Tratam-se de um conjunto diversificado de agentes que constroem um engajamento militante ao redor do futebol, articulando linguagens que o conformam como parte integrante de uma cultura popular. Essas linguagens são heterogêneas, e expressam maneiras diversificadas – com suas aproximações e distanciamentos – de se relacionar com os clubes e o espetáculo esportivo. Utilizando as categorias nativas de “pista” e “arquibancada”, buscarei analisar como elas condensam projetos coletivos distintos no âmbito dos movimentos de torcida. A partir da análise de discursos de atores ligados à Associação Nacional das Torcidas Organizadas (ANATORG) e à torcida do Vasco da Gama Guerreiros do Almirante (GDA), darei atenção especial à categoria “arquibancada”, destacando as suas interfaces com a política e os movimentos sociais.
Palavras-chave: Futebol. Movimentos de torcida. Cultura popular. Movimentos sociais. Violência.